10 July Thursday, 21:00, Cemil Topuzlu Open Air Theatre.
CAETANO VELOSO "SOLO" EN ESTAMBUL
Se
presentará en el marco del 15th Internacional Istanbul Jazz Festival el 10 de
julio de 2008 en el Teatro al Aire Libre.
"...O
show em Istambul foi numa concha acústica parecida com a do Teatro Castro Alves
em Salvador. Muito
bom. Platéia turca. Reação admirada e quente. ..."
27-07-2008
"Istambul:
o show lá foi lindo mas a cidade merece texto à parte."
2008 – CAETANO VELOSO
Álbum “15. Uluslararası İstanbul Caz Festivali / 15th International Istanbul Jazz Festival (July 02-16 Temmuz 2008)”
[Varios intérpretes]
EMI Music / Kent CD 5099923488823, Track 2. [Turquía]
1. SWEET BIRD 8:15 Herbie
Hancock
2. CUCURRUCUCU PALOMA 3:45 Caetano Veloso
3. MY FOOLISH HEART 5:33 Al Jarreau
4. JUST MY IMAGINATION 4:51 Dianne Reeves
5. WHAT A LITTLE MOONLIGHT CAN DO 5:13 Nnenna Freelon
6. MIO MEHMET, FORSE IL DESTINO M’IMPEDIRA DI RIVEDERTI 4:27
Paolo Fresu / Richard Galliano / Jan Lundgren
7. MUEVE LA CINTURA MULATO 3:34 Omara Portuondo
8. I WISH I COULD GO TRAVELLING AGAIN 4:06 Stacey Kent
9. RULES & REGULATIONS 4:03 Rufus Wainwright
10. PICK SOMEBODY UP 3:33 Raul Midon
11. BRUCE LEE 5:23 Marcus Miller
12. BABARABATIRI 6:52 The Big 3 Palladium Orchestra
13. MANO SUAVE 5:23 Yasmin Levy
14. DERDIN NE? 6:29 Taksim Trio
2. CUCURRUCUCU PALOMA 3:45 Caetano Veloso
3. MY FOOLISH HEART 5:33 Al Jarreau
4. JUST MY IMAGINATION 4:51 Dianne Reeves
5. WHAT A LITTLE MOONLIGHT CAN DO 5:13 Nnenna Freelon
6. MIO MEHMET, FORSE IL DESTINO M’IMPEDIRA DI RIVEDERTI 4:27
Paolo Fresu / Richard Galliano / Jan Lundgren
7. MUEVE LA CINTURA MULATO 3:34 Omara Portuondo
8. I WISH I COULD GO TRAVELLING AGAIN 4:06 Stacey Kent
9. RULES & REGULATIONS 4:03 Rufus Wainwright
10. PICK SOMEBODY UP 3:33 Raul Midon
11. BRUCE LEE 5:23 Marcus Miller
12. BABARABATIRI 6:52 The Big 3 Palladium Orchestra
13. MANO SUAVE 5:23 Yasmin Levy
14. DERDIN NE? 6:29 Taksim Trio
Fonte: http://www.obraemprogresso.com.br/2008/06
Blog de Caetano Veloso
9/7/2008
“Escrevo sem
cuidado porque espero o avião para Istambul. Bem, vou ter um dia de folga lá e
Istambul é grande novidade em minha vida.
Estou em Istambul -
e foi aqui, num quarto enorme de hotel, todo envidraçado, de onde se vê o
Bósforo (de onde virá o Pavel turco para dizer que está tudo errado?) e,
naturalmente, o extremo oeste da Ásia.
Aliás, voar de Roma
a Constantinopla foi como reler o libro de Gibbon em menos de duas horas.
Foi rever o que
aconteceu nesta parte nuclear do nosso mundo desde Augustus até Maomé.
E passando pelas
guerras entre as facções do cristianismo, com Jorge de Capadócia odiado pelo
autor (talvez por ser inglês ele teve mais gosto em desancar o padroeiro da
Inglaterra), e, antes, pelas barganhas entre Roma e os bárbaros.
Adoro os “alamanos”
terem sido uma tribo germânica que se autodenominava assim, significando que
eram “todos os homens”.
E outra, da Gália,
cujos indivíduos se chamavam de “francos”, significando que eram “livres”.
Mas eu olhava pela
janela do avião, emocionado, e pensava que o mais bonito é o estilo de Gibbon.”
27/7/2008
Istambul:
“o show lá foi lindo mas a cidade merece
texto à parte.”
9/8/2008
ISTAMBUL
“Comecei a ler o
livro de Pamuk antes de sair da Itália. Chegamos a Istambul de noite. Um rapaz
gentil e suave nos recebeu e outro nos acompanhou no carro. Falava inglês. O
motorista, não. Era bom ver a estrada perto do mar, palmeiras, ciprestes,
árvores altas. O asfalto era todo bom e a iluminação forte e sem falhas.
Passamos por ruinas romanas: colunas, paredes, um aqüeduto. Logo a polícia nos
parou. O motorista mostrou documentos. Dialogaram (quase discutiram) em turco.
Giovana e eu ficamos quietos. Quando liberaram o carro, o rapaz que nos
acompanhava nos disse que o país estava passando por um momento delicado. Ele
se referia à tentativa dos secularistas de derrubarem judicialmente o governo e
cassar o partido do primeiro ministro. A acusação era de terem agido em
desacordo com o princípio de total separação entre religião e Estado, peça
central da constituição republicana instaurada por Atatürk no início do Século
20.
O atual presidente
é religioso, sua mulher usa véu, e o governo conseguiu mudar uma lei que
proibia as moças de usarem véu nas universidades.
Sinam, o rapaz que
falava inglês, completou dizendo que a tendência fundamentalista cresce na
Turquia.
Eu tinha lido na
The Economist sobre isso (eu não disse que leio The Economist?) e, como um
liberal inglês, concordava com a tese da revista de que não seria bom se se
derrubasse esse governo religioso mas liberal.
Sinam discordava
docemente: um infiel, descrente e moderno, ele achava que os secularistas
tinham razão.
Eu não entendia bem
o inglês dele (não entendo bem inglês) mas acho que, em suma, ele dizia que
mais vale lutar diretamente pelas coisas que você acha certas do que buscar muita
sutileza estratégica.
Ele também dizia
que a Turquia vai entrar na União Européia e que tanto os secularistas quanto o
governo querem isso.
Não insisti com a
pergunta “e os fundamentalistas?”. Aprendi muito pouco sobre tudo isso com
Sinam.
Mas estávamos já no
apartamento grande e luxuoso de um hotel com bossas orientais e visão ampla
para o Bósforo. Ah, o Bósforo!
Tínhamos
atravessado uma ponte sobre o Chifre de Ouro. Perguntei a Sinam se tínhamos
cruzado o Bósforo. Não. Era só o Chifre. Ele me disse que talvez do banheiro eu
visse a ponte sobre o Bósforo.
Fui ao banheiro e
vi, através de uma parede-janela de vidro (que tentei abrir, iludido pelo
reflexo do piso, pensando que ela dava para uma varanda, mas descobri no dia
seguinte que ela dava para uma praça asfaltada 18 andares abaixo), o Bósforo.
De noite, as luzes
das margens, as embarcações iluminadas, a ponte. De dia, o azul profundo, as
diferentes formas de a superfície da água se encrespar (segundo os ventos por
cima e as correntes por baixo), as torres finas das mesquitas. É
extraordinariamente bonito e também é emocionante pensar que esse estreito
separa a Europa da Ásia, que Constantino quis chamar a cidade de Nova Roma, que
os otomanos a tomaram e dali comandaram o mundo muçulmano por séculos.
Lembrei de ter
lido, há muitos anos, um livro sobre o Islã, escrito por um árabe, em que os
turcos aparecem como um povo opressivo que desfigurou o espírito essencialmente
tolerante dos muçulmanos, criando uma imagem que era o oposto do que ocorrera
no Califado de Córdoba, quando cristãos e judeus viviam em paz num mundo
islâmico.
É um livro cujo
título e autor gostaria de lembrar agora, pois foi escrito muito antes do
Taliban e do 11 de setembro.
A noite de Istambul
é animada como a de Buenos Aires ou de Madri. Muita gente nas ruas pela
madrugada. Nas praças, nos bares, nas calçadas. Muitos táxis. No dia da nossa
chegada, alguns generais foram presos supostamente por planejarem um golpe
contra o governo. Muitos militares são secularistas. Mas The Economist insinua
que eles não são mais liberais do que o atual primeiro ministro. A equipe
técnica e de produção do meu show saiu para passear enquanto eu dormia de
manhã. Ao voltarem, Giovana estava nervosa porque, ao tirar fotos no Grand
Bazzar, foi ameaçada por uma senhora de roupa preta e só com os olhos à mostra.
Ela gritava e queria tomar a câmera da mão de Giovana. Giovana ficou em pânico,
quis correr, foi difícil. André Botto, o nosso iluminador, tentou socorrê-la.
Mas havia o risco de os homens que a cercavam reagirem e criar-se uma briga
perigosa. Bahar, uma das moças da produção local, chegou a tempo de esclarecer
para a mulher de véu negro que a foto podia ser apagada. No dia seguinte o
consulado americano sofreu um ataque no qual 6 pessoas morreram. Mas nossos
acompanhantes turcos estavam calmos e nos transmitiam calma. À noite, ouvi uma
explosão que fez tremer o hotel. Fui olhar pela janela. Em pouco tempo vários
carros de polícia evacuaram a imensa praça asfaltada em frente do hotel. Uma
voz se ouvia por auto-falante. Um grupo de fotógrafos obteve permissão para
entrar na àrea isolada e flashes explodiam, com as câmeras todas apontadas para
um lugar no chão da praça. Do décimo oitavo andar não dava para eu ver nada.
Parece que os policiais acharam outro explosivo ali e o desativaram. Liguei a
televisão em busca de notícias mas só vi um programa de variedades em que se
apresentava um rapper turco, com todos os trejeitos dos rappers americanos (e
dos seus imitadores franceses, espanhóis, ingleses, italianos, portugueses…). A
apresentadora super perua reproduzia os movimentos dos braços que todo rapper
faz, e chamou alguém da platéia que soubesse a a letra toda. Veio um rapaz
magro e feio, e, tal como se vê crianças brasileiras dizendo as rimas do “Diário
de um detento”, repetiu toda aquela cascata de palavras em turco, para
gargalhadas da apresentadora e de seus convidados - e ovação da platéia. O
refrão com melodia era bem árabe (bem uma variante turca do canto melismático
árabe), o que dava o tom local, mas, curiosamente, remetia a muitos raps
americanos que fazem refrães com melodia árabe clichê. As voltas que o mundo
dá. Voltei à janela e a praça ainda estava deserta e cercada de carros de
polícia.
O show em Istambul
foi numa concha acústica parecida com a do Teatro Castro Alves em Salvador.
Muito bom. Platéia turca. Reação admirada e quente. No quarto do hotel, segui
lendo Orhan Pamuk e sua Istambul em preto e branco, triste de saudade do
império otomano. Mas ao olhar pela janela ou ao andar pela praça em frente à
Mesquita Azul, ao olhar incrédulo para a cúpula sobrenatural dentro de Santa
Sofia (que foi catedral bizantina mas virou mesquita e hoje é museu), Istambul
sempre se reafirmava intensamente colorida. Senti uma certa sensação de
opressão em Moscou e mesmo um quase medo. Em Istambul, com toda essa tensão
política, medo nenhum. Tenho de corrigir: o melhor show da turnê foi em Viena.
Na Ópera de Viena. Não só a acústica era no mínimo tão boa quanto a de
Luxemburgo: o espaço, a inteligência natural da platéia, o ar culto da sala -
tudo fez com que eu cantasse melhor do que posso. Trouxe um taco do chão do
palco: presente do diretor da instituição.”
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