miércoles, 31 de octubre de 2018

1966 - 1967 - A FINA FLOR DO SAMBA


1/6/1966


10/6/1966

12/6/1966


Sérgio Cabral (17 de maio de 1937/14 de julho de 2024)











31/7/1966



5/11/1966 - JORNAL DO BRASIL



6/11/1966 - JORNAL DO BRASIL















7/11/1966 - O GLOBO


































 







 



30/6/1967 - JORNAL DO BRASIL






Maria Bethânia e Tuca
































“Encontrei esse convite de Maria Bethânia. De 1967, quando ela apresentou "Me disseram" com Rosinha de Valença ao violão, e abriu espaço para que eu mostrasse duas ou três músicas minhas, entre elas "Não muda, não". 

Obrigada, Maria, pela generosidade com aquela compositora iniciante de 19 anos. 

[Joyce Moreno, Instagram, 2022]



















 
 


Thereza Aragão - Foto acervo Iris Ferreira Torre






São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2005 

FERREIRA GULLAR

Fim de papo

Tenho a vaidade de dizer que pertenci ao grupo de artistas e intelectuais que contribuíram para que o público da zona sul do Rio de Janeiro passasse a valorizar os sambistas das escolas de samba.

Já no CPC, no comecinho dos anos 60, esse grupo fez as primeiras aproximações, promovendo pequenos shows na sede da UNE, no Flamengo, e depois ajudando a organizar o célebre espetáculo de música popular brasileira no Teatro Municipal, até então templo intocado da música erudita. Cartola faz alusão a esse feito num samba célebre.

Mas foi no teatro Opinião que o grupo deu expansão a esse trabalho de valorização do samba. Seu espetáculo de estréia, o show "Opinião", com Nara Leão, Zé Kétti e João do Vale, mostrava esse propósito de juntar, sem preconceitos, a música do sertão com a do morro e da classe média carioca. Em seguida, Thereza Aragão criou "A Fina Flor do Samba", espetáculo às segundas-feiras que apresentava à gente da zona sul os compositores, cantores, passistas e ritmistas das escolas de samba, quase todos eles artistas anônimos, apesar de talentosos.

Nada disso ocorreu por acaso. Nós éramos, já naquele tempo, assíduos freqüentadores dos ensaios das escolas, em especial a Thereza, que conhecia pessoalmente cada um daqueles artistas, de Monarco a Nega Pelé. E, nos dias de desfile, estávamos juntos todos na arquibancada, onde éramos dos primeiros a chegar: Vianinha, Armando Costa, João das Neves, Pichín, Denoy, León Hirszman, Paulo Pontes... E o grupo foi crescendo à medida mesmo que o prestígio do samba de escola se ampliava nas hostes de Copacabana e Ipanema.

Em "A Fina Flor do Samba", o público da zona sul teve a oportunidade de ouvir, cantados por seus autores, os lindos sambas de Silas de Oliveira, Cartola, Darcy da Mangueira, Marçal, muitas vezes acompanhados pelos melhores ritmistas da bateria de suas respectivas escolas. Um dos maiores sucessos das noites de segunda-feira no "Opinião" foram as exibições de Nega Pelé, passista notável por suas virtudes de dançarina e seu corpo elegante. Um empresário da noite, atraído pelos elogios que ouvira, veio ao nosso teatro e contratou-a para se apresentar num show que logo estrearia no Copacabana Palace.

Nossa identificação com as escolas de samba era tanta que, por inspiração de Vianinha, chamamos Sérgio Cabral para colaborar na elaboração de um espetáculo que se chamaria "O Samba Pede Passagem". Como o show continha muitas críticas à ditadura militar, foi proibido pela censura e nunca estreou. Mas isso não impediu que as noites de samba do "Opinião" continuassem a mostrar à zona sul -mesmo porque o teatro Opinião ficava em Copacabana, no shopping center da rua Siqueira Campos- o talento dos morros e subúrbios cariocas, como Martinho da Vila, Noel Rosa de Oliveira e Paulinho da Viola, que estreara há pouco no show "São Quatro Crioulos", no teatro Jovem.

Da admiração passou-se à participação: a própria Thereza criou uma ala "de brancos" na Acadêmicos do Salgueiro. Mas até aí ninguém pretendia se tornar a estrela da escola e, sim, apenas, experimentar a alegria e a glória de tomar parte naquela esplêndida festa popular. Todos, homens e mulheres, esforçavam-se para aprender a "sambar no pé". Muitos o conseguiram, especialmente as mulheres, mas nenhuma delas jamais pretendeu tomar o lugar da passista da escola à frente da bateria. É a diferença que há entre identificação, reconhecimento do mérito alheio e usurpação.

Até eu me tornei letrista de um samba-enredo! Mas um samba que nenhuma escola cantaria, ainda que meu parceiro fosse nada mais nada menos que Silas de Oliveira... Trata-se do samba-enredo da peça criada por Dias Gomes e escrita por nós dois e que se chamou, em sua primeira versão, "Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória". A letra tinha que ser escrita por um dos dois autores da peça, porque teria função essencial na dramaturgia do espetáculo. Escrevi por estar mais afeito ao gênero, já que sabia de cor quase todos os sambas-enredo das grandes escolas.

A peça se desenvolvia como um desfile de escola de samba, com suas alas, destaques e alegorias, narrando o complô armado para pôr abaixo o presidente da escola, que, no desfile, encarnava a figura de Getúlio Vargas. No final, em vez de o presidente se suicidar, como ocorreu na realidade, na peça é assassinado pelos pistoleiros da ala das Aves de Rapina... Na segunda versão, montada em 1982, a peça passou a se chamar "Vargas", e o samba-enredo foi composto por Chico Buarque e Edu Lobo.

Mas por que estou aqui a relembrar estas coisas? Para deixar claro que nunca tive e não tenho nada contra a participação de "brancos" no desfile das escolas. Tampouco me sinto obrigado a não ver que isso hoje serve a muitos interesses, que, na maioria dos casos, não são os dos sambistas e das comunidades onde essas escolas nasceram. Não, não sou nostálgico dos desfiles que duravam 14 horas, mas os vivi com emoção -a emoção que falta hoje à marcha acelerada das escolas, que, como disse o mestre Jamelão, não deixa a passista sambar. Sim, sou nostálgico dos grandes sambas-enredo do passado, porque os cantei com emoção -a emoção que falta aos de hoje, os quais, por isso mesmo, ninguém sabe de cor. Enfim, pouco ou nada tenho a ver com esse cansativo desfilar de alegorias, custeado por nós, para o enriquecimento e a glória dos bicheiros.