FOLHA DE S.PAULO
Quinta feira, 30 de setembro de 2010
2° turno explicita dúvidas, diz Caetano Veloso
Cantor afirma que vitória do tom “desmedido” de Lula e Dilma no domingo
seria “regressão populista primária”
“Não sou muito chegado a reeleição. Mas, havendo, tem que ser como nos Estados Unidos: você vira Bill
Clinton. Sai e, no máximo, fica fazendo palestras, não pode voltar.
Dou grande importância ao fato de Lula não
ter embarcado na ideia de terceiro mandato. Se as pessoas estão votando em
Dilma, pessoa que elas não conhecem, só porque ele mandou que fosse dessa
maneira, um plebiscito “Fica, Lula”, faria Lula ficar.
Não que Serra tenha
feito governos desastrosos [em São Paulo], mas também não foi brilhante. Foi
fosco em suas duas experiências executivas.”
Músico critica uso
da imagen de Lula por Serra e vê Marina como “mais moderna” do que presidente
petista e FHC.
Marcus Preto
DE SÃO PAULO
Cabo
eleitoral assumido da candidata Marina Silva, o cantor Caetano Veloso, 68,
defende a importância do segundo turno nas eleições presidenciais para que "haja uma sensação de que há críticas,
há gente de olho, há dúvidas na sociedade".
Na
entrevista a seguir, critica a campanha de José Serra ("não tem que botar
Lula na propaganda dele") e faz um balanço de erros e acertos de Lula
("apesar de tudo isso, está no azul"). Leia os principais trechos.
Folha
- Pesquisas recentes apontam queda de Dilma e abrem margem para um possível
segundo turno. Como vê esse quadro?
Caetano
Veloso - Eu
torço para que tenha segundo turno. Porque o tom que Lula e Dilma estavam
[usando] na campanha, ela insuflada por ele, era um pouco desmedido. E até
irrealista. Eufórico demais. Não era bom que fosse uma eleição no primeiro
turno, e uma presidente fosse empossada nesse tom.
Por
quê?
Deve
haver uma sensação de que há críticas, há gente de olho, há dúvidas na
sociedade, que a vida é mais complexa. Aquele negócio de Lula pensar que pode
dizer tudo quando chega no comício não é bom. Se a eleição se definisse nesse
tom, seria um sintoma de que o Brasil realmente estaria em uma regressão
populista primária, que eu suponho que o Brasil não tenha mais idade para
estar.
A
campanha de Serra está mais equilibrada?
Sempre
achei errado Serra ficar esse tempo todo fingindo que não teria nada contra
Lula, como se estivesse junto dele. Aquilo não funciona. O Brasil é um país
grande. Quantos leitores tem a revista "Veja", por exemplo? É sinal
de que o país tem várias forças se movendo dentro. Serra deveria ter se
apresentado como outra coisa, não tem de botar Lula na propaganda dele.
Precisava de um baiano lá para saber fazer a campanha dele [risos].
Qual
seria a melhor estratégia para Marina, sua candidata, se houver segundo turno?
O
ideal seria que ela subisse, passasse o Serra e fossem duas mulheres para o
segundo turno. Ia ser muito bom.
E
se isso não acontecer? Ela deve apoiar outro candidato?
Ela
pode se abster de apoiar alguém. Mas, se apoiar, dirá claramente por que fez.
Marina é a mais moderna. Está num estágio pós-Fernando Henrique e pós-Lula, com
o que aconteceu de bom nesses governos. Tem as responsabilidades intelectuais,
técnicas e morais que resultaram dos 16 anos de PSDB e PT.
Você
se arrepende de ter votado em Lula em 2002?
Nunca
me arrependi nem no auge do mensalão, nem agora, quando ele falou em
"extirpar o DEM" e nessa baboseira sobre "mídia golpista".
Essas coisas não são aceitáveis, mas, apesar de tudo isso, Lula está no azul.
Por
quê?
Ele
é uma continuação do governo Fernando Henrique, com mais energia e mais brilho.
Lula é uma figura histórica de grande importância, muito maior do que pôde
aparecer no filme que foi feito pelo Fabinho [Barreto, "Lula, o Filho do
Brasil"]. É um filme legal, mas teve pudor em fazer o que deveria ser
feito: se deixar inebriar pela força mítica do grande herói épico e histórico
que o Lula é. Se fizesse, seria um clássico.
28/9/2010 - O compositor em quarto de hotel Fasano em São Paulo, anteontem. Foto: Leticia Moreira/Folhapress |
03/10/2010
Caetano Veloso vai
com o filho votar
Acompanhado de
Zeca, cantor escolheu seus candidatos para a eleição no Rio de Janeiro
QUEM
Online
Caetano
Veloso foi
acompanhado do filho Zeca
ao Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, para escolher seus candidatos nas
eleições estaduais e federais. Antes de dar seu voto, ele posou para fotos ao
lado do adolescente, na tarde deste domingo (3/10).
Rio de Janeiro, no domingo (3/10/2010) / AgNews |
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