“Quando, fui a Salvador, com o Luciano Figueiredo, para fazer
as fotos da capa dupla, do LP "Aracá Azul", me deparei com esta
replica do poema "viva vaia ou vaia viva", na casa do Caetano e não
poderia ter deixado de tirar essa antologica fotografia para o Augusto de Campos...
Na epoca, até, imaginei que o Luciano poderia te la incluido no designer da
capa... mas, como as fotos escolhidas, por causa do propio titulo do disco
tinham sempre o fundo ou o tom azul, ela acabou ficando de fora...”
“Acabou sendo bom, essa foto do Caetano, não entrar na capa do "Aracá Azul"... porque, ela acabou ganhando vida propria ao virar a capa de um compacto que o Augusto de Campos gravou com o Caetano Veloso e foi lancado dentro da lendaria "Caixa Preta" que o Augusto criou com o Julio Plaza, em 1975.”
[Ivan Cardoso, Facebook]
Na quinta temporada do programa "O som do vinil", que estreia nesta sexta-feira (06/05/2011), no Canal Brasil, Charles Gavin (ex- Titãs) traz Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Elmir Deodato, Ronnie Von e outros artistas comentando sobre a arte e criação de um de seus discos.
No primeiro
programa, o baiano Caetano Veloso é o convidado e comenta "Araçá
azul", de 1972, álbum experimental que gravou praticamente sozinho, após
voltar de Londres.
"Esse é um disco de que Caetano gosta muito. E foi mal compreendido naquela época e hoje ainda. Foi visto como um disco esquisito. Adoro fazer esse trabalho, porque eu vibro com esse tipo de história. É uma oportunidade única saber o que o artista pensou ao compor determinado trabalho" diz o apresentador ex-baterista do Titãs.
O som do vinil - Episódio 85 - Araçá azul (Philips, 1972). |
Araçá Azul - Ficha
técnica
Direção
de Produção: Caetano Veloso
Assistente
de Direção: Guilherme Araújo
Técnico
de Gravação: Marcus Vinicius
Estúdio:
Eldorado SP
Arranjos:
Perinho Albuquerque, Caetano Veloso & Rogério Duprat (na faixa “Épico”)
Capa:
Luciano Figueiredo & Oscar Ramos
Fotos: Ivan Cardoso
“Tive um sonho
muito bonito, mas que era muito inquietante: eu sonhei que eu subia num
araçazeiro, que era bonito como eu lembrava e era muito vívido. Então eu ficava
procurando um araçá que tivesse de vez, num ponto maravilhoso, que é como a
gente fala quando o araçá ainda não está maduro, a gente fala “de vez”, na
Bahia. Daí fui mais pra cima, era meio alto, e quando olhei eu vi um araçá que
era como se tivesse logo antes de ficar maduro, no ponto, mas ao invés de ser
verde, ele era azul, em meio à todas as folhas verdes e aos outros araçás
verdes, ou amarelos quando já maduros. Aquele azul era uma cor incrível, eu
sentia um deslumbramento quase místico, um negócio profundo, um negócio grande.
Foi quando eu vi os galhos mexendo e era a Bethânia subindo. Às vezes ela subia
no araçazeiro comigo. Ela era menor do que eu, muito menor, mas eu sonhava ela
já grande, subindo no araçazeiro e eu ia dizia a ela: “Bethânia, venha ver uma
coisa linda, uma coisa incrível! Um araçá azul!”. E ela dizia: “Ah, que nada!
Isso é coisa dos japoneses! Eles fazem experiência de genética”. Aí eu disse:
“Não Bethânia, é uma coisa única, uma coisa linda!”. Eu ia colher para mostrar
a ela, mas ela falou: “Não tire! Se você tirar eu me mato, eu me jogo daqui!”.
E se prendeu no galho com as pernas, assim por trás do joelho; eu aproximei a
mão do araçá e ela se jogou. Aí ela riu, gargalhou na minha cara porque ela
tinha me enganado, ela tinha pulado para outro galho e ficado balançando,
rindo. Aí, eu disse assim: “Puxa vida! Que susto!”. Então eu tirei; quando eu
tirei, ela se jogou. Eu acordei desesperado porque ela tinha se jogado, se
matado. Eu nunca tinha feito psicanálise, mas o Rogério ele fazia. Ele me falou:
“parece que você está me dizendo que tem medo de fazer a sua própria coisa, que
isso possa ser destrutivo para Bethânia ou você tem ciúme por ela já ter uma
projeção nacional e você não ter”. Ele fez uma interpretação totalmente
psicanalítica. E era boa, valia; depois eu fiz psicanálise, já ouvi quatro
psicanalistas sobre isso, e foi variando a interpretação.”
“A capa foi Luciano Figueiredo. Esse pé é dele. Ele está segurando o espelho onde eu estou refletido com o umbigo em primeiro plano. Quem fez as fotos foi Ivan Cardoso. O Luciano Figueiredo ouviu como eu imaginava que deveria ser a capa e planejou, e o Ivan Cardoso fez as fotos. Eu morava em Salvador, fui a São Paulo só pra gravar o disco, passei dez dias e voltei para Bahia. Isso aqui foi tudo fotografado na frente de minha casa em Salvador naquela época, que era em Amaralina. Foi isso, foi o Luciano Figueiredo com o Ivan Cardoso de fotógrafo. Fomos a Santo Amaro, e lá ele fotografou a Edith e me fotografou numa parede que estava descascando. Esta foto é em Amaralina, na frente da minha casa, isso aqui está lá até hoje, no Largo do Budião. Eu estava muito magro, fica mais feio na fotografia, eu não era feio. Nessa fotografia estou muito feio. Eu era muito magro, mas não ficava feio assim sempre como tava aí. Estou parecendo o Zeca, o meu filho.”
Foto: Ivan Cardoso - Fonte: Arquivo Nacional |
Foto: Claus Meyer / Camara Três |
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