jueves, 30 de mayo de 2024

2001 - BISCOITO FINO - Maria Bethânia

 























21/09/2001

 

Maria Bethânia troca BMG por gravadora brasileira

 JOÃO BERNARDO CALDEIRA

JB Online 

"É uma revolução no mercado fonográfico brasileiro". Parece exagero, mas não é. Com essa afirmação, a empresária da cantora Maria Bethânia, Maria Luisa Jucá, resume a transferência da baiana, que deixou a multinacional BMG e assinou um contrato de cinco anos com a gravadora brasileira Biscoito Fino, com apenas um ano de existência. 

A notícia seria divulgada na próxima semana, mas o colunista Ricardo Boechat adiantou hoje aos leitores do JORNAL DO BRASIL.

 Disputada por duas grandes gravadoras multinacionais, por quê Maria Bethânia, com 35 anos de carreira, decidiu escolher a desconhecida e recém criada Biscoito Fino? Maria Luisa esclarece:"A Kati deixou a Bethânia à vontade, porque pensa a longo prazo e questiona o imediatismo do mercado brasileiro". 

À frente do Grupo Icatu, sócia da Conspiração Filmes e do novo selo, entre outros empreendimentos, a empresária Kati Almeida Braga apostou na qualidade, sem abusar da usual pressão que se faz sobre os artistas, para conquistar a cantora. "A Bethânia gostou do conceito. Decidimos investir em poucos talentos, mas no melhor da MPB. 

Daremos dedicação total e um contrato de longo prazo", explica. 

Além disso, os três discos previstos pelo contrato com a BMG já foram lançados (A Força que Nunca Seca, Diamante Verdadeiro e Maricotinha, este último nas lojas a partir deste mês), o que acabou liberando a baiana para decidir seu futuro. 

Com o mercado vendendo 50% a menos do que no ano passado, segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), a mudança pode significar uma nova maneira de equilibrar interesses mercadológicos e liberdade artística. "Para uma multinacional não importa se trata-se de É o Tchan ou Maria Bethânia", diz a empresária da cantora. "O que importa é vender. E é por conta dessa nova proposta da Kati que a Bethânia se sentiu à vontade para ingressar na Biscoito Fino". O primeiro disco da nova parceria deve chegar às lojas no primeiro semestre do próximo ano.

 

Rio, 21 de setembro de 2001 

Bethânia troca multinacional por pequeno selo 

João Pimentel

Não durou nem um dia o propalado desemprego de Maria Bethânia. O fim  do contrato com a BMG e a não-renovação com a multinacional, mais do que o simples rompimento de uma parceria de anos, representou mais uma guinada na carreira da cantora, agora contratada da pequena  gravadora Biscoito Fino. 

Segundo a empresária de Bethânia, Maria Jucá, a cantora fez uma  opção por um outro tipo de relação artística. 

— Bethânia tinha propostas de multinacionais e também da Biscoito Fino, através da Kati Almeida Braga, sócia de Olívia Hime. Foi uma questão conceitual — diz a empresária.

— Depois de 35 anos de uma carreira marcada pela autenticidade, ela continuará realizando seu trabalho sem as pressões de mercado. 

Olívia Hime acredita em um casamento perfeito. 

— Bethânia quer mudar sua forma de trabalhar e vamos oferecer tudo o que ela precisar. Ela vai ter tempo para elaborar seus projetos. Bethânia é uma figura emblemática e estamos muito honrados. 


 

Maria Bethânia



Bethânia foi a primeira cantora brasileira a atingir a marca de 1 milhão de discos vendidos, com Álibi, em 1978. Nada mal para quem, quando menina em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, sonhava em ser atriz. Sua estréia nos palcos aconteceu em 1963, em Salvador, cantando um samba de Ataulfo Alves na peça Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues.

Em 1964, Maria Bethânia e músicos iniciantes como seu irmão Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé montaram o espetáculo Nós Por Exemplo, em Salvador. Bethânia tinha apenas 19 anos quando recebeu de Augusto Boal um convite para substituir Nara Leão no antológico espetáculo Opinião, no Rio de Janeiro. Logo na primeira apresentação, a baiana arrebatou a platéia carioca interpretando Carcará, de João do Vale e José Cândido. No mesmo ano gravou seus primeiros discos e pouco depois estaria sendo chamada de Abelha Rainha da MPB.

Maria Bethânia já lançou mais de 30 discos, tendo dividido alguns com grandes nomes da MPB, como Edu Lobo, Chico Buarque e os Doces Bárbaros (Caetano, Gil e Gal Costa). Em 2002, ela lançou em CD o tão aguardado Maricotinha Ao Vivo, pela Biscoito Fino. Em 2003, foram lançados o DVD de Maricotinha Ao Vivo e o CD Cânticos Preces Súplicas à Senhora dos Jardins do Céu.

Ainda em 2003, Bethânia cria o selo Quitanda, em parceria com Kati Almeida Braga, pelo qual lançou o CD Brasileirinho e Namorando a Rosa, homenagem à Rosinha de Valença, onde vários intérpretes lembram a violonista, inclusive Bethânia, que canta quatro músicas, duas delas dividindo o microfone com Joanna e Caetano Veloso. Em 2005, a BF lançou Que Falta Você me Faz, uma homenagem de Bethânia ao poetinha Vinicius de Moraes.

 


Maria Bethânia

Entrevista



1) Sua mudança para uma gravadora independente depois de 35 anos em multinacionais constitui uma atitude sem precedentes na indústria fonográfica brasileira. O que motivou você a tomar esta decisão?

Tenho muito orgulho de estar na Biscoito Fino, porque é uma gravadora que tem como principal artista a música popular brasileira. Isso me interessa e sempre me interessou. A convite de Kati Almeida Braga e Olivia Hime eu acabei aqui, o que acho muito bom, um luxo, muito sofisticado. E passei por todas as gravadoras multinacionais que existem no Brasil. Fui e voltei várias vezes. Estava na BMG e no final do contrato a gravadora não me procurou pra renovar porque meu contrato era muito caro. Então fiz um acerto com a Kati para fazer projetos especiais na Biscoito Fino. Logo depois ela me procurou para dizer que queria a cantora. Um contrato normal, três discos de carreira e mais os projetos especiais que eu fizesse durante cinco anos. Eu achei aquilo ótimo, uma boa idéia, porque senti, além do amor à música popular brasileira, uma qualidade administrativa diferente, apaixonada, encantada pelo trabalho, um lastro firme, seguro, sem precisar ameaçar o artista. Me senti bem como nunca me senti na vida.

2) Maricotinha ao Vivo pode ser considerado tecnicamente um dos discos ao vivo mais bem realizados na história da MPB. O palco é mais quente do que o estúdio?

A qualidade sonora do Maricotinha ao Vivo realmente é extraordinária, porque eu convidei o Moogie para fazer a produção, a gravação, todo o trabalho sonoro do disco. E ele é um excelente técnico, reconhecido mundialmente e se apaixonou pelo show. Eu conheço o Moogie há muitos anos, tenho vários discos feitos com ele, mas ele ficou louco pelo Maricotinha. Gravou as quatro noites com muita paixão, se divertindo muito. Acho que isso trouxe para o disco um calor do show ao vivo. E acho que ele merece todas as reverências, porque é um trabalho realmente espetacular, fora do normal num show gravado ao vivo, no Brasil ou no exterior. O palco tem uma diferença natural do estúdio. Porque o estúdio é de uma solidão! Você fica ali sozinha resolvendo, intuindo, enquanto o palco é o contrário. São milhares de pessoas esperando para compreender, sentir ou gostar. E aquilo já estimula você a mexer com o seu calor, com a sua energia, com tudo. Eu amo as duas coisas, tanto o palco quanto o estúdio, com as suas diferenças. O palco prá mim é o lugar sagrado, onde eu me sinto melhor na vida, acho bonita aquela coisa, tudo ali é fascinante.




3) Você costuma dizer que Caetano Veloso e Chico Buarque são os compositores cujas canções melhor se adaptam às suas interpretações. Que nomes da nova geração da MPB você considera complementares aos de sua geração e por que?

Eu na verdade, quando falo de Chico e Caetano - e quem sou eu para dizer que suas canções se adaptam à minha voz? - é porque os dois foram os que mais confiaram canções à minha voz. Eu me sinto comovida e adoro cantá-los. Eles são extraordinários. Não precisa eu lhe dizer, todo mundo sabe. É isso. Eles são os mais importantes da minha vida profissional porque foram os que mais me deram canções. Isso foi fazendo a minha história. Sou uma intérprete que aprendi a cantá-los, a interpretá-los e talvez eu me sinta mais em casa nas suas canções. Eu acho assim: tem uma coisa meio errada no Brasil que é “quem substitui ou quem corresponde a Chico e Caetano na geração nova?”. Eu acho que por aí a pergunta fica errada. Existe renovação na música popular brasileira? Eu acho que existe e existe da melhor qualidade. Agora, fica parecendo que a nova geração está devendo porque quer se comparar. Seria a mesma coisa dizer de Caetano, Chico, Gil, Milton quando apareceram, esta geração deslumbrante, “não é igual a Caymmi, a Noel Rosa, a Ary Barroso”. E não são mesmo. São diferentes. O mundo é outro hoje. Então a nova geração tem que cantar o que o mundo lhe oferece. É muito mais duro do que era na nossa época, muito mais frio, mais neutro. Na nossa época era muito envolvimento, muita paixão, sonho, quer dizer, a nossa geração viveu muito isso. Mas acho que na nova geração de compositores e cantores no Brasil temos o Lenine, extraordinário, Adriana Calcanhoto, Chico César, Vanessa da Mata. São artistas muito fortes. Ana Carolina, a Cássia Eller, prá mim a maior expressão, mas era mais uma intérprete do que uma compositora, talvez por isso ela tenha me tocado tanto sempre. Mas acho que todos estão fazendo de maneira tão própria, tão firme e tão expressiva na sua maneira de ser. Mas se ficar esperando que o Chico César componha igual ao Chico Buarque vai dar confusão.

4) A sua seleção de poesias é tão rigorosa quanto a das músicas? Você lê muito, costuma descobrir novos autores tanto na literatura quanto na música?

Eu ouço os discos quando chegam: dos colegas, dos principiantes, dos anônimos, dos famosíssimos. Faço a minha seleção ali. Gosto de música negra americana, gosto da nossa música. E leio. Ultimamente não tenho lido muito não. Quando eu viajo eu leio um pouco mais. Me estimulam as livrarias fora do Brasil. São lindas e fico fascinada com os espaços, a facilidade que você encontra. Vou comprando e lendo. Mas o meu rigor tanto para música quanto para poesia é a emoção. Se emocionar, eu falo ou canto.




Bethânia espanta a crise, abre selo e grava terceiro disco em menos de três anos


                                                                    Arquivo U.M

Alheia à crise do mercado fonográfico, Maria Bethânia 
está lançando o selo Quitanda, através do qual coloca 
nas lojas seu terceiro CD em menos de três anos, Brasileirinho


Que crise que nada. Depois de surpreender o mercado fonográfico, em 2001, ao trocar a multinacional BMG pela então recém-criada gravadora Biscoito Fino, de Olivia Hime e Kati Almeida Braga, e de lançar dois trabalhos por ela (Maricotinha Ao Vivo e Cânticos, Preces E Súplicas À Senhora dos Jardins dos Céus), Maria Bethânia caminha contra a tão propalada crise do mundo do disco e lança seu próprio selo, Quitanda, que é distribuído pela Biscoito Fino e tem como sócia ninguém menos senão Kati Braga. A proposta, segundo Bethânia, é que o selo seja completamente diferente do que se vê por aí no “mercadão”, misturando música, teatro e literatura, em prosa e poesia.

E o primeiro trabalho de Bethânia por seu selo é um CD autoral: Brasileirinho, o terceiro disco dela em menos de três anos (Maricotinha Ao Vivo foi lançado no final de 2001 e ganhou recentemente o disco de ouro; e Cânticos... foi lançado em 2002). Como o nome já indica, o CD tem como mote o Brasil, mas do ponto de vista do sincretismo religioso. Bethânia também explora ao máximo a leitura de poemas, apenas exacerbando o que é uma tradição em sua carreira.

A cantora aborda em diversos momentos a relação entre os santos católicos e os orixás da umbanda, como em São João Xangô Menino (clássico de Caetano e Gil que a própria Bethânia gravara, com a dupla de compositores e Gal Costa, no grupo Doces Bárbaros), e até mesmo o universo indígena é representado na faixa Senhor da Floresta (René Bittencourt e Augusto Calheiros).

A primeira faixa de trabalho, que já está tocando bem nas rádios, é Santo Antônio, de J. Velloso. Ainda na linha do catolicismo há Padroeiro do Brasil, que fala de São Jorge e tem a participação do grupo de choro Tira Poeira), e Sussurana (Heckel Tavares e Luiz Peixoto), com Nana Caymmi.

No lado da umbanda, as referências mais claras são em Salve As Folhas (Gerônimo e Ildásio Tavares), com a participação do grupo Uakiti e a leitura, feita por Ferreira Gullar, do poema O Descobrimento, de Mário de Andrade; Cabocla Jurema (domínio público), com citação de Ponto de Janaína (D.P. ) e participação de Miúcha, além da leitura do poema O Poeta Come Amendoim, também de Mário de Andrade, por Denise Stoklos; e Purificar O Subaé (Caetano Veloso), com um trecho de Cantiga para Janaína (2) (D.P.) e leitura de Poema Pátria Minha, de Vinicius de Moraes. Também é possível ver ecos da religião em Yáyá Massemba e Ele É O Meu Capitão.
O disco acaba com a bela Melodia Sentimental, de Villa-Lobos e Dora Vasconcellos. Nada comercial, como quer Bethânia.

 

Samba de roda na voz de Dona Edith



                                                Reprodução

Outro lançamento do selo Quitanda é 
Vozes da Purificação,
de Dona Edith do Prato.
Ela esbanja suingue raspando a faca no prato,
em músicas na maioria de domínio público



O segundo trabalho do selo Quintanda traz o samba de roda de Dona Edith da Purificação, 72 anos, conterrânea de Bethânia e Caetano da cidade baiana de Santo Amaro da Purificação, no CD Vozes da Purificação. Ambos, aliás, participam intensamente do disco. Bethânia – que gravara com Dona Edith em seu disco Ciclo, na faixa Filosofia Pura – canta no pot-pourri Quem Pode Mais, Dona de Casa e Eu Vim Aqui. O mano Caetano – responsável pelo “surgimento” musical de Dona Edith, ao lançá-la em seu LP Araçá Azul – participa diretamente, cantando, e indiretamente de Minha Senhora, pois a faixa traz como música incidental How Beautiful, do filho Moreno Veloso.

Outro ponto em comum entre Brasileirinho e Vozes da Purificação é a presença de J. Velloso, que, além de produzir este último, assina Raiz, música incidental que aparece em Casa Nova, que ainda tem a participação de Mariene de Castro. À exceção de Hino de Nossa Senhora da Purificação, de Carlos Sepúlveda, que aparece de forma incidental em Viola Meu Bem, todas as demais canções são de domínio público. Entre elas, Marinheiro Só, Tombo do Pau, Senimbu E Calolé, Ai Dindinha (com Mené Barreto) e Santo Amaro Ê Ê (com Erlon Portugal).

Em todas as 13 faixas do disco – que foi lançado inicialmente em 2002, numa tiragem limitada – Dona Edith aparece tocando de forma bem suingada seu tradicional prato e cantando acompanhada do grupo Vozes da Purificação, formado por sete septuagenárias vozes femininas.





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