viernes, 23 de junio de 2023

2002 - GAL BOSSA TROPICAL

 







Foto: Marcos Hermes


Foto: Marcos Hermes




São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002


"BOSSA TROPICAL"

Disco marca a estréia da cantora na gravadora Abril/MZA, após parceria com a BMG iniciada em 84

Gal Costa aposta em mudanças artísticas

DA REDAÇÃO / BRUNO YUTAKA SAITO

Sorridente, de braços abertos para o mar. Em imagens do encarte de seu novo trabalho, "Bossa Tropical", e nos bastidores, Gal Costa, 57, insinua uma fase de ansiedade por renovações, mudanças, disposta a aceitar o que vier pela frente. Em nova fase da carreira, a cantora diz-se renovada. Após interromper uma parceria iniciada em 84 com a BMG, este CD marca sua estréia em outra gravadora, a Abril/MZA.


O disco evidencia também uma Gal que abandona produções mirabolantes com orquestras e shows superproduzidos. É, em certo sentido, um disco econômico musicalmente, marcado pela percussão de Marcos Suzano, pelo violão de Luiz Meira e participação de Armandinho no bandolim e na guitarra. "Pensei em radicalizar e gravá-lo apenas com violão. Não é um disco barato, pelo contrário, a mudança de gravadora não teve a ver com isso. Foi uma opção fazer um disco minimalista no sentido musical", diz.


"Bossa Tropical" traz releituras de músicas díspares de gente como Arnaldo Antunes ("Socorro"), Beatles ("The Fool on the Hill"). Há uma guinada para o rock? "Nas canções estrangeiras, tentei trazer um sotaque brasileiro e moderno", explica. "O disco tem uma sonoridade moderna e internacional ao mesmo tempo que tem uma cara brasileira. Para mim, isso é a "bossa tropical'", diz.


Ela conta que o único critério na escolha das músicas foi a identificação com as letras. No caso de "Ovelha Negra", pediu autorização de Rita Lee para mudar a letra. Trocou o "pai" por "mãe" devido a razões afetivas.


A empolgação com as mudanças de gravadora e de conceitos sonoros é acompanhada pelo otimismo com o novo presidente eleito. "Nós artistas somos o reflexo e a voz do inconsciente coletivo, somos missionários dessa energia. O atual momento político é fantástico, torço para que o Brasil mude e que dê tudo certo."


A cantora, que votou em Lula, irrita-se quando questionada sobre seu polêmico apoio a Antônio Carlos Magalhães no ano passado. "Isso é passado", diz. Comenta, no entanto, o caso da atriz Regina Duarte, também alvo de polêmica na campanha presidencial deste ano. "As pessoas devem agir do jeito que pensam, patrulha ideológica é uma coisa ditatorial. Em uma democracia, você tem que conviver com pensamentos diferentes e respeitar isso."


"Nunca tive uma postura militante. Durante o exílio de Caetano e Gil, o destino fez com que eu fosse a representante do tropicalismo. Tive uma atitude política no aspecto comportamental, não no sentido de subir ao palco e fazer discursos. Cheguei a apanhar na rua devido às roupas que eu usava, que eram as mesmas dos shows. Não tenho partido, gosto dos bons homens, dos homens honestos, corretos."


Quanto à sua saída da BMG, Gal é diplomática. Diz que a solução foi melhor para os dois lados. "Senti uma certa preguiça deles em investir em mim, em apoiar idéias. Reparei que eles estavam mais interessados em promover o "Fama" (reality show musical da Globo)", conclui. A saída sinalizaria um novo tipo de relação entre artista e gravadora. "É ruim para os grandes artistas ficarem presos a uma gravadora, não vejo muito sentido." 


Foto: Marcos Hermes

























Gal Costa e Vander Lee (1966/2016), compositor de "Onde Deus possa me ouvir"




ONDE DEUS POSSA ME OUVIR

Compositor: Vander Lee

[Belo Horizonte, 3 de março de 1966 — Belo Horizonte, 5 de agosto de 2016]

 

Sabe o que eu queria agora, meu bem?
Sair, chegar lá fora e encontrar alguém
Que não me dissesse nada
Não me perguntasse nada também

Que me oferecesse um colo , um ombro
Onde eu desaguasse todo desengano
Mas a vida anda louca
As pessoas andam tristes
Meus amigos são amigos de ninguém

Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do meu interior
Pra entender porque se agridem
Se empurram pro abismo
Se debatem, se combatem sem saber

Meu amor
Deixe eu chorar até cansar
Me leve pra qualquer lugar
Aonde Deus possa me ouvir

Minha dor
Eu não consigo compreender
Eu quero algo pra beber
Me deixe aqui, pode sair

Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?
Morar no interior do meu interior
Pra entender porque se agridem
Se empurram pro abismo
Se debatem, se combatem sem saber

Meu amor
Deixe eu chorar até cansar
Me leve pra qualquer lugar
Aonde Deus possa me ouvir

Minha dor
Eu não consigo compreender
Eu quero algo pra beber
Me deixe aqui, pode sair

Meu amor
Deixe eu chorar até cansar
Me leve pra qualquer lugar
Aonde Deus possa me ouvir

Minha dor
Eu não consigo compreender
Eu quero algo pra beber
Me deixe aqui, pode sair
Adeus














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