jueves, 23 de julio de 2015

1980 - AVE CAETANO


"Naquele carnaval de 72 eu estava fazendo um carro para apresentar. Eu ia para São Paulo comprar material e comecei a ler uma revista no avião, quando vi uma nave francesa. Daí eu disse: isso dá um trio elétrico formidável. Mas a gente não podia pegar a revista para trazer. Aí eu fui no banheiro do avião, rasguei a página com todo cuidado, dobrei e botei no sapato. Daquela espaçonave eu projetei a Caetanave que vocês todos conhecem”. (Orlando Tapajós, 20/1/2012)





Letra y música: Anton Schultz 

Quem já foi a Bahia
Ao menos algum dia já ouviu falar
De uma ave caetana uma Caetanave
Que nasceu prá brilhar
Nos carnavais da Bahia
Nas suas festas de largo

A todo mundo ele chama (inflama)
Quando ele passa levando alegria

Ave, ave, ave
Ave, Caeta
Ave, Caetano
Ave, Caetanave

Todo mundo descendo a ladeira
Cantando frevo loucura a zoeira
Abra o seu coração entre na brincadeira
Siga o caminhão até quarta feira





 
1980 – TRIO ELÉTRICO TAPAJÓS
Álbum “ Ave Caetano - Tapajós”
Music Master LP KLM - 9020

Lado A
1. AVE CAETANO (Anton Schultz)
2. TAPAFREVO (Luiz Caldas)
3. LITOCANDO (Lito)
4. CARNAVAL NA BAHIA (Anton Schultz)
5. PAIRÁ (Nanuta)
6. SEM EIRA NEM BEIRA (Anton Schultz)

Lado B
1. OXUMALÁ (Luiz Caldas)
2. FREVO DA LAMBRETA (Anton Schultz)
3. MILA (Lito)
4. TAPAJÓS COM A MASSA (Jota)
5. XARÁ (Melo)
6. FALA-BÁ (Walter Queiroz)




Texto de Caetano Veloso na contracapa do álbum:



"O primeiro disco de trio elétrico que se fez no Brasil foi um disco do TAPAJÓS e eu tive a honra de, então, escrever a contracapa. Agora, mais de dez anos depois, estamos aqui outra vez. Seria talvez melhor dizer: estamos aqui ainda. Uma das maiores emoções da minha vida foi, em 72, voltando do exílio em Londres, ver a CAETANAVE surgir no topo da Ladeira da Montanha e entrar na Praça Castro Alves sob a forte chuva que começava, tocando meu frevo Chuva, Suor e Cerveja. Eu não sabia que o carro deles naquele ano levaria esse nome e, se já estava chorando quando o caminhão entrou na praça, dobrei o choro quando li a nova palavra escrita na proa da transcendental embarcação. A essa altura da minha vida eu já tinha muito o que agradecer ao TAPAJÓS e aos trios elétricos em geral. A partir daquele momento de imenso carinho minha dívida se multiplicou por mil. Eles me ajudaram a curtir a adolescência, a bolar o Tropicalismo (que abriu espaço pra Milton casar barroco mineiro com Edu Lobo e Beatles; para a gente ouvir sem susto a transa de Egberto; pra Hermeto misturar jazz com rock e xaxado; pra mil coisas) e depois, a explicar o Tropicalismo e justificá-lo. E, naquele carnaval de 72, me davam a compensação afetiva para a prisão e o exílio. É muito.
 
Da época em que o primeiro disco do trio foi gravado pra cá, muita coisa rolou. Este disco é muito mais bem gravado do que o outro, do que os outros. Sobre a beleza única desse som de trio elétrico não posso dizer nada. Apenas quero registrar que é lindo que o TAPAJÓS não tenha ficado indiferente à volta de Dodô e Osmar com as inovações de Armandinho e muito menos às conquistas geniais de Moraes Moreira que entre outras coisas, casou o trio elétrico com com o afoxé (meu sonho com o de Gilberto Gil). E chega de muitas palavras, eu fico baiano de mais quando se trata desse assunto de trio elétrico. Vamos ouvir o TAPAJÓS e continuar agradecendo a generosidade. Ave TAPAJÓS."




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