

 |
Facebook |
Brasil, São Paulo, SP,
04/12/1969.
 |
Carlos Imperial e Maria Bethânia, durante a gravação do disco da cantora no estúdio da Odeon, em São Paulo. Crédito: Alfredo Rizzutti |
Bethânia cantou para convidados
seletos, entre amigos e jornalistas e dali foram gravadas faixas do disco
“Maria Bethânia ao vivo”, que teve a produção de Carlos Imperial.

1969
Revista inTerValo
n°
362
 |
4/12/1969 - Leina Krespi e Maria Bethânia - Foto: Abraham Lincoln |
1972 - MARIA BETHÂNIA EN VIVO - Argentina
1977 - MARIA BETHÂNIA AO VIVO - Uruguay










Folha de S. Paulo
27/02/70
Artur Laranjeira
Bethânia precisa gravar outro elepê

Uma
Bethânia sufocada pelos instrumentos que a acompanham. De
voz abafada pelos gritos de bravo, maravilhosa, pelos aplausos. Às
vezes tendo de gritar para ser ouvida, não conseguindo dar o seu recado que
sempre ela soube transmitir tão bem em outros discos, com sua voz quente,
amarga, com o seu canto aprendido em Santo Amaro da Purificação, Salvador,
Bahia.
Muito diferente da cantora de Preconceito, Ponto do Guerreiro Branco, O Tempo e
o Rio, Frevo Número Dois de Recife, Duas Contas, Andança, Onde Andarás, as
melhores faixas do seu penúltimo elepê. Agora
ela tenta cantar Ponto de Iansã, Meiga Presença, Sambas de Roda, Marinheiro Só,
Nada Além, Com Açúcar e Com Afeto, Irene, 9º Andar, Os Argonautas, Fósforo
Queimado, Voltei Pro Morro, Maria e Ponto de Oxóssi. As melhores faixas são as de seleção de sambas de rodas, Meiga Presença, Nada
Além, 9º Andar, Voltei Pro Morro e Maria, uma música que Gilberto Gil fez para
ela quando os dois moravam na Bahia. Em
Meiga Presença, já gravada por Elisete Cardoso, a voz de Bethânia parece
retomar a sua força. O
mesmo acontece com o sucesso de Orlando Silva, em 1941, o fox Nada Além, de
Custódio Mesquita e Mário Lago.
Mas em Com Açúcar e Com Afeto, Irene, Fósforo Queimado – sucesso antigo de
Ângela Maria – parece que Bethânia não vai agüentar chegar ao fim da música. A
maior parte da culpa dos defeitos desse disco deve ser dada ao orquestrador e
regente Leonardo Bruno, com seus arranjos que só desvalorizam a voz de
Bethânia.
A outra parte cabe a Carlos Imperial – assistente de produção que diz:
"este disco foi gravado ao vivo durante uma homenagem que prestamos à
Bethânia, somente com o trio (piano-baixo-bateria). Depois
fizemos um estudo do som-ambiente e onde julgamos possível e necessário
colocamos instrumentação condizente".
Mas era justamente isso que a voz de Bethânia não precisava para continuar cada
vez mais forte. Ao contrário do que aconteceu nesse disco, às vezes irritante,
gravado pela Odeon, onde ela grita, luta com os instrumentos para poder ser
ouvida.
 |
Maria Bethânia e Terra Trio |
 |
Maria Bethânia e o pianista Gilberto Garcia - Crédito: Livro Os Sons da Memória – Uma Leitura Crítica de 40
Discos que marcaram época na Música do Espírito Santo”, de José Roberto Santos
Neves.
|
Bethânia gravou este seu segundo disco ao vivo num pequeno auditório em sua gravadora, recriando o ambiente das boates nos quais brilhava na ocasião. Mesmo antes de seus roteiros mais teatrais dos anos 70 a consagrarem, seus shows de pequeno porte não pareciam menos apoteóticos. Pelo menos, esta é a sensação que temos ao ouvir discos como este, no qual a platéia parece em estado de êxtase. No repertório, algumas pérolas que Caetano e Gil compuseram para ela pouco antes de partirem para o exílio forçado; deliciosos sambas e sambas-canções dos cantores do rádio e dois pontos de candomblé - um para abrir e outro para fechar o roteiro, como que exorcizando a onda de baixo astral que se abatia sobre o Brasil de 1970. Ah! E foi também neste disco a sua primeira gravação de Chico Buarque, Com açúcar, com afeto, de quem se tornaria a melhor intérprete.
[2006, Rodrigo Faour]
Jamari
Franca
Globonews.com - 09/11/2001
Maria Bethânia
arrebata platéia na estréia de seu show "Maricotinha", no Rio
Maria
Bethânia inicia no Rio a temporada nacional do novo CD "Maricotinha"
Maria Bethânia resumiu em quase 40 canções uma carreira que atravessou três
décadas meia para desaguar em "Maricotinha", o CD espetáculo que
aporta por três semanas no Canecão, Rio de Janeiro, antes de correr o Brasil.
Ela e seu diretor, Fauzi Arap, costuraram um set list extremamente feliz, sem
esquecer os poemas de autores clássicos em sua boca, como Fernando Pessoa, até
seus amores mais recentes, as poetas portuguesas Natália Correa e Sophia de
Mello Breyner.
“Quando eu cheguei no Rio foi Copacabana que me recebeu com seu cheiro
de batata frita e gasolina, suas tardes de trovões e raios e suas noites de
puro glamour, o Teatro Opinião onde estreei profissionalmente com o Zé Kéti e o
João substituindo Nara. E as boates, eu cantei em quase todas, eu adorava fazer
show em boate, foi onde eu aprendi tudo, porque o público de boate é diferente.
Não fica assim, NESSA ATENÇÃO (enfatiza tremendo a voz), olhando pra pessoa
(risos): bebe um pouco, namora um pouco, ouve um pedaço da música e a cantora
pode aprender o ofício, o prazer de cantar e a disciplina. Eu aprendi tudo na
boate, eram grandes artistas, um luxo. Quando eu cheguei no Rio de Janeiro,
Elizeth fazia o Cangaceiro, Nara fazia o Barroco, Chico Buarque e o MPB4 faziam
o Arpege, Silvinha Teles, a gente se encontrava toda noite no Bateau, isso era
maravilhoso. Até hoje venho passear por ela à procura da primeira impressão, o
seu perfume único, à procura da minha princesinha do mar e o seu colar de
pérolas de espuma.” E atacou "Se eu morresse de saudade", a canção
que Gilberto Gil lhe deu para "Maricotinha".
.jpg) |
8/11/2001 - Maricotinha - Foto: Cleomir
Tavares
|
 |
2002 - 2 CDs |
 |
2003 - DVD
|
2002 – MARIA BETHÂNIA
Álbum “Maricotinha ao vivo”
Gravado ao vivo no Direct TV Hall (SP), em dezembro
de 2001
Biscoito
Fino 2 CD’s bf 521, CD 2, Track 7. | DVD bf 701,
Track 30. [2003]
Texto: Boites Sampa (Maria Bethânia)
“Depois do Rio de
Janeiro, São Paulo foi a cidade, a segunda cidade grande, importante, longe da
minha Bahia. E aqui eu vivi noites também inesquecíveis, deslumbrantes, cantei
em casas espetaculares aqui nesta cidade, além do teatro onde eu fiz Opinião ao
lado de João do Vale e Zé Keti. Mas eu fiz as boates, eu fiz a Blow-Up, que era
uma casa linda, fiz o João Sebastião Bar, com Vinícius de Moraes e Baden. E fiz
a boate, talvez a mais tradicional de vocês, a Boate Cave, eu fiz com o Hermeto
Pascoal. Olha aqui que dupla do barulho. Vestida pelo Dener; o Dener fez um
colete de esmeraldas pra eu cantar. Era um paetê vagabundíssimo, mas nas mãos
dele viravam esmeraldas verdadeiras. Mas certamente a impressão e a coisa mais
forte que tem da minha chegada em São Paulo, foi aqui nesta cidade que conheci
Chico Buarque de Holanda com seus olhos de mar e suas lindas canções. São
Paulo tem recebido merecidamente canções lindíssimas, amorosas, lindas
declarações de amor da música popular brasileira. Certamente que a de
meu irmão, Caetano é uma das mais belas. Mas foi com uma canção do Paulo
Vanzolini que eu cheguei no coração de São Paulo e o coração de São Paulo bateu
junto com o meu.”
 |
Dener e Maria Bethânia |
28/10/2002
Dirceu Alves Jr.
Um dos melhores momentos do CD Maricotinha ao
Vivo, que acaba de chegar às lojas pela gravadora Biscoito Fino, é quando
Maria Bethânia deixa de lado o que melhor faz – cantar – e conta histórias
sobre a experiência como artista da noite, no final da década de 60. Enquanto
Caetano, Gil e Gal testavam sonoridades com o Tropicalismo, Bethânia preferiu o
caminho contrário, longe das extravagâncias, próxima aos clássicos. Disposta a
enterrar a imagem de cantora de protesto que a popularizou a partir do sucesso
de “Carcará” no show Opinião, em 1965, Bethânia passou a percorrer casas
noturnas interpretando apenas o que queria. A primeira escala foi na Boate
Barroco, no Rio. A seguir, a baiana chegaria também a casas paulistas, como a
Blow-Up e a Cave, ou o Encouraçado Butikin, de Porto Alegre, onde foi clicada a
foto ao lado, em 1969.
 |
Em
1969, Maria Bethânia percorria as boates disposta a enterrar o rótulo de
cantora de protesto que ficou ligado a sua imagem depois do sucesso de
“Carcará”. |
“Tudo comigo era
só ‘Carcará’, música que detestava e hoje peço para cantar. Aquela temporada
foi um sonho, podia cantar o que quisesse, fosse “Lama” ou “Anda Luzia”. E
eu estava penteada, com um vestido lindo. Era o oposto de ‘Carcará’”, lembra a
estrela, aos 56 anos.
Maricotinha
ao Vivo é um dos tantos discos ao vivo de Bethânia em 37 anos
de estrada e mostra por que ela é considerada a cantora da MPB que melhor
domina o palco. O primeiro de seus registros ao vivo, porém, é justamente o
recital da Boate Barroco, de 1968, que volta, agora, ao mercado em forma de CD
na coleção Odeon 100 Anos, organizada pelo músico Charles Gavin.