MOA DO CATENDÊ
[Romualdo
Rosário da Costa, capoeirista, percussionista e compositor.
Salvador, 29 de outubro de 1954 — Salvador, 7
de outubro de de 2018.]
misteriosamente
o badauê surgiu
com
sua expressão
cultural
- o povo aplaudiu
“Moa do Catendê, a
quem devo a revelação que foi ver e ouvir o grupo de pessoas na rua cantando
"Misteriosamente o Badauê surgiu", foi morto a facadas por ter dito
que votara em Haddad. O assassino, um bolsonarista apaixonado, foi encontrado
quando tentava fugir. É o que acabo de ler no Yahoo!News. Moa era meu amigo e
foi uma das figuras centrais na história do crescimento dos blocos afro de
Salvador. Estou de luto por ele. Não olho redes sociais. Abri o Yahoo! pra
chegar ao email e vi a foto de Moa, sorrindo,
o que me fez parar, meio alegre de vê-lo, e ter a terrível notícia que contei
aqui resumidamente. A descrição da cena está no Yahoo! As informações vieram da
Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Fundador do Badauê, compositor,
mestre de capoeira, Moa vive na história real da cidade e deste país.”
[Caetano Veloso, 8/10/2018 – Fonte:
facebook]
BARBÁRIE
Caetano: brasileiros não podem ter 'medo da responsabilidade da
civilização'
Compositor baiano lamenta assassinato de Moa do Catendê, esfaqueado em
Salvador por eleitor de Bolsonaro. Gilberto Gil fala em "devastadora onda
de ódio"
Por Redação RBA
publicado 09/10/2018
Mestre Moa com Gil, e vídeo com Caetano: vítima da devastadora onda de ódio e intolerancia |
São Paulo – O cantor e compositor Caetano Veloso postou vídeo em que se mostra indignado com o
assassinato do mestre de
capoeira Moa do Catendê em
Salvador. Ele já havia se declarado "de luto" pela morte de Moa, seu
amigo, "uma das figuras centrais na
história do crescimento dos blocos afro de Salvador".
No vídeo, Caetano lembra que Moa foi fundador do
afoxé Badauê e cantarola música sobre o grupo, que gravou há décadas: "Misteriormente / O Badauê surgiu / Sua
expressão cultural / O povo aplaudiu". E lamenta o momento por que
passa o país.
"Ele (Moa) foi assassinado
por causa de uma discussão política", disse Caetano, lembrando que o
mestre de capoeira havia declarado seu voto no PT e foi esfaqueado 12 vezes por
um "bolsonarista fanático". Ele acabou sendo preso.
"Isso dá a impressão que a mente brasileira está num estado que
precisa ser superado. É verdade que todo mundo precisa colocar pra fora um
monte de coisa pra ver se muda o modo de ser da mente do brasileiro, do
inconsciente coletivo. Pra isso acontecer, a gente tem de se reconhecer que a
gente está maduro o suficiente para não se entregar a coisas como essa. Porque isso
é muito simbólico do que está se esboçando no Brasil", prossegue Caetano, cujo tom de voz vai aumentando na parte final da
fala.
"A mente de todos os brasileiros que são capazes de pensar, acalmar
a cabeça para receber as coisas, o coração para metabolizar os sentimentos
humanos, precisa reconhecer que não pode reduzir o Brasil a essa coisa
bárbara", diz, irritado. "O assassinato de Moa do Catendê é um sinal
de que a gente não deve seguir com força no caminho que as pessoas
ilusoriamente pensam que é superação, quando é atraso, é volta, é medo da
responsabilidade da civilização."
Gilberto Gil também postou em rede social mensagem
em que lamenta o episódio. "Mestre
Moa do Catendê foi morto ontem, em Salvador, por um homem tomado de fúria
assassina em meio a uma discussão sobre as eleições que acabavam de acontecer.
(...) Ele, homem de dedicada atuação entre as comunidades da cultura popular da
cidade, foi o idealizador do bloco Afoxé Badauê que encantou os carnavais de
rua da Bahia, alguns anos atrás. Torna-se uma das primeiras vítimas fatais
dessa devastadora onda de ódio e intolerância que nos assalta nesses dias de
hoje", escreveu.
"Nosso luto e nossa esperança de que a sua imolação não tenho sido
em vão e que nos ajude a encontrar a pacificação logo ali adiante!", acrescenta Gil.
O MENSAGEIRO DA
ALEGRIA
Falar
do Afoxé Badauê é falar de Moa do Catendê. Me lembro de nosso primeiro contato,
que não
foi imediato, mas indireto. Caetano Veloso tinha gravado a música Badauê, no disco Cinema Transcendental, e precisava dos dados pessoais do crioulo,
incluindo o nome propio constante nos babilaques, pra acertar o contrato de edição. Como estava no Rio, Caetano ligou para casa
de minha mãe, na Bahia, pedindo para eu localizar Moa, de preferência naquela
mesma noite. Chamei uma amiga minha e saímos na batalha. Rodando pela cidade,
pelos pontos mais prováveis, encontrei Jorge Watusi, que sugeriu que eu
procurasse Paulinho Camafeu que, por sua vez, sugeriu que eu fosse pro Largo do
Binóculo, no bairro da Federação, onde
estaba funcionando, provisoriamente, a sede do Badauê. E eu fiquei por lá,
papeando, tomando cerveja, até que pintou um cara que me levou à casa de Moa,
no Engenho Velho de Brotas. Moa não estava, ainda não tinha chegado de Aracaju,
que, por coincidência, era, no disco de Caetano, o título da faixa anterior à
sua composição. Tarde da noite, telefonei de
volta para Caetano, ditando o nome e endereço:
Romualdo Rosário da Costa, Entrada do Dique Pequeño, no Engenho Velho de
Brotas… E Caetano, do outro lado do fio, interrompeu, entre o incrédulo e o fascinado:
“é mentira sua, você tá querendo me engañar, isso é lindo, parece um poema”.
Concordamos que parecia: poesia –pois é – poesia.
. . .
[Antonio Risério, Carnaval Ijexá, 1981, Pág. 60]
Moço lindo do Badauê
Beleza pura
Do Ilê Aiyê
Beleza pura
Beleza pura
Do Ilê Aiyê
Beleza pura
[Caetano Veloso, Beleza Pura, 1979]
No
Badauê (Badauê)
Gira menina macumba beleza escravidão
No Badauê (Badauê)
Toda grandeza da vida no sim/não
Gira menina macumba beleza escravidão
No Badauê (Badauê)
Toda grandeza da vida no sim/não
. . .
No
Badauê (Badauê)
Gira princesa primeira beleza amor em mim
No Badauê (Badauê)
Os orixás nos saudaram com o sim/sim
Afoxé Gegê Nagô
Viva a princesa menina uma estrela
Riqueza primeira de Salvador
[Caetano Veloso, Sim/Não, 1981]
Quarta-feira,
25 de Maio de 2011
Mestre
Moa e Amigos do Catendê cantam Badauê
Badauê,
Afoxé criado na década de 70 deixou saudade ao sair do carnaval no fim dos anos
90. Agora um projeto promete dar o que falar, Mestre Moa e Amigos de Catendê cantam Badauê.
O
CD que reúne no estúdio Mestre Moa, o criador do Badauê e grandes nomes da
música teve ontem (25/05/2011) a primeira gravação da primeira canção com Caetano
Veloso, considerado o padrinho do afoxé.
Data:
26 de maio de 2011
Caetano Veloso, Wanda Chase e Moa do Catendê |
25/5/2011, Caetano grava sua
participação no Projeto
Mestre Moa e Amigos do Catendê cantam Badauê
SEGURE O CACHIMBO
Guiguio
[Agnaldo Pereira da Silva]
Ele vem do Engenho
Velho
Pisando macio só
para você
Para quem tá por
fora
Segure o cachimbo
Esse é o Badauê
Eu sou eu sou Afoxé
Badauê
Eu vim aqui para
você me ver
Eu sou eu sou Afoxé
Badauê
Eu vim aqui para
você me ver
Tem muita gente que
não acreditou
Que o Badauê viesse
pra ficar
Se enganou agora é
pra valer
Fique em seu canto e procure aprender
Fique em seu canto e procure aprender
Música
Projeto Mestre Moa e Amigos do Catendê valoriza o ritmo do ijexá
Aprovado pelo Faz Cultura,o primeiro disco do
Afoxé Baduê tem participação ilustre de Caetano Veloso
Marília
Galvão (marilia.galvao@redebahia.com.br)
27/05/2011
Visando
a valorização do ritmo do ijexá, o cantor Caetano Veloso gravou sua
participação no Projeto "Mestre Moa e Amigos do Catendê cantam
Badauê", que será lançado em CD. Aprovado pelo Faz Cultura em março de
2011, com a produção de Angela Machado e Ilna Baptista e Chiquita Santiago, o
projeto pretende reunir em estúdio o criador do Afoxé Badauê, Moa do Catendê,
Romualdo Rosário da Costa, mestre de capoeira, percursionista e poeta.
Participam
também os “Amigos do Catendê”, (Caetano Veloso, Carlinhos Brown, Gerônimo,
Márcia Short, Aloísio Menezes e Lazzo Matumbi, entre outros), que vão
interpretar as treze músicas que marcaram um tempo, nos carnavais em que o
Afoxé Badauê encantou a cidade, na cadência macia do ijexá, músicas de um
repertório revelador da história do Carnaval da Bahia.
25/1/2014 - Moa do Catendê |
Domingo, 15/02/2009
Badauê comemora 30 anos com grande festa
Liana Rocha, do A TARDE
Já
faz um tempo que ele não desce a ladeira de Nanã, nem leva junto toda gente do
Engenho Velho de Brotas para navegar em seu mar azul. Mas o afoxé Badauê, que
revolucionou os afoxés e blocos afro da cidade com sua audácia, seduziu tantos
artistas e inspirou tantas músicas, não vai deixar passar em branco seus 30
anos de fundação.
Nesta
segunda, dia 16, à noite, na Federação, muita gente que fez sua história estará
reunida para não só revivê-la, como também começar a fazê-la voltar à vida.
Essa é a esperança do compositor Moa do Katendê e do relações públicas Geraldo
Badá, que organiza a festa.
A volta –“Temos uma esperança muito grande de
voltar. Todo mundo se profissionalizou, tem maturidade suficiente e queremos
contar com gente que viveu as entranhas do Badauê, como Marcio Victor, Carlos
Pita, Caetano...”, vai enumerando Moa, um dos fundadores do afoxé.
A
pretensão é reforçada por Badá, que espera que o retorno venha mais uma vez
movimentar o bairro e ajudar a comunidade local. Nos velhos e bons tempos, o
afoxé chegou a ter seu Centro de Cultura, Arte e Lazer, que realizava uma série
de trabalhos sociais, uma das primeiras e ousadas tentativas do gênero.
Ousadia – A audácia, aliás, sempre foi a marca do
Badauê desde sua criação, no Dia da Abolição da Escravatura, em 13 de maio de
1978. Nascido para celebrar a cultura afro, ele saiu às ruas pela primeira vez
no ano seguinte e arrebatou o prêmio de melhor afoxé, batendo até o Filhos de
Gandhy, que em 79 completava – coincidentemente – 30 anos.
Para
contar essa história, a equipe do A TARDE se encontrou com alguns dos seus
antigos integrantes no Dique do Tororó (bem pertinho de onde nasceu o Badauê).
Como
não poderia deixar de ser, quem abre alas é a rainha Eline Araújo, a primeira a
reinar sua beleza sobre os entusiasmados súditos. “O Badauê era algo novo, dava espaço para a mulher, a mistura, tinha
esse diferencial”, proclama a majestade.
Sandra
Regina Coelho, que foi musa do afoxé em 80 e 81, reforça o sentimento: ”Era muita emoção, muito sentimento, a gente
se sentia uma pérola destacada”.
Também
brilhava o dançarino Negrizu, que atraiu o olhar de Caetano. ”O Badauê era a grande efervescência.
Pulsava como algo novo, bonito e amado por todos”, pontua.
Era
essa vitalidade que atraía para seus ensaios gente como Caetano (a quem muito
inspirou), Gilberto Gil (que o chamava de afoxé pop), o escritor Antônio
Risério (que a ele dedica um capítulo em Carnaval ijexá), o antropólogo e
fotógrafo Pierre Verger e muitos célebres outros, como Regina Casé, o grupo A
Cor do Som e Carlinhos Brown.
Assim, foi se tornando parte do imaginário popular, e até hoje se reflete em muito do Carnaval baiano.
Assim, foi se tornando parte do imaginário popular, e até hoje se reflete em muito do Carnaval baiano.
Festa – E para celebrar tudo isso, só uma baita festa. Porém,
até o momento do fechamento desta matéria, o pedido de Badá para que a Saltur
ajudasse com o palco, som e iluminação ainda não tinha recebido resposta.
Relações
públicas calejado, Badá tem seu plano B. A festa acontece nesta segunda-feira,
dia 16, de qualquer jeito, como diz ele, ”with a little help from my friends”. E ao Badauê
não faltam bons amigos para ajudar.
Serviço:
O
quê: Badauê 30 anos. Com Caetano
Veloso, Armandinho, Walter Queiroz, Edil Pacheco, Banda Virada no Mói de
Coentro, Lui Muritiba, J. Velloso, Moa do Katendê e o grupo Amigos do Katendê,
banda Ijexá da Bahia, Jorjão Bafafé e banda Okambi e Denise Corrêa
Quando:
Nesta segunda, dia 16, às 20h30
Onde:
Largo da Ferreira Santos, Federação
Quanto:
Gratuito
18 DE OUTUBRO DE 2018
Caetano
canta para Mestre Moa, morto pelos “discursos entoados de tortura, de terror”
A canção liga o ato do assassino aos “discursos entoados de tortura, de terror”. E o interlocutor, que já havia antecipado que se multiplicava em mil, milhões, se coloca na terceira pessoa do plural como “suas pernas, suas mãos”.
Por Julinho Bittencourt
Caetano Veloso gravou assim, de estalo, do fundo do
fundo de sua indignação, uma canção em homenagem a Mestre Moa do Katendê,
capoeirista assassinado com doze facadas por um apoiador do candidato Jair
Bolsonaro (PSL), no domingo (7/10) do primeiro turno das eleições, logo após
anunciar seu voto em Fernando Haddad (PT).
O vídeo com a composição, acompanhado por imagens
de Caetano no estúdio, arquivos de Mestre Moa e cenas de homenagens ao
capoeirista pelas ruas de Salvador (BA) se espalhou em comoção pela internet
desde a noite desta quarta-feira (18/10).
Compor
uma canção assim, no calor dos fatos é uma faca de dois gumes. Poucas vezes dá
certo e a chance da emoção fácil, da pieguice é tamanha. Mas este,
absolutamente, não é o caso.
Outro
dos mais conhecidos e certeiros é o de “Ohio”, composição de Neil Young feita
em poucos minutos e gravada imediatamente, logo após o compositor ver fotos na
Time Magazine de quatro estudantes mortos em manifestações na Universidade de
Ken Station, em 1970. A canção virou um hino e é relembrada até hoje.
Assim
como Neil Young, Caetano é Caetano e os fatos também não são poucos. O lendário
artista baiano tem o nome, poder, talento e prestígio suficientes para entoar a
canção de Sandra Simões, Gabriel Povoas e Alfredo Moura e transformá-la em
lenda e alerta mais uma vez, para os que se iludiram que isso não seria jamais
necessário.
Com
versos que se desencadeiam entre causa e efeito, os compositores forjaram um
hino instantâneo, muito mais do que homenagem merecida ao artista brutalmente
assassinado, uma ode à paz e desprezo pela covardia e autoritarismo.
A
canção liga, com maestria, o ato do assassino aos “discursos entoados de tortura,
de terror”. E o interlocutor, que já havia antecipado que se multiplicava em
mil, milhões, se coloca na terceira pessoa do plural como “suas pernas, suas
mãos”.
O
samba de roda desfia a coreografia da capoeira para, ao final, na dança dos
escravos da Bahia, secularmente perseguida, se anunciar “a voz” do mestre para
vencer o “seu algoz”. Tudo desfila sobre imagens de capoeiras negros e seus
berimbaus, ogãs, gentes de santo e as tranças de Mestre Moa.
A
força que a opressão de séculos a faz cada vez mais forte.
Caetano Veloso - Foto: Reprodução YouTube
MESTRE MOA
Composição: Sandra Simões,
Gabriel Povoas e Alfredo Moura
Intérprete: Caetano Veloso
Intérprete: Caetano Veloso
Mestre Moa foi
ferido
Pelas costas,
covardia
Logo ele não queria
A beleza da Bahia
Mestre Moa, Badauê
Derrradeira
capoeira
De um artista, de
um erê
Triste faca traiçoeira
Mestre Moa tomba
morto
Tombam nossos corações
Nossa história
sangra junto
Somos mil, somos
milhões
Mestre Moa, imolado
Pelas mãos do opressor
Nos discursos entoados
De tortura, de
terror
Mestre Moa, redenção
Nós seremos sua voz
Suas pernas, suas mãos
Venceremos seu
algoz
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