Pesquisa: Evangelina Maffei
“O período da Ditadura Militar foi terrível.
Duas horas da manhã, eles invadiram minha casa. Me levaram para um quartel,
depois de rodarem por muitas horas. Fui interrogada até amanhecer. Já tinham
presos Caetano e Gil, em São Paulo. Achavam que eu sabia do Vandré. Me
prenderam por conta de um livro, escrito em minha homenagem, por Reynaldo
Jardim. Eles queriam saber por que este cara escreveu este livro para mim. O
livro é um poema lindo. Um gesto de amor. E Reynaldo já tinha sido preso. Eles
me mostraram o depoimento dele. Que coincidia com o que eu dizia. Sou uma
mulher de palco. Ele, um intelectual, poeta. Quis escrever um poema. E foi
publicado. Depois, proibido”.
“Aquele foi um período horrível. Caetano e
meus amigos, exilados. E, pela dificuldade de ele sobreviver ao exílio, por
causa de sua sensibilidade diante da maneira grosseira como isto tudo
aconteceu, eu sentia uma dor muito grande. Sofri demais. Meu pai se acabou,
neste período. Eu fiquei no Brasil. E a maneira que eu tinha de manter o meu trabalho
era receber as canções que eles faziam no exílio. Não só Caetano, mas também os
amigos. Aqui, eu cantava para dar alguma notícia deles, mantendo um sentimento
por eles. Mas foi o período mais triste que passei em minha vida. Foi horrível.
Caetano sofreu demais também”
[14/6/1992, Maria Bethânia, em entrevista a Marília Gabriela]
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