lunes, 11 de junio de 2018

2018 - OFERTÓRIO - Lançamento do álbum




Texto para apresentar CD/DVD

"Decidimos pôr o título Ofertório no CD/DVD do nosso show (que, até então, era conhecido apenas pela lista dos nossos nomes em ordem de idade e de número de sílabas: Caetano Moreno Zeca Tom - Veloso) quando ele já tinha sido apresentado em temporadas no Rio e em São Paulo, além de uma ida a BH. É que a canção que fiz para a missa de 90 anos de minha mãe toca no cerne do nosso feixe temático: as relações familiares, a família de inspirações que assaltam os quatro modestos mas entusiasmados criadores, a visão total que, como nenhuma outra dimensão do conhecimento, a religião expõe.

Esse canto ritual escrito por mim, que sou o único não-religioso do grupo, ilumina a entrada de Reconvexo, o desaforado brado do Recôncavo Baiano que, no roteiro, vem logo em seguida. Mas também expande seus raios sobre Um passo à frente, de Moreno, Todo homem, de Zeca, Clarão, de Tom, meu Jenipapo absoluto ou Tá escrito de Xande de Pilares - enfim, a todo o repertório do show. Tanto que forçamos impor o novo título ao próprio espetáculo.

Tudo isso foi um sonho meu, acalentado por longo tempo. O show que fiz no Sesc de São Paulo com Moreno em 2006 voltava sempre à minha cabeça. Zeca e Tom se chegando para a música também, imaginei armar um com os três, num modo de estar mais perto deles depois de crescidos. E de clarear - para mim, para eles e para os outros - o sentido da presença de Bethânia e minha, assim como as de Gil e Gal, no cenário da música popular do Brasil. Tom, que vai direto à essência das coisas, logo disse, ao saber do plano, que queria que cantássemos O seu amor, canção de Gil escrita para os Doces Bárbaros.

Na nossa cabeça não tínhamos um "produto" para oferecer. Tratava-se sempre de uma delicada e vulnerável experiência existencial que enfrentamos com alegria e preocupação. A estreia logo nos colocou mais do lado da alegria. Mas continuamos atentos. Agora temos um produto para apresentar. Que nosso grupo semi-amador, mas de alma sofisticada, apareça nessas gravações fiel a seu espírito.

Todo homem, canção de Zeca, tornou-se conhecida e amada por mais de um milhão de pessoas. Nossas apresentações despertam emoções novas em espectadores surpresos. Nossos colegas sentem carinho pelo que veem e ouvem de nós. Esperamos que todas as pessoas que virem e ouvirem, no CD/DVD que se lança agora, possam também se enternecer com nossos sons e imagens. Que nossa aventura familiar contribua com a construção do Brasil."

Caetano Veloso




O ESTADO DE S.PAULO

'Meu filho me atualiza com Kanye West, pena que ele falando seja tão chato', diz Caetano Veloso

Cantor esteve em São Paulo com Zeca em lançamento do projeto de CD e DVD 'Ofertório'; shows serão dias 25 e 26, no Espaço das Américas

Julio Maria, O Estado de S.Paulo
22 Maio 2018

Caetano Veloso chegou com seu filho Zeca para falar sobre o lançamento de seu disco e DVD Ofertório, gravado ao vivo. Ele volta a São Paulo para fazer dois shows, dias 25 e 26 (sexta e sábado), no Espaço das Américas. Ainda há ingressos para as duas noites.

Uma coletiva de imprensa foi marcada no prédio da empresa Google, na Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. A coletiva, que começou com duas horas de atraso, teve a intermediação da influencer do YouTube, Thaynara OG.



22/5/2018 - Caetano e Zeca - Foto: Julio Maria / Estadão


Caetano e Zeca (no disco e no show estão também Tom e Moreno) começaram afinando seus violões em frente aos jornalistas para tocarem Todo Homem, que Zeca interpreta com seu falsete.

Thaynara abriu perguntando de quem foi a ideia do encontro. “Surgiu da minha ideia mesmo, da minha cabeça.” E explicou o histórico na música de cada filho de forma breve. Caetano falou de emoções que sente ao lado dos filhos e disse ter ficado muito nervoso na estreia da turnê, no Teatro Net, em 2017. Zeca falou que ouviu muito Djavan durante os ensaios com a banda e no processo de construção do show.

Caetano contou que dirigiu os filhos, mas que quase todo o repertório se impôs naturalmente. “Nós queremos apresentar um pouco de luz na vida. E no nosso caso temos muito a festejar.” Caetano disse que ficou bem impressionado com James Blake.

“Zeca me atualiza com Kanye West, pena que ele falando seja tão chato, e ele fala muita besteira. Eu falo muito também, mas apenas falo”, disse sobre o rapper norte americano que já declarou apoio ao presidente Donald Trump.

Sobre o funk Alexandrino, Caetano comentou sobre a resistência ao estilo carioca, apesar da presença definitiva em vários países do mundo. “O funk já vem acontecendo há muito tempo. Eu gosto imensamente do funk, mais do que o Zeca. Mesmo no tropicalismo, Gil gostava de pensar nos Beatles e eu gostava de pensar no Roberto Carlos.” 





Muita musicalidade e afeto com Caetano e Zeca Veloso no lançamento de ‘Ofertório’

Por Redação PopNow
Postado em 23/05/2018

Por: Bianca Luzetti e Thuane Kuchta



Se um Veloso já é bom, imagina dois. E três. E quatro. Pois é, são quatro Veloso’s que se apresentam na turnê “Ofertório”, novo projeto da família. Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso montaram um grupo musical que inspira (e faz suspirar) qualquer um.

Estivemos presentes na coletiva onde Caetano e seu filho Zeca Veloso cantaram e tocaram para os presentes e depois falaram um pouco sobre suas inspirações, as novas músicas e os aprendizados que esse projeto tem trazido.

Separamos algumas das respostas de Caetano e Zeca para mostrar para vocês. Olhem só:


PAI E FILHOS

Caetano: Eu fico muito feliz de estar com eles, até porque estão crescendo, e é uma forma de nos vermos mais. Mas houveram também emoções difíceis de lidar em todo esse processo – apesar de sermos muito próximos. A questão é que envolviam muitas músicas inéditas e não sabíamos como o público ia nos receber. Porque afinal, nós não somos uma banda profissional onde ele (Zeca) é o contrabaixista, o Tom é um guitarrista e de repente o Moreno é um violinista… Não chega a ser isso, mas todo mundo toca o suficiente para ter um negócio que é só nosso, que só nós podemos fazer. Então tínhamos um pouco de medo, por isso confesso que estreei com muita tensão. Fiquei nervoso a beça. Mas enfim, os temores fazem parte e o sentimento bom prevalece.


Caetano e Zeca Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes

Zeca: Comigo foi parecido com o meu pai também. Estar no palco com eles é uma honra, mas foi bastante trabalhoso entregarmos o show. Até na última semana da nossa estreia fizemos várias mudanças. Eu ficava muito preocupado, muito nervoso, se ia estar bem feito e tudo mais. Já Tom e Moreno estavam sempre confiantes, de bom humor…

Caetano interrompe e diz que Tom nunca parece estar grilado com coisa nenhuma. “No DVD, em uma parte que não entrou na edição, ele aparece até bocejando, como se tivesse em um relaxamento total. E olha que ele diz que fica o mais nervoso, mas a gente não consegue notar, não parece”, conta.

Zeca: Eu acho que eu fico mais nervoso, porque eu não estava preparado. Nunca fui e ainda não sou um músico profissional. Acho que agora depois de 30 shows estou tocando mais seguro. Mas eu ficava muito nervoso e ainda fico.

Caetano: Mas você fazia tudo direitinho e continua fazendo, só que mais relaxadamente. Agora, o que aconteceu, principalmente, é que perto da estreia, Zeca tomou a responsabilidade de orientar as mudanças que achávamos que deveríamos fazer, tanto em ordem quanto no repertório, o que acabou o tornando nosso guia.

Zeca: É, mais ou menos..


Caetano: Zeca deu dicas que definiram a forma como o show ficou. Na verdade não mudou quase nada mas mudou tudo (rs). É porque se você tira uma música daqui, coloca outra ali, sugere uma que não estava no repertório e tal, acaba mudando tudo, que foi o aconteceu.

Caetano e Zeca Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes

O SHOW

Perguntado sobre o processo criativo do show, Caetano conta que Zeca propôs grandes mudanças e todo mundo deu opinião. “Fomos escolhendo, decidindo juntos e tudo foi ganhando forma. Zeca e Tom por exemplo, pediram para eu tocar Trem das Cores, eu quis cantar Ofertório – feita pra missa de 90 anos de minha mãe, e que se ligava naturalmente ao Reconvex. E no fim, tudo trazia a parte essencial do que eu acho que deve acontecer ao fazer esses shows, que é apresentar um pouco de luz na vida e convivência das pessoas e seus acasos familiares. No nosso caso, a gente tem muito o que celebrar”, explica.

O QUE ANDARAM OUVINDO

Zeca: Sei que vai parecer até repetitivo porque eu sempre falo dele, mas eu ouvia muito Djavan no processo de construir o show. Mas no geral ouço muita coisa variada. Muita música Pop, coisas que tocam no rádio mesmo, como Funk, Sertanejo, R&B. Eu gosto muito, acho que tem sempre uma vitalidade, eles estão sempre se reinventando e isso me entusiasma.

Caetano: Zeca sempre me mostrou coisas pra ouvir com ele, uma das que me impressionou foi James Blake. Ele me atualiza também à respeito de Kanye West, porque ele faz muita coisa que tem caráter experimental e ele se amarra. Mas ele falando (Kanye West) é chato pra caramba. A gente vê ele na TV e ele fica três horas falando, pior do que eu! E só fala besteira. Mas musicalmente e inventivamente ele é bom.


Zeca Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes


GENÉTICA, EXEMPLOS E AFETO

Caetano: Tem muitas coisas de Zeca pelas quais me orgulho, como o fato dele ser até mais exigente do que eu. Mas, o que temos de parecido… Bem o Zeca sempre me pareceu – geneticamente falando – que tinha puxado mais a família da mãe dele, até que um dia vi o filme “Uma noite em 67” em que eu aparecia e simplesmente não me reconheci. Para mim, quem eu estava vendo na verdade era o Zeca. Era muito parecido comigo. Foi aí que pensei “Puxa, o Zeca tem muito mais de mim do que eu imaginava”.

Zeca: Não sei dizer o que herdei, mas posso falar o que admiro, como lealdade, honestidade, coisas do caráter dele. De fato, são coisas que me orgulham muito. E, bom, em muitos aspectos ele é minha maior referência né, não exatamente uma referência de um lugar para onde eu quero ir, mas o vejo como um ponto de gravidade, de onde eu saio e posso ir para outro lugar, mas sempre posso voltar. Agora falando como artista, é óbvio mas eu realmente admiro a sensibilidade e o talento sobrenatural que ele tem para criar.

Caetano diz também que aprendeu mais com os filhos do que ensinou. Para ele, é mais importante dar o exemplo do que ele chama de “ser professoral”.

Caetano Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes

FUNK

Ao serem perguntados sobre o funk como estilo musical e tudo que ele está conquistando no mundo, Caetano diz que adora o ritmo. “A história do funk carioca já é velha e enfrentou preconceito e desqualificação da imprensa e de críticos respeitados por anos”, conta. “Tem um livro do Hermano Vianna que já é um clássico e fala da formação do funk carioca, desenvolvido na favela e baseado em Miami Bass e trouxeram o ‘tum tá tá tum tum tá’ para a música”.

E o cantor continua contando sua declaração por música brasileira:

Caetano: Eu gosto muito de funk. Uma coisa que eu tenho desde o tropicalismo, é que o Gil gostava muito de pensar em Beatles e eu gostava de pensar em Roberto Carlos, gostava da imitação brasileira do pop de língua inglesa. Eu adoro Rihanna, mas tenho muito interesse em Ludmilla e Anitta. Gosto dessas coisas brasileiras, e também estou velho para tentar entender inglês (rs).

Caetano Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes

AS INSPIRAÇÕES

Se você acha que é criativo, nem imagina como é Caetano Veloso. Ele nos contou que uma vez estava fazendo a barba e a música Gema veio na sua cabeça. “Quase não consegui terminar de fazer a barba”, brinca.

Outra música, “Menino do Rio”, foi feita sob uma encomenda (isso mesmo, encomenda!) de Baby Consuelo e em poucos minutos.

Zeca diz que para ele é difícil fazer música: “eu começo fazendo a música e depois faço a letra, mas acabo nunca terminando. Meu pai consegue ‘chamar a musa’ e fazer até música por encomenda, mas eu mesmo dependo de inspiração e às vezes ela não vem”.

Bom, se você, assim como nós, também quer ver essa família tocando e cantando o “Ofertório”, saiba que esse fim de semana (25) eles têm show em São Paulo, no Espaço das Américas. A nossa é dica é: corre, que vale a pena demais!


22/5/2018 - Zeca, Thaynara OG e Caetano Veloso






Edição 141

Caetano Veloso e filhos divulgam o trabalho Ofertório

"Eles é que me colocam no trilho. Eu aprendo mais com os três do que ensino", disse o músico em coletiva





Patrícia Devoraes / Divulgação


Por PAULO CAVALCANTI

23 de Maio de 2018

Caetano Veloso e o filho, Zeca, receberam jornalistas na noite da última terça, 22, em São Paulo, para falar sobre Ofertório, projeto que o artista baiano realizou ao lado dos rebentos no ano passado. Caetano estava bem-humorado, com o espírito leve. Por cerca de meia hora, ele e Zeca falaram apenas sobre música, evitando polêmicas e opiniões sobre política. Antes disso, pai e filho, munidos de violões, apresentaram três canções do trabalho.

Ofertório traz uma perfomance dos Veloso gravada no Theatro Net São Paulo. Trata-se de uma síntese das inúmeras influências que Caetano acumulou ao longo de sua extensa carreira somada ao frescor e as novas ideias trazidas por Zeca, Moreno e Tom Veloso. É um trabalho totalmente acústico, com ênfase no samba e nas matizes da música baiana. Um dos pontos altos é a harmonização vocal dos quatro participantes.

Os filhos de Caetano têm um timbre similar ao do pai e o resultado é de uma beleza extrema. Segundo Zeca, a família alcançou uma unidade musical bem interessante. “Nós nos tornamos uma pequena banda. Eu nunca me considerei um músico profissional, mas agora, além do violão, estou me virando também no contrabaixo e no piano.”

Na tracklist de Ofertório estão um ou outro clássico do repertório de Caetano, como “O Leãozinho” e “Alegria Alegria”, e algumas obscuridades do naipe de “Trem das Cores”, que ele fez em homenagem a Sonia Braga, que foi namorada dele. Mas a maior parte do espetáculo é feita de canções novas, como o hit “Todo Homem’ (de Zeca Veloso), “Ninguém Viu” e “Clarão”.

Caetano ficou feliz com a boa recepção. “Não sabíamos se o público iria gostar de um show com tantas canções inéditas e pouco conhecidas”, disse. “Tocamos apenas o que é nosso. Ao longo das temporadas, também fizemos algumas mudanças na apresentação para ver o que funcionava mais. Mas todo mundo, principalmente o Moreno e o Tom, estavam bem confiantes”.

Mesmo estando tranquilo, Caetano não deixou de dar algumas alfinetadas (mas com humor.) O alvo da vez foi Kanye West. Caetano disse que, para formatar a performance, ele e os filhos ouviram muitas coisas do pop e do R&B. Ele explicou que, nesse processo, se debruçou sobre a obra de West e que gosta dele, mas realçou que o polêmico rapper deveria restringir sua energia à música. "Ele é inovador, experimental. Mas quando abre a boca, já viu. Fala muita bobagem”, divertiu-se. Para quem não acompanhou, o rapper apoiou presidente norte-americano Donald Trump e deu uma declaração recente "defendendo" que a escravidão foi uma escolha.

Caetano contou que o filho Zeca é bem aberto musicalmente. "Eu gosto muito de sertanejo, funk e outros estilo populares. Ouço muito R&B, é uma música que tem muita vitalidade.” Ele também explicou que Djavan foi outra grande influência na sonoridade do show e que, como Zeca é fã de funk nacional, aproveitou para reforçar seu perene interesse pelo estilo. Isso está mais bem exemplificado na faixa inédita “Alexandrino”. "Nessa linha dançante, eu prefiro o que é feito aqui. Para mim, Anitta e Ludmila são muito mais instigantes do que, vamos dizer, a Rihanna.”

O músico esclarece que o tom plácido e melodioso da apresentação é também um reflexo da convivência do patriarca e seu clã fora do palco. “Nunca brigamos”, ele fala com sinceridade. "Eles é que me colocam no trilho. Eu aprendo mais com os três do que ensino. Somos uma família original, mas também bem feliz.” O show de Ofertório será apresentado no Espaço das Américas em São Paulo, nesta sexta, 25, e sábado, 26.



Caetano Moreno Zeca e Tom Veloso apresentam Ofertório
Sexta e sábado, 25 e 26 de maio de 2018, às 20h30
Espaço das Américas – Rua Tagipuru, 795 – Barra Funda – São Paulo









Foto: Bob Souza




iG / Lu Lacerda

“Ofertório”: Caetano e filhos seguem lotando tudo


26/05/2018

O show Ofertório, em comemoração ao lançamento do CD e DVD da turnê Caetano Moreno Zeca Tom Veloso, o artista com os três filhos, segue lotando tudo, como aconteceu nessa sexta-feira (25/05), no Espaço das Américas, em São Paulo.

“Quero cantar com eles pelo que isso representa de celebração e alegria, sem dar importância ao sentido social da herança”, disse o artista. No repertório, grande parte apresentado no acústico, o quarteto não deixou faltar os clássicos. Na plateia, fãs declarados, como Nizan Guanaes; no fim, ninguém se lembrava muito da greve dos caminhoneiros e do governo engessado e sem ação. O álbum apresentado acaba de ser lançado em todas as plataformas digitais. Para quem quiser participar desse encontro, hoje (26/5) tem repeteco, no mesmo lugar, às 22h30.


Fotos: Francisco Cepeda/AgNews







 FOLHA DE S.PAULO

24.mai.2018

'Ofertório' é truque para manter a família por perto, brinca Caetano Veloso

Com os filhos Zeca, Tom e Moreno, baiano toca sexta (25) e sábado (26) no Espaço das Américas

Rafael Gregorio
SÃO PAULO

“Isso tudo é apenas um truque meu para manter a família por perto. Você sabe, os filhos crescem e vão ficando mais distantes...”

Quem o diz é Caetano Veloso, e parece sincera a explicação do baiano sobre como nasceu o show “Ofertório”, que ele e os filhos Tom, Zeca e Moreno apresentam no Espaço das Américas nesta sexta (25) e no sábado (26).

Um germe de ideia, diz Caetano, nasceu após um show no Sesc com Moreno, em uma série intitulada Pais e Filhos.


Tom, Zeca, Caetano e Moreno Veloso, que apresentam o show ‘Ofertório’ em São Paulo
Foto: Marcos Hermes  / Divulgação

“Fiquei sonhando com isso por muito tempo, há ao menos uns três anos. Mas o Zeca não queria, então esperei até que ele finalmente se decidiu.”

A partir daí, o trabalho consistiu em levantar o repertório. Nesta etapa, pai e filhos descobriram que não precisariam de músicos adicionais: eles mesmos seriam a banda.

Foram três meses de estudos, principalmente para Zeca, que costuma compor ao piano ou ao violão mas, em “Ofertório”, toca contrabaixo.

No repertório, temas de Caetano, como “O Leãozinho”, o funk “Alexandrino” e “Trem das Cores” (1982) —escrita para a atriz Sônia Braga quando ambos namoravam.

Entram também composições dos filhos, tal qual “Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê”, de Moreno, e “Todo Homem”, de Zeca, que virou trilha da série “Onde Nascem os Fortes”, da Rede Globo.

Caetano e Zeca falaram à imprensa em uma entrevista na última semana, no escritório do YouTube em São Paulo, para anunciar que os shows em São Paulo marcam o lançamento em CD e DVD de um registro feito em outubro —à época, a apresentação ainda se chamava “Caetano Moreno Zeca Tom Veloso”.

Durante a entrevista, Zeca manifestou diversas vezes seu desconforto com a rotina do estrelato, pontuada, por exemplo, por encontros com jornalistas.

“As coisas aconteceram muito rápido; há um ano e pouco eu não imaginava estar em um projeto desse tamanho, lançando composições minhas. Dá um susto.”

Embora compusesse e tocasse para amigos e familiares, ele era iniciante no negócio musical, ao contrário dos irmãos —Moreno tem vasta produção, tanto solo quanto em grupos, como a Orquestra Imperial, e Tom já era músico e compositor da banda carioca Dônica.

Segundo Zeca, o que a família mais ouviu em comum durante a elaboração do espetáculo foi Djavan.

“Mas gosto de ouvir muito pop, coisas que tocam na rádio, tipo funk. São gêneros que estão sempre se reinventando, enquanto outras áreas mais respeitadas da música têm posturas mais conservadoras.”

Mais confortável em meio aos jornalistas, o patriarca preferiu passar ao largo do conteúdo musical do show para focar o que chamou de “repertório emocional”.

Mesmo assim, disse ter fiado mais tenso que de costume à época do início da turnê, também porque a uma semana da estreia, eles resolveram mudar o repertório quase inteiro.

Mas a experiência de viajar a trabalho com os filhos compensa tudo, afirma ele —e ainda traz um senso de juventude. “É o que há de melhor na minha vida agora”, diz Caetano, emocionado.

Ofertório
Sex. (25) e sáb. (26), às 22h30, no Espaço das Américas, r. Tagipuru, 795, Barra Funda, São Paulo. 





Thaynara OG participa de evento com Caetano Veloso e o filho do músico, Zeca
Foto: Sarah Mota Resende / Folhapress


GQ
23/05/2018

Por LEONARDO ÁVILA TEIXEIRA

Zeca Veloso sobre primeiro show com Caetano: "eu não me sentia preparado"

O jovem músico divide ansiedades e fala sobre planos para o futuro

"Eu não imaginava há um ano e pouco trabalhar com música". A fala de Zeca Veloso, 26, durante coletiva de lançamento de Ofertório, CD/DVD do show Caetano Moreno Zeca Tom - Veloso, nesta terça-feira (22), surpreende. Mas é fato: desde que o espetáculo criado por Caetano e os filhos caiu na estrada em outubro, Zeca oferece uma janela interessante para um talento nos absolutos primeiros passos de ascenção.

É, em suma, um vai e vem. “A gente tem feito shows e a gente se diverte muito junto, dá muita risada", conta Zeca em conversa com a GQ Brasil. "Mas a parte do show mesmo foi muitas vezes um pouco tensa porque eu não me sentia preparado, eu não estava, e ficava sempre muito focado para conseguir fazer direito”.

“Embora eu já venha tocando há anos, eu estava quase um ano sem sequer pegar em um instrumento quando meu pai propôs este projeto”, confessa o músico. No palco, Zeca é de fato o menos experiente, com seus irmãos colecionando alguns bons anos de vantagem no trabalho musical.

A voz pausada e um pouco baixa, no entanto, esconde um sujeito que já está realizando vastos passos na música. Primeiro porque o show - e, consequentemente o CD/DVD lançado essa semana - conta com uma música composta por ele, "Todo Homem" (o cara compõe desde os 20 anos, vale lembrar). Segundo: ele se diferencia totalmente do legado de seu pai com uma vez própria, que aposta em agudos potentes.


Zeca Veloso - Foto: Patricia Devoraes

A busca por esse tom próprio, segundo Zeca, ocorreu naturalmente. “Na adolescência eu comecei a cantar algumas músicas. Uma que lembro era do Jackson 5, I Want You Back, e acho que foi uma das primeiras que me fez começar a pensar: ‘poxa, estou conseguindo cantar melhor’. Se não toda em falsete, ela fica muito em falsete, porque Michael Jackson sempre cantou agudo, ainda mais criança.” Inspirado na sua trajetória pelo soul e as cantoras do disco music, Zeca foi encontrando conforto no falsete. "Ele sai mais fácil, emite mais ar" explica. "A minha voz é um pouco rouca e ela sai rouca e nem tão precisa. Então ela sai mais expontânea e afinada no falsete, acho.”

O futuro, por ora, ainda está para ser desenhado. "Eu não sei sei vou gravar um disco, tenho planos, mas não tenho certeza absoluta", revela Zeca. "Mas espero que ele possa ser entusiasmante, instigante, relevante.”

Evangélico por influência da babá, Zeca vive em um lar de múltiplas crenças - candomblé, catolicismo e até o ateísmo do pai. “Todos nós temos fé, meu pai diz que não tem, mas acho que ele tem à maneira dele”, brinca.

Sobre "Ofertório", cujo nome remete a uma canção que homenageia a missa de 90 anos da mãe de Caetano Veloso, Zeca arremata: “Acho que (Caetano) quis que o show fosse de certa forma espiritual”. “Me impressiona muito que o show, pelo menos para mim, ficou mais instigante coeso, e espiritual, do que eu imaginava antes”, diz.




25/05/2018

Caetano Veloso afirma que não tende a adotar uma postura de professor com os filhos

Após as apresentações em São Paulo, o quarteto continua com shows pelo Brasil

Ícone da música brasileira, Caetano Veloso faz show ao lado de seus filhos Tom, Zeca e Moreno – Foto: Jorge Bispo / Divulgação


Sarah Mota Resende

São Paulo

O ditado "filho de peixe, peixinho é" nunca fez tanto sentido para a família Veloso como agora. É que o patriarca de 75 anos, Caetano Veloso, lança com os filhos, Moreno, Zeca e Tom, o CD e DVD "Ofertório", projeto em que cantam e tocam juntos.

O quarteto escolheu São Paulo para estrear o álbum, gravado ao vivo na cidade. Eles se apresentam nesta sexta (24) e neste sábado (25), no Espaço das Américas, na zona oeste.

"A ideia surgiu da minha cabeça, eu pensando em coisas que tinha vontade de fazer", diz Caetano, que já tinha trabalhado com o primogênito, Moreno, 45. Fruto da relação com Dedé Gadelha, ele se profissionalizou na música, apesar de ser formado em física.

Já Zeca, 26, que estreou como DJ no cenário eletrônico, e Tom, 21, que tem uma banda de rock com amigos, subiram ao palco ao lado do pai e do irmão mais velho pela primeira vez quando a família entrou em turnê pelo Brasil com o show de mesmo nome que o álbum, em 2017, no Rio. Os dois rapazes mais novos são filhos da união de Caetano com a atual mulher, a produtora Paula Lavigne.

"Pensei: ‘Poxa, se todos estão fazendo música, quero um show com eles", diz Caetano. "Se tem uma coisa capaz de me dar felicidade é sair com eles. Mas também foi um truque, porque os filhos crescem e vão ficando distantes da gente. Acho que quis fazer esse show para tê-los perto de mim."

"Ofertório", canção que dá nome à turnê, foi escrita por Caetano para a missa de 90 anos de sua mãe, dona Canô, que morreu em 2012, aos 105 anos. Além desaa, o projeto tem mais 13 músicas, entre clássicos da carreira de Caetano, como "Oração ao Tempo" e "O Seu Amor", e inéditas, como "Todo Homem", composição de Zeca que está na abertura de "Onde Nascem os Fortes".

É ele, inclusive, que se diz mais nervoso com as apresentações. "Não estava preparado. Nunca fui e ainda não sou músico profissional. Agora, depois de uns 30 shows, acho que estou um pouco mais seguro", diz Zeca.

Caetano afirma que não tende a adotar uma postura de professor com os filhos, nem nos ensaios nem nos shows. "Suponho que isso venha do meu pai. É mais importante dar o exemplo fazendo coisas que devem servir de exemplo."

Após as apresentações em São Paulo, o quarteto continua com a agenda de shows pelo Brasil. De julho a agosto, a família Veloso embarca para a Europa, passando por palcos na França, na Inglaterra, na Espanha, em Portugal e na Itália.

INFLUÊNCIAS

O projeto "Ofertório", assinado por Caetano Veloso e seu três filhos, Moreno, Zeca e Tom, tem influências de músicas populares. "Gosto muito de ouvir muita coisa pop, e que toca no rádio, tipo funk, sertanejo. Acho que isso dá sempre uma vitalidade. Eles estão sempre se reiventando enquanto outras áreas da música, mais respeitadas, são mais conservadoras. Não que eu ouça isso sempre, mas é o que me entusiasma mais", afirma Zeca.

Caetano, que afirma ser influenciado pelo que o filho ouve, conta que gosta de ser atualizado, por exemplo, sobre os trabalhos autorais do rappper americano Kanye West. O brasileiro, entretanto, diz preferir prestigiar artistas conterrâneos.


"Gosto imensamente de funk. Mesmo no Tropicalismo, o Gilberto Gil gostava de pensar em 'Strawberry Fields Forever', dos Beatles, e eu gostava de pensar em Roberto Carlos", diz Caetano Veloso. "Adoro Rihanna, mas tenho muito mais interesse em Ludmilla e Anitta. É um negócio do Brasil, sei lá, eu sou velho", brinca.

Coletiva com Caetano e Zeca Veloso, sobre o lançamento do CD e DVD “Ofertório”.
Fotos: Patrícia Devoraes/Divulgação













O GLOBO

CULTURA
MÚSICA

CRÍTICA: 'OFERTÓRIO', DE CAETANO E FILHOS, É DISCO PARA SER FELIZ NUM UNIVERSO EM DESENCANTO
Registro ao vivo foi lançado, nesta sexta-feira, nas plataformas digitais



Zeca, Caetano, Moreno e Tom Veloso no show 'Ofertório'
Divulgação / Hercules Rakauskas

Por ARNALDO BLOCH
25/05/2018


RIO — O CD/DVD físico de "Ofertório", que registra a turnê de Caetano Veloso em companhia dos filhos Tom, Zeca e Moreno estava anunciado para chegar nesta sexta-feira às lojas, mas, em meio à crise de desabastecimento, com o exército desembarcando nas estradas para desfazer o bloqueio da greve dos caminhoneiros, quem é que vai às prateleiras conferir, já que o áudio do CD já flutua nas nuvens da digitália?

Com o país conturbado, o medo e a incerteza no ar, um mergulho nas 28 faixas disponíveis a partir desta manhã no Spotify é uma fuga inspiradora ao turbilhão. Sem ficha técnica, sem indicação de autorias, como é hoje tudo que se ouve nas playlists da plataforma, a aventura abre livre e solta com os ventos retrô de "Alegria alegria": Caetano que nascia menino artista em meio a uma outra pátria convulsa, mas sem a eletricidade dos arranjos da época, mais sussurro que grito.

Assim é, minimal, tudo nessa reunião familiar, as vozes da filharada em coro cândido no leitmotiv da canção: "Por que não / Por que não"?, para, num salto de nove anos, pousar em "O seu amor", de Gil, um dos hinos emblemáticos dos Doces Bárbaros. "Ame-o e deixe-o" - fala do amor para (não) falar daquele Brasil sem flores, que queria expulsar os seus filhos em revolta. O falsete de Zeca, um dos rebentos do patriarca, fazendo-se passar pelo agudo de Gal Costa, faz uma conexão temporal tocante.

Divorciado das imagens que mostrarão, no DVD, as trocas de instrumentos entre pai & filhos e os eventuais rebolados, o disco funciona, para quem foi e para quem não foi ao show, como um comboio em estradas limpas, em que a candura supera o entulho da História. Revezando nas mãos dos meninos (o mais velho, Moreno, tem 42 anos), pandeiros, violões, guitarra, cello (lindo na intro de "Canto do povo de um lugar"), baixo, piano elétrico, assovios, soam com aura acústica e cristalizam o percusso de mais de uma década desde que Caetano decidiu abraçar a juventude como companhia de palcos e estúdio.

Parece que estamos, em resumo, diante de quatro banquinhos e violões, prismatizados em outras cores. Ou de um "Totalmente demais" transposto da Apoteose para o telhado de Londres, qual um show derradeiro e eterno, emulando o ato dos Fab Four. Até os aplausos e demais intervenções do público dialogam com suavidade nas ondas do áudio, em mixagem que sugere suavidade e deleite mais do que euforia.

Essa pegada está presente nas composições, inéditas ou anteriores, dos filhos, entre as quais o ponto alto é "Todo homem", o single que rivalizou com Anitta, e que brilha, na harmonia e na letra, como síntese de gerações em versos como "O Sol queimando meu jornal". "How beautiful could a being be", de Moreno para Caetano, é o auge festivo, mas sempre com jeito de folguedo.

Nas homenagens pregressas de Caetano aos filhos o mesmo ocorre, sendo que "Força estranha", que engrossa a escassa lista dos sucessos num álbum de repertório pouco óbvio, paira com a potência de sempre em tons de delicadeza que se repetem na faixa-título, "Ofertório", missa que celebrou a herança da matriarca Dona Canô.

Inédita de Caetano, "Alexandrino" brinca, também em pique alusivo à estética unplugged, com a tradição dos versos de doze sílabas, narrados na batida do funk em possível alusão também à escala dodecafônica, trazendo à baila do baile os nomes de grandes poetas brasileiros, como se estivessem na pista. O passar dos anos vem em "Oração ao tempo", executada como uma toada quieta, com vocalise metafísico ao fundo, e o senso de família é ampliado em "Gente", ligeirinha e tenra, para uma esfera global. Disco para ser feliz, ainda que por um instante, num universo em desencanto.

Cotação: ótimo.




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