miércoles, 6 de diciembre de 2017

2007 - OS 100 ANOS DE DONA CANÔ [1]







Dona Canô, mãe de Caetano e Bethânia, recebe comenda em Salvador

Plantão | Publicada em 11/08/2007




SALVADOR -Prestes a completar 100 anos de vida, dona Canô não poupa simpatia e disposição para viver novas emoções. Cercada por familiares, amigos e muitos admiradores, a matriarca da família Veloso, foi homenageada ontem com a Comenda Maria Quitéria, durante solenidade na Câmara de Vereadores. O evento integra uma das homenagens pelo centenário de dona Canô, que será comemorado no dia 16 de setembro.

Acompanhada de quatro dos oito filhos - Mabel, Rodrigo, Clara e Irene - além de netos e bisnetos, dona Canô foi recebida com honras de uma heroína. Logo na entrada da Câmara foi saudada pela percussão da banda Didá. Uma das maiores emoções, no entanto, foi a homenagem inédita do neto, o cantor e compositor J. Veloso, que cantou a música Mãe Canô, composta especialmente para a festa de centenário da avó.

Embora seja reconhecida como exemplo de mulher por defender a cultura e os interesses de Santa Amaro, sua cidade natal, e por ser acolhedora, dona Canô foi modesta ao dizer que não entendia o motivo da homenagem. "Eu já fui chamada até para entrevistas em São Paulo. Eu nunca fiz nada, não sei porque estou recebendo essa homenagem", disse.

Em seus quase 100 anos, todos muito bem vividos, como ela própria destacou, dona Canô disse que o melhor presente que poderá receber no dia de seu aniversário é a presença de todos os seus familiares e amigos. Como lição de vida, ela destacou "seguir a linha do reconhecimento do amor e da igualdade".

A solenidade contou ainda com a participação da cantora Márcia Short, que interpretou o Hino Nacional e do coral Vozes de Santo Amaro, um dos preferidos da homenageada.

"Estou muito feliz de poder estar aqui. Esta é uma homenagem mais do que merecida para minha mãe. Fazer 100 anos é uma raridade. Espero que ela tenha muitos anos de vida pela frente", destacou o neto J. Veloso.

A força e a vitalidade da quase centenária é motivo de orgulho para a filha e escritora Mabel Veloso. "Minha mãe é um exemplo de coragem e determinação. Eu endeuso ela", disse emocionada.

A aparente fragilidade da matriarca da família mais famosa de Santo Amaro, muitas vezes oculta a personalidade de uma mulher forte que é tida como exemplo para os amigos. "A Comenda Maria Quitéria simboliza uma homenagem a um dos maiores símbolos políticos e sociais da história da Bahia que está sendo concedido a um dos maiores vultos do contexto cultural e social da Bahia. É uma homenagem ajustável", destacou o professor, poeta e compositor Jorge Portugal, que também é compadre da homenageada.

A filha Clara Veloso destacou que Santo Amaro está mobilizada para os preparativos para a festa de aniversário de dona Canô. A data será marcada com uma série de eventos, entre eles, uma missa, um café da manhã e um almoço.





2007
Revista Contigo!
Copyright © 2007
Editora Abril S.A.


Dona Canô
Centenário de vida e alegria

Por Manuela Martinez
Fotos: Marcelo Tabach



TRICÔ. Na sala de sua casa, dona Canô observa Daniela Mercury e Bethânia 
Foto: Marcelo Tabach


A poucos meses de completar 100 anos, dona Canô fala dos filhos ilustres, Caetano e Bethânia, de sua história e da vida em Santo Amaro (BA)

Em qualquer lugar do Brasil onde estão, Caetano Veloso e Maria Bethânia são as estrelas. Menos em uma casa de dez quartos localizada no centro de Santo Amaro (a 71 quilômetros de Salvador), mais precisamente na avenida Ferreira Bandeira, 179. Neste endereço, desde 1951, mora Claudionor Vianna Telles Velloso, que o Brasil inteiro conhece como dona Canô. Perto de completar 100 anos (seu aniversário é no dia 16 de setembro), a matriarca da família Velloso reina absoluta no amplo sobrado e em toda a cidade. Disposição é o que não falta para essa mãe de oito filhos, que vive cercada por nove netos e cinco bisnetos.

O quarto de dona Canô é uma extensão de sua religiosidade e do amor à família. Em todas as estantes, há imagens religiosas, terços, livros com orações. Nas paredes, fotos de todos os filhos desde a infância, réplicas de discos de Caetano Veloso e Maria Bethânia.

Mesmo "aposentada" da cozinha, dona Canô dita para as duas cozinheiras todo o cardápio que será servido no almoço e no jantar. Após o almoço, outro ritual é cumprido por ela: repouso de três horas.

Em uma entrevista exclusiva a Contigo!, ela lembra com detalhes a criação dos filhos, momentos de sua vida e conta como é a sua rotina em Santo Amaro, cidade onde nasceu, se casou e se criou.

O que a senhora mais gosta de fazer agora que está perto de completar um século de vida?
Hoje, praticamente, não faço mais nada, estou aposentada, e os meus filhos não me deixam mais trabalhar. Há uns meses, sofri uma queda e o médico me proibiu de fazer certos movimentos, mas já disse para eles (os filhos) que não gosto de ficar parada. A que hora a senhora costuma acordar? Todos os dias eu me levanto às 5h30 para fazer o café, regar as plantas, caminhar pelo jardim, observar com detalhes o que será feito na casa. Nada aqui acontece sem que eu dê a palavra final, absolutamente nada.

A senhora percebe muita diferença entre a criação de seus netos e a criação que a senhora recebeu de seus pais?
A diferença é muito grande, hoje ninguém cria os filhos como antigamente. A liberdade que eles têm é muito grande, com 11, 12 anos, querem mandar em tudo. Hoje, sou dependente deles (filhos e netos), às vezes eles falam alguma coisa para mim, mas sei que é para o meu bem. Mas, quando o meu marido estava vivo, a coisa era bem diferente.

Quando os seus filhos eram mais jovens, a senhora implicava muito com eles, dava bronca?
Eu e o Zeca (José Telles Velloso, que foi casado com dona Canô por 53 anos) nunca brigamos, batemos, xingamos ou falamos mal de nossos filhos. Zeca não suportava qualquer tipo de agressão aos filhos, mesmo que não fossem dele. Uma vez, uma empregada que trabalhava para a gente bateu no filho dela e ele a demitiu. Ele só disse uma frase para ela: "Para fora, não quero você mais aqui, eu nunca bati em uma criança e não aceito isso". Não digo que o meu marido era uma pessoa excepcional, porque ninguém é excepcional, mas ele era maravilhoso.

A senhora costuma dar conselhos para os filhos, netos e bisnetos?
Dou conselho para todos, até para meus bisnetos. Tenho um bisneto de 23 anos e ele me ouve atentamente, estou velha demais (sorri ao completar a frase).

O que a senhora mais gosta de comer?
Sempre comi pouco, mas adoro uma feijoada, moqueca de arraia, feijão de leite. Nunca comi muito, a minha alimentação é apenas o suficiente para ter uma vida regrada.

A senhora ainda vai para a cozinha preparar algum prato especial?
Não, mas já cozinhei por quase 80 anos. Todo o trabalho que você imaginar relacionado a uma casa, já fiz. Criei oito filhos, lavei muita roupa, cozinhei, fazia as compras de casa, inspecionava tudo o que era relacionado a eles (os filhos).

A senhora sente orgulho de seus filhos?
Tenho felicidade porque todos, sem exceção, são muito felizes. Agora, tenho orgulho do que eu deixei para todos, porque eu os ensinei que a humildade e a simplicidade devem ser as principais características da vida. E isso todos aprenderam muito bem.

Eu sei que a senhora não gosta de falar, mas dois de seus filhos (Caetano e Maria Bethânia) são mais famosos do que os outros seis. Há alguma diferença de tratamento para eles?
(Sorrindo.) Não, claro que não, o tratamento é sempre igual. E eles (Caetano e Bethânia) são loucos por mim. Há 25 anos, Caetano não vinha à Lavagem de Santo Amaro (festa religiosa realizada no fim de janeiro). Agora, ele veio apenas para me ver.

Caetano Veloso e Maria Bethânia telefonam sempre para a senhora?
Caetano não telefona muito pra mim; não quero mentir por ele, coitado. Caetano não tem tempo, trabalha muito. Agora, Maria Bethânia liga duas vezes por dia, todos os dias, chova ou faça sol. E, quando viaja para o exterior, ela é capaz de gastar todo o dinheiro telefonando para mim. De onde estiver, eu sei que ela vai me telefonar.

A senhora acompanha a carreira deles?
Sempre acompanhei, mas hoje, com a idade, observo mais à distância. Mas, quando podia, viajava com eles. Eu conheço vários países porque Caetano e Maria Bethânia sempre fizeram questão de me levar com eles.

A senhora ouviu o último trabalho do Caetano?
Ouvi, está aqui (aponta para uma gaveta da escrivaninha), é o .

A senhora gostou?
Não faz o meu gênero, porque eu não gosto de batuques. Mas, para quem gosta, para quem entende, para quem compreende o que ele quer dizer, está muito bonito. Porque, quando ele canta, ela fala, ele diz. Quero deixar claro que o trabalho não me desagradou, mas, repito, gosto de uma coisa mais melodiosa.

De qual música do Caetano a senhora mais gosta?
Não identificado. E explico o motivo: ele era tão novo, ainda não se falava em disco voador, e ele já cantava o disco voador.

De qual música dele a senhora não gosta?
Cá Já. Não gosto mesmo.

A senhora gosta de London, London?
Amo esta música, quando a ouvi pela primeira vez, chorei muito. Ele estava exilado (fim da década de 60). Aí, passei por uma casa de discos e perguntei se havia a música. A música era cantada por Gal Costa. Eu pedi para ele colocar o disco e a emoção foi grande, saí chorando da loja (fica emocionada ao lembrar desse fato).

Qual a música que a senhora mais gosta de ver Maria Bethânia interpretar?
Para mim, Bethânia dá vida a tudo o que canta. Eu não entendo de música, apenas ouço. Agora, para mim, Brasileirinho é o melhor trabalho dela, o melhor show depois de A Rosa dos Ventos.

A senhora tem uma memória fantástica, lembra de tudo.
(Sorrindo.) Claro, eu ainda não morri.

A senhora tem o hábito de ver novelas, acompanhar o noticiário pela televisão?
Não, o noticiário hoje só tem infelicidade, perversidade, maldade e o coração de velho não agüenta essas coisas. Pela manhã, vejo programas culinários. Novela não acompanho porque todas são completamente iguais.

Qual o santo de sua devoção?
Veja aí (aponta para o santuário colocado em uma estante). Os meus santos de devoção são Nossa Senhora da Purificação e Santo Antônio. O Banco do Brasil me deu um Santo Antônio do século 18, veja como é lindo (mostra novamente). Nunca comprei santos, sempre ganhei de presente.

E nas orações que a senhora faz, o que pede para o Brasil e para os seus filhos?
Peço paz para o Brasil, as coisas estão muito embaralhadas no país. E, se houver compreensão, já é um avanço.

Além da senhora, duas personalidades brasileiras fazem 100 anos em 2007: o arquiteto Oscar Niemeyer e a atriz Dercy Gonçalves. A senhora os conhece?
Pessoalmente, não. Conheço pela obras, Niemeyer fez muita coisa bonita. E sempre achei Dercy Gonçalves muito engraçada, apesar das maluquices que fala.

Que conselhos a senhora dá àqueles que querem chegar aos 100 anos?
Saber viver.

E o que é saber viver?
Não levar tudo à ponta de faca. Muitas vezes, as pessoas se exaltam e terminam amizades por causa de uma simples troca de palavras.

Há quanto tempo a senhora está viúva? A senhora sente muita saudade do Zeca?
Faz quase 24 anos que ele morreu. Claro que sinto muita saudade, porque ele era uma pessoa maravilhosa, trabalhou 40 anos nos Correios, sem criar uma inimizade.

Caetano herdou mais a personalidade da senhora ou do pai?
Nem a minha, nem a dele. Caetano tem uma personalidade diferente, ele é mais fechado.

Que presente a senhora gostaria de ganhar nos 100 anos?
Para mim, para que mais? Cem anos é uma vida.

A senhora gosta de dar palpites nas coisas da casa?
Claro. Dou ordens a todos os meus funcionários. Dou ordens para todos porque não morri (sorri). 


''Hoje ninguém cria os filhos como antigamente. A liberdade é muito grande''

DEVOÇÃO
No quarto, simplicidade, imagens e objetos religiosos

LEMBRANÇA
As fotos de dona Canô e do marido, Zeca, com quem foi casada durante 53 anos

RELIGIOSIDADE
Um altar improvisado com dezenas de santos, na frente do qual ela reza todos os días

HOMENAGEM
A agência do Banco do Brasil faz referência à filha mais querida de Santo Amaro









15/09/2007

Dona Canô faz 100 anos neste domingo

Elói Corrêa | Agência A Tarde


Em clima de preparativos para sua festa de aniversário, Dona Canô esbanja vitalidade e alegria

Mary Weinstein, do A Tarde

Neste domingo será comemorado o centenário de nascimento de Dona Canô, na prática, já vem acontecendo o ano inteiro. “Todo 16 de cada mês”, diz Mabel, filha da aniversariante. A cidade onde ela nasceu e cresceu está pronta e se duvidar tem até alvorada com foguetes.

“Aqui é a terra dos cem”, contabiliza Neide Cerqueira, 77, que costurou muito tempo para a aniversariante. Atualmente, é a filha dela quem está bordando um vestido, que Rodrigo, outro filho de Canô, disse que era para botar mais contas. O pano é um brocado. Então, “tem Dona Chica com 102; Dona Domingas, que mora no Trapiche, também com 102; Zezinho Belmont é 103 ou 104; a avó de Rose, que todo mundo conhece por Voinha, também tem 100; Luizinha Pedrosa, que também fez 100 anos, no dia 16 de agosto".

Em meio a muita gente e muitos carros nas ruas de Santo Amaro, a 72 quilômetros de Salvador, os paralelepípedos da frente da morada dos Velloso foram consertados essa semana pela prefeitura porque estavam empoçando muita água.

"A cômoda foi de mamãe. Essa peça foi de meu irmão. Tem a mesa que foi de minha madrinha. É que a pessoa morre, não tem parente, eu sobrei, então eles me dão", explica, sentada no quarto cheio de santos e santas, que ninguém nunca contou quantos são. ”Quem sabe?” diz Rodrigo. "Aqui a decoração é a devoção", diz Mabel.

Na sala, tem uma cristaleira recheada de copos bonitos e uma peça onde botaram os doces que sobraram da festa que a comissão da Igreja fez de surpresa, terça-feira.


Foto: Maria Sampaio


Dona Canô conta: "Eu vinha chegando e vi a rua cheia de gente, fiquei até preocupada. Era uma seresta e foi bonito, mesmo. Paizinho é um senhor que toca sax, mas um sax do tempo que era muito bom. Ele toca cada valsa, cada bolero, e depois eu pedi samba".

A dança foi para dentro de casa até às 10h30 e foi com Roberto, outro filho, que aconteceu um diálogo ótimo: ”Ela dançou com os filhos e quando chegou a minha vez, lá pelas tantas, ouço um ‘você está parado’. Eu, tendo cuidado, e ela diz isso...(gargalhadas)“.

Os doces caseiros à base de ovos que os amigos trouxeram eram realmente deliciosos, isso deu para constatar. Agora, o bolo branco com um coreto em cima ela não deixou cortar porque se não Caetano e Bethânia não iam ver. 

Coreto era uma coisa que Dona Canô gostava muito e tinha recebido a promessa de ACM, que quando ela chegasse aos 100 anos, estaria refeito na Praça da Purificação que ela freqüentou muito com a família toda. Isso não pôde acontecer.

Sobre o patrimônio de Santo Amaro, ela diz que os poucos sobrados que restaram estão acabados. ”Prédios enormes, com três andares, com gradis na janela. Hoje tem grade por causa de ladrão. Antes era para enfeitar“, indigna-se, sem impaciência.

"Quando eu era moço, não havia esse interesse (de cuidar): em Salvador e nas cidades do Recôncavo o desejo era de se livrar da velharia dos sobrados e coretos. Santo Amaro foi quase totalmente desfigurada pela vitalidade cafona dos novos operários da Petrobras, no início dos anos 60. E pela estupidez de alguns prefeitos", disse Caetano Veloso que deve ter puxado a Dona Canô nesse jeito de dizer as coisas sem subterfúgios. Ela diz, mesmo.

”Qual é o meu valor para estar recebendo essas homenagens? Lá na Câmara de Vereadores (de Salvador) eu perguntei isso“, conta Dona Canô, sentada em uma cadeira no seu quarto. Ela mostra os suportes onde faz fisioterapia e se queixa que não está com mobilidade e que fica dependendo da ajuda das pessoas. ”Hoje, eu sou dependente. Eu, que fiz tudo na minha vida, todo trabalho de casa. Não faço mais crochê. Doce, ninguém fazia para mim. Eu fazia paneladas de doce de laranja. Hoje, não descasco nem uma“, chateia-se. Mas ninguém acredita quando ela faz uma rotação do próprio corpo em torno do seu eixo para atender ao telefone que está no criado mudo, logo atrás. E a conversa se desenvolve com animação e códigos particulares. A interlocutora é tratada de Iáiá com reciprocidade.

Isso sem falar na memória de Dona Canô que a faz lembrar com detalhes de vários episódios. ”Aquela foto (do disco Muito, de Caetano, de 1978) foi em um show de Bethânia, no Rio. Eu fui para o camarim e ele entrou, se ajoelhou, e botou a cabeça no meu colo. O fotógrafo tirou o retrato. Até hoje, ele chega e bota a cabeça no meu colo“, conta. Segundo Dona Canô, ele nem viu a hora em que o fotógrafo mirou. Quando o rapaz ligou para ele, acho que ele achou bonito”, conta ela.

“A união é a coisa que mais me agrada. Ainda respeitam a família“, fala Dona Canô sobre todos os filhos, que são apaixonadas e obedientes a ela.

A figura mais importante no aniversário de Dona Canô é a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que foi trazida de São Paulo, especialmente pelo padre Josafá Morais: ”ah, minha filha, são as amizades“. Dona Canô ficou amiga do padre quando Bethânia cantou lá em Aparecida. E fala, também, da fidelidade que tem com os amigos.

A imagem vai ficar exposta para visitação até as 17 horas deste domingo, quando haverá a Missa das Crianças. Dona Canô quer toda a família entrando junto na Igreja.

”Eu já disse: quem disser, ah, tô mudando a roupa, vai ficar aí (rs)“. O roteiro da missa está todo na cabeça. Caetano vai repetir o ofertório que ele fez para ela aos 90 anos, porque dessa vez não deu para compor - ela mesmo explica. Bethânia vai cantar a Ave Maria que Caetano fez.

MÃE
(Caetano Veloso)

Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses não
Imensa solidão
Eu sou um Rei que não tem fim
E brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração
Cidades, mares, povo, Rio
Ninguém me tem amor
Cigarras, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor
Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o teu caminho e o meu caminho
É um nem vais nem vou
Meninos, ondas, becos, mãe
E só porque não estais
És para mim e nada mais
Na boca das manhãs
Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti







2007
Revista Tpm # 69

Setembro




Retratos: Christian Cravo








Cem anos sem solidão
Patrimônio histórico da Bahia, ela garante que não sabe por que é tão querida e respeitada. Na entrevista que você lê a seguir, descobre o que Claudionor Viana Telles Velloso tem de tão encantador


por Renata Leão
10/09/2007
Tpm #69

Em setembro, a mãe de Caetano e de Maria Bethânia faz 100 anos. Chega ao centenário não só com saúde, mas cheia de bom humor e leveza. Além dos filhos famosos, ela é mãe de muita gente: outros seis rebentos, nove netos e cinco bisnetos, além de amigos e vizinhos que não dão um passo sem a bênção de dona Canô. Patrimônio histórico da Bahia, ela garante que não sabe por que é tão querida e respeitada. Na entrevista que você lê a seguir, descobre o que Claudionor Viana Telles Velloso tem de tão encantador.




São oito da manhã de uma quinta-feira de agosto e dona Canô, como faz todos os dias, está concentrada em seu quarto. Assiste à missa de Nossa Senhora e nada tira seus pequenos olhos da direção da TV. Um oratório com santos que vão além da Bahia de todos eles e uma prateleira cheia de anjos de porcelana decoram o ambiente. Não se pode atrapalhar dona Canô na hora de sua sagrada cerimônia, tampouco seria educado.

Enquanto espero na sala, acompanho a movimentação de seu filho Rodrigo, 72, no telefone sem fio. “Sim, estou falando da Bahia, a encomenda é para cá.” Ele produz a festa de 100 anos de sua mãe, que acontece dia 16 de setembro.“Será um grande dia. Começa com uma missa, depois um café-da-manhã na praça e o caruru no hotel da cidade”, explica o tecelão, quarto filho de dona Canô – antes dele vieram Nicinha, Clara Maria e Maria Isabel; depois, Roberto José, Caetano Emanuel, Maria Bethânia e Irene. Oito ao todo. A primeira e a última, adotadas. 

Os outros, nascidos do ventre, em casa, de parto normal. “E sem parteira. Pari os seis sozinha, com a ajuda de minha mãe e de minha sogra”, revelaria mais tarde a matriarca.


Foto: Christian Cravo

Vestido, brincos e água-de-colônia
Na cozinha da casa, panelas bem velhinhas no fogão, daquelas que fazem comida da melhor qualidade. São manuseadas por Isaura, 69 anos, 50 deles com dona Canô, e Odília, 62, há 24 empregada da família. Me oferecem suco de cajá e café, enquanto preparam a moqueca de arraia do almoço. “Dona Canô mais Bethânia são umas jóias, sempre alegres, sem estresse”, conta Isaura. “A família toda é assim, tudo gente boa.” A casa, de portas abertas, é um entra-e-sai constante. Vizinhos e amigos que vêm para assuntar e ver o tempo passar são sempre bem-vindos.
Dona Canô mandou chamar. Na hora das fotos, faz questão de escolher o vestido e os brincos – “Quero os dourados, de anjos!” – que vai usar. Antes do primeiro clique, um detalhe fundamental: água-de-colônia.“ Mas das fracas, para não aperrear o bebê da repórter, que está grávida”, pede.
Devidamente fotografada, ela toma seu café e se acomoda na sala para falar das coisas felizes e tristes dos seus 100 anos de vida sem se exaltar. Mostra que, justamente por não se exaltar, chegou aonde chegou com tamanha saúde e bom humor.
A conversa, permeada por causos e piadas, é interrompida várias vezes pelo movimento das visitas e pelo telefone que toca. Ela atende. “Vou querer três ônibus. O povo aqui de Santo Amaro quer ir para prestigiar”, diz, em conversa com a organizadora do prêmio que receberia no dia seguinte, a Comenda Maria Quitéria, a maior honraria que o governo baiano concede a alguém. “Por que a senhora é tão querida?”, pergunto. “Não sei, minha filha. O que eu fiz da vida? Criei meus filhos e cuidei da minha família.”Com vocês, a sabedoria e a simplicidade de dona Canô.


Tpm. Todo dia é esse movimento aqui na sua casa? Dona Canô. Sim. Tenho muitos amigos, nasci e me criei aqui. Mas essa bagunça é só até meio-dia. Depois encerro, vou almoçar e descansar. Senão, não agüento.


Eu não acho que exista amor. Há compreensão e amizade.”
Dona Canô

Como é sua rotina? Acordava cedo por causa dos meninos e até hoje, às 5h estou acordada. Fico deitada um bocadinho, aí me levanto pra fazer nada [risos].Vejo a missa de Nossa Senhora até umas 9h, tomo meu café. Aí começa a aparecer visita de todo lado. Converso com todo mundo e, ao meio-dia, almoço. Depois cochilo. À tarde tomo banho, café, faço minhas orações e assisto TV.
A senhora é muito religiosa, né? Rezo todos os dias. Você já viu meus santos?
Tenho muitas imagens, mas não rezo para cada uma. Agora, para Nossa
Senhora da Purificação, minha mãe, rezo quase toda hora, pedindo por meus filhos.

Com esse movimento em sua casa dá pra ver que a senhora tem muitos filhos além dos seus. Ah, tenho. Faço o que posso pelo povo daqui.

E como a senhora virou essa pessoa tão influente, tão amada aqui na Bahia? Não sei. Sempre que recebo uma homenagem me pergunto: “Por que, meu Deus, o que foi que eu fiz?”. Muito disso acontece por causa de Bethânia e de Caetano. Se eles não existissem eu estava existindo? Não. Eles que levaram meu nome porque não negam que nasceram em Santo Amaro da Purificação.

E o que a senhora fez? Criei meus filhos e vivi cuidando da minha família.

As meninas da cozinha me contaram que foi a senhora quem ensinou tudo a elas. Verdade? Sim. Isaura trabalha aqui há 50 anos. Quando chegou, não sabia nada, eu que ensinei porque sempre soube cozinhar, minha mãe me ensinou desde menina.

Sua mãe não só te ensinou a cozinhar, mas criou a senhora e seus dois irmãos sozinha? Foi. Conheci meu pai já velho, perto de morrer. Quando ele ficou doente, mandou chamar e fui vê-lo em Salvador. Mas era pequena e tive medo, porque ele era muito barbudo. Logo depois morreu. Minha mãe morreu com 82 anos, aqui nesta casa.

E seus irmãos, ainda estão vivos? Tudo já morreu. Almir com 98 anos e Geni com 91.

Vocês foram educados num colégio de freiras? Na Sacramentinas, aqui em Santo Amaro. Tinha que aprender francês, tinha aula de piano com uma professora alemã, e também aula de costura. Escola rígida, tinha fardamento completo, hora de chegar, hora de sair. Nessa época a gente se educava.

A senhora ainda tem amigas dessa época? A vizinha aqui, que vai fazer 100 para o ano. Tem outra em Salvador com 99 anos. Marieta já morreu [diz, apontando para um retrato na parede], Cininha também. Muitas já morreram.

A senhora sente tristeza quando vê que a maioria das suas amigas já morreu? Não entendo em que sentido você fala dessa tristeza. Não sinto, não. É a vida. Zeca [seu marido], por exemplo, nunca pensou em velhice, não. Mesmo quando ficou doente, nunca se entregou.

“Viver é muito bom, mas saber viver é melhor ainda”
Dona Canô

Com quantos anos ele ficou doente? Teve um câncer com 73 anos. Levou dez se tratando e morreu com 83. Ficamos casados por 53 anos.
53 é tempo. E hoje é raríssimo um casal passar a vida junto. Por quê? Porque cada um quer ser de um jeito. Eu fiquei com o Zé tanto tempo porque era muito bom e porque eu me habituei a ser como ele e pronto. Vivemos todos esses anos muito bem.

Como é que namorava nessa época? Normal. Hoje o namoro é tão... tão rápido. Eu levei um ano e meio namorando. Depois a gente apressou o casamento porque Zé tinha que viajar pois foi transferido. O irmão mais velho dele preparou os papéis e a gente casou na igreja lá de baixo, de Nossa Senhora do Rosário. Eu tinha 23 anos e ele, 29.

E a senhora foi morar na casa da família dele? Sim, com 24 pessoas [risos].

Como fez para conviver com 24 pessoas? Morei lá durante anos sem o menor problema. Sabe, minha filha, quem quer viver procura viver. Foi o que me aconteceu. Eu queria viver com o meu marido, passando o que ele passava de bom e de ruim. Zeca não podia se afastar da família porque ele e a irmã sustentavam todo mundo. Até hoje o que resta da família de Zeca é amigo. Depois ele alugou um sobrado e a gente mudou.

Quando se mudaram, já tinham filhos? Ainda não.

Quem é a sua primeira filha? Clara Maria.

E depois de Clara? Mabel, depois Rodrigo, Roberto, Caetano e Maria Bethânia.

E depois? É, peraí... Rodrigo, Roberto, Caetano, Maria Bethânia, Clara, Mabel, quem falta?

Irene? Irene é depois. Irene chegou depois, quando já estavam todos crescidos.

Nicinha? Nicinha é a mais velha de todos, tem 77 anos.

Nicinha é filha de criação? Sim, é adotiva.

Como é a história de Nicinha? Aconteceu que ela nasceu de um susto que a mãe dela tomou quando estava grávida. A parede da casa caiu e a menina nasceu com sete meses, pequetitica, uma coisinha de nada. Marininha, uma das sobrinhas de Zeca, trazia a criança pra casa, levava toda noite pra dormir, tornava a trazer de manhã. Ficamos apegados a ela. Ainda não tínhamos filhos. Foi Nicinha que levou nossas alianças no casamento. Hoje ela é a camareira de Bethânia.
E a mais nova, Irene, também é adotada? A Irene também é adotada. E foi uma coisa pior. A mãe dela morreu de parto, com tétano, sete dias depois de dar à luz. O pai, de uma família daqui de Santo Amaro, enlouqueceu, e a gente ficou com a criança.

No filme do Andrucha [Pedrinha de Aruanda, sobre Bethânia, que será lançado este mês], a senhora diz que gosta dos seus filhos porque simplesmente são bons filhos. Ah, minha filha, eles são filhos bons mesmo. A outra [Bethânia] já telefonou, telefona duas vezes por dia. Caetano, não. Não tem tempo, passa viajando e não é de telefone. Falei com ele esta semana, no seu aniversário [dia 07/o8]. Disse que mandei celebrar missa e ele ficou muito contente, disse: “Ah, minha mãe, que bom”. Ele não pôde vir porque estava no Peru.


Cortando o bolo de seus 99 anos - Crédito: Acervo pessoal

Bethânia é muito apegada à senhora? Muito. Apesar de morar longe, se eu disser que meu pé doeu, ela fica doida.

Nenhum dos seus outros filhos é artista. De onde surgiram os dons do Caetano e da Bethânia? Eu representei muito quando era moça. Muitas peças, tudo de Oduvaldo Vianna, o pai. Maria Stuart, a vida de Maria Stuart, o nascimento de Jesus. Fora os bailados, os reis, as cantorias de presépio. Baile pastoril a gente fazia todo ano.

E a senhora gostava? Oxe, a vida da gente era uma alegria! Todo mundo ficava unido pra fazer essas artes, não tinha briga, nada.


E, quando Bethânia começou a dizer que queria ser artista, o que a senhora falava? Dizia: “Minha filha, não queira não. Porque, quando começarem as exigências pra você repetir, você não vai gostar”. Ela cantava o dia inteiro, tudo o que ouvia. Caetano e ela. Caetano tinha uma facilidade incrível pra aprender as músicas.

A senhora que cantava pra eles? Cantava. Cantei tudo. Um dia, na televisão, na época dos festivais, perguntaram como é que ele sabia tanta música velha. “Minha mãe que me ensinou”, disse. Eles sentavam no meu colo, pequenininhos, e eu ficava cantando pra eles. É... foi uma vida boa.

Como foi a saída da Bethânia de Santo Amaro para o Rio? Aquela menina, a Nara Leão, adoeceu da garganta e alguém perguntou quem ela queria pra substituí-la. Ela mandou buscar Bethânia na Bahia. Aí [a atriz baiana] Nilda Spencer telefonou em casa pra fazer o convite e eu disse: “O que é isso? Bethânia tem 17 anos, não vai sair daqui, não vou deixar”. Zeca achou que era trote. Outro telefonema e Nilda diz: “Não é trote, não, é pra Maria Bethânia substituir Nara”. Eu digo: “Mas, Zeca, com que competência Bethânia pode substituir Nara?”. Nara era uma cantora famosa, de fato uma cantora boa. E minha filha ia pra lá, uma menina do interior. Zeca e eu não podíamos acompanhá-la. Aí Caetano, que já conhecia o Rio, disse: “Eu levo Bethânia, meu pai. Deixe comigo, não tem nada, não”. Aí, depois de um tempo nós fomos assistir [ao espetáculo Opinião, em 1965].

Foram até o Rio? Fomos. Rodrigo, Zeca e eu. Foi a primeira vez que saímos da Bahia e viajamos de ônibus. O show foi aquela coisa de loucura, quando ela entrou no palco o público se pôs a gritar – é assim até hoje. Foi assim que ela se foi. Nara Leão se lembrou que uma vez tinha ouvido uma menina em Salvador.

Como foi quando a senhora viu que ela tinha talento e que ia dar certo? Talento? Nunca pensei nisso, não. Achei que ela fazia com a maior naturalidade do mundo, não se esforçava pra fazer. Então vi que ela tinha o dom e uma voz que até hoje não teve igual.Até hoje tem tido muitas cantoras, mas nunca vi nenhuma cantar como a Bethânia. A voz grave que, no colégio, a impedia de participar do coral porque diziam que ela tinha voz feia, grossa.

Quais cantoras a senhora gosta de ouvir? Gosto de Alcione, ela tem uma capacidade muito grande de cantar. Gosto muito de Gal, que cresceu com Gil, Caetano e Bethânia, tem uma voz linda a Gal.

E Caetano, quando a senhora percebeu que seu filho era um artista? Caetano começou com essa coisa de tomar parte naqueles festivais. Em todos ele ganhava. Mas não esperava que ele fosse chegar ao que é, não. Aí é o dom dele também, a inteligência. Ele tinha uma facilidade grande de aprender música, de tocar piano. Menino de tudo, chegava da aula de piano e, o que aprendia lá, transformava em bolero e em samba aqui em casa. Até música clássica ele transformava em bolero.

Isso menino? Pequeno, meu Deus. Com 8 anos de idade. Todos os meus filhos começaram a aprender música pequenos, só quem não aprendeu foi Rodrigo e Mabel. Nicinha toca até hoje.

A senhora sofreu muito quando Caetano foi preso na época da ditadura e teve que se exilar em Londres? Ave-Maria, não gosto nem de lembrar. Foram dois anos e meio de sofrimento. Primeiro, os 55 dias que ele ficou preso no Rio, sem eu poder visitar. Depois o tempo em Londres.


Como a senhora ficou sabendo que ele foi preso? Dona Vangri, sogra de Caetano, mãe de Dedé, telefonou no dia 31 de dezembro de 1968. A gente em casa, assim alegre, e ela dizendo que Caetano e Gil tinham sido presos. Depois soubemos que ele tinha cantado em palavras obscenas o hino nacional. Olha a cabeça de Caetano pra fazer uma coisa dessa... Veja, esse foi o crime que ele cometeu. E depois resolveram incriminá-lo por “Alegria, Alegria”, que ninguém se conformou. Aí ele foi para Londres e ficou compondo, fez muita amizade. Roberto Carlos foi visitar ele, outros cantores também, ele não se sentiu muito só.

E a senhora aqui no Brasil, com saudades dele... Aqui eu só fazia rezar. Também o que pude fazer pra ele voltar eu fiz. Teve uma cartomante que me disse: “Olha, dona Canô, ele está preso, mas vai voltar. E eu vou dizer uma coisa à senhora, grave bem: as televisões que foram contra Caetano vão tocar fogo. Então um dia soubemos que uma emissora grande tinha pegado fogo e outra menor também... [em 1969, houve incêndios em quatro emissoras: a Record, a Excelsior, a Globo e a Bandeirantes].

E Zeca, como ele lidava com Caetano exilado? Sofria. Um dia Chico Anysio telefonou dizendo que dava uma passagem pra Zeca ir ver Caetano em Londres. Ele disse: “Não vou, não posso ver meu filho exilado”. Aí mandou Rodrigo. Por isso gosto tanto de Chico Anysio. Caetano pediu que Rodrigo levasse tudo aqui de Santo Amaro, farinha, feijão... Depois que ele voltou, eu fazia os pacotes e mandava por correio. A mãe de Dedé mandava também.

Vocês são amigas até hoje? Muito, dona Vangri tem muita coisa comigo e eu com ela. O pai de Dedé era muito amigo de Zeca também.

A senhora disse, em uma entrevista na Folha de S.Paulo, que Caetano não sabe nada de mulher. Como é que é isso? Ah, ele teve uma mulher maravilhosa, Dedé. Agora Paulinha não posso dizer, não posso julgar. Não me meto nem nunca me meti na vida deles. Nem procurei saber o porquê da separação. Eles decidiram, não dei opinião, porque não podia fazer nada. E continuo assim. Ela vem aqui, eu trato ela muito bem. Hoje as pessoas com um mês de casado já estão se desentendendo. Não agüentam mais elas mesmas e começam a implicar com o outro. Eu não tive nada disso.

E como é que faz pra ser casada durante tanto tempo e ser feliz? A pessoa tem que se empenhar em conviver com o outro. Eu não acho que exista amor. Há compreensão e amizade. Aí, sim, perdura. A pessoa tem que se submeter e aceitar às vezes.

Qual seu segredo para chegar aos 100 anos assim, tão inteira, consciente e bem-humorada? Dentro do possível eu estou muito bem de saúde, mas infelizmente perdi o equilíbrio há dois anos, quando levei uma queda que tirou uma vértebra do lugar. Mas minha cabeça ainda está cheia de miolos. Aprendi a viver sem procurar sair dessa linha que fiz pra mim mesma. Viver é muito bom, mas saber viver é melhor ainda.


Foto: Christian Cravo













2007
Revista ISTOÉ Gente


100 anos de dona Canô

Mais de 12 mil pessoas comemoram centenário da matriarca do clã Veloso, que recebe homenagem da família, de políticos e artistas em Santo Amaro da purificação, na Bahia

TEXTO BIANCA ZARAMELLA

A pequena Santo Amaro da Purificação parou no domingo 16 para comemorar os 100 anos de Dona Canô. Mais de 12 mil pessoas se reuniram na cidade, a 71 km de Salvador, para festejar o aniversário da mãe dos cantores Caetano Veloso e Maria Bethânia. Como ocorre todos os anos, a família fez uma grande festa. Um farto café da manhã foi oferecido em barracas improvisadas na praça principal da cidade e também na residência da matriarca.


As filhas Mabel e Bethânia amparam Dona Canô: “O segredo para chegar aos 100 anos é procurar ser feliz”, diz ela

Segredo
A aniversariante deixou o quarto antes das 8h, acompanhada das filhas Mabel Veloso e Clara Maria e de uma neta. Na sala, amigos e familiares receberam a matriarca com aplausos. Feliz e bem disposta, Dona Canô agradeceu a presença de todos e brindou com uma xícara de café preto. “O segredo para chegar aos 100 anos é procurar ser feliz”, afirmou. Na grande mesa, repleta de quitutes baianos, estavam reunidos os filhos Mabel, Irene, Clara Maria, Roberto, Nicinha, netos, sobrinhos e algumas amigas como Lucya Adães, que recitou um poema para homenagear a data. Caetano e Bethânia não conseguiram chegar a tempo para o café da manhã e seguiram direto para a Igreja Nossa Senhora da Purificação, onde aconteceu a missa celebrada pelo cardeal Geraldo Majella.


Dona Canô acordou antes das 8h para celebrar o aniversario

Emoção
Na companhia dos filhos Zeca, Tom e Moreno, Caetano segurou a mão de Dona Canô na entrada na igreja. “Bênção, minha mãe”, pediu o cantor. A cerimônia contou com a imagem de Nossa Senhora Aparecida – vinda especialmente do interior de São Paulo para a festa – e com uma apresentação de Maria Bethânia. A cantora se emocionou ao interpretar “Maria”, canção criada em homenagem a Dona Canô pelo neto Jota Veloso. Apontada por várias conterrâneas como exemplo de dignidade e bem-viver.


Dona Canô permaneceu firme e forte numa tenda armada em frente à igreja para receber os cumprimentos da população até as 13h30. “Para chegar aos cem anos é preciso ter paciência”, brincou a anfitriã, sempre sorridente. Após a missa todos os convidados seguiram para o Hotel Fazenda do Caeiro, onde foi servido um almoço com o melhor da comida típica baiana. Entre os convidados estavam o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), o ministro da Cultura, Gilberto Gil, o deputado ACM Neto, a cantora Margareth Menezes e a atriz Regina Casé.

Caetano, o filho Tom e o governador Jaques Wagner



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