martes, 9 de octubre de 2018

2018 - BADAUÊ // SEGURE O CACHIMBO - MOA DO KATENDÊ


MOA DO CATENDÊ
[Romualdo Rosário da Costa, capoeirista, percussionista e compositor. 
Salvador, 29 de outubro de 1954 — Salvador, 7 de outubro de de 2018.]



misteriosamente
o badauê surgiu
com sua expressão cultural
- o povo aplaudiu


“Moa do Catendê, a quem devo a revelação que foi ver e ouvir o grupo de pessoas na rua cantando "Misteriosamente o Badauê surgiu", foi morto a facadas por ter dito que votara em Haddad. O assassino, um bolsonarista apaixonado, foi encontrado quando tentava fugir. É o que acabo de ler no Yahoo!News. Moa era meu amigo e foi uma das figuras centrais na história do crescimento dos blocos afro de Salvador. Estou de luto por ele. Não olho redes sociais. Abri o Yahoo! pra chegar ao email e vi a foto de Moa, sorrindo, o que me fez parar, meio alegre de vê-lo, e ter a terrível notícia que contei aqui resumidamente. A descrição da cena está no Yahoo! As informações vieram da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Fundador do Badauê, compositor, mestre de capoeira, Moa vive na história real da cidade e deste país.”
[Caetano Veloso, 8/10/2018 – Fonte: facebook]




BARBÁRIE
Caetano: brasileiros não podem ter 'medo da responsabilidade da civilização'
Compositor baiano lamenta assassinato de Moa do Catendê, esfaqueado em Salvador por eleitor de Bolsonaro. Gilberto Gil fala em "devastadora onda de ódio"

Por Redação RBA
publicado 09/10/2018


Mestre Moa com Gil, e vídeo com Caetano: vítima da devastadora onda de ódio e intolerancia

São Paulo – O cantor e compositor Caetano Veloso postou vídeo em que se mostra indignado com o assassinato do mestre de capoeira Moa do Catendê em Salvador. Ele já havia se declarado "de luto" pela morte de Moa, seu amigo, "uma das figuras centrais na história do crescimento dos blocos afro de Salvador".

No vídeo, Caetano lembra que Moa foi fundador do afoxé Badauê e cantarola música sobre o grupo, que gravou há décadas: "Misteriormente / O Badauê surgiu / Sua expressão cultural / O povo aplaudiu". E lamenta o momento por que passa o país.

"Ele (Moa) foi assassinado por causa de uma discussão política", disse Caetano, lembrando que o mestre de capoeira havia declarado seu voto no PT e foi esfaqueado 12 vezes por um "bolsonarista fanático". Ele acabou sendo preso.

"Isso dá a impressão que a mente brasileira está num estado que precisa ser superado. É verdade que todo mundo precisa colocar pra fora um monte de coisa pra ver se muda o modo de ser da mente do brasileiro, do inconsciente coletivo. Pra isso acontecer, a gente tem de se reconhecer que a gente está maduro o suficiente para não se entregar a coisas como essa. Porque isso é muito simbólico do que está se esboçando no Brasil", prossegue Caetano, cujo tom de voz vai aumentando na parte final da fala.

"A mente de todos os brasileiros que são capazes de pensar, acalmar a cabeça para receber as coisas, o coração para metabolizar os sentimentos humanos, precisa reconhecer que não pode reduzir o Brasil a essa coisa bárbara", diz, irritado. "O assassinato de Moa do Catendê é um sinal de que a gente não deve seguir com força no caminho que as pessoas ilusoriamente pensam que é superação, quando é atraso, é volta, é medo da responsabilidade da civilização."

Gilberto Gil também postou em rede social mensagem em que lamenta o episódio. "Mestre Moa do Catendê foi morto ontem, em Salvador, por um homem tomado de fúria assassina em meio a uma discussão sobre as eleições que acabavam de acontecer. (...) Ele, homem de dedicada atuação entre as comunidades da cultura popular da cidade, foi o idealizador do bloco Afoxé Badauê que encantou os carnavais de rua da Bahia, alguns anos atrás. Torna-se uma das primeiras vítimas fatais dessa devastadora onda de ódio e intolerância que nos assalta nesses dias de hoje", escreveu.

"Nosso luto e nossa esperança de que a sua imolação não tenho sido em vão e que nos ajude a encontrar a pacificação logo ali adiante!", acrescenta Gil.



Foto: Leco de Souza

O MENSAGEIRO DA ALEGRIA

        Falar do Afoxé Badauê é falar de Moa do Catendê. Me lembro de nosso primeiro contato, que não foi imediato, mas indireto. Caetano Veloso tinha gravado a música Badauê, no disco Cinema Transcendental, e precisava dos dados pessoais do crioulo, incluindo o nome propio constante nos babilaques, pra acertar o contrato de edição. Como estava no Rio, Caetano ligou para casa de minha mãe, na Bahia, pedindo para eu localizar Moa, de preferência naquela mesma noite. Chamei uma amiga minha e saímos na batalha. Rodando pela cidade, pelos pontos mais prováveis, encontrei Jorge Watusi, que sugeriu que eu procurasse Paulinho Camafeu que, por sua vez, sugeriu que eu fosse pro Largo do Binóculo, no bairro da Federação, onde estaba funcionando, provisoriamente, a sede do Badauê. E eu fiquei por lá, papeando, tomando cerveja, até que pintou um cara que me levou à casa de Moa, no Engenho Velho de Brotas. Moa não estava, ainda não tinha chegado de Aracaju, que, por coincidência, era, no disco de Caetano, o título da faixa anterior à sua composição. Tarde da noite, telefonei de volta para Caetano, ditando o nome e endereço: Romualdo Rosário da Costa, Entrada do Dique Pequeño, no Engenho Velho de Brotas… E Caetano, do outro lado do fio, interrompeu, entre o incrédulo e o fascinado: “é mentira sua, você tá querendo me engañar, isso é lindo, parece um poema”. Concordamos que parecia: poesia –pois é – poesia.
. . .
[Antonio Risério, Carnaval Ijexá, 1981, Pág. 60]



Moço lindo do Badauê
Beleza pura
Do Ilê Aiyê
Beleza pura

[Caetano Veloso, Beleza Pura, 1979]



No Badauê (Badauê)
Gira menina macumba beleza escravidão
No Badauê (Badauê)
Toda grandeza da vida no sim/não

. . .



No Badauê (Badauê)
Gira princesa primeira beleza amor em mim
No Badauê (Badauê)
Os orixás nos saudaram com o sim/sim
Afoxé Gegê Nagô
Viva a princesa menina uma estrela
Riqueza primeira de Salvador

                                                                 [Caetano Veloso, Sim/Não, 1981]




Quarta-feira, 25 de Maio de 2011

Mestre Moa e Amigos do Catendê cantam Badauê

Badauê, Afoxé criado na década de 70 deixou saudade ao sair do carnaval no fim dos anos 90. Agora um projeto promete dar o que falar, Mestre Moa e Amigos de Catendê cantam Badauê.

O CD que reúne no estúdio Mestre Moa, o criador do Badauê e grandes nomes da música teve ontem (25/05/2011) a primeira gravação da primeira canção com Caetano Veloso, considerado o padrinho do afoxé.

Data: 26 de maio de 2011
Fonte: TV Bahia








Foto: Beg Figueiredo - Reprodução




Angela Machado




Caetano Veloso, Wanda Chase e Moa do Catendê

 25/5/2011, Caetano grava sua participação no Projeto 
Mestre Moa e Amigos do Catendê cantam Badauê



SEGURE O CACHIMBO
Guiguio [Agnaldo Pereira da Silva]

Ele vem do Engenho Velho
Pisando macio só para você
Para quem tá por fora
Segure o cachimbo
Esse é o Badauê

Eu sou eu sou Afoxé Badauê
Eu vim aqui para você me ver
Eu sou eu sou Afoxé Badauê
Eu vim aqui para você me ver

Tem muita gente que não acreditou
Que o Badauê viesse pra ficar
Se enganou agora é pra valer
Fique em seu canto e procure aprender




Música

Projeto Mestre Moa e Amigos do Catendê valoriza o ritmo do ijexá

Aprovado pelo Faz Cultura,o primeiro disco do Afoxé Baduê tem participação ilustre de Caetano Veloso

Marília Galvão (marilia.galvao@redebahia.com.br)
27/05/2011

Visando a valorização do ritmo do ijexá, o cantor Caetano Veloso gravou sua participação no Projeto "Mestre Moa e Amigos do Catendê cantam Badauê", que será lançado em CD. Aprovado pelo Faz Cultura em março de 2011, com a produção de Angela Machado e Ilna Baptista e Chiquita Santiago, o projeto pretende reunir em estúdio o criador do Afoxé Badauê, Moa do Catendê, Romualdo Rosário da Costa, mestre de capoeira, percursionista e poeta.


Participam também os “Amigos do Catendê”, (Caetano Veloso, Carlinhos Brown, Gerônimo, Márcia Short, Aloísio Menezes e Lazzo Matumbi, entre outros), que vão interpretar as treze músicas que marcaram um tempo, nos carnavais em que o Afoxé Badauê encantou a cidade, na cadência macia do ijexá, músicas de um repertório revelador da história do Carnaval da Bahia.



25/1/2014 - Moa do Catendê


Domingo, 15/02/2009

Badauê comemora 30 anos com grande festa

Liana Rocha, do A TARDE

Já faz um tempo que ele não desce a ladeira de Nanã, nem leva junto toda gente do Engenho Velho de Brotas para navegar em seu mar azul. Mas o afoxé Badauê, que revolucionou os afoxés e blocos afro da cidade com sua audácia, seduziu tantos artistas e inspirou tantas músicas, não vai deixar passar em branco seus 30 anos de fundação.

Nesta segunda, dia 16, à noite, na Federação, muita gente que fez sua história estará reunida para não só revivê-la, como também começar a fazê-la voltar à vida. Essa é a esperança do compositor Moa do Katendê e do relações públicas Geraldo Badá, que organiza a festa.

A volta –“Temos uma esperança muito grande de voltar. Todo mundo se profissionalizou, tem maturidade suficiente e queremos contar com gente que viveu as entranhas do Badauê, como Marcio Victor, Carlos Pita, Caetano...”, vai enumerando Moa, um dos fundadores do afoxé.
A pretensão é reforçada por Badá, que espera que o retorno venha mais uma vez movimentar o bairro e ajudar a comunidade local. Nos velhos e bons tempos, o afoxé chegou a ter seu Centro de Cultura, Arte e Lazer, que realizava uma série de trabalhos sociais, uma das primeiras e ousadas tentativas do gênero.

Ousadia – A audácia, aliás, sempre foi a marca do Badauê desde sua criação, no Dia da Abolição da Escravatura, em 13 de maio de 1978. Nascido para celebrar a cultura afro, ele saiu às ruas pela primeira vez no ano seguinte e arrebatou o prêmio de melhor afoxé, batendo até o Filhos de Gandhy, que em 79 completava – coincidentemente – 30 anos.
Para contar essa história, a equipe do A TARDE se encontrou com alguns dos seus antigos integrantes no Dique do Tororó (bem pertinho de onde nasceu o Badauê).
Como não poderia deixar de ser, quem abre alas é a rainha Eline Araújo, a primeira a reinar sua beleza sobre os entusiasmados súditos. “O Badauê era algo novo, dava espaço para a mulher, a mistura, tinha esse diferencial”, proclama a majestade.
Sandra Regina Coelho, que foi musa do afoxé em 80 e 81, reforça o sentimento: ”Era muita emoção, muito sentimento, a gente se sentia uma pérola destacada”.
Também brilhava o dançarino Negrizu, que atraiu o olhar de Caetano. ”O Badauê era a grande efervescência. Pulsava como algo novo, bonito e amado por todos”, pontua.
Era essa vitalidade que atraía para seus ensaios gente como Caetano (a quem muito inspirou), Gilberto Gil (que o chamava de afoxé pop), o escritor Antônio Risério (que a ele dedica um capítulo em Carnaval ijexá), o antropólogo e fotógrafo Pierre Verger e muitos célebres outros, como Regina Casé, o grupo A Cor do Som e Carlinhos Brown.
Assim, foi se tornando parte do imaginário popular, e até hoje se reflete em muito do Carnaval baiano.

Festa – E para celebrar tudo isso, só uma baita festa. Porém, até o momento do fechamento desta matéria, o pedido de Badá para que a Saltur ajudasse com o palco, som e iluminação ainda não tinha recebido resposta.
Relações públicas calejado, Badá tem seu plano B. A festa acontece nesta segunda-feira, dia 16, de qualquer jeito, como diz ele, ”with a little help from my friends”. E ao Badauê não faltam bons amigos para ajudar.

Serviço:
O quê: Badauê 30 anos. Com Caetano Veloso, Armandinho, Walter Queiroz, Edil Pacheco, Banda Virada no Mói de Coentro, Lui Muritiba, J. Velloso, Moa do Katendê e o grupo Amigos do Katendê, banda Ijexá da Bahia, Jorjão Bafafé e banda Okambi e Denise Corrêa
Quando: Nesta segunda, dia 16, às 20h30
Onde: Largo da Ferreira Santos, Federação
Quanto: Gratuito





18 DE OUTUBRO DE 2018
Caetano canta para Mestre Moa, morto pelos “discursos entoados de tortura, de terror”

A canção liga o ato do assassino aos “discursos entoados de tortura, de terror”. E o interlocutor, que já havia antecipado que se multiplicava em mil, milhões, se coloca na terceira pessoa do plural como “suas pernas, suas mãos”. 


Por Julinho Bittencourt

Caetano Veloso gravou assim, de estalo, do fundo do fundo de sua indignação, uma canção em homenagem a Mestre Moa do Katendê, capoeirista assassinado com doze facadas por um apoiador do candidato Jair Bolsonaro (PSL), no domingo (7/10) do primeiro turno das eleições, logo após anunciar seu voto em Fernando Haddad (PT).

O vídeo com a composição, acompanhado por imagens de Caetano no estúdio, arquivos de Mestre Moa e cenas de homenagens ao capoeirista pelas ruas de Salvador (BA) se espalhou em comoção pela internet desde a noite desta quarta-feira (18/10).

Compor uma canção assim, no calor dos fatos é uma faca de dois gumes. Poucas vezes dá certo e a chance da emoção fácil, da pieguice é tamanha. Mas este, absolutamente, não é o caso.

Outro dos mais conhecidos e certeiros é o de “Ohio”, composição de Neil Young feita em poucos minutos e gravada imediatamente, logo após o compositor ver fotos na Time Magazine de quatro estudantes mortos em manifestações na Universidade de Ken Station, em 1970. A canção virou um hino e é relembrada até hoje.

Assim como Neil Young, Caetano é Caetano e os fatos também não são poucos. O lendário artista baiano tem o nome, poder, talento e prestígio suficientes para entoar a canção de Sandra Simões, Gabriel Povoas e Alfredo Moura e transformá-la em lenda e alerta mais uma vez, para os que se iludiram que isso não seria jamais necessário.

Com versos que se desencadeiam entre causa e efeito, os compositores forjaram um hino instantâneo, muito mais do que homenagem merecida ao artista brutalmente assassinado, uma ode à paz e desprezo pela covardia e autoritarismo.

A canção liga, com maestria, o ato do assassino aos “discursos entoados de tortura, de terror”. E o interlocutor, que já havia antecipado que se multiplicava em mil, milhões, se coloca na terceira pessoa do plural como “suas pernas, suas mãos”.

O samba de roda desfia a coreografia da capoeira para, ao final, na dança dos escravos da Bahia, secularmente perseguida, se anunciar “a voz” do mestre para vencer o “seu algoz”. Tudo desfila sobre imagens de capoeiras negros e seus berimbaus, ogãs, gentes de santo e as tranças de Mestre Moa.

A força que a opressão de séculos a faz cada vez mais forte.





Caetano Veloso - Foto: Reprodução YouTube


MESTRE MOA

Composição: Sandra Simões, Gabriel Povoas e Alfredo Moura
Intérprete: Caetano Veloso


Mestre Moa foi ferido
Pelas costas, covardia
Logo ele não queria
A beleza da Bahia

Mestre Moa, Badauê
Derrradeira capoeira
De um artista, de um erê
Triste faca traiçoeira

Mestre Moa tomba morto
Tombam nossos corações
Nossa história sangra junto
Somos mil, somos milhões

Mestre Moa, imolado
Pelas mãos do opressor
Nos discursos entoados
De tortura, de terror

Mestre Moa, redenção
Nós seremos sua voz
Suas pernas, suas mãos
Venceremos seu algoz




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