martes, 12 de diciembre de 2017

2017 - MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO (MTST)







O GLOBO
Um mês após proibição de show, Caetano se apresenta em evento do MTST em SP
Em outubro, a Justiça alegou falta de segurança para show em ocupação do movimento


POR ALESSANDRO GIANNINI

10/12/2017

Caetano Veloso faz show no Largo da Batata em São Paulo - Marcos Alves / Agência O Globo


SÃO PAULO — Depois de ver frustrada a tentativa de se apresentar em uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem-teto (MTST) em São Bernardo do Campo, em outubro, Caetano Veloso transferiu o show para este domingo no Largo da Batata, na Zona Oeste de São Paulo. Com o cantor e compositor baiano se apresentaram Criolo, Maria Gadú e Péricles, entre outros.

Depois de discursos da empresária Paula Lavigne e da atriz Sônia Braga, Caetano abriu o show às 18h24, cantando “Sampa” ao violão, acompanhado de seus principais convidados. Emendou com “Desde que o samba é samba” e, depois, passou a alternar a presença no palco com os outros artistas. No repertório, clássicos como “Quereres”, “Odeio” e “Menino do Rio” — este último em dueto com Criolo.

A concentração começou às 14h. O caminhão onde foi montado o palco estava tocando música gravada. Pouco antes do início da apresentação, uma chuva rápida afugentou parte dos espectadores. Mas o tempo logo melhorou e a praça principal, no largo, foi totalmente ocupada. O policiamento em volta do local era apenas preventivo, segundo a Polícia Militar, que não deu estimativa de público.

Nos bastidores, a atriz Sônia Braga disse que este é um "dia muito importante para a democracia":
— Nós estamos aqui não pelo MTST, estamos aqui por nós mesmos. Porque temos que lutar pela democracia, que está em perigo. Se você não está preocupado com o que está acontecendo, só pode estar louco — disse ela.

O líder do MTST, Guilherme Boulos, agradeceu a presença do público.
— Essa proibição fez com que um show para 7 mil pessoas na ocupação de São Bernardo do Campo se transformasse em um show para 30 mil pessoas no Largo da Batata — disse ele.

Em outubro, o Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu a realização do show na ocupação "Povo sem Medo", em São Bernardo, em razão de segurança e, também, porque já havia liminar pela reintegração de posse. No seu despacho, a juíza Ida Inês Del Cid disse que "o brilhantismo e a voz inigualável de Caetano" levariam muitas pessoas para o evento e que o local não teria as condições necessárias para garantir a segurança de tantas pessoas. Ela determinou uma multa de R$ 500 mil caso a ordem fosse desobedecida.










Caetano Veloso faz show em ato pelos 20 anos do MTST em SP

Também se apresentaram o rapper Criolo, o sambista Péricles e a cantora Maria Gadu. Discursos criticaram governo federal e a reforma da Previdência.

Por Paula Paiva Paulo e Fábio Tito, G1 SP
10/12/2017 

O cantor Caetano Veloso se apresentou no Largo da Batata, na Zona Oeste de São Paulo, neste domingo (10), em ato que celebra os 20 anos do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). O artista cantou com o rapper Criolo, o sambista Péricles e Maria Gadu.

Caetano pretendia cantar na ocupação no Bairro Planalto, em São Bernardo do Campo, no ABC, em 30 de outubro, mas a juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública da cidade, proibiu o show. Em sua decisão, ela disse que a ocupação não possuía "estrutura a suportar show, mormente para artistas da envergadura de Caetano Veloso, um dos requeridos nesta ação”.


Caetano e Maria Gadu tocam em show do MTST no Largo da Batata
Foto: Fábio Tito/G1


"É um momento histórico ter artistas como Caetano Veloso e todos que virão fazer um evento público como esse de apoio à luta do MTST”, disse ao G1 o coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, antes do início da apresentação.

“Um reconhecimento da legitimidade da mobilização dos sem-teto. Um reconhecimento da força que essa mobilização ganhou na sociedade e, no nosso caso, é a melhor maneira de comemorar os 20 anos do movimento", acrescentou.


Público encheu o Largo da Batata para ver o show de Caetano Veloso e convidados
Foto: Fábio Tito/G1


Show

Caetano abriu o show por volta das 18h20 com "Sampa", música que homenageia a capital paulista, e emendou com "Desde que o samba é samba", outro clássico de sua autoria.

Ao lado de Maria Gadu, cantou "O quereres", música de abertura da novela "A Força do Querer", da TV Globo. Caetano também agitou o público com "Alegria, alegria", "Leãozinho", entre outros sucessos.

O show terminou pouco depois das 20h10 com a canção "Tieta".


Caetano (ao centro) ouve leitura de carta por Sônia Braga
Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo

Discursos

A produtora Paula Lavigne, do Movimento 342 Artes (um dos idealizadores do evento), abriu a rodada de discursos agradecendo a juíza que proibiu o show na ocupação. Segundo ela, a decisão possibilitou involuntariamente a realização de um ato maior na capital.

Em seguida, Boulos assumiu o microfone e criticou o governo federal e a reforma da Previdência. “Não contentes com tudo que têm feito no Brasil, querem aprovar uma reforma que tira o direito à aposentadoria do povo brasileiro. E nós não podemos permitir”, disse.

“Foi a intolerância, como disse a Paula [Lavigne], que proibiu o show do Caetano na ocupação. (...) O que eles conseguiram é que o show do Caetano, que ia ser pra 7 mil pessoas em São Bernardo, virasse um show para mais de 30 mil pessoas no Largo da Batata”, acrescentou.

Depois, a atriz Sônia Braga leu uma carta sobre os direitos humanos. Após sua apresentação, a cantora Maria Gadu gritou "Fora, Temer" duas vezes. O público ecoou a crítica ao presidente da República diversas vezes.

A líder indígena Sônia Guajajara subiu no palco e ficou ao lado de Caetano durante a execução de “Um Índio”. Em seguida, ela falou em nome de minorias e puxou o coro de “demarcação já”.


Caetano canta 'Um Índio' ao lado da índia Sônia Guajajara durante festa dos 20 anos do MTST - Foto: Fábio Tito/G1

Criolo se diverte no canto do palco durante show de Caetano no Largo da Batata (Foto: Fábio Tito/G1)

Sônia Braga, Caetano Veloso, Maria Gadú e Criolo agradecem ao público no final do show pelos 20 anos do MTST (Foto: Fábio Tito/G1)




Público começa a chegar a ato do MTST (Foto: Paula Paiva Paulo/G1)




Música

Em ato do MTST, Caetano deixa discurso de lado por show de tom amoroso

Tiago Dias
Do UOL, em São Paulo
10/12/2017


Caetano Veloso chega ao Largo da Batata para o ato-show nos 20 anos do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) Imagem: Marcelo Justo/UOL


No show que encerrou as comemorações de 20 anos do MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), Caetano Veloso resgatou canções históricas de 1967, que inauguraram o movimento tropicalista e canalizaram o sentimento da contracultura na época da Ditadura.

"Alegria Alegria" e "Tropicália" foram cantadas em uníssono pelo público que tomou o Largo da Batata, em São Paulo, neste domingo (10), para comemorar o aniversário do movimento, mas o paralelo entre a época e o Brasil de 2017 ficou restrito apenas à música.

Sem fazer qualquer discurso, Caetano deixou para a plateia o coro de “Fora, Temer”. No refrão de “Odeio”, canção sobre o fim de um relacionamento, como de praxe o público respondeu: "Odeio você, Temer". Segundo Guilherme Boulos, coordenador do MTST, havia 30 mil pessoas no local.


Caetano Veloso com a líder indígena Sônia Bone Guajajara
Imagem: Reprodução/Facebook


No momento mais forte da apresentação, enquanto Caetano cantava "Um Índio", a líder indígena Sônia Bone Guajajara fez um discurso a favor dos sem-teto e da demarcação de terras indígenas: "É a nossa missão tirar das mãos das grandes cooperações esse poder podre que eles têm na mão. Nós podemos lutar pelo direito de lutar e existir."

A presença de Guajajara, junto com “Podres Poderes”, cantado em seguida, foi o momento mais explicitamente político de um show que privilegiou mensagens mais amorosas e manifestos à beleza do Brasil, entremeada por músicas de Criolo, Maria Gadú e Péricles. O ex-Exaltasamba cantou "Eu e Você Sempre" e resumiu o tom da apresentação: "Vamos falar de amor, o mundo está precisando."

Enquanto “Tigreza” e “Vaca Profana” eram cantadas como eco do movimento feminista, em peso no show, “Gente”, com o verso “gente é para viver, não morrer de fome”, trazia à tona as preocupações de um artista sempre muito crítico à esquerda, mas que recentemente tem participado de forma mais ativa de movimentos sociais.
“Minha primeira motivação para colocar-me à esquerda se mantém até hoje: a horrenda desigualdade da sociedade brasileira”, ele diz no capítulo que introduz o relançamento de seu livro, “Verdade Tropical”. “E só faz exacerbar-se no clima dos meses recentes, em que o horror dos conservadores finge se dirigir à corrupção quando é nojo e medo dos pobres, pretos e desorganizados, além de impaciência com estes.”

Convidado do show, Criolo pulou no trio durante toda a apresentação e atiçou a plateia: "Uma salva de palmas para o maloqueiro Caetano", pediu. Vestindo trajes de estilo urbano da Lab, marca de roupas do rapper Emicida, o cantor e compositor de 75 anos sorriu.

No final de “Força Estranha”, após os versos “Por isso é que eu canto, não posso parar, por isso essa voz tamanha”, no entanto, olhou para a plateia que o acompanhava e disse incisivamente: “Esta é a voz”.






Show foi impedido na Justiça

Vestindo a camiseta dos 20 anos do MTST, a empresária Paula Lavigne acompanhou todo o ato com o celular na mão.

Ela é o nome por trás da apresentação, que aconteceria no dia 30 de outubro, na ocupação da Frente Povo Sem Medo, em um terreno de quase 70 mil m² que abriga cerca de oito mil famílias em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Paula e Caetano chegaram a ir ao local, mas foram impedidos se apresentar por determinação da Justiça. Caetano reagiu: "Não sei dizer se foi censura, não sou um técnico. Mas dá impressão de que não é um ambiente democrático", disse. "Pode ser um modo de reprimir uma ação que seria legítima."

Ao lado das atrizes Sonia Braga, Aline Moraes e Marina Person, Paula fez um breve discurso antes da apresentação: "Promessa feita, promessa cumprida. Quero agradecer apenas a juíza que impediu o show em São Bernardo. Você nos deu força, nos deu garra e determinação", disse.

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