25/12/2000 - Conjunto habitacional Margarida Gabinal, na Cidade de Deus (RJ) Foto: Antônio Gaudério / Folha Imagem |
25/12/2000 - O
cantor rapper MV Bill durante o lançamento do novo clipe, que teve a presença
de Caetano Veloso e Djavan (ao fundo) , no Rio de Janeiro (RJ) Foto: Antônio Gaudério / Folha Imagem |
FOLHA DE S.PAULO
São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro
de 2000
POLÊMICA
Vídeo investigado por alusão ao crime organizado teve sua primeira exibição pública em violenta área do Rio
Artistas defendem o novo clipe de MV Bill
Vídeo investigado por alusão ao crime organizado teve sua primeira exibição pública em violenta área do Rio
Artistas defendem o novo clipe de MV Bill
SÉRGIO
RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
DA SUCURSAL DO RIO
Os cantores Djavan e Caetano Veloso foram até a
Cidade de Deus, uma das mais violentas áreas do Rio, na noite de Natal, para
prestigiar a primeira exibição pública de "Soldado do Morro", o novo
videoclipe do rapper carioca MV Bill.
O clipe está causando polêmica na polícia do Rio
mesmo antes do seu lançamento. Na semana passada, a 15ª DP abriu inquérito para
investigar uma suposta apologia do crime organizado no vídeo.
Em cerca de dez minutos, o clipe exibe várias
imagens de traficantes armados de verdade e é possível ouvir tiros e ver
menores brincando nas favelas.
"Não é apologia ao crime. Se fosse, não estava aqui. Ele coloca tudo no lugar certo. Por um lado, é uma lamentação. Por outro lado, é um protesto pelo fato de tantos menores estarem segurando armas como soldados do tráfico", disse Caetano Veloso, um dos mais falantes na noite. Paula Lavigne, a mulher do cantor, é uma das sócias da gravadora de Bill.
"Não há nenhum crime no clipe. Crime só haverá se a polícia tentar fazer censura sem conhecimento de causa", disse Djavan, que nunca havia escutado o CD do cantor ou a música. Mas fez questão de ir até a Cidade de Deus. Ele disse estar incomodado com a atitude de "alguns órgãos públicos, que estão tentando fazer censura no país".
"Não é apologia ao crime. Se fosse, não estava aqui. Ele coloca tudo no lugar certo. Por um lado, é uma lamentação. Por outro lado, é um protesto pelo fato de tantos menores estarem segurando armas como soldados do tráfico", disse Caetano Veloso, um dos mais falantes na noite. Paula Lavigne, a mulher do cantor, é uma das sócias da gravadora de Bill.
"Não há nenhum crime no clipe. Crime só haverá se a polícia tentar fazer censura sem conhecimento de causa", disse Djavan, que nunca havia escutado o CD do cantor ou a música. Mas fez questão de ir até a Cidade de Deus. Ele disse estar incomodado com a atitude de "alguns órgãos públicos, que estão tentando fazer censura no país".
Djavan referia-se às iniciativas do Ministério da
Justiça e do juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Rio, Siro Darlan, que
estão tentando controlar a programação da televisão brasileira.
Recentemente, Darlan obrigou a Rede Globo a tirar
do ar menores da novela "Laços de Família".
Após a exibição do clipe, os dois fizeram um
minishow no campo de várzea. Antes, a banda Cidade Negra e o sambista Dudu
Nobre já haviam animado os moradores da favela. Nenhum dos músicos recebeu
cachê para tocar.
"O MV Bill discute um problema nosso. Os
assuntos da periferia são quase sempre clandestinos. Por esse mundo ser
desconhecido de muitos, podem achar que algo está sendo inventado, mas o Bill
está apenas contando uma história", disse o vocalista do Cidade Negra,
Toni Garrido.
Apesar da polêmica, não houve confusão na Praça do
Coroado, onde foi realizada a festa. Nenhuma viatura da polícia esteve no
local. O clipe também contou com a aprovação dos moradores da Cidade de Deus,
segundo MV Bill, o seu público-alvo.
Apesar da chuva e da lama, cerca de mil pessoas
assistiram ao clipe, que foi muito aplaudido no final. "O trabalho dele
foi muito bom. Achei uma crítica construtiva", disse o gráfico Guilherme
Correia, 21, que mora na Cidade de Deus e é fã do rapper.
"Ele não inventou nada. Tudo o que está no
clipe é verdade", disse o desempregado Fábio Rosa, 22.
O vídeo, que começou a ser gravado em 99, exibe
cenas como a de pessoas assassinadas e de uma fila de viciados e traficantes
atirando para o alto. As imagens são mostradas em meio ao discurso do rapper,
que em algumas vezes tenta se justificar e, em outras, reprova a sua condição.
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