domingo, 14 de diciembre de 2014

2014 - GUILHERME ARAÚJO


PORTAL ANNA RAMALHO
noticias em tempo real

30 de setembro de 2014


Querido Guilherme, Guilhermujo…. saudades!

por Gilda Mattoso

Nesse mês de setembro, nosso saudoso Guilherme Araujo faria 78 anos de vida e penso sempre em como ele estaria hoje. Ainda animado, festeiro, inventivo, criativo, amigo dos amigos… Guilherme era um ser original e de imenso valor. Vindo de uma família simples do subúrbio carioca, nasceu para bailar como disse uma amiga nossa! Cedo ele arrumou trabalho na companhia de Paschoal Carlos Magno, depois na extinta TV Tupi fazendo de tudo um pouco até virar um dos mentores do Tropicalismo e descobridor e protetor dos baianos todos (Bethânia, Gal, Caetano e Gil ). Guilherme tinha ideias que pareciam mirabolantes mas, depois, via-se que eram geniais e possíveis de se realizar. O Morro da Urca, até a chegada de suas fantásticas festas de Carnaval, Réveillon, São João, era ponto único e exclusivo de turistas. Ele sacou a vocação do lugar como um luxo para se fazer festas e muita gente foi atrás depois dele! Guilherme também foi o organizador do primeiro Gala Gay que nossa cidade conheceu (1982), quando ele lançou Roberta Close!


 
Carnaval no Morro da Urca: Guilherme entre Ney Matogrosso e Gal Costa

Conheci Guilherme em Paris em 78. Eu morava lá e trabalhava em produção dos shows brasileiros levados à Europa pelo italiano Franco Fontana, o grande empreendedor que alavancou a MPB na Europa. Na época, Guilherme era ainda empresário de Caetano, o último a deixá-lo quando sua então mulher Paula Lavigne assumiu as rédeas de sua carreira. Guilherme tinha amigos no mundo todo e até hoje é lembrado com saudades por toda a gente que o conheceu.


 
Arraiá: Guilhermujo e Caetano Veloso no Morro da Urca

Pelo seu escritório – GAPA (Guilherme Araujo Produções Artísticas) – passaram ainda Luiz Melodia, Zezé Motta, Ney Matogrosso, Elza Soares, Egberto Gismonti,  Jorge Mautner e outros grandes nomes de nossa música. Ele tinha um faro excelente para detectar talentos e tinha ótima relação com as gravadoras.
Sua festa de 50 anos no Copa foi um must (1986), de um luxo total,  e ele lançou moda de levar bateria de escolas de samba para os salões do grande hotel e para festas da elite carioca em geral. Ele era amigo e admirador de Joãozinho Trinta, Fernando Pinto, Fernando Pamplona, Maria Augusta e muitos outros carnavalescos,  daí a ideia de levar parte das escolas para suas festas! Guilherme sabia como NINGUÉM misturar pessoas das mais diversas tribos. o que dava a suas festas um sabor todo especial. Você dançava com um banqueiro suíço e com um ritmista do morro, com o porteiro do prédio de Guilherme ,   ao lado de uma granfina paulista!! Era assim que a banda de Guilherme tocava e fazia enorme sucesso. Enfim, um luxo!
Tenho muito pena de que não tenha dado tempo de sair a sua biografia que ele estava escrevendo com a também saudosa jornalista Mara Caballero, que morreu subitamente muito moça e não teve tempo de terminar o ¨NUNCA FUI SANTA¨, nome dado por ele, claro! Penso muito que um jornalista que ele amava poderia se aventurar nessa empreitada e penso em 2 nomes: Ricardo Boechat e a titular desse site, Anna Ramalho, uma “darling” dele, que se referia assim a suas amigas chiuqes: Kiki Garavaglia, Maria Alice Celidônio, Renata Deschamps, Noelza Guimarães, Danuza Leão, a saudosa Guide Vasconcellos e tantas outras que frequentavam sua casa na Alberto de Campos, primeiro. e depois na Redentor, essa última, uma casa que ele deixou para o Estado do Rio para que a transformássemos num centro cultural. O Estado passou a casa para ser administrada pela AMIGA (Associação dos Amigos de Guilherme Araujo, da qual sou presidente assim como sou sua inventariante!!!). Guilherme adoraria essa sigla – AMIGA!!! Essa turma toda também não perdia as festas dele que eram o máximo.


 
Guilherme e uma de suas grandes amigas, a saudosa Claude Amaral Peixoto


Guilherme também nos deixou como legado o fato de chamar a todos de “meu querido” e “minha querida”. Só quando comecei a falar como ele me dei conta que isso salva muitas situações, quando você não se lembra direito o nome das pessoas! Grande Guilherme!
Ele também cunhou uma expressão que até hoje me faz rir. Quando chegava de uma estreia de alguém e perguntávamos como tinha sido, ele sem dó dizia: “Um fracasso retumbante” (todos, até então, só conheciam sucesso retumbante!!!). Ou ainda “a festa estava cheia de ninguéns!”
Em 87, Guilherme Araujo ficou muito contente, pois foi-lhe entregue o título de Embaixador do Rio numa festa no Copacabana Palace. Ele tinha muito orgulho desse título assim como do título de cidadão baiano (2001) que lhe foi outorgado pelos enormes serviços prestados à cultura baiana. Nessa solenidade estavam presentes Dona Canô, Juca Ferreira e Gilberto Gil, que fez na ocasião um discurso emocionado.
Estamos aguardando umas salas que ele deixou ligadas à manutenção da casa serem alugadas para que possamos abrir as portas do casarão da Redentor para os cariocas, os brasileiros, e quem mais vier, já com uma bela exposição organizada por sua amiga de todas as horas, a fotógrafa Thereza Eugênia,  que tem um acervo de fotos dele desde os tempos tropicalistas, passando pelos bailes e até o fim de sua vida. Vamos dar à exposição o nome de O REI DO TROPICALISMO. Axé, meu querido Guilhermujo.




 

Casa de Guilherme Araújo em Ipanema: Rua Redentor 157, 

quase esquina de Garcia d'Ávila




26/7/2014
Espaço Guilherme Araújo, no coração de Ipanema, abre em setembro
Fernanda Pontes

Ficou pronta a reforma da casa do produtor Guilherme Araújo, na Rua Redentor, em Ipanema. As chaves já foram entregues pela presidente da Funarj, Eva Doris Rosenthal, à jornalista Gilda Mattoso, que vai administrar o Espaço Guilherme Araújo — Ega, para os íntimos. A inauguração será em setembro, com exposição de fotos do produtor, morto em 2007. “Estamos pensando em instalar um café na garagem”, conta Gilda.



Agora vai!

A casa onde morou o produtor Guilherme Araújo, na Rua Redentor, vai finalmente ser transformada em centro cultural, como era o desejo do produtor antes de morrer, em 2007. A inauguração está prevista para a IpanemArt – mostra paralela à ArtRio que vai acontecer em ruas e lojas de Ipanema, em setembro, com curadoria de Vanda Klabin e Marc Pottier.

Bem tropicalista

“A exposição será sobre o próprio Guilherme, com fotos e até as coroas que ele usava nos bailes do Morro da Urca, uma coisa bem tropicalista”, diz a jornalista Gilda Mattoso, inventariante do produtor, que agora tem que lidar com a burocracia: “Estamos dependendo de resolver a papelada exigida da Funarj”, diz Gilda. 
 





O GLOBO
Panorama Carioca

Márcia Vieira

20/09/2014
‘Nunca fui santa’
A frase acima, famosa por aqui depois que se tornou o nome brasileiro do filme “Bus stop”, estrelado por Marilyn Monroe, seria o título da autobiografia que Guilherme Araújo escrevia quando morreu, em 2007, aos 70 anos. O texto, inacabado, permanece engavetado. Uma pena. Guilherme teria muito o que contar. Carioca, foi empresário e ajudou a lançar Gil, Caetano, Bethânia e Gal, a quem, aliás, batizou artisticamente. Guilherme achava que com seu nome real, Maria da Graça, a baiana poderia ser uma cantora de fado, jamais uma cantora moderna. Longe dos baianos, criou os bailes de carnaval do Morro da Urca, um indiscutível sucesso desde o final dos anos 1970, quando todo mundo achava esse negócio de baile um horror. E glamourizou definitivamente a festa com o Grande Gala Gay, que fechava o carnaval carioca.


 

Em 1998, Guilherme, sempre elegante, numa festa no Rio - O Globo

Esse personagem tão curioso anda esquecido pelos cariocas, mas a injustiça está prestes a ser reparada. Após sete anos de idas e vindas na Justiça, finalmente, a casa em que ele morou por 20 anos, em companhia de três gatos, na Rua Redentor, em Ipanema, ganhou vida novamente há duas semanas. Solteiro, sem filhos, Guilherme deixou em testamento o desejo de quem fez a vida produzindo cultura e sacudindo a chatice: que sua moradia virasse centro cultural. Hoje pertencente à Funarj e administrada pela Associação dos Amigos de Guilherme Araújo, a casa começa a ser preparada para realizar o sonho de seu antigo proprietário, embalada pelo espírito dele. “Ele adoraria esta sigla que criamos, a Amiga”, diverte-se Gilda Mattoso, presidente da associação e amicíssima de Guilherme desde o final dos agitados anos 1970.

O espaço não é muito grande. Em seus dois andares se espalham duas salas e três quartos. Um corredor lateral faz as vezes de quintal. Gilda já prepara uma exposição com fotos de Guilherme, feitas por Teresa Eugênia, amiga que acompanhou as peripécias do produtor. E ele aprontou muito. Sua festa de 50 anos, aliás, “25+25”, como ele fazia questão de dizer, abalou a cidade e lotou o Copacabana Palace. Reuniu artistas, socialites, que ele chamava de “darlings”, Joãosinho Trinta, que levou a bateria de uma escola de samba, e José Hugo Celidônio, que forneceu os quitutes. Enfim, “tout Rio”. A festança foi parar na novela da Rede Globo “Cambalacho”, de Silvio de Abreu. Isso tudo quando ninguém misturava tanta gente diferente assim no hotel mais luxuoso do Rio.

Mas, como ele próprio admitia, Guilherme não era santo. E tinha língua afiadíssima. Em entrevista ao “Estadão”, em 1997, disse que Caetano, Gil, Gal e Bethânia não existiriam não fosse por ele: “Estariam todos até hoje na Bahia, cantando para rodas de amigos”. Acabou brigando com três deles para, antes de morrer, fazer as pazes com todos. O folclore dá conta de que Bethânia, saindo do banho, nua, teria dado uma surra nele. Na conversa com o jornal paulista, Guilherme reduziu a história, mas não a negou completamente: “Houve briga, sim, mas não a famosa surra que ela tinha vontade de ter me dado.” O único dos baianos com quem nunca brigou foi Caetano, que, em seu livro “Verdade tropical”, descreve o amigo assim: “Guilherme era um personagem fascinante. Prognata, de braços finos e ombros estreitos, ele, que com sua feiura combinada a um ar imodesto tinha tudo para ser repulsivo, terminava por cativar quem quer que transpusesse a barreira do primeiro impacto e realmente dele se aproximasse”.

Durante anos, o festeiro Guilherme, que também fez o primeiro réveillon no Morro da Urca, em 1981, viveu entre o Rio e Nova York. Amava tanto o Rio e o Pão de Açúcar que pediu para ser cremado e que as cinzas fossem jogadas do alto do morro numa grande festa. Infelizmente, nada disso aconteceu. No final da vida, debilitado pela diabetes, desfilava sua elegância nada discreta por Ipanema. De terno, bengala e chapéu de palha, ele se sentia longe, bem longe do Engenho de Dentro, subúrbio em que nasceu e que detestava citar. Que se perdoe mais essa idiossincrasia de Guilherme.






No hay comentarios:

Publicar un comentario