viernes, 20 de enero de 2023

1997 - O VÔO DE GAL CONTRA OS URUBUS


Cantora lança movimento contra lixão perto do Aeroporto Internacional, depois de levar susto em avião atingido por uma ave





26 de junho de 1997












                                                                     Foto: André Arruda








São Paulo, segunda, 14 de julho de 1997


Gal relê Gal entre urubus e aviões

Enquanto faz campanha para fechar lixão perto de aeroporto, cantora grava 'Acústico' na MTV

ARMANDO ANTENORE
da Reportagem Local


Em 1968, bêbada de juventude, Gal Costa se deixou seduzir pela vanguarda e virou musa do tropicalismo. O movimento -que extraía imagens poéticas de aviões sobre a cabeça e urubus entre girassóis- propunha a internacionalização da MPB (e do país).

Hoje, com 51 anos, Gal está se preparando para gravar um "Acústico" na planetária MTV. Globalizou-se, mas continua de olho em urubus e aviões.

Desde maio, encabeça uma campanha inusitada no Rio. O alvo é o aterro sanitário que fica perto do aeroporto do Galeão.

A cantora quer desativá-lo. Teme que os urubus do lixão invadam as turbinas dos aviões e os derrubem.

Calcula que já amealhou para a cruzada mil assinaturas, incluindo as de Caetano Veloso, João Bosco e Milton Nascimento.

Tentou, recentemente, conversar sobre o assunto com o governador Marcello Alencar. "Marcamos três encontros, mas ele cancelou todos. Para mim, agora, chega. Vou até certo ponto, depois..."

Gal já esteve, ela mesma, num Boeing que abortou a decolagem por sugar um urubu. Mesmo assim, acha que não legisla em causa própria. "O problema é sério. Ameaça a aviação e a saúde pública, porque o aterro traz doenças à população daquela área."

Se mantém um olho nos aviões, resguarda o outro para os jovens. Com o "Acústico" que grava quinta-feira, às 21h, no Memorial da América Latina (SP), pretende não só revisar a carreira de 30 anos, mas principalmente chegar "à garotada".

A MTV exibirá o programa em setembro. Vai transformá-lo, como de praxe, num CD.

O disco -da BMG- deverá ter 18 canções, todas com arranjo de Wagner Tiso.
Acompanharão a cantora uma orquestra de 36 músicos e um time eclético de convidados: Frejat, Herbert Vianna, Tony Garrido, Mestre Ambrósio e, ainda dependendo de confirmação, o saxofonista norte-americano Kenny G.

É o primeiro disco solo ao vivo da artista desde o célebre "Fatal", de 1971. 

O repertório priorizará canções daquela década e dos anos 60.
"Quem gostava de mim na época? Os vanguardas, os malucos, os loucos. Os caretas gostavam de Bethânia. Mas, com o tempo, meu público se modificou. Eu mesma mudei o jeito de me vestir. Hoje sou uma cantora de quem todo mundo gosta. Então, é legal recuperar o passado para os jovens. Mostrar: olha, tenho história."

Do passado, porém, Gal resgatou apenas canções. Não incluiu, entre os convidados, o compositor Luiz Melodia, que lançou em 1971.
"Pois é, rapaz, esqueci. Mas ainda está em tempo de a gente se reencontrar. Ele até me trata por madrinha", disse a cantora na semana passada, durante entrevista à Folha, em um hotel cinco estrelas de São Paulo.

Pediu licença, sacou o celular e discou para o produtor Mazzola: "Se o Kenny G não vier, convide o Melodia".

Com o programa, Gal deseja homenagear sobretudo "a adolescente" que ainda considera ser.

"Continuo corajosa como os jovens, embora mais técnica e segura." Corajosa também significa sem medo das novas cantoras.

"O dia em que me sentir ameaçada por quem está chegando penduro a chuteira. Minha geração é imbatível, cara. Nós somos foda. Pode escrever -com maiúscula."



O repertório cogitado

. "Coração Vagabundo" (Caetano Veloso)
. "Tropicália" (Caetano Veloso)
. "Baby" (Caetano Veloso)
. "Divino, Maravilhoso" (Gilberto Gil-Caetano Veloso)
. "Não Identificado" (Caetano Veloso)
. "Que Pena (Ela Já Não Gosta Mais de Mim)" (Jorge Ben)
. "Meu Nome É Gal" (Roberto Carlos-Erasmo Carlos)
. "Falsa Baiana" (Geraldo Pereira)
. "London, London" (Caetano Veloso)
. "Você Não Entende Nada" (Caetano Veloso)
. "Pérola Negra" (Luiz Melodia)
. "Sua Estupidez" (Roberto Carlos-Erasmo Carlos)
. "Vapor Barato" (Jards Macalé-Waly Salomão)
. "Índia" (J.A. Flores-M.O. Guerrero-versão José Fortuna) (*)
. "Barato Total" (Gilberto Gil)
. "Só Louco" (Dorival Caymmi)
. "Negro Amor" (Bob Dylan-versão Caetano Veloso-Péricles Cavalcanti) (*)
. "Folhetim" (Chico Buarque)
. "Paula e Bebeto" (Caetano Veloso-Milton Nascimento)
. "Balancê" (João de Barro-Alberto Ribeiro)
. "Força Estranha" (Caetano Veloso)
. "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso)
. "Camisa Amarela" (Ary Barroso)
. "Festa do Interior" (Moraes Moreira-Abel Silva)
. "O Amor" (Caetano Veloso-Ney Costa Santos-Vladimir Maiakovski)
. "Vaca Profana" (Caetano Veloso)
. "Lanterna dos Afogados" (Herbert Vianna)
. "Teco-Teco" (não incluída em álbuns da cantora)


(*) músicas já eliminadas do roteiro









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