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30 de setembro de 2014
Querido Guilherme, Guilhermujo…. saudades!
por Gilda Mattoso
Nesse mês
de setembro, nosso saudoso Guilherme Araujo faria 78 anos de vida e
penso sempre em como ele estaria hoje. Ainda animado, festeiro, inventivo,
criativo, amigo dos amigos… Guilherme era um ser original e de imenso
valor. Vindo de uma família simples do subúrbio carioca, nasceu para bailar
como disse uma amiga nossa! Cedo ele arrumou trabalho na companhia de Paschoal
Carlos Magno, depois na extinta TV Tupi fazendo de tudo um pouco até virar
um dos mentores do Tropicalismo e descobridor e protetor dos baianos todos (Bethânia,
Gal, Caetano e Gil ). Guilherme tinha ideias que pareciam
mirabolantes mas, depois, via-se que eram geniais e possíveis de se realizar. O
Morro da Urca, até a chegada de suas fantásticas festas de Carnaval, Réveillon,
São João, era ponto único e exclusivo de turistas. Ele sacou a vocação do lugar
como um luxo para se fazer festas e muita gente foi atrás depois dele! Guilherme
também foi o organizador do primeiro Gala Gay que nossa cidade conheceu (1982),
quando ele lançou Roberta Close!
Carnaval no
Morro da Urca: Guilherme entre Ney Matogrosso e Gal Costa
Conheci Guilherme em Paris em 78. Eu morava lá e trabalhava em produção dos shows
brasileiros levados à Europa pelo italiano Franco Fontana, o grande
empreendedor que alavancou a MPB na Europa. Na época, Guilherme era
ainda empresário de Caetano, o último a deixá-lo quando sua então mulher
Paula Lavigne assumiu as rédeas de sua carreira. Guilherme tinha
amigos no mundo todo e até hoje é lembrado com saudades por toda a gente que o
conheceu.
Arraiá:
Guilhermujo e Caetano Veloso no Morro da Urca
Pelo seu
escritório – GAPA (Guilherme Araujo Produções Artísticas) – passaram
ainda Luiz Melodia, Zezé Motta, Ney Matogrosso, Elza Soares, Egberto
Gismonti, Jorge Mautner e outros grandes nomes de nossa música. Ele
tinha um faro excelente para detectar talentos e tinha ótima relação com as gravadoras.
Sua festa
de 50 anos no Copa foi um must (1986), de um luxo total, e ele lançou moda de levar bateria de escolas
de samba para os salões do grande hotel e para festas da elite carioca em
geral. Ele era amigo e admirador de Joãozinho Trinta, Fernando Pinto, Fernando
Pamplona, Maria Augusta e muitos outros carnavalescos, daí a ideia de
levar parte das escolas para suas festas! Guilherme sabia como NINGUÉM
misturar pessoas das mais diversas tribos. o que dava a suas festas um sabor
todo especial. Você dançava com um banqueiro suíço e com um ritmista do morro,
com o porteiro do prédio de Guilherme , ao lado de uma granfina
paulista!! Era assim que a banda de Guilherme tocava e fazia enorme
sucesso. Enfim, um luxo!
Tenho
muito pena de que não tenha dado tempo de sair a sua biografia que ele estava
escrevendo com a também saudosa jornalista Mara Caballero, que morreu
subitamente muito moça e não teve tempo de terminar o ¨NUNCA FUI SANTA¨, nome
dado por ele, claro! Penso muito que um jornalista que ele amava poderia se
aventurar nessa empreitada e penso em 2 nomes: Ricardo Boechat e a
titular desse site, Anna Ramalho, uma “darling” dele, que se referia
assim a suas amigas chiuqes: Kiki Garavaglia, Maria Alice Celidônio, Renata
Deschamps, Noelza Guimarães, Danuza Leão, a saudosa Guide Vasconcellos
e tantas outras que frequentavam sua casa na Alberto de Campos, primeiro. e
depois na Redentor, essa última, uma casa que ele deixou para o Estado do Rio
para que a transformássemos num centro cultural. O Estado passou a casa para
ser administrada pela AMIGA (Associação dos Amigos de Guilherme Araujo, da qual
sou presidente assim como sou sua inventariante!!!). Guilherme adoraria
essa sigla – AMIGA!!! Essa turma toda também não perdia as festas dele que eram
o máximo.
Guilherme e uma
de suas grandes amigas, a saudosa Claude Amaral Peixoto
Guilherme também nos deixou como legado o
fato de chamar a todos de “meu querido” e “minha querida”. Só quando comecei a
falar como ele me dei conta que isso salva muitas situações, quando você não se
lembra direito o nome das pessoas! Grande Guilherme!
Ele
também cunhou uma expressão que até hoje me faz rir. Quando chegava de uma
estreia de alguém e perguntávamos como tinha sido, ele sem dó dizia: “Um
fracasso retumbante” (todos, até então, só conheciam sucesso retumbante!!!). Ou
ainda “a festa estava cheia de ninguéns!”
Em 87, Guilherme
Araujo ficou muito contente, pois foi-lhe entregue o título de Embaixador
do Rio numa festa no Copacabana Palace. Ele tinha muito orgulho desse título
assim como do título de cidadão baiano (2001) que lhe foi outorgado pelos
enormes serviços prestados à cultura baiana. Nessa solenidade estavam presentes
Dona Canô, Juca Ferreira e Gilberto Gil, que fez na ocasião um
discurso emocionado.
Estamos
aguardando umas salas que ele deixou ligadas à manutenção da casa serem
alugadas para que possamos abrir as portas do casarão da Redentor para os
cariocas, os brasileiros, e quem mais vier, já com uma bela exposição
organizada por sua amiga de todas as horas, a fotógrafa Thereza Eugênia, que tem um acervo de fotos dele desde os
tempos tropicalistas, passando pelos bailes e até o fim de sua vida. Vamos dar
à exposição o nome de O REI DO TROPICALISMO. Axé, meu querido Guilhermujo.
quase esquina de Garcia d'Ávila
26/7/2014
Espaço
Guilherme Araújo, no coração de Ipanema, abre em setembro
Fernanda Pontes
Ficou pronta a reforma da casa do produtor Guilherme Araújo,
na Rua Redentor, em Ipanema. As chaves já foram entregues pela presidente da
Funarj, Eva Doris Rosenthal, à jornalista Gilda Mattoso, que vai
administrar o Espaço Guilherme Araújo — Ega, para os íntimos. A inauguração
será em setembro, com exposição de fotos do produtor, morto em 2007. “Estamos
pensando em instalar um café na garagem”, conta Gilda.
Agora vai!
A casa onde morou o produtor Guilherme Araújo, na Rua Redentor, vai finalmente ser transformada em centro cultural, como era o desejo do produtor antes de morrer, em 2007. A inauguração está prevista para a IpanemArt – mostra paralela à ArtRio que vai acontecer em ruas e lojas de Ipanema, em setembro, com curadoria de Vanda Klabin e Marc Pottier.
Bem tropicalista
“A exposição será sobre o próprio Guilherme, com fotos e até as coroas que ele usava nos bailes do Morro da Urca, uma coisa bem tropicalista”, diz a jornalista Gilda Mattoso, inventariante do produtor, que agora tem que lidar com a burocracia: “Estamos dependendo de resolver a papelada exigida da Funarj”, diz Gilda.
A casa onde morou o produtor Guilherme Araújo, na Rua Redentor, vai finalmente ser transformada em centro cultural, como era o desejo do produtor antes de morrer, em 2007. A inauguração está prevista para a IpanemArt – mostra paralela à ArtRio que vai acontecer em ruas e lojas de Ipanema, em setembro, com curadoria de Vanda Klabin e Marc Pottier.
Bem tropicalista
“A exposição será sobre o próprio Guilherme, com fotos e até as coroas que ele usava nos bailes do Morro da Urca, uma coisa bem tropicalista”, diz a jornalista Gilda Mattoso, inventariante do produtor, que agora tem que lidar com a burocracia: “Estamos dependendo de resolver a papelada exigida da Funarj”, diz Gilda.
O GLOBO
Panorama Carioca
Márcia
Vieira
20/09/2014
‘Nunca fui santa’
A frase acima, famosa por aqui depois que se
tornou o nome brasileiro do filme “Bus stop”, estrelado por Marilyn Monroe,
seria o título da autobiografia que Guilherme Araújo escrevia quando morreu, em
2007, aos 70 anos. O texto, inacabado, permanece engavetado. Uma pena.
Guilherme teria muito o que contar. Carioca, foi empresário e ajudou a lançar
Gil, Caetano, Bethânia e Gal, a quem, aliás, batizou artisticamente. Guilherme
achava que com seu nome real, Maria da Graça, a baiana poderia ser uma cantora
de fado, jamais uma cantora moderna. Longe dos baianos, criou os bailes de
carnaval do Morro da Urca, um indiscutível sucesso desde o final dos anos 1970,
quando todo mundo achava esse negócio de baile um horror. E glamourizou
definitivamente a festa com o Grande Gala Gay, que fechava o carnaval carioca.
Em 1998, Guilherme, sempre elegante, numa festa no Rio - O Globo
Esse personagem tão curioso anda esquecido pelos cariocas, mas a
injustiça está prestes a ser reparada. Após sete anos de idas e vindas na
Justiça, finalmente, a casa em que ele morou por 20 anos, em companhia de três
gatos, na Rua Redentor, em Ipanema, ganhou vida novamente há duas semanas.
Solteiro, sem filhos, Guilherme deixou em testamento o desejo de quem fez a
vida produzindo cultura e sacudindo a chatice: que sua moradia virasse centro
cultural. Hoje pertencente à Funarj e administrada pela Associação dos Amigos
de Guilherme Araújo, a casa começa a ser preparada para realizar o sonho de seu
antigo proprietário, embalada pelo espírito dele. “Ele adoraria esta sigla que
criamos, a Amiga”, diverte-se Gilda Mattoso, presidente da associação e
amicíssima de Guilherme desde o final dos agitados anos 1970.
O espaço não é muito grande. Em seus dois andares se espalham duas salas
e três quartos. Um corredor lateral faz as vezes de quintal. Gilda já prepara
uma exposição com fotos de Guilherme, feitas por Teresa Eugênia, amiga que
acompanhou as peripécias do produtor. E ele aprontou muito. Sua festa de 50
anos, aliás, “25+25”, como ele fazia questão de dizer, abalou a cidade e lotou
o Copacabana Palace. Reuniu artistas, socialites, que ele chamava de
“darlings”, Joãosinho Trinta, que levou a bateria de uma escola de samba, e
José Hugo Celidônio, que forneceu os quitutes. Enfim, “tout Rio”. A festança
foi parar na novela da Rede Globo “Cambalacho”, de Silvio de Abreu. Isso tudo
quando ninguém misturava tanta gente diferente assim no hotel mais luxuoso do
Rio.
Mas, como ele próprio admitia, Guilherme não era santo. E tinha língua
afiadíssima. Em entrevista ao “Estadão”, em 1997, disse que Caetano, Gil, Gal e
Bethânia não existiriam não fosse por ele: “Estariam todos até hoje na Bahia,
cantando para rodas de amigos”. Acabou brigando com três deles para, antes de
morrer, fazer as pazes com todos. O folclore dá conta de que Bethânia, saindo
do banho, nua, teria dado uma surra nele. Na conversa com o jornal paulista,
Guilherme reduziu a história, mas não a negou completamente: “Houve briga, sim,
mas não a famosa surra que ela tinha vontade de ter me dado.” O único dos
baianos com quem nunca brigou foi Caetano, que, em seu livro “Verdade
tropical”, descreve o amigo assim: “Guilherme era um personagem fascinante.
Prognata, de braços finos e ombros estreitos, ele, que com sua feiura combinada
a um ar imodesto tinha tudo para ser repulsivo, terminava por cativar quem quer
que transpusesse a barreira do primeiro impacto e realmente dele se
aproximasse”.
Durante anos, o festeiro Guilherme, que também fez o primeiro réveillon
no Morro da Urca, em 1981, viveu entre o Rio e Nova York. Amava tanto o Rio e o
Pão de Açúcar que pediu para ser cremado e que as cinzas fossem jogadas do alto
do morro numa grande festa. Infelizmente, nada disso aconteceu. No final da
vida, debilitado pela diabetes, desfilava sua elegância nada discreta por
Ipanema. De terno, bengala e chapéu de palha, ele se sentia longe, bem longe do
Engenho de Dentro, subúrbio em que nasceu e que detestava citar. Que se perdoe
mais essa idiossincrasia de Guilherme.
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