CAETANO VELOSO / JAIR RODRIGUES / CHICO BUARQUE DE HOLANDA / WILSON SIMONAL |
CAETANO VELOSO / TOM JOBIM / EDU LOBO / MARCOS VALE |
1969
Revista Romântica
Ano
IX – n° 100
Agosto
REGINA HELENA / REGINA BONI
"
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Como começou a história da Ao Dromedário Elegante? Primeiro eu me
juntei ao grupo tropicalista. Eu era uma pessoa muito politizada e nunca tinha
me imaginado fazendo roupa, meu negócio era política, sociologia, filosofia. Um
dia eu estava na casa do Caetano [Veloso] em uma discussão, e disse que a roupa que ele
tinha usado na apresentação de Alegria, alegría no festival era muito careta e não
correspondia à linguagem dele. Era muito conservador. A gente começou a
conversar sobre roupa e a Dedé [Gadelha] disse que eu seria a nova figurinista do
grupo. Eu falei “mas eu nunca peguei em um lápis, não sei nem costurar”. Ela
insistiu na ideia e eu comecei a desenhar as roupas, minha mãe que costurava –
ela era formada em Paris, uma fantástica costureira.
Mas até então você nunca tinha desenhado roupa? Nunca. Minha
primeira roupa foi para a Gal [Costa], quando ela foi defender uma música do Caetano
na Globo, em um festival não desses importantes. E tinha um problema naquele
tempo que dava um defeito nas câmeras, fazendo tudo que era brilhante ficar
luminoso na transmissão. Aí eu perguntei: Boni, se eu colocar uma roupa toda
rodeada de strass, quando a Gal se mexer vai fazer um auê?. Ele disse que sim.
Então eu fiz um vestido azul que era todo bordado com strass. Quando a Gal
cantou, mesmo fazendo poucos gestos, eles formavam um círculo de luz. Foi super
legal.
E como foi consolidada a marca? A gente começou a
lidar com as emoções do público. Eu estava tentando dar pro Caetano, pra Gal e
pro Gil a imagem do que eles falavam. A gente convive socialmente sempre
vestido e a roupa é muito o que você quer ser e o que você quer dizer no grupo
em que está. É algo que se distingue muito fácil. Então a gente começou a criar
situações em que a roupa dava mais força para a linguagem eles estavam
cantando. Conseguimos dominar as reações do público e o Caetano disse que
precisávamos testar isso com pessoas que não faziam parte da plateia dos shows.
Comecei a fazer uma pesquisa em bazares da periferia da cidade e comprava todo
o estoque antigo deles – vinha tecido que não existia mais, fios que não
existiam mais etc. Era tudo coisa de 1920 pra cá que eu comprava e criei um
acervo de informações. Era também o tempo da revolução sexual e o trabalho que
eu fazia era muito sensual e libertário, as roupas eram muito curtas, os
tecidos eram moles, o corte tirava o sutiã (que na época era uma armação dura e
pontuda). Isso vinha muito de encontro à ansiedade da época: derrubar a
Tradição Família e Propriedade e toda essa conjugação social. Era o visual que
as pessoas estavam procurando, por isso foi um sucesso.
Quem mais você vestiu, além do Caetano, da Gal e do Gil? Os Mutantes,
o pessoal da Jovem Guarda, fiz o figurino do filme Diamante Cor de Rosa, fiz Chiclete com Banana no
Teatro Arena, fiz figurino para um filme do Antunes Filho, fiz Jesus Cristo Super Star,
figurino infantil também... "
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