Maria
Violeta Arraes
de Alencar Gervaiseau (Araripe,
Ceará, 5 de maio de 1926 - Rio de Janeiro, 17 de junho de 2008)
VIOLETA ARRAES — O Caetano faz parte dessa geração utópica de antes de 64 sem ser militante político. Eu o conheci pessoalmente quando ele foi exilado. Uma das grandes afinidades que eu tenho com Caetano é que ele é um rapaz interiorano, que chegou de Santo Amaro. Santo Amaro é o Crato. Vimos muitas coisas juntos. Falávamos de espetáculos, shows, exposições e mesmo de moda. Há duas músicas dele que me tocam em particular. Uma delas é “Língua”. Eu estava em Portugal no momento em que saiu a primeira edição do “Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa. Lá, estava escrito: “A minha pátria é minha língua”. Parecia a descrição do primeiro elan amoroso. A mesma emoção. Eu fiquei tão fascinada que comprei quatro exemplares. E mandei um para Caetano de imediato. Passou-se o tempo e ele fez aquele coisa maravilhosa e teve a generosidade e o afeto de me dedicar. A outra música tem a ver com a poluição. Uma vez Caetano chegou à nossa casa e eu estava com uma reportagem que falava muito de poluição. A reportagem dizia que o segundo lugar mais poluído do Brasil era Santo Amaro. Eu disse a Caetano: “Olha, nunca lhe pedi nada e tive grandes brigas com pessoas que comparam você a Chico e dizem que a música dele é engajada e a sua não. Tenho horror disso. Mas há uma coisa que preciso pedir a você. Você tem que fazer algo sobre a poluição”. Ele me respondeu que não adiantava, que todo mundo reclamava e não resolvia. Aí, eu disse que, se ele fizesse uma canção, haveria outra repercussão. Ele compôs “Purificar o Subaé”, que é linda porque denuncia a poluição de maneira ao mesmo tempo solene e afetiva, carinhosamente pessoal. . . .”
JACKSON ARAUJO — Você também
conheceu Maria Bethânia na França?
VIOLETA ARRAES — Sim, a conheci em Paris
e desde então somos amigas. Também Gil e várias outras pessoas que forçosamente
acabaram vivendo no exterior. Com os baianos havia laços especiais, por conta
da arte popular, da música, da nordestinidade e do interioranismo. Já fui
várias vezes a Santo Amaro.
Fiquei muito impressionada na primeira vez em que estive na
casa de Canô. Como é tudo parecido! A casa, os móveis, a maneira de viver,
tudo!
Violeta Arraes, em depoimento a Jackson Araujo, 2006.
Violeta Arraes e o marido Pierre Gervaiseau, com Maria Bethânia nos anos 80.
Violeta Arraes, Maria Bethânia, dona Canô e
Mabel Velloso em Santo Amaro Foto: Acervo Maria Bethânia Pág. 149 do livro "Então, Maria Bethânia" (Bia Lessa) |
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