domingo, 8 de abril de 2012

2009 - DIFERENTEMENTE


2003 - Bar Baretto - S. Paulo



Letra y Música: Caetano Veloso
© 2003 Uns Produções (Natasha)


Acho que ouvi numa canção de Madonna
“When you look at me I don’t know who I am”
E desentendi
Pois comigo, é você quem, me olhando, detona
A explosão de eu saber quem eu sou

Eu nunca imaginei que nesse mundo
Alguma vez alguém soubesse quem é
Mas se você me vê seus olhos são mais do que meus
Pois amo
E você ama
E aí o indizível se divisa
E a luz de muitos céus inunda a mente
E no entanto
Diferentemente de Osama e Condoleezza
Eu não acredito em Deus





2003 – CAETANO VELOSO
Inédita presentada en show [bar Baretto, Hotel Fasano (SP)] el 28 de noviembre de 2003. (*)



28/11/2003 - O empresário João Paulo Diniz e Paula Lavigne no Baretto durante show de Caetano Veloso, em São Paulo - Foto: Ana Ottoni/Folhapress





2009 – CAETANO VELOSO
BRUM7090002 / 2:43
Álbum “zii e zie”
Universal Music CD 1790452, Track 13.






da Folha de S.Paulo

02/12/2003
Crítica: A amizade de Caetano com a música popular americana


SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo


No fim de semana, Caetano Veloso fez os dois primeiros de série de 12 shows beneficentes em que a base do repertório são standards norte-americanos, que comporão CD a ser lançado em março --"A Foreign Sound".

A apresentação teve lugar no novo Baretto, o bar do novo hotel Fasano. Os ingressos custam R$ 500 por pessoa e vão para um hospital para pacientes com câncer de Barretos, no interior de São Paulo, por indicação do ex-ministro da saúde José Serra.

Na platéia, balançando seus bling-blings, estava o que já se chamou "le tout São Paulô", a prestigiar um dos melhores músicos brasileiros e uma família --a Fasano-- que sempre teve uma forte ligação com a noite musical de qualidade da cidade.

Pois a comparação é inevitável: estávamos todos no Rick's American Bar, o mitológico bar encravado no Marrocos que o personagem de Humphrey Bogart comanda no filme "Casablanca" (1942). Aqui dentro, no Baretto/ Rick's, um país em que tudo é possível, a ilha da fantasia; lá fora, contida, a Segunda Guerra, o nazismo, a África --o Brasil.

Mas os 70 presentes nessa primeira seção da noite de sábado estão interessados no show. E o show não decepcionará, com momentos brilhantes e antológicos, e poucos tropeços. Começa com a frase, muito cara a Caetano, "O cinema falado é o grande culpado da transformação", do samba "Não tem Tradução", de Noel Rosa, uma declaração de princípios do que virá depois.

É a única em português do bloco gringo que se inicia, que terá como zona de transição o mix "Baby" (dele) e "Diana" (de Paul Anka), nesta noite em versão de cordas mais pronunciadas, executada por Moreno Veloso (cello e percussão), Domenico Lancelotti (bateria), Pedro Sá (guitarra) e Jorge Helder (baixo acústico).

O flerte do músico com o cancioneiro anglo-saxão não é recente. A capa de seu disco "Qualquer Coisa", de 1975, já "relia" a de "Let it Be", dos Beatles, e trazia "Eleanor Rigby", "For No One" e "Lady Madonna"; houve também a gravação posterior de "Billie Jean", de Michael Jackson, que misturou com muita felicidade a "Nega Maluca" --embora não tenha dado sorte com "Black and White".

Nessa noite, a novidade começa na forma de "So In Love", "I Only Have Eyes for You" e "Stardust", que formou muitos casais nos bailinhos de fim de ano do Yazigi nos anos 50. A primeira é ele e violão, a segunda ganha um insuspeito pandeiro, a terceira revela falsetes delicados.

Aqui, Caetano usa o que aprendeu com seu mestre João Gilberto: pegar uma música conhecida, vivissecá-la, dissecá-la e então remontar tudo outra vez, com as mesmas partes, mas não necessariamente na mesma ordem e seguindo a sintaxe particular do dr. Frankenstein musical que comanda a operação --no caso, baiana. Não costuma dar errado.

Pois não deu errado nesse nem daria no próximo bloco, mais contemporâneo, que começa com uma "Nature Boy" sem grandes novidades, mas chega ao ponto alto do show: "Come as You Are", do Nirvana . Numa palavra: sensacional. Para começar, a marcação é dada pelo tamborim. Para terminar, a linha de guitarra original é refeita no cello e o baixo elétrico renasce no dedilhado do contrabaixo acústico. Faz lembrar que, atitude e revolução à parte, o Nirvana contava com um melodista refinado. A platéia urra.

Segue-se uma "Summertime" mais blues de raiz do que gerswhiniana ou janisjopliniana, uma "Love for Sale" (que não estava no programa) à capella e "Cry Me a River" com timbau.

Os tropeços. Caetano Veloso brilha justamente nas canções norte-americanas reconstruídas por ele, como as citadas acima. Mas o mesmo não ocorre quando ele interpreta os standards como se fosse um grupo de lounge de hotel de Manhattan, sem o mesmo talento daquele.
É o caso de "Nature Boy", "Body and Soul", "Sophisticated Lady".

Mais: não era preciso pagar o pedágio de "Sampa". Por fim: por uma questão musical que é quase geopolítica, não devia cantar "Cucurucucu Paloma", como faz quase no final. É gritante o quanto mais à vontade ele está na América Latina de Capinan do que na "América" de Bush.

Aí entra a única música nova de Caetano na noite: a divertida "Diferentemente", samba-canção que começa citando Madonna e termina com "Diferentemente de Osama e Condoleezza/ Eu não acredito em Deus".

A noite se encerra com uma apropriada "The Carioca", que ele canta com meneios de Carmem Miranda. No bis, "Love me Tender", quase em falsete, fazendo um contraponto interessante ao vozeirão de Elvis, como a avisar que isso aqui, afinal de contas, é arte e não karaokê.

O rei do rock é a chave para a volta a "Casablanca" e a conclusão: a ligação entre Caetano Veloso e a MPNA (a música popular norte-americana) pode ser o começo de uma grande amizade.



Caetano Veloso
Onde:
Baretto (r. Vittorio Fasano, 88, Jardins, SP, tel. 0/xx/11/3896-4000) Quando: 5, 6, 12 e 13/12, às 21h e às 23h
Quanto: R$ 500 (todos esgotados)





SEGUNDO CADERNO
Rio, 01 de dezembro de 2003

Caetano se espalha numa sala de espelhos


Hugo Sukman

SÃO PAULO

Àfrente do palco — seria mais apropriado dizer praticável — do exclusivíssimo Baretto, o bar do Hotel Fasano em São Paulo, Caetano Veloso faz o que muito provavelmente seja o menor show de sua carreira. Apenas 70 pessoas por sessão, que podem pagar R$ 500 por cabeça (e fazer benemerência para o Hospital do Câncer da Fundação Pio XII, de Barretos), testemunham Caetano transmutar-se em, digamos, uma Rita Hayworth solta numa sala de espelhos em “A dama de Shangai”, de Orson Welles.

A comparação — para além da ironia de se comparar com um filme de autor no seio de Hollywood um show de autor brasileiro vanguardista sobre o repertório de canções anglo-americanas, standards ou mesmo clássicos do pop quase sempre consagrados — não se deve apenas ao imenso espelho, situado no fundo do palco, que faz a platéia endinheirada se refletir enquanto assiste ao show. Mas ao fato de que tudo que Caetano propõe no show, que estreou sexta-feira e ficará por mais três fins-de-semana no sofisticado bar paulistano, é na verdade um sofisticado jogo de espelhos.

Show vai do chique Noel Rosa ao brega Paul Anka

Por exemplo: a primeira música, o samba “Não tem tradução”, de Noel Rosa, decreta que “as rimas do samba não são I love you ”; a segunda, a clássica “Baby”, do próprio Caetano, chega ao ápice declarando, justamente, “Baby, I love you”; à sofisticação natural de se cantar (o chique) Noel, Caetano espicha a citação já existente em “Baby” da balada (vulgar) “Diana”, de Paul Anka, e a canta inteira. Esses são, contudo, espelhos já conhecidos da obra de Caetano, espelhos tropicalistas.

O cerne do show — um ensaio de luxo do show de lançamento do próximo disco de Caetano, “A foreign sound”, só com canções anglo-americanas (a formar um díptico com hispânico “Fina estampa), que sai em março — é um infinito sumidouro de novos espelhos propostos por Caetano.

Na segunda sessão da noite de sexta, que foi presenciado até por uma rainha, a brasileira Silvia, da Suécia, o próprio Caetano tratou de explicitar um dos espelhos possíveis.

— Quando eu canto, desta maneira, essas canções em inglês estou fazendo com dois filtros: o filtro da bossa nova, que é de refinamento, e o do tropicalismo, que é de ironia — teorizou Caetano após cantar standards como “So in love” (Cole Porter), ”Cry me a river” (Arthur Hamilton), “Something good” (Rodgers e Hammerstein II) e “Stardust” (Carmichael e Parish), quase sempre sutilmente abrasileirados porque não poderia ser diferente, e até a balada grunge “Come as you are”, do Nirvana, levada elegantemente (como se fosse um standard ) em arranjo calcado em baixo acústico e violoncelo.

Tocar música americana por filtros brasileiros, rock e música brega como se fossem standards , standards como se fossem sambas, são alguns dos espelhamentos mais evidentes. Outros espelhos são mais surpreendentes. Como misturar, no mesmo show, um “Sophisticated lady”, sofisticada canção de um aristocrata negro cosmopolita, Duke Ellington, com “Love me tender”, balada açucarada de um brancarrão caipira que invejava negros na maneira de cantar, Elvis Presley.

Essa visão tropicalista da canção americana chega ao ápice com “The carioca”, um jogo inteiro de espelhos em si: música americana lançada nos anos 30 por Fred Astaire no filme “Flyng down to Rio”, sobre clichês brasileiros, cantada agora por um brasileiro num trabalho dedicado à canção americana é deglutida e devolvida em forma de música baiana, com direito a timbau na percussão.

Os espelhos pareciam mesmo conspirar na noite paulistana. No palco e fora dele. Nas mesas do Baretto, tinha desde uma rainha de verdade, nascida plebéia no interior de São Paulo, até os novos reis do dinheiro brasileiro, do rei dos supermercados Abílio Diniz ao rei da publicidade Nizan Guanaes (que, aliás, cantou de cabo a rabo a letra de “Nature Boy”, já gravada por Caetano no disco “Totalmente demais” e que agora volta ao seu repertório).

Samba novo cita Osama Bin Laden e Condoleezza Rice

No palco, Caetano propunha ainda novos espelhos. Em sua própria banda mistura o filho Moreno Veloso (violoncelo e timbau) e seus parceiros Pedro Sá (guitarras) e Domenico Lancellotti (MPC, caixa e tamborins) — os três ativos músicos do circuito alternativo carioca em formações que vão do trio Moreno + 2 à Orquestra Imperial — a um mestre da clássica MPB, o contrabaixista Jorge Helder. “Além de gostar de cantar num bar da noite, este show tem para mim o valor de me pôr tocando junto com Moreno, Pedro Sá e Domenico e de trazer o grande contrabaixista Jorge Helder, com quem já trabalhei em outras temporadas, para perto destes filhos queridos”, explica o próprio Caetano no texto de apresentação do show. E o trio, sempre no jogo de espelhos que marca o show, tenta o tempo todo misturar experimentalismo e clássico, rigor e dispersão criativa.

Mas, pairando sobre os espelhos e os confirmando, Caetano não resistiu e fez música nova, o samba “Diferentemente”, que estreou na sexta-feira à guisa de teorias sobre o significado do seu novo projeto:

“E no entanto, diferentemente de Osama e Condoleeza/Eu não acredito em Deus”, diz em seus novos versos. O tropicalismo, como se vê, parte para conquistar o mundo e, sobre isso, muito a imprensa se debruçará nos próximos meses.



08/12/2003

ISTOÉ
Gente

Num show beneficente que reuniu, em São Paulo, empresários e até a rainha Silvia, da Suécia, o cantor mostrou o repertório do próximo CD.

Luciana Franca

Teve até uma presença real na seleta platéia da estréia da temporada de Caetano Veloso no Baretto, bar do Hotel Fasano, em São Paulo, na sexta-feira 28. A rainha Silvia, da Suécia, estava entre as 60 pessoas que desembolsaram R$ 500 reais para ouvir o cantor baiano em versão acústica e intimista. “É um show de luxo para poucos sob muitos aspectos. Inclusive neste, que não é desprezível: só quem tem muito dinheiro pode comprar uma entrada”, justificou-se Caetano, que doou a renda das 12 apresentações para o Hospital do Câncer da Fundação Pio XII de Barretos, interior de São Paulo. Empresários como Abílio Diniz, e endinheirados, como Alexandre Accioly, apreciaram o repertório que misturou Noel Rosa e canções clássicas americanas que farão parte do seu novo disco A Foreign Sound. Os pontos altos da noite foram o selinho dado em Carlos Fernando, ex-Nouvelle Cuisine, depois de dividir o microfone com o cantor em “Sampa”, e a apresentação da música inédita “Diferentemente”, que faz referência a Osama Bin Laden. O curto show mereceu bis, pelo menos para Nizan Guanaes. O publicitário pagou R$ 1 mil para assistir às duas apresentações da primeira noite. 













2004
Revista QUEM Acontece
N° 184 – 19/3/2004




  










01/01/2017
POR FERNANDO LICHTI BARROS

A maioridade do Baretto: bar icônico completa 18 anos em 2017.

Reduto da boa música, inspirado no tradicionalíssimo bar do hotel Carlyle, em Nova York, completa 18 anos em 2017. Desde que o cantor e pianista Bobby short tocou as primeiras notas por lá, a noite paulistana não foi mais a mesma.


. . .
Cinco décadas mais tarde (2003), perto da reinauguração do Baretto, Rogério (Fasano) convidou Caetano Veloso para fazer o primeiro show da nova etapa da casa.

Caetano topou, e cantou o repertório de A Foreign Sound, composto de clássicos da canção norte-americana. Novamente soou no Baretto um tipo de música a cada dia menos ouvida, igual àquela tocada por Bobby Short na primeira inauguração, em 1999.

Não foi por mero acaso. Com Rogério, toda minúcia é levada em consideração (o tal detalhe, lembra?). É assim que esse “anglófilo paulistano italianado”, conforme o descreve Caetano no livro Fasano 100’ Anni in Brasile (2010), vai levando adiante, entre o bar e o hotel, um trabalho que, se nunca acaba, rende elogios como o do mesmo Caetano: “Fazer show no Baretto e depois ter um apê para morar no Fasano me levou a sentir desde dentro a beleza que essa cidade pode criar e vai criando”.




No hay comentarios:

Publicar un comentario