"O
objetivo principal desta tradução da Gita em versos foi encontrar uma forma que
facilitasse sua retenção mnemônica, para incorporá-la de maneira mais profunda
em nossa língua e cultura, popular sem pretensão erudita de perfeição"
(Rogério Duarte)
Canção do divino mestre, tradução poética, do sânscrito, do Bhagavad Gita.
5/4/1998
MILENARES CANTOS DO HARE KRISHNA NUM ENCONTRO DE CONTEMPORÂNEOS DA TROPICÁLIA
Antonio Carlos Miguel
São Paulo, sexta, 21 de março de 1997.
Tropicalista cria ‘cordel hindu’
O poeta baiano Rogerio Duarte usa
métrica dos cordelistas para traduzir o "Bhagavad Gita", clássico da
literatura oriental; livro deverá ter prefácio de Caetano Veloso
Armando Antenore
da Reportagem Local
da Reportagem Local
Um baiano de Ubaíra acaba de construir uma
inusitada ponte entre o cordel nordestino e a Índia. Há duas semanas, o poeta,
violonista e programador visual Rogerio Duarte -um dos mentores do
tropicalismo- terminou a tradução do "Bhagavad Gita" (pronuncia-se
"bagavad guita"). O texto é um clássico da literatura oriental.
Insere-se na tradição védica, aquela que reúne as escrituras sagradas do
hinduísmo, a milenar religião dos indianos. Costuma-se encará-lo como um livro
isolado. Mas, na verdade, as 700 estrofes do "Gita" fazem parte de um
poema épico bem maior: o "Mahabharata" (diz-se
"marrabárata"), que nasceu há cerca de 5.000 anos e soma 250 mil
versos. Muitos especialistas consideram que a epopéia dos hindus forneceu as
matrizes para todas as sagas heróicas posteriores, incluindo a
"Ilíada" e a "Odisséia", do grego Homero. Como vê
semelhanças entre o épico indiano e a literatura de cordel, Rogerio Duarte, 57,
resolveu traduzir o "Gita" de maneira bastante singular. Verteu os
versos do sânscrito ("Uma língua com alto nível de eufonia e
musicalidade") para o português usando a métrica dos cordelistas. O
resultado deverá chegar às livrarias em julho, sob o título de "Canção do
Divino Mestre". A Companhia das Letras se encarregará da publicação.
Caetano Veloso -que prometeu escrever o prefácio- já fez a revisão métrica do
texto, com auxílio do compositor Carlos Rennó. No fim do livro, um glossário
explicará o significado dos termos que Duarte preferiu manter em sânscrito. No
início, haverá uma introdução do próprio tradutor com o resumo do
"Mahabharata", a contextualização filosófica da epopéia e uma série
de considerações sobre a prosódia da poesia hindu. Historiadores acreditam que
os portugueses introduziram o "Gita" no Ocidente durante o século 17.
Entretanto, a versão que o tornou mais conhecido é a do inglês Charles Wilkins
e data de 1785. Grandes literatos já manifestaram respeito pelo livro. O poeta
alemão Goethe, por exemplo, classificou-o como "a mais sublime canção da
religião dinâmica".
Lampião
Rogerio Duarte começou a tradução do "Gita" em 1978. Quinze anos antes, militava no Partido Comunista e produzia cartazes para filmes do Cinema Novo (como "Deus e o Diabo na Terra do Sol", dirigido por Glauber Rocha).
Em 1967, integrou o grupo que concebeu as linhas teóricas do tropicalismo.
O movimento cultural procurava fundir o regionalismo e a tradição à modernidade para criar produtos capazes de se inscrever no panorama artístico mundial.
O poeta de Ubaíra, porém, não se limitou à gênese intelectual da revolução. Também pôs a mão na massa participando de performances com o artista plástico Hélio Oiticica ou compondo com Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Preso e torturado em 1968 por razões políticas, Duarte se afastou do marxismo para cultivar a religiosidade.
Uma década depois, virou hare-krishna, batizou-se como Raghunatha e saiu pelo país vendendo livros e incensos.
Aproveitou para aprender sânscrito e se debruçar sobre o "Gita", que já possuía edições brasileiras. "Queria traduzi-lo à maneira dos cordelistas e divulgá-lo pelas praças", conta.
Duarte percebeu que o sânscrito se adapta perfeitamente à métrica nordestina. Por isso, transformou boa parte do "Gita" em redondilhas maiores, os versos de sete sílabas que predominam no cordel. Abriu mão, contudo, das rimas.
O poeta ainda aponta outra similaridade entre as duas literaturas. O narrador do "Gita" -o vidente Sanjaya- não presenciou os fatos que relata.
"Os cordelistas fazem o mesmo. Divulgam as aventuras de personagens como Lampião sem nunca os ter conhecido."
Rogerio Duarte começou a tradução do "Gita" em 1978. Quinze anos antes, militava no Partido Comunista e produzia cartazes para filmes do Cinema Novo (como "Deus e o Diabo na Terra do Sol", dirigido por Glauber Rocha).
Em 1967, integrou o grupo que concebeu as linhas teóricas do tropicalismo.
O movimento cultural procurava fundir o regionalismo e a tradição à modernidade para criar produtos capazes de se inscrever no panorama artístico mundial.
O poeta de Ubaíra, porém, não se limitou à gênese intelectual da revolução. Também pôs a mão na massa participando de performances com o artista plástico Hélio Oiticica ou compondo com Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Preso e torturado em 1968 por razões políticas, Duarte se afastou do marxismo para cultivar a religiosidade.
Uma década depois, virou hare-krishna, batizou-se como Raghunatha e saiu pelo país vendendo livros e incensos.
Aproveitou para aprender sânscrito e se debruçar sobre o "Gita", que já possuía edições brasileiras. "Queria traduzi-lo à maneira dos cordelistas e divulgá-lo pelas praças", conta.
Duarte percebeu que o sânscrito se adapta perfeitamente à métrica nordestina. Por isso, transformou boa parte do "Gita" em redondilhas maiores, os versos de sete sílabas que predominam no cordel. Abriu mão, contudo, das rimas.
O poeta ainda aponta outra similaridade entre as duas literaturas. O narrador do "Gita" -o vidente Sanjaya- não presenciou os fatos que relata.
"Os cordelistas fazem o mesmo. Divulgam as aventuras de personagens como Lampião sem nunca os ter conhecido."
Um
projeto de CARLOS RENNÓ
Sobre a obra
Bhagavad Gita – Canção do Divino Mestre
Tradução
de ROGÉRIO DUARTE
Produção
artística de CARLOS RENNÓ
Produção
musical de CID CAMPOS
Companhia
das Letras
Bhagavad Gita - Canção do
Divino Mestre. Tradução do sânscrito por
Rogerio Duarte; Companhia das Letras, 1998, 221 pp.
Álbum
“Canções do Divino Mestre”
[Varios
intérpretes]
1. OBSERVANDO OS
EXÉRCITOS
(Rogerio Duarte) Rogerio Duarte/Alberto Marsicano
2. LEITURA DE
ROGERIO DUARTE
3. O LAMENTO DE
ÁRJUNA
(Chico Cesar/Rogerio Duarte) Chico César
4. A ETERNIDADE DA
ALMA
(Gilberto Gil/Rogerio Duarte) Gilberto Gil
5. LEITURA DE
ROGERIO DUARTE E WALY SALOMÃO
6. EXORTAÇÃO À LUTA (Siba/Rogerio
Duarte) Siba
7. A ESPADA DO
SABER TRANSCENDENTAL (Belchior/Rogerio Duarte) Belchior
8. QUEM PARTE NA
LUZ, QUEM PARTE NAS TREVAS (Tom Zé/Rogerio Duarte) Tom Zé
9. OFERENDA A MIM (Roberto
Mendes/Rogerio Duarte) Gal Costa e Mou Brasil
10. A BASE DO
SUPREMO
(Moreno Veloso/Rogerio Duarte) Moreno Veloso, Pedro Sá e Quito
11. A PESSOA
SUPREMA
(Péricles Cavalcanti/Rogerio Duarte) Péricles Cavalcanti
12. LEITURA DE
WALTER SILVEIRA
13. AS QUALIDADES
DAS PESSOAS DE NATUREZA DIVINA (Arnaldo Antunes/Rogerio Duarte) Arnaldo
Antunes
14. O HOMEM DEMONÍACO (Arrigo
Barnabé/Rogerio Duarte) Arrigo Barnabé
15. LEITURA DE
WALTER SILVEIRA
16. O COMEDOR DE
CACHORRO
(Cid Campos/Carlos Rennó/Rogerio Duarte) Cássia Eller e Luiz Brasil
17. DEVE-SE PENSAR
EM DEUS
(Maharaj/Ivan Bastos/Rogerio Duarte) Maharaj
18. A PESSOA
TRANSCENDENTAL (Roberto Mendes/Rogerio Duarte) Jussara Silveira
19. A VISÃO DO
YOGUI SINCERO
(Tuzé de Abreu/Rogerio Duarte) Ana Amélia e Rogerio Duarte
20. MAHA MANTRA (Tomaz
Lima/Rogerio Duarte) Tomaz Lima
21. LEITURA de
TAINA GUEDES
22. LEITURA de
LENINE
23. A REFULGÊNCIA
DE DEUS NA FORMA UNIVERSAL (Raghunatha Das/Rogerio Duarte) Rogerio
Duarte
24. A VISÃO DE
KRISHNA NA FORMA UNIVERSAL (Lenine)
25. LEITURA de
LENINE
26. LEITURA de TAINÁ
GUEDES
27. A SEMENTE
ORIGINAL
(Geraldo Azevedo/Rogerio Duarte) Geraldo Azevedo
28. QUE É MUITO
QUERIDO A MIM
(Geraldo Azevedo/Rogerio Duarte) Elba Ramalho
29. A LOUVAÇÃO DE
KRISHNA POR ÁRJUNA (Walter Franco/Rogerio Duarte) Walter Franco
30. A OPULÊNCIA DO
ABSOLUTO
(Oliveira De Panelas/Rogerio Duarte) Oliveira de Panelas
31. O PAI DO
UNIVERSO
(Gilberto Mendes/Rogerio Duarte) João Duarte
32. FINAL (A conclusão
de Sánjaya)
(Alberto Marsicano/Rogerio Duarte) Rogerio Duarte e Alberto Marsicano
9. OFERENDA A MIM
(Bhagavad Gita
musicado:
Roberto Mendes/Rogerio Duarte)
Gal Costa con Mou Brasil
1998
Se alguém quiser me ofertar
Com amor e devoção
Fruta, folha, flor ou água
Aceitarei a oferenda
Ó, descendente de Cunte
O que quer que você faça
O que quer que você coma
O que quer que você dê
Tudo isso deve ser feito
Como uma oferenda a mim.
10. A BASE DO
SUPREMO
(Bhagavad Gita musicado: Moreno Veloso/Rogerio Duarte)
Moreno Veloso con Pedro Sá y Quito Ribeiro
1998
Sou a base do
supremo, absoluto e pessoal
Que é a eterna
natureza do prazer transcedental
E sou a base do
supremo, absoluto e pessoal
Que é a eterna
natureza do prazer transcedental
Eu sou, eu sou,
transcedental...
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