“Faço sucesso no
exterior porque assumo a coisa do Carnaval, Brasil, lá fora é Carnaval mesmo.
Temos que acabar com essa angustia meio marxista de achar que não debemos
mostrar nosso Carnaval”
[Daniela
Mercury. Jornal do Brasil, Revista DOMINGO - 30/10/94 - O “furação” em tormenta -
Entrevista Lula Branco Martins]
Juca Varella /
Folha Imagem
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Outubro de 1994 - Álbum "Música de Rua" |
São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 1994
Olympia (SP)
20, 21 e 22 de outubro
28, 29 e 30 de outubro
20, 21 e 22 de outubro
28, 29 e 30 de outubro
Show: Música de Rua
Intérprete: Daniela Mercury
Intérprete: Daniela Mercury
Daniela
Mercury quer desmontar som baiano em “Música de Rua”
LUÍS
ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REPORTAGEM LOCAL
A cantora baiana Daniela Mercury, 29, inicia hoje
no Olympia, em São Paulo, uma temporada de duas semanas do novo show, “Música
de Rua”.
O sucesso está garantido. O espetáculo estreou em Salvador no último dia 8 e
reuniu um público de 20 mil pessoas. Daniela se diz acostumada às multidões.
“Música de Rua” é também o título do seu terceiro CD (Sony Music), lançado há
um mês e já com 500 mil cópias vendidas.
Daniela alimenta um projeto estético paradoxal. Quer a um só tempo ostentar a
coroa de “rainha da axé music” e introduzir o pop baiano na linha evolutiva da
MPB.
Para tanto, está adotando o método desconstrutivista, lançado nos anos 60 pelo
filósofo francês Jacques Derrida. À maneira derridiana, a cantora quer
desmontar o fonocentrismo da música baiana para tirar dali harmonias e ritmos
novos e ambíguos. Só assim, diz ela, o som de Salvador pode sair de seu círculo
vicioso.
Disco e show são os primeiros passos nesse sentido. Daniela está compondo,
arranjando e escrevendo cada vez mais. No novo CD, incluiu seis composições
suas.
O show terá duas horas de duração. O repertório se concentra no novo CD.
Acompanhada por sete músicos e quatro bailarinas que fazem vocais, Daniela
lança coreografias baseadas nas danças mais recentes das ruas de Salvador, como
a do prego duro, derivada do samba tradicional.
Na entrevista abaixo, concedida anteontem no hotel Crowne Plaza, ela conta como
quer conduzir a nova aventura.
Folha - Como você dá conta da relação entre voz e gesto?
Daniela Mercury - Dizem que eu danço parecido com aeróbica, o que é uma injustiça para quem dançou durante 20 anos. Nada contra a aeróbica, mas se trata de um processo muito simples.
Procuro aperfeiçoar essa relação. Meu coreógrafo, Jorge Silva, trabalhou comigo no sentido de criar movimentos mais assimétricos do que no show anterior. Desta vez, as danças de rua estão mais estilizadas em função da música.
Folha - Como você dá conta da relação entre voz e gesto?
Daniela Mercury - Dizem que eu danço parecido com aeróbica, o que é uma injustiça para quem dançou durante 20 anos. Nada contra a aeróbica, mas se trata de um processo muito simples.
Procuro aperfeiçoar essa relação. Meu coreógrafo, Jorge Silva, trabalhou comigo no sentido de criar movimentos mais assimétricos do que no show anterior. Desta vez, as danças de rua estão mais estilizadas em função da música.
Folha - Teria sido possível a existência de Daniela
Mercury antes da invenção do microfone sem fio?
Daniela - Eu existia antes dele e me enrolava toda com o fio do microfone tradicional. Dava piruetas que destruíam o cabo. Ficou mais fácil sem o fio. Faço movimentos complexos que consideram a mobilidade do aparelho. Tirei o pedestal do palco neste show.
Daniela - Eu existia antes dele e me enrolava toda com o fio do microfone tradicional. Dava piruetas que destruíam o cabo. Ficou mais fácil sem o fio. Faço movimentos complexos que consideram a mobilidade do aparelho. Tirei o pedestal do palco neste show.
Folha - A emissão vocal precisa se adaptar?
Daniela - Claro. É preciso alterar a dinâmica e o timbre. Desenvolvi uma técnica de cantar mais no grave. Sou mezzo soprano e exploro a parte grave da minha voz. Até porque havia preconceito em Salvador contra mulheres nos trios elétricos. Quis provar que mulher podia dar conta do recado como puxadora.
Daniela - Claro. É preciso alterar a dinâmica e o timbre. Desenvolvi uma técnica de cantar mais no grave. Sou mezzo soprano e exploro a parte grave da minha voz. Até porque havia preconceito em Salvador contra mulheres nos trios elétricos. Quis provar que mulher podia dar conta do recado como puxadora.
Folha - Como você define seu novo trabalho?
Daniela - É uma abordagem poética e testemunhal que tem a ver com minha experiência na estrada. Busco criar um estilo próprio nos arranjos, na timbragem, no ritmo. Quero dar minha contribuição para a MPB e participar do processo cultural do país. O sucesso pelo sucesso não teria sentido.
Faço música “dance”. Minha contribuição foi trazer a música de rua da Bahia para o Sul. Também coloquei a noção de palco no esquema de Salvador, que até então funcionava da rua para a gravadora e vice-versa.
Daniela - É uma abordagem poética e testemunhal que tem a ver com minha experiência na estrada. Busco criar um estilo próprio nos arranjos, na timbragem, no ritmo. Quero dar minha contribuição para a MPB e participar do processo cultural do país. O sucesso pelo sucesso não teria sentido.
Faço música “dance”. Minha contribuição foi trazer a música de rua da Bahia para o Sul. Também coloquei a noção de palco no esquema de Salvador, que até então funcionava da rua para a gravadora e vice-versa.
Folha – Como você utiliza a música pop de Salvador?
Daniela - Cada vez mais tento alterar as divisões do samba-reggae. Sinto a necessidade da descontrução do som dos blocos afros. Como se eu precisasse desamarrar as estruturas básicas e repetitivas do som de rua. Até porque é preciso criar algo novo em cima de um esquema que já ficou repetitivo.
Em Salvador, o mercado se acomodou a um tipo de música. As pessoas fazem sempre as mesmas coisas. Não acho que a simplicidade seja algo negativo. Mas é preciso dizer algo novo pela simplicidade. Acho que Carlinhos Brown e a Timbalada têm realizado esse projeto.
Daniela - Cada vez mais tento alterar as divisões do samba-reggae. Sinto a necessidade da descontrução do som dos blocos afros. Como se eu precisasse desamarrar as estruturas básicas e repetitivas do som de rua. Até porque é preciso criar algo novo em cima de um esquema que já ficou repetitivo.
Em Salvador, o mercado se acomodou a um tipo de música. As pessoas fazem sempre as mesmas coisas. Não acho que a simplicidade seja algo negativo. Mas é preciso dizer algo novo pela simplicidade. Acho que Carlinhos Brown e a Timbalada têm realizado esse projeto.
JORNAL DO BRASIL
Terca-feira,
15 de novembro de 1994
Imperator (RJ)
Sábado, 12 até 20 de novembro de 1994
Sábado, 12 até 20 de novembro de 1994
Show: Música de Rua
Prestigiaram: o show da cantora Daniela Mercury, no final de semana, no
Imperator, o director Stephan Elliott
e os atores Hugo Weaving e Guy Pierce do filme Priscilla, a rainha do deserto. O
director que ocupava um camarote, não resistiu ao ritmo da baiana e desceu para
dançar. Na platéia, foi apresentado a atriz Christiane Torloni, que também dançava.
Depois, no camarim, os atores presentearam Daniela com camiseta promocional do
filme.
A
temperatura subiu no Imperator, sábado. O ar-condicionado quebrou e a casa estava
lotada. Até a estrela do show, Daniela Mercury, passou mal com o calor.
Paula Lavigne e Caetano Veloso, no show de Daniela
Mercury no Imperator – Foto: Cristina
Granato
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Dione Warwick e Sandrá de Sá com Daniela Mercury, no Imperator
– Foto:
Cristina Granato
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