Em julho de 1989, depois de um emocionante concerto da Orquestra Sinfônica da Bahia com a participação do Afoxé Filhos de Gandhy, o Teatro fechou para reforma, sendo reinaugurado em 22 de julho de 1993.
Na sua noite de abertura, mais um encontro que ficou para a história do Teatro Castro Alves, um concerto com a Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba).
Wellington Gomes, Caetano Veloso e músicos da OSBA - após
Concerto em homenagem a Caetano - Teatro Castro Alves, 1993.
|
Caetano
Veloso & Orquestra Sinfônica da UFBA – Cajuína / Gente
|
Quinta-Feira, 22 de julho de 1993
FOLHA DE S. PAULO
Teatro Castro Alves será
reaberto hoje
Gal
Costa, Bethânia e João
Gilberto fazem o show de reinauguração
para 1.600 convidados em Salvador
Sábado,
24 de julho de 1993
Folha de S.Paulo
ilustrada
SHOW
A
reabertura
do
Teatro
Castro
Alves
terminou
sem
um
bis de João
Gilberto
Pág. 3
Bahia deixa de
pedir bis a João Gilberto
Público se rende à formalidade
todo-poderosa de ACM no show de reabertura do Teatro Castro Alves
Matinas Suzuki JR.
Enviado especial a
Salvador
Uma
(in)certa frieza por parte do público e um pouquinho de inibicao dos artistas
no palco marcaram na noite da última quinta-feira a reabertura do Teatro Castro
Alves, em Salvador. O novo Castro Alves é um negocio à parte: não conheço,
nas suas proporções,
teatro melhor no Brasil. A música baiana (uma das poucas coisas que realmente
prestam no país) reencontrou o seu palco terminado no seu berço
esplêndido.
João
Gilberto, o gênio baiano, canta poucas vezes em público. De alguns anos para cá
tive o prazer e o privilégio de assistir a quase todos os seus shows no Brasil.
Pois bem, nunca vi o nosso Joãozinho encerrar seus concertos sem a platéia
urrar pelo bis. (Há um certo exagero nessa afirmação, mas ela é
esencialmente correta). Também nunca imaginei que ese fato pudesse ocorrer na
su aterra, na Bahia, ese lugar mítico para tantos compositores, cantores,
poetas e letristas –e também para nós. O fato é que a Bahia não pediu bis para
o João Gilberto.
Nem
para ele, nem para a Orquestra Sinfônica da Bahia nem para a Maria Bethânia,
nem para a Gal Costa, que também –pela ordem citada- se apresentaram na
abertura do renovado Teatro Castro Alves. A platéia aplaudiu de pé. E só. Nenhum
bravo, nenhum bis. A Sinfônica baiana fez un programa colorido de compositores
eruditos brasileiros. Bethânia, enfática cantou canções conhecidas de
seu repertorio e fez um “flashback” de um dos seus espetáculos de maior
sucesso, “Rosa dos Ventos”. Não é tão difícil assim para nós voltarmos a ese
show porque certos versos como “e na gente deu-se o hábito /d e caminhar entre
as trevas / de tirar leite das pedras” continuam a fazer sentido não só
poético, mas também pragmático.
Gal
Costa foi a melhor surpresa da noite. Apresentou um grupo com formação
curiosa (três percusionistas, dois violões, piano e baixo elétrico), novos arranjos
para as velhas cancões e una nova cancão
de Jorge Benjor, que é Salgueiro, para a Mangueira, que fará parte do seu novo disco,
a ser lançado em setembro. Desde o show “Plural”, que contaba com
a presença de Rafael Rabello, noto que as cantoras brasileiras
estão recuperando o violão acústico em seus espetáculos. O propio Rabello
voltou a se apresentar em São Paulo com a Marisa Monte. Aquí em Salvador, Bethânia
teve o violonista Jaime Além. E Gal radicalizou: entrou com dois, Paulo
Bellinati e Ulisses. Parece que os violonistas vivem uma boa fase na música
brasileira.
A
maior novidade cantada por João Gilberto, retirada do seu baú de preciosidades,
foi “Faixa
de Cetim” de Ary Barroso, também cantada pelo cubano Bola de Nieve, em
portugués. É uma homenagem à Bahia, assim como “Bahia com H”, composta
pelo campineiro Denis Brian. Mas, na verdade, a noite era sobre tudo uma noite
do governador Antonio Carlos Magalhães, o ACM. Não sou dos que costumam
relacionar diretamente a arte com a política, mas havia qualquer coisa de
opressão, de culto ao seu poder, que impunha –de antemão- um limite para o
espetáculo. Debe ser duro cantar para o ACM. E o público parecía mais disposto
a não quebrar nenhuma formalidade da noite de su todo-poderoso do que a se
contagiar com o show.
Para
muitos ele continua sendo o anticristo Magalhães da política brasileira. A
Bahia continua sendo ese lugar mágico. Salvador está hollywoodianamente
maquiada (para o encontro ibero-americano), ACM tem popularidade. Todo mundo
gostou da restauracão do Pelô. Agora ele investe com peso na cultura. O que
será que quer ACM?
Governador chora
durante espetáculo
LUIZ FRANCISCO
Da
Agência Folha, em Salvador
A
festa de reinauguração do Teatro Castro Alves (TCA) de Salvador (BA)
terminou somente na madrugada de ontem, quando os cantores João Gilberto, Maria
Bethânia e Gal Costa voltaram ao palco para fazer uma saudação
aos convidados que lotaram as 1.600 poltronas do teatro.
O
show começou as 21h30, com a execução do Hino
Nacional pela Orquestra Sinfônica da Bahia, regida pelo maestro
Henrique Morelenbaum. Um dos momentos mais emocionantes aconteceu quando a
orquestra executou o hino do “Senhor do Bonfim”, que não fazia
parte do roteiro divulgado pelos organizadores da festa. O governador Antonio
Carlos Magalhães (PFL), 66, chorou durante toda a execução.
Logo
após a apresentação da Orquestra Sinfônica da Bahia, a cantora Maria
Bethânia entrou no palco para interpretar alguns de seus maiores sucesos, como
“Emoções” (Roberto Carlos), Reconvexo (Caetano
Veloso) e “Detalhes” (Roberto y Erasmo Carlos).
A
apresentacão de Gal Costa foi marcada pela interpretação
de duas músicas inéditas, que integram o seu próximo disco – “Lavagem
do Bonfim” (Gilberto Gil) e “Conheca este Bumbo” (Jorge Benjor).
João Gilberto entrou no palco no comeco da madrugada e, sem cumprimentar o
público, interpretou durante 50 minutos músicas que marcaram a bossa-nova, como
“Desafinado”
(Newton Mendonca e Tom Jobim) e “Chega
de Saudade“ (Tom Jobim e Vinicius de Moraes).
O
show de reabertura do TCA estaba previsto para proseguir ontem à noite e hoje
com as mesmas apresentações.
Os ingresos estão esgotados, mas o governador instalou dois telões na Concha
Acústica (anexa ao TCA) para permitir que outras 5.000 pessoas assistam às
apresentações.
A
Folha apurou que o governo investiu cerca de US$ 300 mil na festa. O governador
Antonio Carlos Magalhães disse que ficou emocionado com as apresentações
dos cantores. “Em apenas dez meses consegui devolver à Bahia uma das principais
casas de espetáculos do Brasil”, disse ACM.
Nas
obras de recuperação do TCA, o governo gastou US$ 10 milhoes de recursos
própios. À festa compareceram o cardeal primaz do Brasil, dom Lucas Moreira
Neves, o ex ministro Angelo Calmon de Sá, empresarios, políticos e artistas.
No hay comentarios:
Publicar un comentario