São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
Gal estréia sexta para o público "sério" de SP
SÉRGIO DÁVILA
EDITOR-INTERINO DO TV FOLHA
Show: Mina
D'Água do Meu Canto
Artista: Gal Costa
Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, Moema, tel. 011/531-4900)
Quando: de sexta a domingo
Quanto: de R$ 30 (setor 3) a R$ 70 (camarote)
Ingressos: à venda das 13h30 às 22h
Nessa sexta, Gal Costa mostra a São Paulo pela
primeira vez o show "Mina D'Água do Meu Canto", que estreou em maio
último em Salvador, com canções de Caetano Veloso e Chico Buarque. O repertório
do show é o mesmo do disco homônimo, de 1995. Entre outras, tem
"Cajuína", "Língua" e "O Quereres", do músico
baiano, "Atrás da Porta", "Samba do Grande Amor" e "A
Rita", do músico paulista, e "Como Um Samba de Adeus",
parceria-homenagem a Tom Jobim (1927-1994). Melhor cantora brasileira, a baiana
Gal Costa completa 50 anos no próximo dia 29 e deu a seguinte entrevista à
Folha, por telefone, da praia de Trancoso (BA), para onde está se mudando:
Folha - Depois de Caetano Veloso e Chico Buarque, quem?
Gal Costa - Paulinho da Viola. No ano que vem, não vou nem dar shows. Vou me
trancar, ouvir todos os discos dele várias vezes e escolher as músicas que
quero. Paulinho é um compositor maravilhoso e não grava há anos.
Folha - Por que você escolheu só músicas mais
antigas de Chico e Caetano? A produção atual não agrada tanto?
Gal - Não, não. Foi por acaso. Adorei "Paratodos", o último show de
Chico. É lindo, lindo, vi várias vezes. E ouço sempre "Fina Estampa",
de Caetano.
Folha - Você também gravaria um disco só em
espanhol?
Gal - Não me sinto tão confortável cantando em espanhol como me sinto em
inglês. É quase como se fosse a minha língua, capto exatamente o jeito
norte-americano de cantar. Depois de Paulinho da Viola, pretendo gravar um
disco só com standards da música popular norte-americana.
Folha - Em julho desse ano, o crítico Jon Pareles,
do jornal "The New York Times", a comparou com o Frank Sinatra do
começo de carreira. Você já foi chamada de "João Gilberto de saias".
Às vésperas de fazer 50 anos, como você se define?
Gal - Em Nova York, minha imagem ainda é muito ligada à de Tom Jobim. Tem até
um vídeo inédito no Brasil que vende muito bem lá, de 1989 talvez, em que canto
oito músicas com Tom. E Tom gravou com Sinatra. De qualquer maneira, eu ouvia
muito Frank Sinatra na adolescência. Mas sou uma eterna aprendiz de João
Gilberto. Claro que já nasci com o dom de cantar, mas a técnica, a respiração,
o vibrato sutil, o jeito de dividir as palavras, a coisa minimal, aprendi com
ele. Para gravar "Mina D'Água do Meu Canto", procurei esquecer a Gal
Costa e resgatar a Gracinha que veio da Bahia há 30 anos, que ouvia João
Gilberto o dia inteiro.
Folha - Você concorda que sua voz está ficando
agradavelmente mais grave?
Gal - Sim. Com o tempo, adquiri graves mais claros. Minha voz ficou mais
cristalina, densa, com um corpo maior. 26 anos depois, está volumosa, poderosa.
Folha - Quem teria essa voz entre as cantoras
novas?
Gal - Ninguém. Mas eu vejo talentos. A Marisa Monte tem talento, gosto dela
como cantora. Essas garotas novas, que surgiram e de certa forma são nossas
filhas, minhas, de Bethania e de Elis, como nós fomos filhas de Dalva de
Oliveira e Angela Maria. Você pode colocar o nome de Cássia Eller. E essa
outra, acho que Duncan...
Folha - Zélia Duncan. Por que você demorou a
estrear o show em São Paulo?
Gal - Esses meses no Nordeste, nos Estados Unidos e na Europa funcionaram como
ensaio. Agora o show está pronto. E o público de São Paulo é mais sério. Eu me
identifico com esse lado paulistano, educado e fundamental, de um público que
ouve com atenção e aplaude no momento certo.
Folha - Por que você está mudando para Trancoso?
Gal - Aqui posso andar de bermuda, sandália havaiana, tomar meu banho na praia.
É mais tranquilo, não tem badalação.
Folha - E você mora sozinha?
Gal - Sozinha. Com cinco cachorrões.
Folha - E você está sozinha?
Gal - Sozinha, sem ninguém. E está tudo bem.
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