martes, 20 de enero de 2015

2005 - POEMA DOS OLHOS DA AMADA



Vinicius de Moraes (1913/1980)


"Eu, Vinicius de Moraes, o branco mais negro do Brasil o será o branco mais preto do Brasil"  
(Vinicius de Moraes)

Testimonio de Caetano Veloso 
[Banda sonora de la película "Vinicius", Track 15.]





POEMA DOS OLHOS DA AMADA
Música: Paulo Soledade
Letra: Vinicius de Moraes
 
Oh, minha amada,
que olhos os teus!
São cais noturnos,
cheios de adeus.
São docas mansas,
trilhando luzes,
que brilham longe,
longe nos breus.
 

Oh, minha amada
de olhos ateus
Quem dera um dia,
quisesse Deus,
e
u visse um dia
o olhar mendigo
da poesia dos olhos teus.
 











 
2005 – CAETANO VELOSO 
Álbum “Vinicius” 
Trilha Sonora do filme de Miguel Faria Jr. 
Biscoito Fino CD BF 609, Track 9.

















Folha deS.Paulo

23/09/2005
FESTIVAL DO RIO

Em filme exibido hoje, Miguel Faria Jr. colhe depoimentos de Tônia Carrero, Ferreira Gullar e Chico Buarque

"Vinicius" emocional põe de lado o "poetinha"
LUIZ FERNANDO VIANNA
Da Folha de S.Paulo, no Rio



Plural até no nome, como brincou Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes aparece em vários formatos em "Vinicius", de Miguel Faria Jr.: diplomata, poeta clássico, poeta moderno, compositor, boêmio, político, apaixonado compulsivo. Mas uma faceta, pelo menos, o diretor diz ter lutado para deixar de fora.

"Eu não quis a figura do 'poetinha'. É até uma coisa carinhosa das pessoas mas é também uma falta de respeito porque o limita às histórias folclóricas de mulheres, porres, Ipanema. Vinicius era também isso, mas não só isso", disse Faria, anteontem, na sessão para a imprensa do filme. Ontem, "Vinicius" foi o cartaz da abertura do Festival do Rio e, hoje (23), tem duas sessões para o público.

A decisão de Faria exigiu um equilíbrio delicado: deixar o "poetinha" folclórico de lado e, ainda assim, dar ao documentário um clima informal, fiel ao jeito de Vinicius de Moraes.

"Não queria que tivesse uma cara didática, jornalística, que fosse um documentário frio. Queria mais emoção do que informação", resumiu.

Por esta razão, a cronologia não é rígida, sendo o filme mais dividido por temas do que por datas. E, também por isso, não há legendas dizendo os títulos das músicas cantadas.

Além das interpretadas por pessoas que dão depoimentos, como Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil, há algumas que artistas convidados cantam, entre eles Adriana Calcanhotto, Mônica Salmaso, Mart'nália e Zeca Pagodinho.

"Queria outra geração cantando, pessoas de praias diferentes. Por isso, o leque é tão aberto", explicou Faria, que convidou até três rappers (MS Bom, Nego Jeff e Lerov) para improvisar em cima do poema "Blues para Emmet".

Esses números musicais seguem o fio condutor do filme, um show de cabaré sobre Vinicius preparado por dois atores, Camila Morgado e Ricardo Blat. Eles interpretam alguns poemas e dão algumas informações sobre a vida do poeta. Mas estão nos depoimentos a força do filme.

Faria colheu 16 depoimentos, entre os quais se destacam os de Tônia Carrero, sobre o Vinicius refém das paixões; de Ferreira Gullar, sobre a capacidade do amigo de "inventar a vida" com alegria; e dos amigos e parceiros Edu Lobo e Chico Buarque, sobre música, tristezas e histórias engraçadas.

"Vinicius é o contrário dos dias de hoje, quando tudo busca um resultado, um objetivo, é pragmático", diz Chico em um dos melhores momentos do filme, em que ressalta a generosidade do poeta e seu desprendimento de coisas materiais.

A ligação de Faria com Vinicius é antiga: ele foi casado com a primogênita Susana Moraes, co-produtora e entrevistada do filme --o poeta teve cinco filhos e nove casamentos. E dirigiu, em 1983, "Para Viver um Grande Amor", adaptação do musical "Pobre Menina Rica", de Carlos Lyra e Vinicius.

"Eu detesto esse filme. Estava maluco na época, e errei a mão. Agora, estou pagando uma dívida com Vinicius", disse Faria.




O GLOBO

24/09/2005

‘Vinícius’ é aclamado na abertura do Festival do Rio 2005

Por Rodrigo Fonseca


Se sincero for o desabafo: “A vida é a arte do encontro, ainda que haja muitos desencontros na vida”, então poesia se fez na noite de abertura do Festival do Rio 2005, na exibição do documentário “Vinícius”, como se o Poetinha tivesse “baixado” por lá. Era o que se via nas reações de uma platéia embevecida com sons que iam do dedilhar de violão de Yamandú Costa à voz de Zeca Pagodinho. Esse entusiasmado público foi apresentada pelo diretor Miguel Faria Jr. a um herói. E mesmo que verdade seja que é pobre o povo que de heróis precisa, a multidão de artistas e diretores enfileirados nas poltronas do Odeon — José Wilker, Norma Benguell, Betty Faria, Maria Ceiça, Sandra Werneck, Flávio R. Tambellini e mais uma quilométrica lista — não parecia ter vergonha de assumir sua carência de lirismo ao aprender com Vinícius de Moraes (1913-1980) a educação pela pedra que nem o mais ortodoxo bardo cabralino seria capaz de questionar: “É melhor ser alegre que ser triste/ Alegria é a melhor coisa que existe/ É assim como a luz no coração”.

— Pô, Vinícius foi o meu herói! — admitiu Faria Jr., entre um aperto de mão aqui, um beijo no rosto acolá, e abraços, muitos e loooooongos abraços em amigos e parceiros de cinema ao fim da sessão. — Vinícius é o cara que mais mudou o comportamento da minha geração. Ele fez nosso modo de pensar.

Realmente, “Vinícius” faz jus às palavras do cineasta, que dispôs da inestimável colaboração de Susana Moraes, filha do autor de “Para viver um grande amor”, e sua ex-mulher, ao projeto. Produzido por Susana, “Vinícius” arregimenta uma verdadeira confraria de músicos — de bossanovistas pioneiros àqueles com Tropicalismo na certidão musical — que “cresceram” esteticamente com o compositor. O filme inclui no mesmo pacote aristocratas da MPB como Francis Hime, Carlos Lyra, Caetano Veloso, Maria Betânia, o excelentíssimo ministro da Cultura Gilberto Gil e até Chico Buarque, que numa só noite concedeu, sem sua característica timidez, três horas de entrevista ao cineasta

— Queria fazer o filme com meus amigos, que eram os amigos do Vinícius. Era um jeito de fazer o filme reproduzir um clima de bar, de bate-papo, de modo que até o que fosse dito teoricamente sobre a obra dele fluísse claro — explica Faria Jr., que dispôs da ajuda do talentoso poeta Eucanaã Ferraz (de “Desassombro”) na confecção da seleção de poemas de Vinícius lidos na tela pelos atores Camila Morgado e Ricardo Blat.

Tapete vermelho ladeado com bunker

Blat aliás não chegou a tempo de entrar na foto da equipe do filme, incluindo, entre outros, Miguel, Susana, Camila, o diretor de fotografia Lauro Escorel, a montadora e roteirista Diana Vasconcellos e as cantoras Miúcha e Olivia Byngton. Mas foi lá dar seu parabéns ao diretor.

— Cara, eu só cheguei na hora que o Pagodinho tava cantando. Mas é aquilo: o filme vai te pegando, te pegando... — elogiou Blat, que puxa um rap no filme com os cantores MS Bom, Nego Jeff e Lerov.

Cercado de aplausos cada vez que um dos intérpretes convidados dava sua palhinha do repertório de Vinicius — no entanto, o momento mais festejado foi o depoimento de Ferreira Gullar pichando Samuel Beckett e sua melancolia — o documentário transcorreu sem atropelos. Aliás, a festa toda, que teve Tuca Andrada e Virginia Cavendish como apresentadores, correu calma. Mesmo o estranho bunker montado à entrada do Odeon, rodeando o tapete vermelho, não causou tumulto, apesar da estrutura forçar os fotógrafos da imprensa a um “encavalamento” na porta do cinema.






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