Paulinho Camafeu
Paulo Vitor Bacelar [Salvador, 1948 - Salvador, 29 de novembro de 2021] foi um músico e compositor brasileiro, um dos criadores da axé music.
Em entrevista jornal O Estado de S. Paulo, o cantor
Caetano Veloso lamentou a partida do amigo. "Como
já disse de público uma vez, o autor de 'Que Bloco é Esse' abriu uma nova era
na Cidade do Salvador - e iluminou o Brasil. Anunciou o Ilê Aiyê, que anunciava
a amplificação da cultura popular baiana. O gesto de a Bahia autodeclarar-se
negra pelos versos de Paulinho - nunca esqueceremos, nunca poderemos esquecer
esse fato", reforçou.
MENINO CAE
(Paulinho
Camafeu)
Menino
Cae, Cae
Menino
Caetano
Menino
Cae
Axé
e feitiço baiano
Menino
Cae, Cae
Menino
Caetano
Menino
Cae
Axé
e feitiço baiano
Curte
o Zanzibar
Ilê
e Badauê
A
terra da capoeira e do maculelê
E
pula atrás do trio do trio do trio do trio elétrico
Clipe gravado na rampa do Mercado Modelo, Salvador. |
1982 – PAULINHO
CAMAFEU
Lado
A: QUE É QUE EU SOU (Paulinho
Camafeu) 61772461
Lado
B: MENINO CAE (Paulinho Camafeu)
6177 2429
FIF
Fermata Indústria Fonográfica Ltda. S 7” n° FIF.80.019
Caetano Veloso: Paulinho Camafeu
11/2/2015
Ele era um menino que assistia Camafeu de Oxóssi no Mercado Modelo. Sua graça, sua inteligência, sua vivacidade fizeram dele uma figura única na Cidade do Salvador. Era um baiano autêntico e tinha se tornado o que se chamava de uma figura folclórica. De perto, sempre um encanto para o interlocutor, um estímulo à vida mental. Compondo ‘Que bloco é esse?’, canção que logo foi gravada por Gilberto Gil, Paulinho não apenas deu voz à reação espontânea - de surpresa, encantamento, curiosidade - que provocou nos soteropolitanos a aparição do Ilê Aiyê: ele inaugurou uma era nova na cidade.
A autoimagem de Salvador mudou com o surgimento do Ilê - e a canção de Paulinho foi o poema-notícia desse acontecimento. É uma canção duplamente histórica: é a História contada no calor da hora e é ela mesma inesquecível. Artistas como O Rappa, Criolo, anos depois de Gil, retomaram seus versos e notas. É um marco que anunciou um marco. Salvador afirmando-se negra e temperando melhor o Brasil. Neste ano em que o Carnaval da cidade comemora os 30 anos do que foi chamado de ‘Axé Music’ com intuito pejorativo, mas que virou o jogo em pouco tempo, o nome de Paulinho Camafeu não foi saudado como devia na imprensa nacional. Alguns comentaristas e colunistas baianos o citaram, mas a história desse fenômeno de vitalidade artística do nosso povo foi contada nos grandes veículos do Eixão sem que o nome de Paulinho fosse lembrado.
O fenômeno seria impossível sem a invenção do trio elétrico e sem o surgimento, pouco mais de duas décadas depois, dos blocos afros. A subida do ritmo de afoxé para cima do caminhão e a introdução do canto nos trios - ambas façanhas de Moraes Moreira - abriram o caminho para Chicletes, Danielas e Ivetes. O pagodão - chamado de Suingueira no Recife e estruturado sobre a base da chula do Recôncavo - não teria se desenvolvido sem esses antecedentes. Mas, com todas as honras feitas à Banda Reflexu’s, o acontecimento ‘Fricote’ foi marco inaugural de toda essa saga musical, poética, técnica e empresarial de que não podemos não nos orgulhar.
E
‘Fricote’ (com sua linguagem fotográfica e desprovida de intenções de juízo de
valor, como se quem canta fosse a própria Baixa do Tubo e não alguém que a
observa e comenta) é obra de Paulinho Camafeu (em parceria com Luiz Caldas).
Como Ruy Barbosa e Macaco Beleza, Jorge Amado ou Marighella, Paulinho Camafeu é
um dos nomes mais importantes da história cultural da cidade do Salvador.
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