Gal Costa celebrou a vida e a música do Brasil no
Coliseu dos Recreios
Por Bernardo Crastes,
27 de janeiro de 2019
Foto: Idalécio Francisco / CCA |
Após a digressão de 50(!) anos de carreira que trouxe Gal Costa a Portugal em Novembro de 2017, eis que a cantora brasileira se apresentou novamente no nosso país em nome próprio, desta vez para apresentar o novo disco A Pele do Futuro. Num formato assumidamente diferente dos concertos das bodas de ouro – feitos em formato acústico, com apenas guitarra e Gal a ser ouvidas -, desta vez tivemos direito a banda completa, que reproduziu o som cheio do álbum, para além de revisitar outras canções incontornáveis. Para uma carreira tão longa e recheada, não conseguimos deixar de pensar que as quase duas horas não chegaram para matar a nossa sede de bossa nova e tropicália, mas a sensação latente no final foi de satisfação com o espectáculo.
Depois da lista de créditos das pessoas que
contribuíram para que o concerto acontecesse, a voz-off deixou-nos com Gal
Costa – recebida por uma chuva de aplausos. Bem merecidos, tendo em conta o
início, em que Gal rasga a atmosfera de excitação com o seu vozeirão, cantando “Não
se assuste pessoa, se eu lhe disser que a vida é boa” – cover de “Dê
um Rolê”, dos Novos Baianos. É esse o mote para o concerto, uma celebração da
vida e das coisas boas, porque o mundo já está suficientemente virado do
avesso.
Foto: Idalécio Francisco / CCA |
A admiração inicial dissipa-se ligeiramente ao longo da canção seguinte, parte integrante de A Pele do Futuro. Durante a mesma, a voz de Gal parece fraquejar, não atingindo algumas notas mais elevadas e soando meio presa. Curiosamente, na letra, Gal afirma ser filha das vozes que vieram antes e mãe das que virão depois. Claro que sabemos isso, tendo em conta o seu estrondoso percurso, mas não ajuda à admiração da voz que a música em si fique um pouco aquém de composições do passado, soando a uma espécie de tributo a big bands clássicas. À medida que o concerto vai avançando, somos mais frequentemente arrebatados, tanto pela voz, que se destaca em momentos mais solenes, como pela música. “Viagem Passageira”, uma composição recente de Gilberto Gil, feita para Gal, retém os elementos sónicos e o léxico que caracterizam a sua música, trazendo um cheirinho do Brasil musical do passado para o presente.
Por entre elogios a Lisboa – que “está tão linda”
-, Gal revisita a tropicália e os anos 60, altura em que visitou a cidade para
fazer um programa de televisão. Desses tempos de ditadura portuguesa, relembra
os olhares atónitos das pessoas que perscrutavam a sua vestimenta de “hippie
louca”, e a sua fala, da qual não entendia nada. Para colorir essas
recordações, Gal toma como suas “London London”, canção de Caetano
Veloso, na qual procura por “flying saucers in the sky”, e “As Curvas da
Estrada de Santos”. O alinhamento equilibrado revela ser uma revisitação do
percurso musical do Brasil, nas composições de intervenientes incontornáveis,
assim como novas promessas – como Tim Bernardes ou Teago Oliveira. A pele do
futuro é feita por aqueles que compõem o tecido criativo do Brasil.
Foto: Idalécio Francisco / CCA |
Quando Gal fica sozinha em palco com Lucas Martins
e o seu contrabaixo, dá-se um dos momentos mais sublimes do concerto. “Lágrimas
Negras” fez aquilo que as melhores baladas brasileiras clássicas fazem:
transportar-nos para um outro lugar e tempo. Do interior do Coliseu dos
Recreios, fomos para uma praia carioca, onde deixámos que Gal nos embalasse nas
ondas da sua voz. Nunca o Coliseu nos tinha parecido tão amplo, com a plateia
silenciosa e o palco despido de intervenientes.
Muitas das canções até então tocadas haviam sido clássicos, mas que nunca foram gravados ou conhecidos na voz de Gal Costa. Por isso, quando o público ouve o início de canções instantaneamente associadas à artista, como “Que Pena (Ela Já Não Gosta Mais de Mim)” ou “Chuva de Prata”, a reacção é de efusão. “Minha Mãe”, d’A Pele do Futuro, que conta com a colaboração de Maria Bethânia em estúdio, é interposta com “Oração de Mãe Menininha”, outro dueto entre as duas artistas. As canções funcionam como duas faces da mesma moeda e são bem recebidas pelo público, muito pelas suas letras emotivas, dedicadas à figura materna.
Por entre canções, Gal mostra-se bem disposta,
fazendo mais uns quantos elogios a Lisboa (“a cidade mais pacata”) e contando
histórias. Para apresentar “Palavras no Corpo”, conta-nos que a
canção surgiu a partir de uma simples frase de um dos intervenientes do
espectáculo: “ninguém diz ‘eu te amo’ como a Gal”; e a repetição da afamada
expressão na canção confirma-nos isso, à medida que ouvimos essas palavras pelo
meio dos trompetes leves.
Foto: Idalécio Francisco / CCA |
Mais para o final do espectáculo, a bola que faz parte do cenário converte-se em bola de espelhos, para completar a homenagem à música disco feita em “Sublime”, a porta de entrada do mais recente álbum. Gal urge a que o público se levante e dance, completando o ciclo da celebração da vida. A reacção foi tão entusiasta, que o público manteve-se em pé ao longo das duas canções seguintes, que fecharam o concerto. “Viva a vida!”, gritou Gal, que pareceu ter força de vida para dar e vender – o que de certa forma faz, através da sua música.
O encore fez-se por forma de uma rapsódia de
clássicos, seguindo-se uns aos outros para júbilo crescente do público. É
sempre bom revisitar as canções que já nos fizeram felizes, assim como as
épocas da sua génese, e é isso que se sente nos concertos dos grandes artistas
brasileiros. Este espectáculo não foi excepção, comprovando que vale a pena
celebrar a vida com a música de quem já o faz há mais de 50 anos – antes da
reforma, que Gal assume um dia acontecer, mas não para já.
1/2/2019 |
1/2/2019 |
2019 – GAL COSTA
Álbum “A pele do futuro - ao vivo”
Gravado nos dias 23 e 24 de março de 2019, na Casa Natura Musical (SP)
Biscoito Fino 2 CD’s│ DVD
Com capa assinada pelo artista plástico e poeta
Omar Salomão, “A Pele do Futuro – Ao Vivo”, novo trabalho da cantora Gal Costa,
chega às lojas físicas e plataformas digitais no dia 13 de setembro de 2019, em
lançamento da gravadora Biscoito Fino. A foto é de Marcos Hermes.
Foto: Marcos Hermes |
Foto: Marcos Hermes |
11/9/2019 - Gal Costa, quando lançou o DVD "A Pele do
Futuro"
Fotos: Nilton Fukuda / Estadão
Gal Costa sobre a censura: "É preciso estar
atento e forte"
19 de setembro de 2019
A cantora Gal Costa, uma das maiores vozes da música brasileira, lança o DVD "A Pele do Futuro", registro ao vivo feito em março do disco de mesmo nome. O show, dividido em três atos, traz várias versões de Gal ao fazer conexões entre passado, presente e futuro em interpretações que emocionam e também fazem dançar. "Sou eu me projetando no futuro porque a música que a gente faz, que toda minha geração faz, vai ficar para sempre, eterna, uma música que nunca vai ser apagada da memória".
Em entrevista ao Terra, a cantora falou sobre o
Brasil atual, acha que não corremos o risco de viver uma nova ditadura, mas
aconselhou: "É preciso estar atento e forte". Ela diz que ficou assustada
com a censura à HQ na Bienal do Rio, que estampava um beijo gay na capa, e
lembrou a própria censura que sofreu com o disco "Índia", que nos
anos 70 só pôde ser vendido dentro de uma capa plástica.
Gal Costa dá dois concertos em Portugal
21 de Setembro de 2022
Jessica Mar
‘As Várias Pontas de uma Estrela’ é o novo espetáculo de Gal Costa. Para comemorar os 56 anos de carreira discográfica, a cantora centra-se nas relações entre o seu vasto e rico repertório, repleto de êxitos.
O concerto marca o reencontro com o público português no dia 15 de novembro, a partir das 21h, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, e no dia 20 de novembro, na Casa da Música. Os bilhetes estão à venda pela Ticketline e nos locais habituais. A produção do espetáculo é da YN MUSiC.
No repertório, além da canção que dá origem ao concerto – uma composição de Milton Nascimento e Caetano Veloso, de 1982 – Gal cantará os seus grandes sucessos como “Baby”, “Festa do Interior”, “Divino Maravilhoso”, e também composições de outros grandes nomes da música brasileira, tais como Tom Jobim, Dorival Caymmi, Chico Buarque e Caetano Veloso.
Durante a pandemia Covid-19, Gal Costa testou o formato de piano, baixo e bateria – trocando o acompanhamento de violão pelo piano. A banda que subirá ao palco com a cantora é formada por Fábio Sá (baixo elétrico e acústico), André Lima (piano) e Victor Cabral (bateria e percussão).
Entre as principais canções, além da música que dá origem ao concerto – uma composição de Milton Nascimento e Caetano Veloso, de 1982 – Gal cantará os seus grandes sucessos e de outros ícones da música brasileira como Tom Jobim, Dorival Caymmi, Chico Buarque e Caetano.
A artista também apresentará músicas do seu último álbum Nenhuma Dor, entre elas ‘Pois é‘, gravada em parceria com o aclamado portugués António Zambujo. A banda que subirá ao palco com a cantora é formada por Fábio Sá (baixo elétrico e acústico), André Lima (piano) e Victor Cabral (bateria e percussão).
A ligação de Gal com Portugal vem do berço: o seu
avô é nascido na Ilha da Madeira. Ao longo dos quase 60 anos de carreira,
estreitou as relações com o país em diversas apresentações. Numa das mais
marcantes, Gal reconheceu na plateia a incrível Amália Rodrigues, de quem é fã
declarada, e convidou-a para cantar.
13/4/2023 |
GAL COSTA | AS VÁRIAS PONTAS DE UMA ESTRELA
MÚSICA & FESTIVAIS | CONCERTO
COLISEU DE LISBOA
SALA PRINCIPAL
Comunicado Cancelamento
"É com grande pesar que comunicamos o cancelamento dos concertos da grande cantora Gal Costa em Portugal.
Gal Costa faleceu na manhã do dia 09 de novembro, em sua casa, em São Paulo, aos 77 anos.
Agradecemos o carinho de todos nesse momento
tão difícil."
O
reembolso dos bilhetes será feitonos locais onde foram adquiridos.
Agradecemos
a compreensão."
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