Música y letra: Caetano Veloso
© 1984
O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais
A solidão agora é sólida uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock'n'roll
As coisas migram e ele serve de farol
A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fugaz
Do sexo das meninas
Luz fria, seus cabelos têm tristeza de neon
Belezas dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom
Os filhos, filmes livros ditos como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais
A solidão agora é sólida uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock'n'roll
As coisas migram e ele serve de farol
A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fugaz
Do sexo das meninas
Luz fria, seus cabelos têm tristeza de neon
Belezas dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom
Os filhos, filmes livros ditos como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal
1984 - CAETANO VELOSO
6252 7118 / 4:08
Álbum "Velô"
Philips LP 824.024-1, A-4.
CD 824.024-2, Track 4.
1986 - CAETANO VELOSO
6403 1500 / 3:22
Álbum "Caetano Veloso"
Recorded September 1985, at Vanguard Studios, NYC
Elektra/Nonesuch Digital LP 979.127-1 [EE. UU.], A-2.
CD 979.127-2, Track 2.
Philips LP 846.916-1, A-2. [1990, Brasil]
CD 846.916-2, Track 2.
1989 - CLARA SANDRONI
/ 4:27
Álbum "Clara Sandroni"
Kuarup Discos KLP-038, A-3.
Kuarup Discos KCD-038, Track 3.
Biscoito Fino CD bf 564, Track 3. [2004]
2001
– LÉA COSTA
Álbum “Sotaques”
Afrakà Records / Harmony CD PGL-15178 [Italia]
2007 – CAETANO VELOSO
Álbum “Cê ao vivo”
Gravado em 12 de junho de 2007 na Fundição Progresso, Rio de Janeiro (RJ).
Universal Music CD 60251737304, Track 6. | DVD 60251737308, Track 6.
Álbum “Sotaques”
Afrakà Records / Harmony CD PGL-15178 [Italia]
2007 – CAETANO VELOSO
Álbum “Cê ao vivo”
Gravado em 12 de junho de 2007 na Fundição Progresso, Rio de Janeiro (RJ).
Universal Music CD 60251737304, Track 6. | DVD 60251737308, Track 6.
Rodrigo Velloso, Dona Canô, Maria Bethânia e José Telles Velloso |
1987 - Chico Buarque, Caetano e Tarso de Castro (1941/1991) |
FOLHA
DE S.PAULO
2/8/2012
"O Homem
Velho"
Pasquale Cipro Neto
O homem velho da
letra de Caetano parece mesmo ser esse nobre ser que fez um pedido ao deus
Tempo
PENSEI
E repensei se devia escrever "antes da hora" sobre os (quase) 70 anos
do amado Caetano Veloso. Abro o site de Caetano e vejo que ele (o site) mudou.
Os 70 anos do mestre já estão estampados ("Caetano Veloso 70"), então
perco o receio de falar antes do aniversário (no próximo dia 7).
Faz
mais de um mês que penso em escrever sobre isso e, quando me imaginava
fazendo-o, a primeira coisa que me vinha à mente era a monumental canção
"O Homem Velho", que está no não menos monumental disco
"Velô", de 1984. Caetano dedica a canção "à memória de meu pai,
a Mick Jagger e a Chico Buarque, que agora tem 40 anos, mas aos 20 fez uma
canção belíssima sobre o tema".
A
canção a que Caetano se refere é a também monumental "O Velho", que
está no disco "Chico Buarque Vol. 3", de 1968 (Chico tinha 24 anos): "O velho vai-se agora / Vai-se embora /
Sem bagagem / Não sabe pra que veio / Foi passeio / Foi passagem / Então eu lhe
pergunto pelo amor / Ele me é franco / Mostra um verso manco / De um caderno em
branco / Que já se fechou...".
O
homem velho da canção de Caetano é outro. Parece saber pra que veio -e não foi
passeio, nem passagem: "Os filhos,
filmes, ditos, livros como um vendaval / Espalham-no além da ilusão do seu ser
pessoal / Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual / Já tem
coragem de saber que é imortal".
Caetano
já tinha feito um "acordo" com o deus Tempo, na inesquecível
"Oração ao Tempo" (do disco "Cinema Transcendental",
anterior a "Velô"): "És um
senhor tão bonito / Quanto a cara do meu filho / Tempo Tempo Tempo Tempo / Vou
te fazer um pedido (...) Peço-te o prazer legítimo / E o movimento preciso
(...) Quando o tempo for propício (...) De modo que o meu espírito / Ganhe um
brilho definido / (...) E eu espalhe benefícios / (...) O que usaremos pra isso
/ Fica guardado em sigilo (...) / Apenas contigo e migo (...) / E quando eu
tiver saído / Para fora do teu círculo (...) / Não serei nem terás sido (...) /
Ainda assim acredito / Ser possível reunirmo-nos (...) / Num outro tipo de
vínculo (...) / Portanto peço-te aquilo / E te ofereço elogios (...) / Nas
rimas do meu estilo / Tempo Tempo Tempo Tempo".
O
homem velho da letra de Caetano parece mesmo ser esse nobre ser que fez um
pedido ao deus Tempo (e caminha para ser merecedor da anuência desse deus).
Lembra o que diz Drummond em seu antológico poema "Os Ombros Suportam o
Mundo": "Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? / Teus
ombros suportam o mundo / e ele não pesa mais que a mão de uma criança".
Volto
à letra de "O Homem Velho" e a alguns de seus fortes versos: "O homem velho deixa vida e morte para
trás / (...) O homem velho é o rei dos animais / A solidão agora é sólida, uma
pedra ao sol / As linhas do destino nas mãos a mão apagou / Ele já tem a alma
saturada de poesia, soul e rock'n rol / As coisas migram e ele serve de
farol...".
Detenho-me
neste belíssimo verso: "As linhas do
destino nas mãos a mão apagou". Como se não bastassem a beleza e a
profundidade do sentido desse verso, há nele a quinta-essência da construção
linguístico-literária. Ao inverter a ordem "natural" da frase
("A mão apagou as linhas do destino nas mãos") e, consequentemente,
mantê-la na voz ativa (a passiva seria "As linhas do destino nas mãos
foram apagadas pela mão"), Caetano é certeiro: mostra com ênfase e
sabedoria o que faz a "mão" (que aí é metáfora e metonímia da vida,
da passagem do tempo) com as linhas do destino que temos nas mãos.
Um
beijo na alma, Caetano. É isso.
PASQUALE CIPRO NETO, professor de português há 40, é idealizador
e apresentador dos programas “Nossa Língua Portuguesa” (rádio Cultura AM e TV
Cultura) e “Letra e Música” (rádio Cultura AM), autor de várias obras didáticas
e paradidáticas e colaborador da Folha de S. Paulo desde 1989.
Canção estupenda.
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