Texto para apresentar CD/DVD
"Decidimos
pôr o título Ofertório no CD/DVD do nosso show (que, até então, era conhecido
apenas pela lista dos nossos nomes em ordem de idade e de número de sílabas:
Caetano Moreno Zeca Tom - Veloso) quando ele já tinha sido apresentado em
temporadas no Rio e em São Paulo, além de uma ida a BH. É que a canção que fiz
para a missa de 90 anos de minha mãe toca no cerne do nosso feixe temático: as
relações familiares, a família de inspirações que assaltam os quatro modestos
mas entusiasmados
criadores, a visão total que, como nenhuma outra dimensão do conhecimento, a
religião expõe.
Esse
canto ritual escrito por mim, que sou o único não-religioso do grupo, ilumina a
entrada de Reconvexo, o desaforado brado do Recôncavo Baiano que, no roteiro,
vem logo em seguida. Mas também expande seus raios sobre Um passo à frente, de
Moreno, Todo homem, de Zeca, Clarão, de Tom, meu Jenipapo absoluto ou Tá
escrito de Xande de Pilares - enfim, a todo o repertório do show. Tanto que
forçamos impor o novo título ao próprio espetáculo.
Tudo
isso foi um sonho meu, acalentado por longo tempo. O show que fiz no Sesc de
São Paulo com Moreno em 2006 voltava sempre à minha cabeça. Zeca e Tom se
chegando para a música também, imaginei armar um com os três, num modo de estar
mais perto deles depois de crescidos. E de clarear - para mim, para eles e para
os outros - o sentido da presença de Bethânia e minha, assim como as de Gil e
Gal, no cenário da música popular do Brasil. Tom, que vai direto à essência das
coisas, logo disse, ao saber do plano, que queria que cantássemos O seu amor,
canção de Gil escrita para os Doces Bárbaros.
Na
nossa cabeça não tínhamos um "produto" para oferecer. Tratava-se
sempre de uma delicada e vulnerável experiência existencial que enfrentamos com
alegria e preocupação. A estreia logo nos colocou mais do lado da alegria. Mas
continuamos atentos. Agora temos um produto para apresentar. Que nosso grupo
semi-amador, mas de alma sofisticada, apareça nessas gravações fiel a seu
espírito.
Todo
homem, canção de Zeca, tornou-se conhecida e amada por mais de um milhão de
pessoas. Nossas apresentações despertam emoções novas em espectadores
surpresos. Nossos colegas sentem carinho pelo que veem e ouvem de nós.
Esperamos que todas as pessoas que virem e ouvirem, no CD/DVD que se lança
agora, possam também se enternecer com nossos sons e imagens. Que nossa
aventura familiar contribua com a construção do Brasil."
Caetano
Veloso
O ESTADO DE S.PAULO
'Meu filho me atualiza com Kanye West, pena que ele falando seja tão
chato', diz Caetano Veloso
Cantor esteve em São Paulo com Zeca em lançamento
do projeto de CD e DVD 'Ofertório'; shows serão dias 25 e 26, no Espaço das
Américas
Julio Maria, O Estado de S.Paulo
22 Maio 2018
Caetano
Veloso chegou com seu filho Zeca para falar sobre o lançamento de seu disco e
DVD Ofertório,
gravado ao vivo. Ele volta a São Paulo para fazer dois shows, dias 25 e 26
(sexta e sábado), no Espaço das Américas. Ainda há ingressos para as duas
noites.
Uma
coletiva de imprensa foi marcada no prédio da empresa Google, na Brigadeiro
Faria Lima, em São Paulo. A coletiva, que começou com duas horas de atraso,
teve a intermediação da influencer do YouTube, Thaynara OG.
22/5/2018 - Caetano e Zeca - Foto: Julio Maria / Estadão |
Caetano e Zeca (no disco e no show estão também Tom
e Moreno) começaram afinando seus violões em frente aos jornalistas para
tocarem Todo Homem, que Zeca interpreta com seu falsete.
Thaynara abriu perguntando de quem foi a ideia do
encontro. “Surgiu da minha ideia mesmo,
da minha cabeça.” E explicou o histórico na música de cada filho de forma
breve. Caetano falou de emoções que sente ao lado dos filhos e disse ter ficado
muito nervoso na estreia da turnê, no Teatro Net, em 2017. Zeca falou que ouviu
muito Djavan durante os ensaios com a banda e no processo de construção do
show.
Caetano contou que dirigiu os filhos, mas que quase
todo o repertório se impôs naturalmente. “Nós
queremos apresentar um pouco de luz na vida. E no nosso caso temos muito a
festejar.” Caetano disse que ficou bem impressionado com James Blake.
“Zeca me atualiza com Kanye West, pena que ele falando seja tão chato, e
ele fala muita besteira. Eu falo muito também, mas apenas falo”, disse sobre o rapper norte americano que já declarou apoio ao
presidente Donald Trump.
Sobre o funk Alexandrino, Caetano comentou sobre a
resistência ao estilo carioca, apesar da presença definitiva em vários países
do mundo. “O funk já vem acontecendo há
muito tempo. Eu gosto imensamente do funk, mais do que o Zeca. Mesmo no
tropicalismo, Gil gostava de pensar nos Beatles e eu gostava de pensar no
Roberto Carlos.”
Muita musicalidade e afeto com Caetano e Zeca Veloso no lançamento de
‘Ofertório’
Por Redação PopNow
Postado em 23/05/2018
Por: Bianca Luzetti e Thuane Kuchta
Se
um Veloso já é bom, imagina dois. E três. E quatro. Pois é, são quatro Veloso’s
que se apresentam na turnê “Ofertório”, novo projeto da família. Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso montaram um grupo
musical que inspira (e faz suspirar) qualquer um.
Estivemos
presentes na coletiva onde Caetano e seu filho Zeca Veloso cantaram e tocaram para os presentes e
depois falaram um pouco sobre suas inspirações, as novas músicas e os
aprendizados que esse projeto tem trazido.
Separamos
algumas das respostas de Caetano e Zeca para mostrar para vocês. Olhem só:
PAI E FILHOS
Caetano: Eu fico muito feliz de estar com eles, até porque estão crescendo,
e é uma forma de nos vermos mais. Mas houveram também emoções difíceis de lidar
em todo esse processo – apesar de sermos muito próximos. A questão é que
envolviam muitas músicas inéditas e não sabíamos como o público ia nos receber.
Porque afinal, nós não somos uma banda profissional onde ele (Zeca) é o
contrabaixista, o Tom é um guitarrista e de repente o Moreno é um violinista…
Não chega a ser isso, mas todo mundo toca o suficiente para ter um negócio que
é só nosso, que só nós podemos fazer. Então tínhamos um pouco de medo, por isso
confesso que estreei com muita tensão. Fiquei nervoso a beça. Mas enfim, os
temores fazem parte e o sentimento bom prevalece.
Caetano e Zeca Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes |
Zeca: Comigo foi parecido com o meu pai também. Estar no palco com eles
é uma honra, mas foi bastante trabalhoso entregarmos o show. Até na última
semana da nossa estreia fizemos várias mudanças. Eu ficava muito preocupado,
muito nervoso, se ia estar bem feito e tudo mais. Já Tom e Moreno estavam
sempre confiantes, de bom humor…
Caetano interrompe e diz que Tom nunca parece estar
grilado com coisa nenhuma. “No DVD, em uma parte que não
entrou na edição, ele aparece até bocejando, como se tivesse em um relaxamento
total. E olha que ele diz que fica o mais nervoso, mas a gente não consegue
notar, não parece”, conta.
Zeca: Eu acho que eu fico mais nervoso, porque eu não estava preparado.
Nunca fui e ainda não sou um músico profissional. Acho que agora depois de 30
shows estou tocando mais seguro. Mas eu ficava muito nervoso e ainda fico.
Caetano: Mas você fazia tudo direitinho e continua fazendo, só que mais
relaxadamente. Agora, o que aconteceu, principalmente, é que perto da estreia,
Zeca tomou a responsabilidade de orientar as mudanças que achávamos que deveríamos
fazer, tanto em ordem quanto no repertório, o que acabou o tornando nosso guia.
Zeca: É, mais ou menos..
Caetano: Zeca deu dicas que definiram a forma como o show ficou. Na verdade
não mudou quase nada mas mudou tudo (rs). É porque se você tira uma música
daqui, coloca outra ali, sugere uma que não estava no repertório e tal, acaba
mudando tudo, que foi o aconteceu.
Caetano e Zeca Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes |
O SHOW
Perguntado sobre o processo criativo do show,
Caetano conta que Zeca propôs grandes mudanças e todo mundo deu opinião. “Fomos escolhendo, decidindo juntos e tudo foi ganhando forma. Zeca
e Tom por exemplo, pediram para eu tocar Trem das Cores, eu quis cantar
Ofertório – feita pra missa de 90 anos de minha mãe, e que se ligava
naturalmente ao Reconvex. E no fim, tudo trazia a parte essencial do que eu
acho que deve acontecer ao fazer esses shows, que é apresentar um pouco de luz
na vida e convivência das pessoas e seus acasos familiares. No nosso caso, a
gente tem muito o que celebrar”, explica.
O QUE ANDARAM OUVINDO
Zeca: Sei que vai parecer até repetitivo porque eu sempre falo dele, mas
eu ouvia muito Djavan no processo de construir o show. Mas no geral ouço muita
coisa variada. Muita música Pop, coisas que tocam no rádio mesmo, como Funk,
Sertanejo, R&B. Eu gosto muito, acho que tem sempre uma vitalidade, eles
estão sempre se reinventando e isso me entusiasma.
Caetano: Zeca sempre me mostrou coisas pra ouvir com ele, uma das que me
impressionou foi James Blake. Ele me atualiza também à respeito de Kanye West,
porque ele faz muita coisa que tem caráter experimental e ele se amarra. Mas
ele falando (Kanye West) é chato pra caramba. A gente vê ele na TV e ele fica
três horas falando, pior do que eu! E só fala besteira. Mas musicalmente e
inventivamente ele é bom.
Zeca Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes |
GENÉTICA, EXEMPLOS E AFETO
Caetano: Tem muitas coisas de Zeca pelas quais me orgulho, como o fato dele
ser até mais exigente do que eu. Mas, o que temos de parecido… Bem o Zeca
sempre me pareceu – geneticamente falando – que tinha puxado mais a família da
mãe dele, até que um dia vi o filme “Uma noite em 67” em que eu aparecia e
simplesmente não me reconheci. Para mim, quem eu estava vendo na verdade era o
Zeca. Era muito parecido comigo. Foi aí que pensei “Puxa, o Zeca tem muito mais
de mim do que eu imaginava”.
Zeca: Não sei dizer o que herdei, mas posso falar o que admiro, como
lealdade, honestidade, coisas do caráter dele. De fato, são coisas que me
orgulham muito. E, bom, em muitos aspectos ele é minha maior referência né, não
exatamente uma referência de um lugar para onde eu quero ir, mas o vejo como um
ponto de gravidade, de onde eu saio e posso ir para outro lugar, mas sempre
posso voltar. Agora falando como artista, é óbvio mas eu realmente admiro a
sensibilidade e o talento sobrenatural que ele tem para criar.
Caetano diz também que aprendeu mais com os filhos
do que ensinou. Para ele, é mais importante dar o exemplo do que ele chama de
“ser professoral”.
Caetano Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes |
FUNK
Ao
serem perguntados sobre o funk como estilo musical e tudo que ele está
conquistando no mundo, Caetano diz que adora o ritmo. “A história do funk
carioca já é velha e enfrentou preconceito e desqualificação da imprensa e de
críticos respeitados por anos”, conta. “Tem um livro do Hermano Vianna que já é
um clássico e fala da formação do funk carioca, desenvolvido na favela e
baseado em Miami Bass e trouxeram o ‘tum tá tá tum tum tá’ para a música”.
E
o cantor continua contando sua declaração por música brasileira:
Caetano:
Eu gosto muito de funk. Uma coisa que eu tenho desde o tropicalismo, é que o
Gil gostava muito de pensar em Beatles e eu gostava de pensar em Roberto
Carlos, gostava da imitação brasileira do pop de língua inglesa. Eu adoro
Rihanna, mas tenho muito interesse em Ludmilla e Anitta. Gosto dessas coisas
brasileiras, e também estou velho para tentar entender inglês (rs).
Caetano Veloso - Foto: Divulgação / Patrícia Devoraes |
AS INSPIRAÇÕES
Se você acha que é criativo, nem imagina como é
Caetano Veloso. Ele nos contou que uma vez estava fazendo a barba e a música
Gema veio na sua cabeça. “Quase não consegui terminar de
fazer a barba”, brinca.
Outra música, “Menino do Rio”, foi feita sob uma
encomenda (isso mesmo, encomenda!) de Baby Consuelo e em
poucos minutos.
Já Zeca diz que para ele é
difícil fazer música: “eu começo fazendo a música e depois faço a
letra, mas acabo nunca terminando. Meu pai consegue ‘chamar a musa’ e fazer até
música por encomenda, mas eu mesmo dependo de inspiração e às vezes ela não vem”.
Bom, se você, assim como nós, também quer ver essa
família tocando e cantando o “Ofertório”, saiba que esse fim de semana (25)
eles têm show em São Paulo, no Espaço das Américas. A
nossa é dica é: corre, que vale a pena demais!
22/5/2018 - Zeca, Thaynara OG e Caetano Veloso |
Edição 141
Caetano Veloso e filhos divulgam o trabalho Ofertório
"Eles é que me
colocam no trilho. Eu aprendo mais com os três do que ensino", disse o
músico em coletiva
Patrícia Devoraes / Divulgação |
Por PAULO CAVALCANTI
23 de Maio de 2018
Caetano Veloso e o filho, Zeca, receberam
jornalistas na noite da última terça, 22, em São Paulo, para falar sobre Ofertório, projeto que o artista baiano realizou ao
lado dos rebentos no ano passado. Caetano estava bem-humorado, com o espírito
leve. Por cerca de meia hora, ele e Zeca falaram apenas sobre música, evitando
polêmicas e opiniões sobre política. Antes disso, pai e filho, munidos de
violões, apresentaram três canções do trabalho.
Ofertório traz uma
perfomance dos Veloso gravada no Theatro Net São Paulo. Trata-se de uma síntese
das inúmeras influências que Caetano acumulou ao longo de sua extensa carreira
somada ao frescor e as novas ideias trazidas por Zeca, Moreno e Tom Veloso. É
um trabalho totalmente acústico, com ênfase no samba e nas matizes da música
baiana. Um dos pontos altos é a harmonização vocal dos quatro participantes.
Os filhos de Caetano têm um timbre similar ao do
pai e o resultado é de uma beleza extrema. Segundo Zeca, a família alcançou uma
unidade musical bem interessante. “Nós
nos tornamos uma pequena banda. Eu nunca me considerei um músico profissional,
mas agora, além do violão, estou me virando também no contrabaixo e no piano.”
Na tracklist de Ofertório estão um
ou outro clássico do repertório de Caetano, como “O Leãozinho” e “Alegria
Alegria”, e algumas obscuridades do naipe de “Trem das Cores”, que ele fez em
homenagem a Sonia Braga, que foi namorada dele. Mas a maior parte do espetáculo
é feita de canções novas, como o hit “Todo Homem’ (de Zeca Veloso), “Ninguém
Viu” e “Clarão”.
Caetano ficou feliz com a boa recepção. “Não sabíamos se o público iria gostar de um
show com tantas canções inéditas e pouco conhecidas”, disse. “Tocamos apenas o que é nosso. Ao longo das
temporadas, também fizemos algumas mudanças na apresentação para ver o que
funcionava mais. Mas todo mundo, principalmente o Moreno e o Tom, estavam bem
confiantes”.
Mesmo estando tranquilo, Caetano não deixou de dar
algumas alfinetadas (mas com humor.) O alvo da vez foi Kanye West. Caetano disse
que, para formatar a performance, ele e os filhos ouviram muitas coisas do pop
e do R&B. Ele explicou que, nesse processo, se debruçou sobre a obra de
West e que gosta dele, mas realçou que o polêmico rapper deveria restringir sua
energia à música. "Ele é inovador,
experimental. Mas quando abre a boca, já viu. Fala muita bobagem”,
divertiu-se. Para quem não acompanhou, o rapper apoiou presidente
norte-americano Donald Trump e deu uma declaração recente
"defendendo" que a escravidão foi uma escolha.
Caetano contou que o filho Zeca é bem aberto
musicalmente. "Eu gosto muito de
sertanejo, funk e outros estilo populares. Ouço muito R&B, é uma música que
tem muita vitalidade.” Ele também explicou que Djavan foi outra grande
influência na sonoridade do show e que, como Zeca é fã de funk nacional,
aproveitou para reforçar seu perene interesse pelo estilo. Isso está mais bem
exemplificado na faixa inédita “Alexandrino”. "Nessa linha dançante, eu prefiro o que é feito aqui. Para mim,
Anitta e Ludmila são muito mais instigantes do que, vamos dizer, a Rihanna.”
O músico esclarece que o tom plácido e melodioso da
apresentação é também um reflexo da convivência do patriarca e seu clã fora do
palco. “Nunca brigamos”, ele fala com
sinceridade. "Eles é que me colocam
no trilho. Eu aprendo mais com os três do que ensino. Somos uma família
original, mas também bem feliz.” O show de Ofertório será
apresentado no Espaço das Américas em São Paulo, nesta sexta, 25, e sábado, 26.
Caetano Moreno Zeca e Tom Veloso apresentam Ofertório
Sexta e sábado, 25 e 26 de
maio de 2018, às 20h30
Espaço das Américas – Rua Tagipuru, 795 – Barra Funda – São Paulo
iG / Lu Lacerda
“Ofertório”: Caetano e filhos seguem lotando tudo
26/05/2018
O
show “Ofertório”, em comemoração ao
lançamento do CD e DVD da turnê “Caetano Moreno Zeca Tom Veloso”, o artista com os
três filhos, segue lotando tudo, como aconteceu nessa sexta-feira (25/05), no Espaço das Américas, em São
Paulo.
“Quero cantar com
eles pelo que isso representa de celebração e alegria, sem dar importância ao
sentido social da herança”, disse o artista. No repertório, grande parte
apresentado no acústico, o quarteto não deixou faltar os clássicos. Na plateia,
fãs declarados, como Nizan Guanaes; no fim, ninguém se lembrava muito da greve dos
caminhoneiros e do governo engessado e sem ação. O álbum apresentado acaba de
ser lançado em todas as plataformas digitais. Para quem quiser participar desse
encontro, hoje (26/5) tem repeteco, no mesmo lugar, às 22h30.
Fotos: Francisco Cepeda/AgNews
24.mai.2018
'Ofertório' é
truque para manter a família por perto, brinca Caetano Veloso
Com os
filhos Zeca, Tom e Moreno, baiano toca sexta (25) e sábado (26) no Espaço das
Américas
Rafael Gregorio
SÃO
PAULO
“Isso tudo é apenas um truque meu para manter a família por perto. Você
sabe, os filhos crescem e vão ficando mais distantes...”
Quem o diz é Caetano Veloso, e parece sincera a
explicação do baiano sobre como nasceu o show “Ofertório”, que ele e os
filhos Tom, Zeca e Moreno apresentam no Espaço das Américas nesta sexta (25) e
no sábado (26).
Um germe de ideia, diz Caetano, nasceu após um show
no Sesc com Moreno, em uma série intitulada Pais e Filhos.
Tom, Zeca, Caetano e Moreno Veloso, que apresentam o show ‘Ofertório’ em São Paulo Foto: Marcos Hermes / Divulgação |
“Fiquei sonhando com isso por muito tempo, há ao menos uns três anos.
Mas o Zeca não queria, então esperei até que ele finalmente se decidiu.”
A partir daí, o trabalho consistiu em levantar o
repertório. Nesta etapa, pai e filhos descobriram que não precisariam de
músicos adicionais: eles mesmos seriam a banda.
Foram três meses de estudos, principalmente para
Zeca, que costuma compor ao piano ou ao violão mas, em “Ofertório”, toca
contrabaixo.
No repertório, temas de Caetano, como “O
Leãozinho”, o funk “Alexandrino” e “Trem das Cores” (1982) —escrita para a
atriz Sônia Braga quando ambos namoravam.
Entram também composições dos filhos, tal qual “Um
Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê”, de Moreno, e “Todo Homem”, de Zeca, que
virou trilha da série “Onde Nascem os Fortes”, da Rede Globo.
Caetano e Zeca falaram à imprensa em uma entrevista
na última semana, no escritório do YouTube em São Paulo, para anunciar que os
shows em São Paulo marcam o lançamento em CD e DVD de um registro feito em
outubro —à época, a apresentação ainda se chamava “Caetano Moreno Zeca Tom
Veloso”.
Durante a entrevista, Zeca manifestou diversas
vezes seu desconforto com a rotina do estrelato, pontuada, por exemplo, por
encontros com jornalistas.
“As coisas aconteceram muito rápido; há um ano e pouco eu não imaginava
estar em um projeto desse tamanho, lançando composições minhas. Dá um susto.”
Embora compusesse e tocasse para amigos e
familiares, ele era iniciante no negócio musical, ao contrário dos irmãos
—Moreno tem vasta produção, tanto solo quanto em grupos, como a Orquestra
Imperial, e Tom já era músico e compositor da banda carioca Dônica.
Segundo Zeca, o que a família mais ouviu em comum
durante a elaboração do espetáculo foi Djavan.
“Mas gosto de ouvir muito pop, coisas que tocam na rádio, tipo funk. São
gêneros que estão sempre se reinventando, enquanto outras áreas mais
respeitadas da música têm posturas mais conservadoras.”
Mais confortável em meio aos jornalistas, o
patriarca preferiu passar ao largo do conteúdo musical do show para focar o que
chamou de “repertório emocional”.
Mesmo assim, disse ter fiado mais tenso que de
costume à época do início da turnê, também porque a uma semana da estreia, eles
resolveram mudar o repertório quase inteiro.
Mas a experiência de viajar a trabalho com os
filhos compensa tudo, afirma ele —e ainda traz um senso de juventude. “É o que há de melhor na minha vida agora”,
diz Caetano, emocionado.
Ofertório
Sex. (25) e sáb. (26), às 22h30, no Espaço das
Américas, r. Tagipuru, 795, Barra Funda, São Paulo.
Thaynara OG participa de evento com Caetano Veloso e o filho do músico, Zeca Foto: |
GQ
23/05/2018
Por LEONARDO ÁVILA TEIXEIRA
Zeca Veloso sobre primeiro
show com Caetano: "eu não me sentia preparado"
O
jovem músico divide ansiedades e fala sobre planos para o futuro
"Eu não imaginava há um ano e pouco trabalhar com música". A fala de Zeca Veloso, 26, durante coletiva de lançamento de Ofertório, CD/DVD do show Caetano Moreno Zeca Tom - Veloso,
nesta terça-feira (22), surpreende. Mas é fato: desde que o espetáculo criado
por Caetano e os filhos caiu na estrada em outubro, Zeca oferece uma janela
interessante para um talento nos absolutos primeiros passos de ascenção.
É, em suma, um vai e vem. “A gente tem feito shows e a gente se diverte muito junto, dá muita
risada", conta Zeca em conversa com a GQ Brasil. "Mas a parte do show mesmo foi muitas
vezes um pouco tensa porque eu não me sentia preparado, eu não estava, e ficava
sempre muito focado para conseguir fazer direito”.
“Embora eu já venha tocando há anos, eu estava quase um ano sem sequer
pegar em um instrumento quando meu pai propôs este projeto”, confessa o músico. No palco, Zeca é de fato o menos experiente, com
seus irmãos colecionando alguns bons anos de vantagem no trabalho musical.
A voz pausada e um pouco baixa, no entanto, esconde
um sujeito que já está realizando vastos passos na música. Primeiro porque o
show - e, consequentemente o CD/DVD lançado essa semana - conta com uma música
composta por ele, "Todo Homem" (o cara compõe desde os 20 anos, vale
lembrar). Segundo: ele se diferencia totalmente do legado de seu pai com uma
vez própria, que aposta em agudos potentes.
Zeca Veloso - Foto: Patricia Devoraes |
A busca por esse tom próprio, segundo Zeca, ocorreu
naturalmente. “Na adolescência eu comecei
a cantar algumas músicas. Uma que lembro era do Jackson 5, I Want You Back, e
acho que foi uma das primeiras que me fez começar a pensar: ‘poxa, estou
conseguindo cantar melhor’. Se não toda em falsete, ela fica muito em falsete,
porque Michael Jackson sempre cantou agudo, ainda mais criança.” Inspirado
na sua trajetória pelo soul e as cantoras do disco music, Zeca foi encontrando
conforto no falsete. "Ele sai mais
fácil, emite mais ar" explica. "A
minha voz é um pouco rouca e ela sai rouca e nem tão precisa. Então ela sai
mais expontânea e afinada no falsete, acho.”
O futuro, por ora, ainda está para ser desenhado. "Eu não sei sei vou gravar um disco,
tenho planos, mas não tenho certeza absoluta", revela Zeca. "Mas
espero que ele possa ser entusiasmante, instigante, relevante.”
Evangélico por influência da babá, Zeca vive em um
lar de múltiplas crenças - candomblé, catolicismo e até o ateísmo do pai. “Todos nós temos fé, meu pai diz que não
tem, mas acho que ele tem à maneira dele”, brinca.
Sobre "Ofertório",
cujo nome remete a uma canção que homenageia a missa de 90 anos da mãe de
Caetano Veloso, Zeca arremata: “Acho que
(Caetano) quis que o show fosse de certa
forma espiritual”. “Me impressiona
muito que o show, pelo menos para mim, ficou mais instigante coeso, e espiritual,
do que eu imaginava antes”, diz.
25/05/2018
Caetano Veloso afirma que não tende a adotar uma postura de professor
com os filhos
Após as apresentações em São Paulo, o quarteto
continua com shows pelo Brasil
Ícone da música brasileira, Caetano Veloso faz show ao lado de seus filhos Tom, Zeca e Moreno – Foto: Jorge Bispo / Divulgação
|
Sarah Mota Resende
São Paulo
O ditado "filho de peixe, peixinho é" nunca
fez tanto sentido para a família Veloso como agora. É que o patriarca de 75
anos, Caetano Veloso, lança com os filhos, Moreno, Zeca e Tom, o CD e DVD
"Ofertório", projeto em que cantam e tocam juntos.
O
quarteto escolheu São Paulo para estrear o álbum, gravado ao vivo na cidade.
Eles se apresentam nesta sexta (24) e neste sábado (25), no Espaço das
Américas, na zona oeste.
"A ideia surgiu da minha cabeça, eu
pensando em coisas que tinha vontade de fazer", diz Caetano, que já tinha trabalhado com o
primogênito, Moreno, 45. Fruto da relação com Dedé Gadelha, ele se
profissionalizou na música, apesar de ser formado em física.
Já Zeca, 26, que estreou como DJ no cenário eletrônico, e Tom, 21, que
tem uma banda de rock com amigos, subiram ao palco ao lado do pai e do irmão
mais velho pela primeira vez quando a família entrou em turnê pelo Brasil com o
show de mesmo nome que o álbum, em 2017, no Rio. Os dois rapazes mais novos são
filhos da união de Caetano com a atual mulher, a produtora Paula Lavigne.
"Pensei: ‘Poxa, se todos estão
fazendo música, quero um show com eles", diz Caetano. "Se tem uma coisa capaz de me dar felicidade é sair com eles. Mas
também foi um truque, porque os filhos crescem e vão ficando distantes da
gente. Acho que quis fazer esse show para tê-los perto de mim."
"Ofertório", canção que dá nome à turnê, foi escrita por
Caetano para a missa de 90 anos de sua mãe, dona Canô, que morreu em 2012, aos
105 anos. Além desaa, o projeto tem mais 13 músicas, entre clássicos da
carreira de Caetano, como "Oração ao Tempo" e "O Seu Amor",
e inéditas, como "Todo Homem", composição de Zeca que está na
abertura de "Onde Nascem os Fortes".
É ele, inclusive, que se diz mais nervoso com as apresentações.
"Não estava preparado. Nunca fui e ainda não sou músico profissional.
Agora, depois de uns 30 shows, acho que estou um pouco mais seguro", diz
Zeca.
Caetano afirma que não tende a adotar uma postura de professor com os
filhos, nem nos ensaios nem nos shows. "Suponho que isso venha do meu pai.
É mais importante dar o exemplo fazendo coisas que devem servir de
exemplo."
Após as apresentações em São Paulo, o quarteto continua com a agenda de
shows pelo Brasil. De julho a agosto, a família Veloso embarca para a Europa,
passando por palcos na França, na Inglaterra, na Espanha, em Portugal e na
Itália.
INFLUÊNCIAS
O projeto "Ofertório", assinado por
Caetano Veloso e seu três filhos, Moreno, Zeca e Tom, tem influências de músicas
populares. "Gosto muito de ouvir muita coisa pop, e que toca no rádio,
tipo funk, sertanejo. Acho que isso dá sempre uma vitalidade. Eles estão sempre
se reiventando enquanto outras áreas da música, mais respeitadas, são mais
conservadoras. Não que eu ouça isso sempre, mas é o que me entusiasma
mais", afirma Zeca.
Caetano, que afirma ser influenciado pelo que
o filho ouve, conta que gosta de ser atualizado, por exemplo, sobre os
trabalhos autorais do rappper americano Kanye West. O brasileiro, entretanto,
diz preferir prestigiar artistas conterrâneos.
"Gosto imensamente de funk. Mesmo no
Tropicalismo, o Gilberto Gil gostava de pensar em 'Strawberry Fields Forever',
dos Beatles, e eu gostava de pensar em Roberto Carlos", diz Caetano
Veloso. "Adoro Rihanna, mas tenho muito mais interesse em Ludmilla e
Anitta. É um negócio do Brasil, sei lá, eu sou velho", brinca.
Coletiva
com Caetano e Zeca Veloso, sobre o lançamento do CD e DVD “Ofertório”.
Fotos:
Patrícia Devoraes/Divulgação
O GLOBO
CULTURA
MÚSICA
CRÍTICA: 'OFERTÓRIO', DE CAETANO E FILHOS, É
DISCO PARA SER FELIZ NUM UNIVERSO EM DESENCANTO
Registro ao vivo foi lançado, nesta sexta-feira, nas plataformas
digitais
Zeca, Caetano, Moreno e Tom Veloso no show 'Ofertório' Divulgação / Hercules Rakauskas |
Por
ARNALDO BLOCH
25/05/2018
RIO — O CD/DVD físico de "Ofertório", que
registra a turnê de Caetano Veloso em companhia dos filhos Tom, Zeca e Moreno
estava anunciado para chegar nesta sexta-feira às lojas, mas, em meio à crise
de desabastecimento, com o exército desembarcando nas estradas para desfazer o
bloqueio da greve dos caminhoneiros, quem é que vai às prateleiras conferir, já
que o áudio do CD já flutua nas nuvens da digitália?
Com o país conturbado, o medo e a incerteza no ar, um
mergulho nas 28 faixas disponíveis a partir desta manhã no Spotify é uma fuga
inspiradora ao turbilhão. Sem ficha técnica, sem indicação de autorias, como é
hoje tudo que se ouve nas playlists da plataforma, a aventura abre livre e
solta com os ventos retrô de "Alegria alegria": Caetano que nascia
menino artista em meio a uma outra pátria convulsa, mas sem a eletricidade dos
arranjos da época, mais sussurro que grito.
Assim
é, minimal, tudo nessa reunião familiar, as vozes da filharada em coro cândido
no leitmotiv da canção: "Por que não / Por que não"?, para, num salto
de nove anos, pousar em "O seu amor", de Gil, um dos hinos
emblemáticos dos Doces Bárbaros. "Ame-o e deixe-o" - fala do amor
para (não) falar daquele Brasil sem flores, que queria expulsar os seus filhos
em revolta. O falsete de Zeca, um dos rebentos do patriarca, fazendo-se passar
pelo agudo de Gal Costa, faz uma conexão temporal tocante.
Divorciado
das imagens que mostrarão, no DVD, as trocas de instrumentos entre pai &
filhos e os eventuais rebolados, o disco funciona, para quem foi e para quem
não foi ao show, como um comboio em estradas limpas, em que a candura supera o
entulho da História. Revezando nas mãos dos meninos (o mais velho, Moreno, tem
42 anos), pandeiros, violões, guitarra, cello (lindo na intro de "Canto do
povo de um lugar"), baixo, piano elétrico, assovios, soam com aura
acústica e cristalizam o percusso de mais de uma década desde que Caetano
decidiu abraçar a juventude como companhia de palcos e estúdio.
Parece
que estamos, em resumo, diante de quatro banquinhos e violões, prismatizados em
outras cores. Ou de um "Totalmente demais" transposto da Apoteose
para o telhado de Londres, qual um show derradeiro e eterno, emulando o ato dos
Fab Four. Até os aplausos e demais intervenções do público dialogam com
suavidade nas ondas do áudio, em mixagem que sugere suavidade e deleite mais do
que euforia.
Essa
pegada está presente nas composições, inéditas ou anteriores, dos filhos, entre
as quais o ponto alto é "Todo homem", o single que rivalizou com
Anitta, e que brilha, na harmonia e na letra, como síntese de gerações em
versos como "O Sol queimando meu jornal". "How beautiful could a
being be", de Moreno para Caetano, é o auge festivo, mas sempre com jeito
de folguedo.
Nas
homenagens pregressas de Caetano aos filhos o mesmo ocorre, sendo que
"Força estranha", que engrossa a escassa lista dos sucessos num álbum
de repertório pouco óbvio, paira com a potência de sempre em tons de delicadeza
que se repetem na faixa-título, "Ofertório", missa que celebrou a
herança da matriarca Dona Canô.
Inédita
de Caetano, "Alexandrino" brinca, também em pique alusivo à estética
unplugged, com a tradição dos versos de doze sílabas, narrados na batida do
funk em possível alusão também à escala dodecafônica, trazendo à baila do baile
os nomes de grandes poetas brasileiros, como se estivessem na pista. O passar
dos anos vem em "Oração ao tempo", executada como uma toada quieta,
com vocalise metafísico ao fundo, e o senso de família é ampliado em
"Gente", ligeirinha e tenra, para uma esfera global. Disco para ser
feliz, ainda que por um instante, num universo em desencanto.
Cotação: ótimo.
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