Foto: Marcos Hermes |
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São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002
"BOSSA
TROPICAL"
Disco marca a estréia da cantora na gravadora Abril/MZA, após parceria com a
BMG iniciada em 84
Gal Costa aposta em mudanças artísticas
DA REDAÇÃO / BRUNO YUTAKA SAITO
Sorridente, de braços abertos para o mar. Em imagens do encarte de seu novo
trabalho, "Bossa Tropical", e nos bastidores, Gal Costa, 57, insinua
uma fase de ansiedade por renovações, mudanças, disposta a aceitar o que vier
pela frente. Em nova fase da carreira, a cantora diz-se renovada. Após
interromper uma parceria iniciada em 84 com a BMG, este CD marca sua estréia em
outra gravadora, a Abril/MZA.
O disco evidencia também uma Gal que abandona produções mirabolantes com
orquestras e shows superproduzidos. É, em certo sentido, um disco econômico
musicalmente, marcado pela percussão de Marcos Suzano, pelo violão de Luiz
Meira e participação de Armandinho no bandolim e na guitarra. "Pensei em
radicalizar e gravá-lo apenas com violão. Não é um disco barato, pelo
contrário, a mudança de gravadora não teve a ver com isso. Foi uma opção fazer
um disco minimalista no sentido musical", diz.
"Bossa Tropical" traz releituras de músicas díspares de gente como
Arnaldo Antunes ("Socorro"), Beatles ("The Fool on the
Hill"). Há uma guinada para o rock? "Nas canções estrangeiras, tentei
trazer um sotaque brasileiro e moderno", explica. "O disco tem uma
sonoridade moderna e internacional ao mesmo tempo que tem uma cara brasileira.
Para mim, isso é a "bossa tropical'", diz.
Ela conta que o único critério na escolha das músicas foi a identificação com
as letras. No caso de "Ovelha Negra", pediu autorização de Rita Lee
para mudar a letra. Trocou o "pai" por "mãe" devido a
razões afetivas.
A empolgação com as mudanças de gravadora e de conceitos sonoros é acompanhada
pelo otimismo com o novo presidente eleito. "Nós artistas somos o reflexo
e a voz do inconsciente coletivo, somos missionários dessa energia. O atual
momento político é fantástico, torço para que o Brasil mude e que dê tudo
certo."
A cantora, que votou em Lula, irrita-se quando questionada sobre seu polêmico
apoio a Antônio Carlos Magalhães no ano passado. "Isso é passado",
diz. Comenta, no entanto, o caso da atriz Regina Duarte, também alvo de polêmica
na campanha presidencial deste ano. "As pessoas devem agir do jeito que
pensam, patrulha ideológica é uma coisa ditatorial. Em uma democracia, você tem
que conviver com pensamentos diferentes e respeitar isso."
"Nunca tive uma postura militante. Durante o exílio de Caetano e Gil, o
destino fez com que eu fosse a representante do tropicalismo. Tive uma atitude
política no aspecto comportamental, não no sentido de subir ao palco e fazer
discursos. Cheguei a apanhar na rua devido às roupas que eu usava, que eram as
mesmas dos shows. Não tenho partido, gosto dos bons homens, dos homens
honestos, corretos."
Quanto à sua saída da BMG, Gal é diplomática. Diz que a solução foi melhor para
os dois lados. "Senti uma certa preguiça deles em investir em mim, em apoiar
idéias. Reparei que eles estavam mais interessados em promover o
"Fama" (reality show musical da Globo)", conclui. A saída
sinalizaria um novo tipo de relação entre artista e gravadora. "É ruim
para os grandes artistas ficarem presos a uma gravadora, não vejo muito
sentido."
Foto: Marcos Hermes |
Gal Costa e Vander Lee (1966/2016), compositor de "Onde Deus possa me ouvir" |
ONDE DEUS POSSA ME OUVIR
Compositor: Vander Lee
[Belo Horizonte, 3 de março de 1966 — Belo Horizonte, 5 de agosto de 2016]
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