jueves, 13 de diciembre de 2018

2018 - O CU DO MUNDO



“Fuçar a obra alheia é o meu trabalho de intérprete. Eu sou uma compositora, mas eu sou igualmente uma intérprete. São canções que eu gostaria de ter feito, que de alguma maneira quero trazer pra mim no sentido da apropriação”
[Adriana Calcanhotto]




2018 – ADRIANA CALCANHOTTO
“O cu do mundo"
Single Sony Music Entertainment



Vídeo da faixa estrelado pelo grupo do Teatro da PombaGira



Ficha técnica
“O Cu do Mundo”
Compositor: Caetano Veloso
Intérprete: Adriana Calcanhotto
Produção Musical: DJ Ubunto e DJ Zé Pedro
Mixagem de Áudio: Rafaela Prestes
Duração: 2min30s
Clipe – “O Cu do Mundo”
Direção e Montagem: Murilo Alvesso
Conceito Visual, Cenografia, Coreografia, figurinos e encenação: Teatro da PombaGira
Performers: Andrew Tassinar, Hugo, Lua Negrão, Mateus Rodrigues, Marcelo D’Avilla, Promiskua, Renato Teixeira, Ricardo Mesquita, Snoo, Victor Rosa e Wesley Lima
Direção de Fotografia: Lola Zola, Murilo Alvesso e Rogério Dragone
Direção de Produção: Jorge Yuri
Produção Executiva: Victor Dias
Assistência de Produção: Aline Miniussi
Produção – Galpão 833: Wilma Santos
Making of / Still: Sillas Henrique e Vini Poffo

Apoio
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Galpão 833

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Correio Brasilienze

Adriana Calcanhotto ao Correio: "Estou ficando cada vez mais brasileira"


Integrando o corpo acadêmico da Universidade de Coimbra, Adriana Calcanhotto conta que a experiência em Portugal a aproximou do Brasil e retrata isso em canção inédita



Adriana Izel
09/12/2018


Adriana Calcanhotto foi buscar em Oswald de Andrade as referências para A mulher do Pau Brasil - Foto: Renan Perobelli / Divulgação



Dedicar-se à vida acadêmica nunca foi algo esperado na vida da cantora Adriana Calcanhotto, que, aos 18 anos, largou os estudos para seguir com a carreira musical. Porém, no ano que vem, a gaúcha completará dois anos de residência em Coimbra, cidade universitária em Portugal onde ministra aulas, faz pesquisas e atua como embaixadora da universidade.

“É interessante a sensação de me ver inserida na tradição acadêmica, de olhar o Brasil do ponto de vista de Coimbra. Sendo que, na verdade, eu larguei o colégio para me aventurar pela música. Eu achei que a coisa acadêmica na minha vida estava cumprida. Apesar de ser de uma família de professores, eu tinha convicção de que o mundo acadêmico não me interessava, muito porque eu sempre achei que se perdia tempo com os métodos acadêmicos. Sempre preferi estudar sozinha. Mas esse momento, com pessoas lá que pensam o Brasil, a história do Brasil, de Portugal e do mundo, a origem da literatura e da poesia ocidental... Tudo isso é muito interessante”, revela, em entrevista ao Correio.

Essa conexão com o estudo também levou Adriana a um momento de envolvimento com a música mesmo durante um período de afastamento dos palcos. É que uma das atividades previstas na programação da cantora em Coimbra era uma residência artística. “O produto disso poderia ser qualquer coisa. Aí me dei conta de que, durante esse semestre, eu fiquei pensando sobre o Brasil, sobre isso que o Oswald de Andrade falava, que, na verdade, permeou a minha trajetória e o meu trabalho desde sempre de modo mais ou menos explícito. Então achei que cabia naquele momento, uma vez que as pessoas estavam me perguntando muito se eu estava ficando europeia ou portuguesa e eu respondia: ‘não, estou ficando cada vez mais brasileira, quanto mais eu vou, mais brasileira eu sou e me sinto’”, revela.

Desse sentimento veio a canção inédita A mulher do Pau Brasil, que leva o nome do show feito por Adriana Calcanhotto pela primeira vez em 1987, em Porto Alegre, e que retornou aos palcos em Coimbra e depois seguiu para uma turnê no Brasil que termina em fevereiro, quando a gaúcha precisa retornar para assumir um novo ano acadêmico em Coimbra.

“Eu tinha que fazer um show em Coimbra bem no finalzinho do semestre, que serviu como despedida, então eu encarei isso como um show-tese, um show que toca nos assuntos sobre os quais eu pensei durante esse semestre de aulas e residência. Aí escrevi essa canção que abre o show e fala sobre essa trajetória”, explica. A música é a primeira inédita de Calcanhotto desde 2015 e está disponível nas plataformas digitais desde 23 de novembro, além de ter tido um clipe dirigido por Dora Jobim e Gabriela Gastal com imagens da turnê.

Temas atuais
Em A mulher do Pau Brasil, Adriana Calcanhotto resgata os impactos da poesía Pau Brasil, do Movimento Modernista e de Oswald de Andrade em sua trajetória musical em trechos como: “Nasceu no Sul,/ foi para o Rio/ E amou como nunca se viu/ Depois do Rio que tragou/ No além-mar onde emergiu/ Chamou-se a mulher do Pau Brasil”. E também, de certa forma, está alinhada com o momento atual da mulher no cenário artístico, desafio que ela diz ter sido mais fácil para ela graças à presença de Marisa Monte na cena brasileira.

“Quando Marisa Monte apareceu, ela abriu muitas portas para nós, mulheres da geração dela, porque ela é dona das canções dela, produz, canta. Tudo isso parece muito normal hoje, mas não era assim naquele momento. Então, ela ajudou muito as cantoras contemporâneas delas, como eu, Cássia (Eller) e Zélia (Duncan). O mundo executivo da música, os técnicos, os produtores, as pessoas dentro do estúdio, em geral, era exclusivamente masculino. Hoje isso está mudando. Quem faz a engenharia de som do meu show é uma menina. Vejo meninas dentro do estúdio. É muito lento e muito batalhado, mas acho que estamos andando”, analisa.

Uma semana após ter lançado A mulher do Pau Brasil nas plataformas digitais, Adriana Calcanhotto divulgou uma versão de O cu do mundo, música de Caetano Veloso, que ganhou um remix com produção musical dos DJs Ubunto e Zé Pedro. “O cu do mundo foi uma surpresa, porque eu não tava pensando nela para o show. Não fiz na versão lá de Portugal. Mas quando terminei os ensaios no Brasil, eu tinha uma tarefa, que era pegar vários samples de Caetano para usar na música Vamos comer Caetano para interagir com a base da música. Fiz essa gravação em 1998, de lá pra cá, tem muito mais sonoridade (na carreira do músico). Fui rever para ver se tinham sonoridades e frases que tinha a ver com A mulher do Pau Brasil. Peguei o disco Circulador e escutei O cu do mundo, que eu tinha esquecido como era. Quando eu ouvi, eu tive um impacto, um choque e falei: ‘Meu Deus, essa música está falando de hoje e não de 1991’”, lembra.

Assim veio a ideia de Adriana Calcanhotto fazer uma versão própria para a música que diz: “O furto, o estupro, o rapto pútrido/ O fétido sequestro/ O adjetivo esdrúxulo em U/ Onde o cujo faz a curva/ O cu do mundo, esse nosso sítio/ O crime estúpido, o criminoso só/ Substantivo, comum/ O fruto espúrio reluz/ À subsombra desumana dos linchadores/ A mais triste nação/ Na época mais podre/ Compõe-se de possíveis/ Grupo de linchadores”.

“Não me lembro de ter achado tão atual em 1991. O show tava todo ensaiado, mas quando cheguei no estúdio falei: ‘vamos tirar mais uma, porque agora que eu ouvi essa música, tive esse impacto, eu não vou conseguir fazer o show sem ela, sempre vou sentir que está faltando alguma coisa’”. A faixa também ganhou um clipe.

Porém, o lançamento de duas faixas não quer dizer que Adriana Calcanhotto pretende lançar um material da turnê A mulher do Pau Brasil, pelo contrário. “Não tenho pretensão de fazer disco ou DVD de A mulher do Pau Brasil. Ele nasceu para ser um show, tenho a felicidade que virou uma turnê enorme no Brasil, mas ele precisa fechar em fevereiro, porque eu volto para Coimbra”, explica;

Duas perguntas / Adriana Calcanhotto

Você está lançando uma versão de O cu do mundo, do Caetano Veloso. Você é uma artista que também gosta de interpretar a música dos outros?
Gosto muito. Eu sou e me considero uma intérprete, dessa escola de intérpretes que gosta da apropriação. Quando eu vou cantar uma música, eu vou cantar aquela música porque eu gostaria de ter feito. Então, ela é tratada por mim como se fosse minha, eu trago para o meu universo. Por isso, eu fracassei na noite, porque eu não sei fazer cover, só sei cantar do meu jeito. (risos)

Como foi para você acompanhar todo esse ano atribulado no Brasil de Portugal?
Tem sido riquíssima essa experiência de olhar para o Brasil com esse afastamento um pouco físico. Dá uma ideia um pouco mais otimista. Na verdade, dá essa sensação de que as coisas estão andando, estão em movimento, não importa a direção, importa que estamos em movimento. E é isso que eu acho mais interessante.




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