24/10/2005
Caetano Veloso revelou seu lado roqueiro ao se apresentar com Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, no Na Mata Café, em São Paulo, na segunda-feira 10/10/2005. O compositor aceitou o convite de Kisser para encerrar a primeira noite de seu novo projeto musical na casa de espetáculos.
O repertório da dupla foi bem eclético. Caetano interpretou sucessos dos Beatles e até uma versão de “Tropicália” ao lado do guitarrista. Ao final do espetáculo, Kisser fez o tradicional gesto dos fãs de heavy metal e Caetano o acompanhou para delírio da platéia.
Caetano Veloso
cai no heavy metal
JT/Adriana Del Ré
São Paulo - E não é que o tempero deu certo? A noite da última segunda-feira teve muito dendê no metal. Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, recebeu Caetano Veloso no palco do bar Na Mata Café, no Itaim, em São Paulo, para uma jam. Além de posar para uma platéia ávida por fotografar o baiano fazendo o gesto de “heavy metal”, a dupla fez uma versão mais pesada de Beatles e outra de Tropicália. “O Caetano é um grande fã de Sepultura”, disse Kisser, ao Jornal da Tarde. Os músicos Jair Oliveira e André Moraes - que está co-produzindo o disco novo do Sepultura, Dante XXI - também marcaram presença neste show, no mínimo, eclético.
São Paulo - E não é que o tempero deu certo? A noite da última segunda-feira teve muito dendê no metal. Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, recebeu Caetano Veloso no palco do bar Na Mata Café, no Itaim, em São Paulo, para uma jam. Além de posar para uma platéia ávida por fotografar o baiano fazendo o gesto de “heavy metal”, a dupla fez uma versão mais pesada de Beatles e outra de Tropicália. “O Caetano é um grande fã de Sepultura”, disse Kisser, ao Jornal da Tarde. Os músicos Jair Oliveira e André Moraes - que está co-produzindo o disco novo do Sepultura, Dante XXI - também marcaram presença neste show, no mínimo, eclético.
Há três anos, Andreas Kisser,
guitarrista do Sepultura, leva adiante um projeto pessoal ao estilo
"Andreas Convida". Sempre que está em São Paulo, entre um show e
outro de sua banda, ele aproveita para reunir amigos numa jam session informal.
Já dividiu o palco com convidados das mais diversas linhagens, de Paralamas e
Titãs, passando por Bocato, até Junior, da dupla Sandy & Junior.
"Sempre quis juntar os amigos e
tocar sem compromisso. Tocar um repertório com minhas influências: Black
Sabbath, Deep Purple, Beatles", diz o guitarrista, que, junto com
Sepultura, está em estúdio para gravar o novo CD, Dante 21, que deve ser
lançado no início entre fevereiro e março (ainda este ano, o grupo lançará um
DVD).
Caetano é uma surpresa no rol de
convidados. Ele, que está na cidade para uma temporada de seu show com Milton
Nascimento, aceitou, de cara, a proposta de Andreas, por intermédio do amigo em
comum, o produtor André Moraes. "Caetano gosta do trabalho do
Sepultura", reforça o guitarrista. Moraes, que participou das trilhas de
filmes como O Coronel e o Lobisomem e Lisbela e o Prisioneiro ,
conhece Caetano, que também aparece nos créditos dessas mesmas trilhas.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, o
show eclético reuniu no palco nomes como Théo Werneck, Jairzinho, André Moares,
Paulo Jr. e Bruno Sutter, o "Detonator", vocalista da banda metaleira
Massacration.
O
repertório do show teve sucessos roqueiros, como Purple Haze (Jimi
Hendrix), Sabbath Bloody Sabbath (Black Sabbath) e Sympathy for the
Devil (Rolling Stones).
Caetano Veloso, ao assumir o microfone, cantou For
No One (Beatles) e Tropicália, de sua autoria, que ganhou acordes
metaleiros com a guitarra de Kisser.
São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2005
MÚSICA
Cantor apresenta duas músicas, "For No One" e "Tropicália", em show do guitarrista no Na Mata Café, em São Paulo
Caetano e Andreas sepultam barreiras musicais
Cantor apresenta duas músicas, "For No One" e "Tropicália", em show do guitarrista no Na Mata Café, em São Paulo
Caetano e Andreas sepultam barreiras musicais
O cantor Caetano Veloso e Andreas
Kisser, guitarrista do Sepultura, em show anteontem à noite no Na Mata Café, em
São Paulo / Flávio Florido-Folha Imagem
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
À tarde, durante uma coletiva de imprensa da
banda-tiração-de-onda-do-metal Massacration, surgiu o assunto: Andreas Kisser
(guitarrista da banda de metal brasileira Sepultura) faria um show naquela
mesma noite com Caetano Veloso e Jairzinho. Os falsos cabeludos com jaquetas de
couro e calças agarradas se chocaram e mostraram profunda desaprovação: "Perdoai-o,
ó Deus Metal, pois ele não sabe o que faz!"
Naturalmente, era apenas uma encenação, uma exagero dos impulsos extremistas em
relação à música que os fãs do gênero de rock mais pesado costumam adotar como
atitude. Mas a brincadeira e o próprio fato daquele encontro Andreas e Caetano
acontecer deixava claro: o metal não é mais o mesmo. Ou melhor, o rock não é
mais o mesmo. Ou melhor ainda, a música não é mais a mesma.
Hoje em dia, a percepção geral é de que não há mais barreiras. Cada vez menos as pessoas são fãs "de rock" ou "de música brasileira" ou "de música eletrônica". Ouve-se simplesmente música.
No show de Andreas, em que Caetano participou de duas músicas, era assim. Antes do show, circulavam pelo descolado espaço do Na Mata Café meia dúzia de cabeludos entre modernos em geral, jovens adultos parecidos com Luciano Huck e falsas loiras, todos ouvindo uma discotecagem de música eletrônica enquanto esperavam o show começar.
Hoje em dia, a percepção geral é de que não há mais barreiras. Cada vez menos as pessoas são fãs "de rock" ou "de música brasileira" ou "de música eletrônica". Ouve-se simplesmente música.
No show de Andreas, em que Caetano participou de duas músicas, era assim. Antes do show, circulavam pelo descolado espaço do Na Mata Café meia dúzia de cabeludos entre modernos em geral, jovens adultos parecidos com Luciano Huck e falsas loiras, todos ouvindo uma discotecagem de música eletrônica enquanto esperavam o show começar.
Quando as guitarras soaram, a massa se aglomerou em frente ao pequeno palco para
ouvir versões, naturalmente recheadas de riffs e solos de guitarra, de
"Purple Haze" (Jimi Hendrix), "Sabbath Bloody Sabbath"
(Black Sabbath), "Sympathy for the Devil" (Rolling Stones),
"It's a Long Way to the Top (If You Wanna Rock'n" Roll)"
(AC/DC), "Lazy" (Deep Purple), "Dancing Days" (Led
Zeppelin) e "Lucille" (BB King), aos gritos de empolgação em cada
começo de música.
Na prática, era como uma banda de pub de luxo, tocando covers de clássicos setentistas do rock com competência, virtuosismo e empolgação nas doses certas. Passaram pelo palco Théo Werneck, Jairzinho, André Moares, Paulo Jr. (do Sepultura), músicos da banda Blues Etílicos e até Detonator, pseudônimo de Bruno Sutter, vocalista do Massacration.
Na prática, era como uma banda de pub de luxo, tocando covers de clássicos setentistas do rock com competência, virtuosismo e empolgação nas doses certas. Passaram pelo palco Théo Werneck, Jairzinho, André Moares, Paulo Jr. (do Sepultura), músicos da banda Blues Etílicos e até Detonator, pseudônimo de Bruno Sutter, vocalista do Massacration.
Quando finalmente chegou a vez de Caetano subir para cantar -depois de se
acotovelar com o animado público que se espremia em frente ao palco-, todos
reagiram com empolgação. A primeira das duas músicas que cantou com a banda foi
Beatles, "For No One".
Pelo primeiro desencontro natural de Caetano com os jovens roqueiros, tudo
indicava que o encontro seria o anticlímax da noite. Cantando em um tom
altíssimo, soando quase como um metaleiro, realmente, Caetano cantou sem seu
habitual vibrato ou qualquer charme interpretativo. Ainda assim, ensaiou dancinha
metal e agradou a galera.
Ele próprio introduziu a segunda música, comentando que "essa também é dos
anos 60, mas é minha!" Logo os primeiros acordes já mostraram que
"Tropicália" estava ganhando uma histórica releitura metaleira e
pós-moderna, com guitarras pesadas e bateria quase maracatu no refrão. Metal
tropicalista do ano 2005.
Ali, em poucos segundos, tudo se acertou e todos se empolgaram, dos músicos que
não ouvem Caetano ao público que ouve qualquer coisa. Caetano sorria e seus
olhos brilhavam, Andreas se divertia e olhava para o cantor, a banda tocava com
animação.
Naquele momento, Caetano parecia se reconectar com o espírito anárquico,
original e sem quaisquer limitações musicais ou conceituais de quando compôs a
canção, que cita Carmem Miranda, Chico Buarque e Roberto Carlos e prega, como
ele já fazia há 40 anos, exatamente que não há nem pode haver qualquer
separação entre "rock", "música brasileira" ou qualquer
estilo. Há música.
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