São Paulo, domingo, 28 de março de 2010
Gal
inédita
Originais dos shows da fase áurea da cantora nos anos 70, "Índia", "Cantar" e "Gal Canta Caymmi" são encontrados nos arquivos de gravadora e vão virar CD em 2011
25/3/2010 - Foto: Márcio Lima / Folha Imagem |
MARCUS
PRETO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA)
No meio da década de 1970, Gal Costa estava em processo de transição. A estética experimental e psicodélica que pontuou seus primeiros álbuns solo já se esgotava, abrindo caminho para que a "grande cantora", em termos técnicos e formais, tomasse a cena.
São desse período os hoje clássicos álbuns "Índia" (1973),
"Cantar" (1974) e "Gal Canta Caymmi" (1976), que renderam
então encenações igualmente antológicas. Pois os áudios originais desses shows
acabam de ser descobertos nos arquivos da Universal, estão em fase de
tratamento e devem ser editados em CD no próximo ano.
Quem encontrou o material foi o pesquisador Rodrigo Faour, que buscava faixas
raras da cantora para compor uma coletânea. "Acho que ainda tem mais coisa
por lá. Estamos investigando a possibilidade de um quarto show no pacote."
Musicalmente, o material é impecável. "Índia", o show, tinha direção
musical de Gilberto Gil e uma banda que incluía Dominguinhos, Toninho Horta,
Chico Batera e Robertinho Silva. "Cantar" unia Gal e João Donato em
uma série de duelos memoráveis que a cantora nunca registou em disco.
A versão ao vivo de "Gal Canta Caymmi" é especialmente
impressionante. Foi registrada, segundo Faour, na estreia do show, no Palácio
das Convenções do Anhembi (SP). Gal divide cena com Dorival Caymmi (1914-2008)
-o que torna a descoberta ainda mais valiosa.
Gal ainda não sabia da existência das faixas quando recebeu a Folha no
apartamento onde mora, em Salvador.
Lembrou-se de que Caetano Veloso queria dirigir "Índia", o show e o
disco, em 73. Mas não conseguiu sair da Bahia. "Acho que a preguiça pegou
ele", disse. "Mas mandou ideias numa fita cassete. A inclusão da
canção "Índia" foi sugestão dele."
Contou também que "Drume Negrinha" foi feita por Caetano
especialmente para Gal apresentar no show "Cantar". "Era
homenagem a Preta [Gil], minha afilhada que tinha acabado de nascer."
É essa mesma música que Gal, 64, canta hoje para ninar o filho Gabriel, 5,
adotado em 2007. "Adoro cantar para ele dormir", diz. "Meu canto
fica tão puro que volto para o começo, revisito meu passado, a infância, revejo
minha mãe."
"Não sei como é parir um filho, mas entendi que isso não importa",
diz. "Ele me rejuvenesce a cada dia e toda essa transformação certamente
vai aparecer na minha música."
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