"Naquele carnaval de 72 eu estava fazendo
um carro para apresentar. Eu ia para São Paulo comprar material e comecei a ler
uma revista no avião, quando vi uma nave francesa. Daí eu disse: isso dá um
trio elétrico formidável. Mas a gente não podia pegar a revista para trazer. Aí
eu fui no banheiro do avião, rasguei a página com todo cuidado, dobrei e botei
no sapato. Daquela espaçonave eu projetei a Caetanave que vocês todos
conhecem”. (Orlando Tapajós, 20/1/2012)
Letra y música: Anton Schultz
Quem já foi a Bahia
Ao menos algum dia já ouviu falar
De uma ave caetana uma Caetanave
Que nasceu prá brilhar
Nos carnavais da Bahia
Nas suas festas de largo
A todo mundo ele chama (inflama)
Quando ele passa levando alegria
Ave, ave, ave
Ave, Caeta
Ave, Caetano
Ave, Caetanave
Todo mundo descendo a ladeira
Cantando frevo loucura a zoeira
Abra o seu coração entre na brincadeira
Siga o caminhão até quarta feira
1980 – TRIO
ELÉTRICO TAPAJÓS
Álbum
“ Ave Caetano - Tapajós”
Music
Master LP KLM - 9020
Lado A
1. AVE CAETANO (Anton Schultz)
2. TAPAFREVO (Luiz Caldas)
3. LITOCANDO (Lito)
4. CARNAVAL NA
BAHIA (Anton
Schultz)
5. PAIRÁ (Nanuta)
6. SEM EIRA NEM BEIRA (Anton Schultz)
Lado B
1. OXUMALÁ (Luiz Caldas)
2. FREVO DA
LAMBRETA (Anton
Schultz)
3. MILA (Lito)
4. TAPAJÓS COM A
MASSA (Jota)
5. XARÁ (Melo)
6. FALA-BÁ (Walter Queiroz)
Texto de Caetano Veloso na contracapa do álbum:
"O
primeiro disco de trio elétrico que se fez no Brasil foi um disco do TAPAJÓS e
eu tive a honra de, então, escrever a contracapa. Agora, mais de dez anos
depois, estamos aqui outra vez. Seria talvez melhor dizer: estamos aqui ainda.
Uma das maiores emoções da minha vida foi, em 72, voltando do exílio em
Londres, ver a CAETANAVE surgir no topo da Ladeira da Montanha e entrar na
Praça Castro Alves sob a forte chuva que começava, tocando meu frevo Chuva,
Suor e Cerveja. Eu não sabia que o carro deles naquele ano levaria esse nome e,
se já estava chorando quando o caminhão entrou na praça, dobrei o choro quando
li a nova palavra escrita na proa da transcendental embarcação. A essa altura
da minha vida eu já tinha muito o que agradecer ao TAPAJÓS e aos trios
elétricos em geral. A partir daquele momento de imenso carinho minha dívida se
multiplicou por mil. Eles me ajudaram a curtir a adolescência, a bolar o
Tropicalismo (que abriu espaço pra Milton casar barroco mineiro com Edu Lobo e
Beatles; para a gente ouvir sem susto a transa de Egberto; pra Hermeto misturar
jazz com rock e xaxado; pra mil coisas) e depois, a explicar o Tropicalismo e
justificá-lo. E, naquele carnaval de 72, me davam a compensação afetiva para a
prisão e o exílio. É muito.
Da época em que o primeiro disco do trio foi gravado pra cá, muita coisa
rolou. Este disco é muito mais bem gravado do que o outro, do que os outros.
Sobre a beleza única desse som de trio elétrico não posso dizer nada. Apenas
quero registrar que é lindo que o TAPAJÓS não tenha ficado indiferente à volta
de Dodô e Osmar com as inovações de Armandinho e muito menos às conquistas
geniais de Moraes Moreira que entre outras coisas, casou o trio elétrico com
com o afoxé (meu sonho com o de Gilberto Gil). E chega de muitas palavras, eu
fico baiano de mais quando se trata desse assunto de trio elétrico. Vamos ouvir
o TAPAJÓS e continuar agradecendo a generosidade. Ave TAPAJÓS."
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