06/09/2007
Santo Amaro terá casa de
cultura dedicada ao samba
Agência A Tarde
O ministro Gilberto Gil e o
presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan),
Luiz Fernanda Almeida, inauguram o novo espaço cultural Casa do Samba de Santo Amaro, a 72 km de Salvador, às 17h da
próxima sexta-feira, 14.
Grupos de tambor, criola,
jongo, partido alto, côco, samba rural paulista e samba de roda se apresentarão
durante a solenidade. Casa do Samba
funcionará no Solar Subaé, antiga mansão do séc. XIX totalmente restaurada.
O local abrigará acervo digital sobre o ritmo e a exposição permanente Samba de
Roda: Memória e Vida.
No sábado, 15, o ministro da
Cultura abrirá o seminário Os Sambas Brasileiros: Diversidade, Apropriações e
Salvaguarda. O evento discutirá a patrimonialização de expressões culturais,
origens do samba, batuques, umbigadas e MPB. Uma palestra do cantor Caetano
Veloso sobre samba, bossa nova e vanguarda musicais encerra o encontro, que
ocorre no Teatro Dona Canô.
13/09/2007
Solar restaurado é reaberto em Santo Amaro
Mary Weinstein, do A Tarde
O Solar Araújo Pinho, construído pelo conde de Subaé, na Rua do
Imperador, um dos belos monumentos de Santo Amaro, passou de casa em ruína a
imóvel devidamente restaurado em apenas oito meses. Esse tempo poderá servir de
parâmetro para outras obras, porque foi considerado recorde para um trabalho de
recuperação meticulosa de um patrimônio desse porte e importância: século XIX,
feito com materiais importados e com detalhes trabalhados. Isso sem dizer que a
degradação do imóvel, vendido pela herdeira Maria de Carvalho de Araújo Pinho à
prefeitura há mais de 30 anos, se arrastava sem que providências fossem
tomadas. O telhado tinha desabado e a sustentação já tinha esgarçado paredes e
pilastras.
A obra duraria mais alguns
meses, mas foi apressada para coincidir com as comemorações pelos 100 anos de
dona Canô e ter direito à inauguração com presença de ministro e demais
autoridades. O solar será reaberto como Casa
do Samba, às 17 horas desta sexta. O ministro Gilberto Gil e o governador
Jaques Wagner estão sendo esperados. Dona Canô, claro, garante a presença.
Caetano Veloso vai participar, como informou a assessoria de imprensa do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Ao todo, essa autarquia
vinculada ao MinC investiu R$ 2 milhões do próprio bolso para evitar a perda
total da edificação e dar a ela um uso, além de reduzir, no que fosse possível,
o contraste estabelecido com a instalação do Teatro Dona Canô em 2001, no
entorno do monumento tombado, que ocupou o quintal e alterou a tipologia
arquitetônica da área. Agora, o Solar Subaé, como também é chamado, passa a ser
do samba-de-roda, registrado como patrimônio pelo governo federal em 2004, e
também reconhecido pela Unesco, um ano depois.
O arquiteto do Iphan,
Francisco Santana, disse que só depende de conservação para que o monumento não
volte a ficar arruinado. “Ninguém patrocinou, foi o Iphan mesmo que bancou”,
diz Francisco. Segundo informou, foi tudo feito com tinta mineral, própria para
contribuir para a absorção e a secagem ideais, sobre argamassa antiga à base de
cal. O cuidado no restauro nesses casos é fundamental. “Para manter as
características”, diz o arquiteto, que sai explicando cada passo dado. “A
frente vai ficar em solo-cimento para o samba-de-roda. Tem esse projeto de
iluminação. As árvores (altíssimas) ainda são as que foram plantadas pelo
conde”, aponta. No chão, as pedras foram numeradas para poder voltar para o
mesmo lugar. O mármore é sempre o original. Nas soleiras, o de Lioz, mesmo
rachado, permaneceu.
Restauração – O piso do restaurante
é uma tijoleira de barro cozido rústica que preservou a mesma paginação
original. Portas de vidro servem como novas divisórias, contrastando com a
idade da casa, que ganhou uma primeira reforma em 1859, com a iminência da
visita do imperador dom Pedro II, que acabou não dormindo na casa. Foi aí que
as abóbadas no térreo e o segundo piso foram feitos. Todo o projeto, que
recompôs, também, a volumetria da antiga senzala destruída, é de Francisco
Santana, Etelvina Rebouças, Fernando Magno e Alexandre Prisco.
A equipe optou por conservar
os antigos pilares que davam sustentação ao espaço, contrastando com todos os
elementos novos que serviram para reerguer a edificação. Da antiga senzala, uma
passagem faz a interligação com o Teatro Dona Canô. O prédio anexo acomoda um
estúdio de gravação e salas, também, para produção musical, com isolamento
acústico e material elétrico modernos.
A preocupação de Francisco era
que as paredes remanescentes ficassem evidentes. Ele tratou de guardar um caule
retorcido de aroeira que tinha se enraizado e se desenvolvido por entre as
paredes do solar. Francisco acha que algum projeto futuro de memória ou
de arte qualquer poderá aproveitá-lo. A pilastra que a aroeira desaprumou foi
mantida do mesmo jeito: “A árvore inclinou o maciço de alvenaria que faz a
interligação dos edifícios”.
No segundo piso, a inclinação
é de uma parede inteira, da fachada frontal, provocada pelo desabamento do
telhado. Essa contingência corrigida também ficará registrada, ou seja, a
parede continuará torta. Quem olhar com cuidado perceberá. Na pintura, faixas
azuis seguiram a moda da época, contornando o alizar (moldura) das portas e os
rodapés, também, na cor ocre. A escadaria de madeira com balaustres e frades
(espécie de adorno) torneados foi recuperada e poderá ser usada normalmente.
Exclusivamente, para os portadores de deficiência física e idosos, foi
integrado um elevador.
De todas as paredes com
escaiole, que era aquele tipo de pintura que imitava o mármore, sobrou apenas
um pedaço de 1,20 por 1 metro. Isso porque as paredes tinham ruído e tiveram
que ser recompostas. A técnica usada para recuperação das pinturas artísticas
também não estava resistindo à degradação. Há fragmentos dela no segundo piso,
com partes quase apagadas ou substituídas por adornos de diversas fases.
Brasão – “A gente poderia
recompor, mas o critério foi manter uma restauração, digamos assim,
arqueológica, respeitando o que foi encontrado, sem fazer um falso histórico”,
frisou Francisco. Prova disso é o brasão da família já meio esmaecido na parte
superior da parede. Também a explicação sobre como foi salva a parede com o
maior número de adornos pintados é digno de detalhamento: “Foi feito um
sanduíche com madeira, formando uma trama de sustentação. Aí, suspendemos essa
parede e depois retiramos a madeira original do barroteamento (estrutura de
sustentação) e colocamos estruturas metálicas, arriamos a parede em cima e
estabilizamos as outras, com estruturas metálicas embutidas”, assinala
Francisco.
“Muita dificuldade, o casarão
estava muito acabado”, murmura José Carneiro Mehlen, diretor da empreiteira que
ganhou a licitação para restaurar o monumento em dezembro do ano passado.
“Vencemos pelo menor preço”, disse. “Achei bonito, dá mais um toque na cidade.
Estava muito feio”, disse a santamarense Alda Salles, de 55 anos, moradora da
Rua João Soldado, que sabe sambar e deverá se aproximar da Casa do Samba no
antigo Solar Subaé.
15/9/2007
Santo-amarenses antecipam homenagens a dona Canô
Fanfarras integradas por jovens de programas sociais fazem apresentação
na porta da casa dos Vellosos
Flávio Costa
O som da fanfarra toma conta da pacata Avenida
Ferreira Bandeira, em Santo Amaro da Purificação – a 75km de Salvador. A banda
formada por jovens inscritos em programas sociais pára em frente ao nº 179,
ontem pela manhã. “O que é isso, Rodrigo?”, pergunta, surpresa, ao filho, do
quarto onde descansa uma senhora quase centenária. Nos últimos dias, todos os
caminhos e homenagens convergem ao lar da matriarca Claudionor Viana Telles
Velloso.
Bem mais conhecida como dona Canô, ela completa cem anos de vida
amanhã, envolta sob uma aura de fé e tranqüilidade.
Com ajuda dos filhos Mabel e Rodrigo, ela é levada,
com cuidado, à porta de casa, cuja entrada está repleta de rosas vermelhas. Ao
sentar-se, dona Canô acompanha, com alegria, demonstrada em pequenos risos e
palmas, as apresentações de samba-de-roda, capoeira e da ensurdecedora banda de
fanfarra dos jovens carentes da cidade. O aluno Isaías, da Associação de Pais e
Mestres de Excepcionais (Apae), chega mais perto e lhe dedica versos. Recebe
beijos de agradecimento. Depois é a vez dos moradores dos abrigos dos idosos
cumprimentarem-na.
Todo mundo quer abraçá-la, beijá-la, tirar fotos,
só falta pedir autógrafos. Alguns lhe dão medalhinhas de Nossa Senhora,
mandalas, buquês de rosas, pequenos quadros. Mãe dos ícones da MPB, Maria
Bethânia e Caetano Veloso, dona Canô é uma espécie de pop star na cidade de 50
mil habitantes, no recôncavo baiano. “É assim a todo momento nos últimos dias:
todos os colégios, todas as bandas, todas associações passam por aqui”, diz um
dos oito filhos, Rodrigo Veloso. “Quando chegar o domingo, eu nem vou ter
coragem de falar nada”, segreda à filha, dona Canô.
Ela não quer presentes. Pede doações que serão
remetidas às instituições de caridade de Santo Amaro. No quarto que é tomado
por imagens de santos, crucifixos e fotos dos filhos – principalmente Bethânia
–, estão guardados ao canto caixas de leite, biscoitos, frutos das doações
recebidas. “Ela é uma pessoa muito boa e não faz questão de divulgar o bem que
faz. Há pouco tempo ela doou 82 livros de literatura à nossa comunidade”,
revela o líder comunitário, Luiz Aurélio Cerqueira.
Nossa Senhora – A chegada da imagem de Nossa de
Senhora de Aparecida para sua festa é o que mais emociona a aniversariante.
“Este é o maior presente e a maior homenagem que já recebi na vida”, diz a
católica fervorosa. Vai todos os domingos à Igreja Matriz de Santo Amaro, onde
amanhã será realizada a missa de comemoração ao seu centenário aniversário.
A vinda da imagem da padroeira do Brasil foi o
presente dado pelo padre Josafá da Basílica de Nossa Senhora de Aparecida
(interior de São Paulo), fã confesso de Maria Bethânia. A santa desfila, às 10h
de hoje, em carreata pelas ruas de Santo Amaro. Depois acontece uma missa
festiva.
***
Entra-e-sai
na casa dos Velloso
Na casa dos Velloso, é um entra-e-sai danado. A
toda hora chega a algum amigo que quer falar com dona Canô, os filhos e aos
poucos, os oito filhos, nove netos e seis bisnetos da matriarca. Bethânia
chegou ontem à noite. Caetano é esperado para tarde de hoje. “O que mais a
caracteriza é sua alegria que passa para todos em sua volta e nos rejuvenesce”,
diz o ex-secretário estadual de Cultura Paulo Gaudenzi, que ontem foi
visitá-la.
Quem bate à porta 179 às 5h30 já encontra dona Canô
acordada. É assim em todos os dias. Ela dorme cedo, e ao amanhecer a luz do sol
já começa a refletir sobre seu quarto. Um despertador natural. Acorda, toma
laranjada e já recebe as visitas, que precisam falar em alto e bom som, pois a
anfitriã tem dificuldade para ouvir. Mas os contratempos da idade não a abatem.
Ontem pela manhã, ao notar que precisava de dinheiro, pediu o talão de cheques
a um dos filhos, e preencheu a folha com mãos firmes sem ajuda dos óculos.
Um horário impróprio para falar com dona Canô é o
da tarde, quando o soneca é obrigatória e quase sagrada. Este é um de seus
segredos de longevidade. O outro? “Não guardo raiva, nem rancor. Outro dia eu
li numa revista a declaração de atriz que mágoa dá câncer. Eu sempre soube
disso”, ensina. O apelido dona Canô vem de muito tempo, tomado de um garoto que
não conseguia pronunciar seu nome.
Após a homenagem matutina dos garotos, dona Canô
voltou ao quarto para escolher a roupa que vestiu ontem na inauguração da Casa
do Samba, no recém-restaurado Solar Araújo Pinho. Em todo evento em prol do
desenvolvimento de Santo Amaro, a matriarca dos Veloso marca presença.
“Como
não haveria de ir?”, indaga.
A filha Mabel diz que o apego à cidade natal é um
dos principais ensinamentos da mãe. O amor a Santo Amaro lhe foi ensinado pelo
marido, José Telles Velloso, a quem intimamente só chamava de “meu bem”. “Ela
nunca foi de dar conselhos ou fazer sermões. Ela fazia o certo e nós seguíamos
o exemplo. Foi desta forma que a mãe nos passou o amor a Santo Amaro”.
***
MISSA
COMEMORATIVA
A festa da véspera do centenário de dona Canô
hoje será dedicado a Nossa Senhora de Aparecida. Amanhã, dia do aniversário de
100 anos de idade, será realizada uma missa comemorativa na Igreja Matriz de
Santo Amaro, a ser presidida pelo cardeal arcebispo dom Geraldo Majella Agnelo.
Santo-amarense, o monsenhor Gaspar Sadoc fará a homilia. Logo depois será
oferecida à população da cidade um café da manhã. O almoço para a família e 400
convidados será no Resort do Caieiro.
Segunda-feira,
17 setembro de 2007
Caetano reclama de Gil e critica FHC
No aniversário de 100 anos da mãe, dona Canô, ele cobra do ministro
melhor defesa dos direitos autorais
Lauro Lisboa Garcia,
SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO
Era para ser um “anticlímax” a fala de Caetano Veloso, como ele próprio
antecipou, no seminário Os Sambas Brasileiros: Diversidade, Apropriações e
Salvaguarda, que marcou a inauguração da Casa do Samba, no fim de semana, em
Santo Amaro da Purificação (BA), terra natal do compositor. No entanto,
rebatendo observações do antropólogo Hermano Vianna, Caetano acabou atraindo
maior atenção para sua participação, que encerraria o evento.
O filho de dona Canô, que estava na cidade principalmente para comemorar os 100 anos da matriarca da família Viana Telles Veloso, ocorrido ontem, criticou a pirataria, a entrevista do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso à revista Piauí, a absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (“uma vergonha”), o projeto de nova reforma ortográfica da língua portuguesa. E terminou cobrando do ministro da Cultura Gilberto Gil, presente ao evento, um maior cuidado em defesa dos direitos autorais.
Caetano elogiou um dos aspectos da gestão do ministro - como o que ele chama de “licença alternativa” diante das propostas novas decorrentes da evolução tecnológica, vista pelo ministro como um “conjunto de benefícios novos para divulgação” de obras artísticas -, mas ressalvou: “É bacana, mas também temerário você afirmar isso como ministro, que é também produtor de cultura. Chega num ponto em que o ministério deveria agir nessa questão com mais cuidado. Porque o estímulo a esse negócio cria uma sensação de vale-tudo.” Gil rebateu dizendo que está preparando “uma discussão profunda com a sociedade” e organizando o Fórum Nacional do Direito Autoral.
Caetano emendou em seu discurso uma crítica a Fernando Henrique, que disse à revista Piauí não gostar de paradas cívicas porque os brasileiros não sabem marchar, sambam. “Achei um lixo essa entrevista, não gostei do tom dele, superior. É um tom chato que vem dessa área de São Paulo de se meter na política via intelectualidade. Na verdade isso ainda vem na eleição de Lula”, prosseguiu.
Criticou também a absolvição de Renan Calheiros. “Eu acho uma vergonha. Sou da classe média, filho de um homem honrado.” Caetano disse que não gosta de dinheiro, mas também é contra os regimes comunistas (“uma porcaria”). “Eles nunca passaram pela experiência que nós temos, que é a glória da liberdade.”
IMPRENSA
Caetano falou que pensa em parar de dar entrevistas, irritado com o fato de ser alvo de sites de fofoca e de insistentes câmeras fotográficas. E mostrou-se indignado com os excessos do batalhão de fotógrafos e câmeras de tevê, que não deram trégua a dona Canô durante a missa realizada ontem de manhã em homenagem a ela na Igreja de Nossa Senhora da Purificação.
Algo semelhante já tinha ocorrido em outra missa no sábado, quando chegou à cidade a imagem de Nossa Senhora Aparecida, presente do padre Josafá Morais à cidade. As duas missas tiveram momentos de grande comoção, com a filha Maria Bethânia cantando Romaria, de Renato Teixeira, no sábado, e Maria, do neto de Canô Jota Velloso, ontem. Sempre sorridente, dona Canô foi homenageada também pelos Correios (numa estranha e inadequada cerimônia dentro da igreja), que vão lançar um selo comemorativo de seu centenário com uma foto dela.
Apontada por várias conterrâneas como exemplo de dignidade e bem-viver, ela permaneceu até perto de 13h30 numa tenda armada na frente da igreja para receber os cumprimentos da população que já vem há meses festejando a data antecipadamente.
O filho de dona Canô, que estava na cidade principalmente para comemorar os 100 anos da matriarca da família Viana Telles Veloso, ocorrido ontem, criticou a pirataria, a entrevista do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso à revista Piauí, a absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (“uma vergonha”), o projeto de nova reforma ortográfica da língua portuguesa. E terminou cobrando do ministro da Cultura Gilberto Gil, presente ao evento, um maior cuidado em defesa dos direitos autorais.
Caetano elogiou um dos aspectos da gestão do ministro - como o que ele chama de “licença alternativa” diante das propostas novas decorrentes da evolução tecnológica, vista pelo ministro como um “conjunto de benefícios novos para divulgação” de obras artísticas -, mas ressalvou: “É bacana, mas também temerário você afirmar isso como ministro, que é também produtor de cultura. Chega num ponto em que o ministério deveria agir nessa questão com mais cuidado. Porque o estímulo a esse negócio cria uma sensação de vale-tudo.” Gil rebateu dizendo que está preparando “uma discussão profunda com a sociedade” e organizando o Fórum Nacional do Direito Autoral.
Caetano emendou em seu discurso uma crítica a Fernando Henrique, que disse à revista Piauí não gostar de paradas cívicas porque os brasileiros não sabem marchar, sambam. “Achei um lixo essa entrevista, não gostei do tom dele, superior. É um tom chato que vem dessa área de São Paulo de se meter na política via intelectualidade. Na verdade isso ainda vem na eleição de Lula”, prosseguiu.
Criticou também a absolvição de Renan Calheiros. “Eu acho uma vergonha. Sou da classe média, filho de um homem honrado.” Caetano disse que não gosta de dinheiro, mas também é contra os regimes comunistas (“uma porcaria”). “Eles nunca passaram pela experiência que nós temos, que é a glória da liberdade.”
IMPRENSA
Caetano falou que pensa em parar de dar entrevistas, irritado com o fato de ser alvo de sites de fofoca e de insistentes câmeras fotográficas. E mostrou-se indignado com os excessos do batalhão de fotógrafos e câmeras de tevê, que não deram trégua a dona Canô durante a missa realizada ontem de manhã em homenagem a ela na Igreja de Nossa Senhora da Purificação.
Algo semelhante já tinha ocorrido em outra missa no sábado, quando chegou à cidade a imagem de Nossa Senhora Aparecida, presente do padre Josafá Morais à cidade. As duas missas tiveram momentos de grande comoção, com a filha Maria Bethânia cantando Romaria, de Renato Teixeira, no sábado, e Maria, do neto de Canô Jota Velloso, ontem. Sempre sorridente, dona Canô foi homenageada também pelos Correios (numa estranha e inadequada cerimônia dentro da igreja), que vão lançar um selo comemorativo de seu centenário com uma foto dela.
Apontada por várias conterrâneas como exemplo de dignidade e bem-viver, ela permaneceu até perto de 13h30 numa tenda armada na frente da igreja para receber os cumprimentos da população que já vem há meses festejando a data antecipadamente.
Debates marcam inauguração da Casa do Samba
Especialistas
trataram da origem do gênero em evento promovido pelo Iphan
O Estadao de S.Paulo
17 Setembro 2007
As comemorações do
centenário de Dona Canô coincidiram com a inauguração da Casa do Samba de Santo
Amaro. Na sexta, a abertura oficial - com presença do ministro da Cultura
Gilberto Gil, do presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional), Luiz Fernando de Almeida, do prefeito da cidade, João
Melo, e do governador da Bahia Jaques Wagner, Dona Canô, Caetano Veloso e Dona
Edith do Prato, entre outros - teve como ponto alto as apresentações de
diversos grupos de samba-de-roda do Recôncavo Baiano. No sábado, o seminário Os
Sambas Brasileiros: Diversidade, Apropriações e Salvaguarda reuniu nomes de
peso como o músico e pesquisador carioca Carlos Sandroni, o jornalista e
pesquisador gaúcho Fábio Gomes, o antropólogo paraibano radicado no Rio Hermano
Vianna, o ensaísta e compositor paulista José Miguel Wisnik, o pesquisador
americano Ralph Waddey, além dos compositores baianos Gil e Caetano. A
diversidade deu a tônica não apenas pelas origens dos palestrantes, mas pelo
vasto debate que se desenha em torno das raízes do samba e de seus
desmembramentos, como sinônimo de vários tipos de batucadas.
Uma das falas mais
comentadas e elogiadas foi a de Fábio Gomes acerca das origens indígenas do
samba brasileiro. Em duas brilhantes falas, Hermano Vianna e José Miguel Wisnik
dissertaram, exemplificando com gravações sonoras, sobre a relação do samba com
a construção de uma identidade nacional. De origem africana ou indígena, a
expressão do samba também foi apontada como uma ''''coincidência sonora de palavras com diferentes significados''''.
Para Gil, a palavra samba, que ele também descobriu existir na Jamaica, com
outro significado, é um signo conciliador de diversos batuques. Para abrigar a
Casa do Samba, o Solar Araújo Pinho, às margens do Rio Subaé, foi totalmente
restaurado, vai abrigar museu e promover eventos relacionados ao samba de roda
ou outras manifestações rítmicas relacionadas aos batuques, como se viu na
noite de abertura. Uma ala do solar (em cuja reforma o Iphan investiu cerca de
R$ 2 milhões) conta até com alojamentos para receber grupos de outras cidades.
No fim, Gil avaliou o
encontro como o início promissor de uma série de trabalhos em torno da
preservação do samba. ''Toda essa
questão, o registro do samba como patrimônio imaterial da humanidade na Unesco
e depois a Casa do Samba, tudo isso nasceu de encontros que o Ministério da
Cultura promoveu com prefeitos e secretários de Cultura e sambadores há dois
anos ou mais em Brasília e a gente espera que esse conjunto de interessados e
demandantes do que a gente considere salvaguarda, preservação, fomento, todas
essas coisas em relação do samba de roda, que a Casa do Samba seja um pólo,
entre outros, de irradiação desses deveres, dessas responsabilidades.''
CORREIO FILATÉLICO
ANO
XXX • Nº 207 • Julho/Agosto/Setembro de 2007
Dona Canô é
homenageada
Os
Correios lançaram, em 16 de setembro, um carimbo comemorativo e dois selos
personalizados em homenagem à dona Canô Velloso, mãe dos artistas Caetano
Veloso e Maria Bethânia. A cerimônia de lançamento aconteceu após a missa de aniversario
de 100 anos da matriarca, na Igreja de Nossa Senhora da Purificação, em Santo Amaro.
Até o final de setembro, todas as correspondências enviadas de Santo Amaro
receberam o carimbo em homenagem à dona Canô.
Um
dos selos, ilustrado pelo artista plástico baiano Bel Borba, traz a imagem da
Igreja de Nossa Senhora da Purificação em segundo plano e do rosto de dona
Canô, em primeiro. O outro tem a imagem de uma fotografía de dona Canô.
Homenagear
dona Canô é homenajear a própria história de Santo Amaro. Trata-se, portanto,
de um tributo a uma vida consagrada à família, especialmente aos filhos e ao
companheiro, Zezinho Velloso. Funcionário dedicado da Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos e pai exemplar, Zezinho residia com a família no sobrado em cima
da única agência da cidade, e lá seus filhos nasceram, cresceram, foram
educados e se tornaram cidadãos do mundo, projetando não só o nome da família,
mas, também, o
da cidade de Santo Amaro da Purificação.
Junto
ao marido, Canô Telles Velloso se dedicou integralmente à educação dos filhos,
sem se descuidar da fé e da sua comunidade. Patrimônio vivo do recôncavo e da
própria Bahia, dona Canô é símbolo da mãe brasileira, zelosa e amorosa.
Dona Canô recebe homenagem durante a comemoração pelo seu aniversário de
cem anos, na cidade de Santo Amaro (BA)
Foto: Walter de
Carvalho/Agência A Tarde
|
O diretor Regional dos Correios, Cláudio Moras Garcia, e
dona Canô
|
Cláudio Moras e Caetano Veloso
|
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