16/9/2019
Texto de J. Velloso [Facebook]
Claudionor
Vianna Telles Velloso [D. Canô] (16/9/1907 - 25/12/2012)
Hoje era dia de festa e até hoje a gente continua festejando.
Festejar a vinda de D. Canô é festejar a vida com alegria. Nesses festejos eu
aprendi a expandir amorosamente minha família. Quando me lembro dos
aniversários dela, vem logo a lembrança de nos juntarmos todos para a foto.
Todos com sorrisos largos e olhos brilhando. Vários parentes foram se chegando
ou cada um de nós foi trazendo outro.
Vou citar poucos aqui, mas é bom saber que são muito mais do que esses.
Nessa foto que tirei hoje com a máquina da minha saudade eu vi nitidamente
Beto, Ivonete, Dr. Lúcio, Nando, Guerreiro, Kikiki, Edneusa, Dirlene, Carlos,
Alcina e, quem me faz lembrar de fotografias, Maria Sampaio.
Minha avó me ensinou muitas coisas, não sei o que deu pra aprender, mas
aprendi que família não tem nada a haver com a rigidez biológica do DNA.
Família é o amor da amizade reencarnando, que segue hereditário nos genes dos
sentimentos e que vai se espalhando. No dia de hoje almoçávamos sempre todos
juntos nos preparando para a festa que ali já começava. Mas com o desnortear da
vida eu acabei sabendo agora que hoje é dia 16 de setembro, o dia dela, e eu
estava num restaurante a quilo e sozinho.
O impressionante é que a tristeza não me veio, apesar de tantas saudades
e do momento presente, mas o que eu senti foi uma gratidão profunda com a vida,
pois o bem que meus amores me deram nunca vai deixar de estar em mim, por isso
“só agradeci”. Um beijo minha avó e obrigado por sua bênção eterna.
9/10/2019
Texto de Jota Velloso [Facebook]
Eunice Souza Oliveira [Nicinha] (9/10/1928 - 26/10/2011)
Essa coisa de família grande e amorosa promove situações mais
que interessantes. Minha madrinha de batismo é Iara, muito amada e que nos
deixou a pouco tempo. Minha outra madrinha é Alcina, que na verdade é madrinha
de minha irmã, mas isso é outra história. Mas minha Dinda Nicinha, que fazia
anos hoje, é uma referência incomparável pra mim.
Eu sempre observava ela com muita admiração e adorava pedir a bênção a
ela de forma particular. Ela era duma presença iluminada e marcante. Ela era
toda nossa e nós todos éramos todos dela. Era como se fosse a nossa Lua,
orbitando sobre todos e sabendo das nossas marés.
Faz parte das minhas lembranças a sua alegria exuberante, o
costume fazer cócegas até a gente perder o fôlego, e a maneira de demonstrar fé
em Nossa Senhora da Purificação e em Senhor do Bonfim de forma quase que
carnal, pois ela conversava com eles com muita intimidade que chegava até a
brigar.
Ela me deu vários presentes inesquecíveis, mas o pricipal foi
um violão quando fiz 15 anos. Nessa época eu só gostava de jogar bola. Música
eu só gostava de ouvir lendo os encartes, mas nunca pensei em fazer nada
relacionado. Como eu era amigo de Cezar Mendes, depois que Nicinha me deu
violão, ele começou a me dar aulas e eu comecei a gostar daquilo. Percebia que
Nicinha observava tudo isso de forma muito natural.
Acredito que era pela forma dela gostar tanto de música que a
fazia pensar que todo mundo gostasse da mesma forma.
Não é fácil situar Nicinha, pois ela é um amor e uma saudade
diferente de tudo. Ela tem um amor singular de todos nós, pois ela foi muito
singular com todos da casa. Nicinha é uma família completa.
Acredito que ela tenha me dado a lanterna pra me salvar da
escuridão quando eu era adolescente e hoje, quando vemos tanta grosseria e
asneira no mundo, eu agradeço ainda mais por tudo que ela fez e continua a
fazer por todos nós que tivemos a sorte de amá-la e de também sermos amados por
ela.
Agora vou parar pra lembrar dela; sem chorar, pois ela nunca
gostou de tristeza. Vou tentar ouvir sua gargalhada, sua voz falada e cantada.
Salve Babá. Onde quer que você possa estar, sei que está dentro de cada um de
nós. Obrigado por tudo, minha madrinha.
14/10/2019
Texto de J. Velloso [Facebook]
José Telles Velloso [Zeca/Seu Zeca/Seu Zezinho] (14/10/1901 - 13/12/1983)
Acho que isso, de se observar, é coisa que vem com o tempo. Começamos a nos olhar à distância e analisar essa loucura que somos nós. Percebemos que somos muitos e em constante mutação.
O meu nome, que eu adoro, é Joviniano José. É uma
combinação que meus pais fizeram juntando o nome dos pais deles. Eu me sinto
muito feliz com isso apesar de alguns acharem estranho. Mas hoje é pra falar do
José, meu avô Zezinho que foi o único avô que conheci. Sei que dei um azar
danado em não ter conhecido o meu avô Joviniano; mas a sorte de ter conhecido,
convivido e amado o meu avô José é muito determinante pra mim.
Falar de meu avô Zezinho é muito delicado, pois sua
presença na minha vida é muito ampla e a sua forma de existir moldou a minha.
Em todos momentos de dúvidas, principalmente morais, eu me pergunto “o que meu
avô acharia disso?”. Acredito que muitos que conheceram ele possam ter também
essa conversa consigo.
Depois que perdemos muitos queridos, falar deles
virou uma terapia e uma forma de ainda ter eles vivos. Conversando com Mirella
pra explicar como meu Avô Zezinho era, eu me vi sem encontrar um caminho pra
começar a falar. Tudo que eu pensei salientar dele, como admirador apaixonado,
foi se confundindo com outras lembranças e que não poderiam ficar de fora. Essa
profusão de lembranças dele foram transbordando e eu, pra me proteger,
chorando, me resignei, simplifiquei e acabei, sem premeditar, sendo mais
profundo e preciso ao dizer: ‘ele era completamente maravilhoso’.
Sabe o que é uma pessoa que não me deixou uma
queixa, um talvez ou um quem sabe? Suas histórias fazem parte dos meus dias,
pois não preciso pensar para estar com ele. Assim é ele pra mim, não precisa eu
parar pra lembrar dele para que ele já esteja, basta eu acordar que ele já
está. Sei que hoje, que era seu aniversário, ele estaria feliz com a campanha
do Bahia, mesmo ele sendo torcedor do Ypiranga; mas também estaria
proporcionalmente estarrecido e triste com o que vem acontecendo no Brasil,
pois ele era, acima de tudo, humanista, mas, pra simplificar tudo, basta dizer
"ele era completamente maravilhoso."
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