O GLOBO
Um mês após proibição de show, Caetano se apresenta em evento do MTST em
SP
Em
outubro, a Justiça alegou falta de segurança para show em ocupação do movimento
POR ALESSANDRO GIANNINI
10/12/2017
Caetano Veloso faz show no Largo da Batata em São Paulo - Marcos Alves / Agência O Globo |
SÃO PAULO — Depois de ver frustrada a
tentativa de se apresentar em uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem-teto
(MTST) em São Bernardo do Campo, em outubro, Caetano Veloso transferiu o show para este domingo no Largo
da Batata, na Zona Oeste de São Paulo. Com o cantor e compositor baiano se
apresentaram Criolo, Maria Gadú e Péricles, entre outros.
Depois
de discursos da empresária Paula Lavigne e da atriz Sônia Braga, Caetano abriu
o show às 18h24, cantando “Sampa” ao violão, acompanhado de
seus principais convidados. Emendou com “Desde que o samba é samba” e,
depois, passou a alternar a presença no palco com os outros artistas. No
repertório, clássicos como “Quereres”, “Odeio” e “Menino
do Rio” — este último em dueto com Criolo.
A
concentração começou às 14h. O caminhão onde foi montado o palco estava tocando
música gravada. Pouco antes do início da apresentação, uma chuva rápida
afugentou parte dos espectadores. Mas o tempo logo melhorou e a praça
principal, no largo, foi totalmente ocupada. O policiamento em volta do local
era apenas preventivo, segundo a Polícia Militar, que não deu estimativa de
público.
Nos
bastidores, a atriz Sônia Braga disse que este é um "dia muito importante
para a democracia":
—
Nós estamos aqui não pelo MTST, estamos aqui por nós mesmos. Porque temos que
lutar pela democracia, que está em perigo. Se você não está preocupado com o
que está acontecendo, só pode estar louco — disse ela.
O
líder do MTST, Guilherme Boulos, agradeceu a presença do público.
—
Essa proibição fez com que um show para 7 mil pessoas na ocupação de São
Bernardo do Campo se transformasse em um show para 30 mil pessoas no Largo da
Batata — disse ele.
Em
outubro, o Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu a realização do show na
ocupação "Povo sem Medo", em São Bernardo, em razão de segurança e,
também, porque já havia liminar pela reintegração de posse. No seu despacho, a
juíza Ida Inês Del Cid disse que "o brilhantismo e a voz inigualável de
Caetano" levariam muitas pessoas para o evento e que o local não teria as
condições necessárias para garantir a segurança de tantas pessoas. Ela
determinou uma multa de R$ 500 mil caso a ordem fosse desobedecida.
Caetano Veloso faz show em ato pelos 20 anos
do MTST em SP
Também se apresentaram o rapper Criolo, o sambista Péricles e a cantora
Maria Gadu. Discursos criticaram governo federal e a reforma da Previdência.
Por Paula Paiva Paulo e Fábio Tito, G1 SP
10/12/2017
O
cantor Caetano Veloso se apresentou no Largo da Batata, na Zona Oeste de São
Paulo, neste domingo (10), em ato que celebra os 20 anos do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST). O artista cantou com o rapper Criolo, o sambista
Péricles e Maria Gadu.
Caetano
pretendia cantar na ocupação no Bairro Planalto, em São Bernardo do Campo, no ABC,
em 30 de outubro, mas a juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública
da cidade, proibiu o show. Em sua decisão, ela disse que a ocupação não possuía
"estrutura a suportar show, mormente para artistas da envergadura de
Caetano Veloso, um dos requeridos nesta ação”.
Caetano e Maria Gadu tocam em show do MTST no Largo da Batata Foto: Fábio Tito/G1 |
"É um momento histórico ter artistas como Caetano
Veloso e todos que virão fazer um evento público como esse de apoio à luta do
MTST”, disse ao G1
o coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, antes do início da
apresentação.
“Um reconhecimento da legitimidade da mobilização dos
sem-teto. Um reconhecimento da força que essa mobilização ganhou na sociedade
e, no nosso caso, é a melhor maneira de comemorar os 20 anos do
movimento", acrescentou.
Público encheu o Largo da Batata para ver o show de Caetano Veloso e convidados Foto: Fábio Tito/G1 |
Show
Caetano abriu o show por volta das 18h20 com "Sampa", música que homenageia a capital paulista, e emendou com "Desde que o samba é samba", outro clássico de sua autoria.
Ao lado de Maria Gadu, cantou "O
quereres", música de abertura da novela "A Força do Querer", da
TV Globo. Caetano também agitou o público com "Alegria, alegria",
"Leãozinho", entre outros sucessos.
O show terminou pouco depois das 20h10 com a canção
"Tieta".
Caetano (ao centro) ouve leitura de carta por Sônia Braga Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo |
Discursos
A produtora Paula Lavigne, do Movimento 342 Artes (um dos idealizadores do evento), abriu a rodada de discursos agradecendo a juíza que proibiu o show na ocupação. Segundo ela, a decisão possibilitou involuntariamente a realização de um ato maior na capital.
Em seguida, Boulos assumiu o microfone e criticou o
governo federal e a reforma da Previdência. “Não contentes com tudo que têm
feito no Brasil, querem aprovar uma reforma que tira o direito à aposentadoria
do povo brasileiro. E nós não podemos permitir”, disse.
“Foi a intolerância, como disse a Paula [Lavigne],
que proibiu o show do Caetano na ocupação. (...) O que eles conseguiram é que o
show do Caetano, que ia ser pra 7 mil pessoas em São Bernardo, virasse um show
para mais de 30 mil pessoas no Largo da Batata”, acrescentou.
Depois, a atriz Sônia Braga leu uma carta sobre os
direitos humanos. Após sua apresentação, a cantora Maria Gadu gritou
"Fora, Temer" duas vezes. O público ecoou a crítica ao presidente da
República diversas vezes.
A líder indígena Sônia Guajajara subiu no palco e
ficou ao lado de Caetano durante a execução de “Um Índio”. Em seguida, ela
falou em nome de minorias e puxou o coro de “demarcação já”.
Caetano canta 'Um Índio'
ao lado da índia Sônia Guajajara durante festa dos 20 anos do MTST - Foto: Fábio
Tito/G1
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Criolo se diverte no canto do palco durante show de Caetano no Largo da Batata (Foto: Fábio Tito/G1) |
Sônia Braga, Caetano Veloso, Maria Gadú e Criolo agradecem ao público no final do show pelos 20 anos do MTST (Foto: Fábio Tito/G1) |
Música
Em ato do MTST, Caetano deixa discurso de lado por show de tom amoroso
Tiago Dias
Do UOL, em São Paulo
10/12/2017
Caetano Veloso chega ao Largo da Batata para o ato-show nos 20 anos do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) Imagem: Marcelo Justo/UOL |
No show que encerrou as comemorações de 20 anos do
MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), Caetano Veloso resgatou canções
históricas de 1967, que inauguraram o movimento tropicalista e canalizaram o
sentimento da contracultura na época da Ditadura.
"Alegria Alegria" e
"Tropicália" foram cantadas em uníssono pelo público que tomou o
Largo da Batata, em São Paulo, neste domingo (10), para comemorar o aniversário
do movimento, mas o paralelo entre a época e o Brasil de 2017 ficou restrito
apenas à música.
Sem fazer qualquer discurso, Caetano deixou para a
plateia o coro de “Fora, Temer”. No refrão de “Odeio”, canção sobre o fim de um
relacionamento, como de praxe o público respondeu: "Odeio você,
Temer". Segundo Guilherme Boulos, coordenador do MTST, havia 30 mil
pessoas no local.
Caetano Veloso com a líder indígena Sônia Bone Guajajara
Imagem: Reprodução/Facebook
|
No momento mais forte da apresentação, enquanto
Caetano cantava "Um Índio", a líder indígena Sônia Bone Guajajara fez
um discurso a favor dos sem-teto e da demarcação de terras indígenas: "É a
nossa missão tirar das mãos das grandes cooperações esse poder podre que eles
têm na mão. Nós podemos lutar pelo direito de lutar e existir."
A presença de Guajajara, junto com “Podres
Poderes”, cantado em seguida, foi o momento mais explicitamente político de um
show que privilegiou mensagens mais amorosas e manifestos à beleza do Brasil,
entremeada por músicas de Criolo, Maria Gadú e Péricles. O ex-Exaltasamba
cantou "Eu e Você Sempre" e resumiu o tom da apresentação:
"Vamos falar de amor, o mundo está precisando."
Enquanto “Tigreza” e “Vaca Profana” eram cantadas
como eco do movimento feminista, em peso no show, “Gente”, com o verso “gente é
para viver, não morrer de fome”, trazia à tona as preocupações de um artista
sempre muito crítico à esquerda, mas que recentemente tem participado de forma
mais ativa de movimentos sociais.
“Minha primeira motivação para colocar-me à
esquerda se mantém até hoje: a horrenda desigualdade da sociedade brasileira”,
ele diz no capítulo que introduz o relançamento de seu livro, “Verdade
Tropical”. “E só faz exacerbar-se no clima dos meses recentes, em que o horror
dos conservadores finge se dirigir à corrupção quando é nojo e medo dos pobres,
pretos e desorganizados, além de impaciência com estes.”
Convidado do show, Criolo pulou no trio durante
toda a apresentação e atiçou a plateia: "Uma salva de palmas para o
maloqueiro Caetano", pediu. Vestindo trajes de estilo urbano da Lab, marca
de roupas do rapper Emicida, o cantor e compositor de 75 anos sorriu.
No final de “Força Estranha”, após os versos “Por
isso é que eu canto, não posso parar, por isso essa voz tamanha”, no entanto,
olhou para a plateia que o acompanhava e disse incisivamente: “Esta é a voz”.
Show foi impedido na Justiça
Vestindo a camiseta dos 20 anos do MTST, a empresária Paula Lavigne acompanhou todo o ato com o celular na mão.
Ela é o nome por trás da apresentação, que
aconteceria no dia 30 de outubro, na ocupação da Frente Povo Sem Medo, em
um terreno de quase 70 mil m² que abriga cerca de oito mil famílias em São
Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Paula e Caetano chegaram a ir ao local, mas
foram impedidos se apresentar por determinação da Justiça. Caetano reagiu:
"Não sei dizer se foi censura, não sou um técnico. Mas dá impressão de que
não é um ambiente democrático", disse. "Pode ser um modo de reprimir
uma ação que seria legítima."
Ao lado das atrizes Sonia Braga, Aline Moraes e
Marina Person, Paula fez um breve discurso antes da apresentação:
"Promessa feita, promessa cumprida. Quero agradecer apenas a juíza que
impediu o show em São Bernardo. Você nos deu força, nos deu garra e
determinação", disse.
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