O Sesc –
Serviço Social do Comércio e a Editora Companhia das Letras realizam o
lançamento da nova edição das obras completas de Sigmund Freud (1856/1939), com coordenação
e tradução de Paulo Cézar de Souza.
Freud,
Literatura, Canção com José Miguel Wisnik participação especial de Caetano
Veloso
Por ocasião
do lançamento dos três volumes inaugurais das Obras Completas de Freud, traduzidas
por Paulo César de Souza, o músico e ensaísta José Miguel Wisnik faz
contrapontos entre conceitos freudianos e algumas obras da literatura
brasileira.
Dia 30 de março, terça-feira, às 20h
SESC PINHEIROS – Teatro Paulo Autran
São Paulo,
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Wisnik e Caetano entoam canções freudianas em SP
Evento celebra edição de obras
completas do autor
Caetano Veloso durante aula-concerto sobre obra de Freud - Foto: Adriano Vizoni/Folha Imagem |
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REPORTAGEM LOCAL
"A gente não sabe o lugar certo de colocar o
desejo." O verso freudiano da música "Pecado Original" -gravada
em 1978 como trilha sonora do filme "A Dama do Lotação", de Neville
de Almeida- foi entoado por Caetano Veloso, acompanhado ao piano pelo músico e
ensaísta José Miguel Wisnik, anteontem, em evento de lançamento de "Obras
Completas de Sigmund Freud" (Companhia das Letras), traduzidas do alemão
por Paulo César de Souza, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
"Mas a gente nunca sabe mesmo / Que que quer uma mulher", finalizou o
cantor, emendando uma anedota. "Meu psicanalista na época, Rubens Molina,
disse: "É, você botou a frase do Freud, né?". E eu não sabia! Eu nem
acredito em mim mesmo, mas eu não sabia que o Freud havia dito essa obviedade
sobre as mulheres!"
Antes disso, Wisnik ministrou uma aula de quase duas horas em que usou textos
de Machado de Assis e poemas de Gregório de Matos para ilustrar os conceitos de
inconsciente e de chiste, explorados na obra do pai da psicanálise.
O evento reuniu nomes como o psicanalista e colunista da Folha Contardo
Calligaris, a escritora Lygia Fagundes Telles e o cantor Marcelo Jeneci.
Caetano e Wisnik encerraram o evento com a edipiana "Mãe", gravada
por Gal Costa em 1978 e incluída na aula-concerto a pedido do tradutor. "Até tinha grilo dessa música de vários
lados. Mas Paulo César me pediu", justificou Caetano.
Freud explica.
Freud explica.
O Estado de S.Paulo
01 Abril 2010
Sigmund Freud em letra e música
Por Raquel Cozer
“Bem, Freud não gostava de música”, lembrou Caetano Veloso ao se acomodar sobre o banco que lhe fora reservado no palco do Sesc Pinheiros, na terça-feira. Referia-se à notória resistência do fundador da psicanálise ao gênero que ele estava incumbido de representar no evento Freud, Literatura e Canção. A aula-show, comandada por José Miguel Wisnik, anunciou o lançamento dos três primeiros volumes das Obras Completas de Freud, vertidas pelo historiador baiano Paulo César de Souza e publicadas agora pela Companhia das Letras.
Despojado, num visual que incluía casaco de vovô sobre os ombros e a camisa polo verde que, aliás, ele também usou em setembro sobre o mesmo palco, no show Gainsbourg Imperial, Caetano fez uma concessão ao pesquisador, de quem é amigo de longa data, e incluiu em seu breve repertório uma música da qual não gosta. Ou, para usar as palavras dele, uma canção da qual “até tinha grilo”. Era Mãe, cuja letra diz “Eu sou um homem tão sozinho / mas brilhas no que sou…” e que Gal Costa gravou no álbum Água Viva (1978). Encerrou a noite com ela, sem entrar em detalhes freudianos do “grilo” ou da letra.
As outras canções foram intercaladas por explicações sobre de que maneira se relacionavam aos conceitos freudianos. Como Pecado Original, cujo verso final (“Mas a gente nunca sabe mesmo / que que quer uma mulher”) levou Nelson Rodrigues a ligar para Caetano nos anos 70 e dizer: “Você há de brilhar como o Sol até o fim dos tempos.” O músico disse que, na época, contou sobre o telefonema para seu psicanalista, que ponderou: “É, você botou a frase do Freud…”. Sob risos do público, o baiano arrematou: “Eu não sabia que era de Freud. Ou talvez soubesse de alguma maneira, mas não oficialmente. Não sabia que Freud era quem tinha dito essa obviedade sobre as mulheres.”
Em sua breve participação, Caetano interpretou ainda, com Wisnik ao piano, Coração Materno, de Vicente Celestino, e uma música de Wisnik sobre poema do satírico Gregório de Matos (1636-1696), composta para o Grupo Corpo.
Chistes. O baiano Gregório de Mattos foi, na primeira e mais extensa parte da noite, um dos nomes citados por Wisnik para exemplificar como a literatura sempre guardou mensagens que remetem à psicanálise. O paranaense Emílio de Meneses (1866-1918) foi outro lembrado, graças a seus chistes cheios de sentidos como “Nunca tinha visto um banco quebrar por excesso de fundos” que teria sido dito após o poeta ver um banco ir abaixo com o peso de uma mulher gorda sobre ele.
Wisnik discorreu longamente sobre Machado de Assis, destacando o pouco conhecido conto O Cônego ou a Metafísica do Estilo (1885). Nele, em meio à criação de um sermão, um padre “embatuca” ao não conseguir se lembrar de um adjetivo, o que serve de mote para o narrador convidar o leitor a mergulhar no cérebro do personagem e partir para a inconsciência em busca da palavra.
Quarta, 31 de março de 2010
Caetano confirma ideia de produzir novo disco de Gal
Costa
Claudio Leal / Terra Magazine
Uma
noite de signos freudianos, em São Paulo, extraiu do compositor Caetano Veloso
uma rara interpretação pública de "Mãe",
gravada em 1978 pela cantora Gal Costa, no LP "Água Viva". A pedido
de Paulo César de Souza, tradutor das "Obras Completas de Sigmund
Freud" - lançadas ontem no Sesc Pinheiros pela editora Companhia das
Letras -, Caetano venceu o tabu. Acompanhado pelo músico e ensaísta José Miguel
Wisnik ao piano, entoou: "Palavras,
calas, nada fiz / Estou tão infeliz / Falasses, desses, visse não/ Imensa
solidão...".
Paulo
César de Souza sorri ao justificar a escolha:
-
Ele nunca cantou essa música, na verdade. Nunca o ouvi cantando. Sempre achei
linda na interpretação da Gal Costa. Isso era um tabu pra ele. Nunca cantou nem
em público, nem em particular para os amigos. Eu sabia que ele ia cantar "Pecado
original" e perguntei: "E Mãe, nunca vai ter fim esse tabu?".
Como
a canção o conduziu a Gal, sua maior intérprete, uma pergunta revolvia.
Em
recente entrevista ao repórter Marcus Preto, da Folha de S. Paulo (28/03), a
cantora baiana revelou o desejo de voltar a ser produzida por Caetano em seu
novo disco. Diretor de produção de "Cantar" (1974), ele expôs a ideia
numa conversa na Europa. "Estou
pronta. Espero o e-mail, o telefonema dele. Assim que ele disser que chegou a
hora, eu vou", anunciou Gal. O disco deve ser editado pela Universal
Music.
Questionado
por Terra Magazine, Caetano Veloso chamou de "bonita" a entrevista da
artista, mas não definiu um prazo para iniciar o projeto.
-
É verdade, eu disse isso numa entrevista na América Latina, falei que tinha
essa vontade (de produzir). Mas eu não sei ainda o que vou fazer. Tem que ver,
pensar primeiro o que fazer.
"Até o fim dos
tempos"
Na
saída para o camarim, Caetano sentiu os ombros agarrados, dramaticamente, por
uma senhora: "Como freudiana convicta, eu me sinto vingada! Obrigado por
estar à altura da relevância desta noite", proclamou. Eu, hein, rosa!
A
abordagem acerta Nelson Rodrigues e bate na trave de Freud.
E
não faltou a "flor de obsessão" no lançamento das Obras Completas do
fundador da psicanálise.
Depois
de cantar "Pecado original", encerrada com os versos "Mas a gente nunca sabe mesmo / Que que
quer uma mulher", o compositor relembrou um telefonema do dramaturgo,
na década de 1970.
-
Quando fiz essa música (tema de "A dama do lotação", de Neville de
Almeida), eu fazia psicanálise no Rio com Rubens Molina. Neville fez o filme e
me pediu.
E
um dia Nelson Rodrigues a ouviu e me ligou, com aquela voz: "Você há de
brilhar como sol até o final dos tempos!" (risos) Eu falei isso para o meu
psicanalista.
Ele
me disse: "É, você foi botar a frase de Freud...". Eu não sabia que
era de Freud! Se o Rubens Molina estivesse aqui, ele não acreditaria. Eu também
não acredito muito em mim mesmo, talvez eu conhecesse. Mas eu não sabia oficialmente
que Freud tinha dito essa obviedade sobre as mulheres. Podia até conhecer, mas
nunca tinha ouvido como formulada e creditada a Freud.
"Bem, Freud
não gostava de música", brincou no início da parte musical da
aula-show de José Miguel Wisnik. Além de "Pecado original" e "Mãe",
Caetano interpretou um poema de Gregório de Mattos (com música de Wisnik) e -
por razões que o leitor e Édipo reconhecem - "Coração materno",
de Vicente Celestino. A história do campônio virou um debulhar do mito.
-
O incrível é que li uma autora, um livro sobre a presença opressiva da mãe na
sociedade americana, e ela conta exatamente essa história (de "Coração
materno"). Com queda e tudo. É uma peça do folclore americano. Quando eu
estudei em Salvador, a minha professora, que hoje mora em São Paulo, Sulamita
Tabacof, deu para a gente ler "Spartacus", que se envolve com
Varinia. E lá está a história com queda, perdão e tudo.
Na
letra, Celestino retoca a maldade feminina: "Se
é verdade tua louca paixão / Parte já e pra mim vá buscar de tua mãe inteiro o
coração". Wisnik lembrou que o professor Antonio Candido remetia essa
narrativa edipiana do coração da velhinha a tempos anteriores a Spartacus. "Freud tomou a forma de romance. Com o
século 19, mito é romance", Caetano explica.
Traduções
Tema
do encontro, a tradução dos ensaios de Freud foi analisada por Paulo César de
Souza e José Miguel Wisnik. Há 25 anos, Souza realizou a sua primeira versão de
um texto do austríaco. "A Transitoridade", escrito de 1916, foi lido
na abertura do evento, para oxigenar o mergulho psicanalítico.
Inconscientemente, a publicação desse artigo, na Folha, representou o gérmen do
trabalho de verter as obras completas para o português, em 20 volumes. Sua tese
"As Palavras de Freud", defendida na USP, ganhou uma edição da
Companhia das Letras.
-
Freud usou palavras da língua alemã comum, não usou palavras de contexto mais
intelectual e filosófico - analisa Wisnik, citando os termos "id, ego e
superego". - Elas se consagraram e ganharam presença na linguagem comum.
Para
Wisnik, "existe um trabalho de nomeação em Freud que está em processo. As
palavras não estão dadas de antemão". O ensaísta usou trechos dos
escritores Machado de Assis e Gregório de Mattos para ilustrar os conceitos de
inconsciente e de chiste.
Na
plateia, a escritora Lygia Fagundes Telles, o psicanalista Contardo Calligaris
e os editores Luiz Schwarcz e Maria Emília Bender. O cavalheiro tem razão:
convém reforçar a presença de uma freudiana convicta, muito grata a Caetano.
Fotos: Paulo Giandalia/AE
Danilo Santos de Miranda e Caetano Veloso |
José Miguel Wisnik, Paulo César de Souza e Caetano Veloso |
Luiz Schwarcz e Caetano Veloso |
José Miguel Wisnik e Caetano Veloso |
Lygia Fagundes Telles |
Obras Completas de Freud
Paulo César de Souza (Org.)
Tradução: Paulo César de Souza
Paulo César de Souza (Org.)
Tradução: Paulo César de Souza
Três livros foram anunciados no evento:
Volume 10
Observações psicanalíticas sobre um caso de
paranóia relatado em autobiografia ["O caso Schreber"], Artigos sobre
técnica e outros textos.
Volume 14
História de uma neurose infantil ["O homem dos
lobos"], Além do princípio do prazer e outros textos.
Os textos foram escritos entre 1911 e 1920, sendo
publicados agora no Brasil em ordem cronológica, pela primeira vez.
A Companhia das Letras pretende manter esse
trabalho de relançamento com Paulo Cézar nos próximos anos.
A vida passa e um nome como Caetano Veloso repete uma frase dessa! , francamente! "Mas a gente nunca sabe mesmo / Que que quer uma mulher", finalizou o cantor, emendando uma anedota. "Meu psicanalista na época, Rubens Molina, disse: "É, você botou a frase do Freud, né?". E eu não sabia! Eu nem acredito em mim mesmo, mas eu não sabia que o Freud havia dito essa obviedade sobre as mulheres!"
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