viernes, 17 de junio de 2016

1988 - CABRERA INFANTE NO BRASIL


23/8/1988 

Cabrera Infante está em SP para Bienal do Livro



O escritor Guillermo Cabrera Infante chegou ontem a SP, a convite da Folha de S.Paulo, da Companhia das Letras e da Câmara Brasileira do Livro para uma série de atividades, na quinta, às 20h30, estará no Masp para um debate com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Haroldo de Campos, o crítico Andrés Sánchez Robayna e o articulista da Folha Nelson Ascher.

A viagem de Guillermo Cabrera Infante (escritor cubano, naturalizado inglês) ao Brasil foi organizada por Silvio Cioffi, coordinador de eventos da Folha, Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras e Alfredo Weiszflog, da Câmara Brasileira do Livro, com o apoio da Varig, Maksoud Plaza e Suerdick.



25/8/1988 - Caetano Veloso, Gilberto Gil, Guillermo Cabrera Infante e Haroldo de Campos, poucos minutos antes do encontro onde se debateu sobre cinema, música e literatura. 
Foto: Vidal Cavalcante


25/8/1988 - Debate no Museu de Arte de São Paulo (Masp) com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Haroldo de Campos, Andrés Sánchez Robayna e Nelson Ascher (mediador)


Esse evento, realizado em 1988, foi histórico, pois juntou, depois de décadas, o escritor cubano aos músicos baianos. Os três haviam se conhecido em Londres, onde foram apresentados pelo poeta e tradutor Haroldo de Campos. Aberto por Gilberto Gil, que cantou "Soy Loco por Ti, América", o evento com o autor de "Três Tristes Tigres", "Havana para un Infante Defunto" e "Holy Smoke" foi um happening político-literário onde se falou das conexões culturais Cuba-Brasil, de política e, sobretudo, de literatura. Cabrera, que foi aliado de Fidel, mas rompeu com a Revolução, proclamou-se "um reacionário de esquerda".




26/8/1988 - Palestra no Museu de Arte Contemporâneo


FOLHA DE S.PAULO

Domingo, 28/8/1988


Cabrera faz a melhor palestra para 30 pessoas na Bienal

De todas as conferências em São Paulo do escritor cubano Guillermo Cabrera Infante a da noite da última sexta-feira (26), na 10ª Bienal do Livro, foi  certamente a melhor. Poucas pessoas na platéia do auditório do Museu de Arte Contemporâneo, no Ibirapuera (zona sul de São Paulo), e também na mesa  -apenas o secretário de Redação da Folha, Matinas Suzuki Jr., e o escritor João Silvério Trevisan, tradutor de Infante- garantizaram paz suficiente para o escritor contar fatos curiosos como a censura a seu livro “Havana para um Infante Defunto” nessa quase palestra organizada pelo coordinador de eventos da Folha, Silvio Cioffi.



 
1988
10ª Bienal Internacional do Livro
Apertura: 26 de agosto de 1988 
A décima edição da Bienal do Livro de São Paulo aconteceu no mês de agosto, no pavilhão da Bienal no Ibirapuera.
 

27/8/1988 - Autográfos: Guillermo Cabrera Infante: “Vista do Amanhecer no Trópico”, Companhia das Letras, às 16h.

 
CABRERA INFANTE, Guillermo. Vista do amanhecer no trópico. Tradução [do espanhol e do inglês] e Josely Vianna Baptista e José Antonio Arantes. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. 171p. Título original espanhol: Vista del amanecer en el trópico.






FOLHA DE S.PAULO
Ilustrada

Quinta-feira, 25 de agosto de 1988.

Saiba sobre o que Cabrera não quer falar

Há perguntas que jamais devem ser feitas a escritores como Guillermo Cabrera Infante. No debate de hoje, no Masp, os compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, o poeta e tradutor Haroldo de Campos, o crítico español Andrés Sánchez Robayna e o articulista da Folha Nelson Ascher devem evitar, por exemplo, um tema como o exílio branco de Infante da Bélgica no início dos anos 60, que acabou motivando sua saída definitiva de Cuba há 22 anos. A política em seu país de origen é um assunto desagradável para o Infante terrível de Havana. Aliás, como tudo que não renda uma boa oportunidade de Cabrera exibir sua verve cómica, uma mistura da tradição wildeana com o humor típico de “gays” cinemaníacos. Ele adora trocadilhos e citações.

Não que Cabrera Infante, como ex - ministro de Fidel Castro, use o charuto para cobrir de fumaça comprometedoras plumas. Ele já fez questão de afirmar que detesta assistir filmes com cenas de amor entre homossexuais, citando particularmente “My Beautiful Laundrette”, do inglês Stephen Frears. Portanto, mais um tema que debe ser evitado, apesar de seu depoimento no documentário de Nestor Almendros, “Conduta Imprópia”, um libelo em defesa dos homossexuais cubanos.

Religião também parece não ser um de seus asuntos prediletos. Sempre que pode insere ofensas teológicas em suas conversas. Talvez goste de falar, no entanto, do polémico filme de Scorsese, “A Última Tentacão de Cristo”, por causa da provocação de orden sexual. Infante, mesmo ao lado da sua mulher Miriam Gómez, fala de garotas com entusiasmo constrangedor. De marxismo, nem tanto.

Semiótica é, sem dúvida, um assunto que lhe interessa. Literatura inglesa também. Poderia falar horas sobre o proceso desconstrutivo de Sterne. Mas não o faça declinar nomes de autores cubanos. Cinema, sim, é a sua paixão, quase tão intensa quanto o gosto pelos charutos que prometeu não acender durante o debate de hoje, em obediência às normas de segurança no Masp. O museu solicita aos convidados e ao público comportamento semelhante. (AGF)






Sexta-feira, 2 de setembro de 1988


FOLHA DE S.PAULO

Ilustrada PÁG. E-4



TRECHOS


Cabrera Infante fala de cinema, livros e música

A Ilustrada publica trechos do debate com Guillermo Cabrera Infante, ocorrido semana pasada no Masp, com a participação de Haroldo de Campos, Gilberto Gil e Caetano Veloso.




Cabrera diz o que pensa de cinema, literatura e música

Da Reportagem Local



Esta é a transcrição de alguns dos temas abordados no debate com o romancista cubano Guillermo Cabrera Infante, ocorrido no último dia 25 no Masp. A mesa foi formada pelo poeta, crítico e tradutor Haroldo de Campos, pelos compositores e cantores Gilberto Gil e Caetano Veloso e pelo poeta e ensaísta español Andrés Sánchez Robayna, mediados por Nelson Ascher, articulista da Folha. O escritor, que também é crítico de cinema e vive exilado em Londres, falou entre outros asuntos sobre a música cubana de hoje, sua experiência como roteirista de “Vanishing Point” (Corrida Contra o Destino, 1971). Também lancou farpas sutis contra o escritor colombiano Gabriel García Marquez, ao falar de Guimarães Rosa. A visita de Cabrera Infante ao Brasil foi organizada por Silvio Cioffi, coordenador de artigos e eventos da Folha, Alfredo Weiszflog, da Câmara Brasileira do Livro, e Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, com apoio da Varig, Maksoud Plaza e Suerdick



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CINEMA

Cabrera Infante: No que se refere ao cinema eu sou um reacionário. Vocês podem me considerar um reacionário de esquerda, mas, é essa a verdade. Eu penso que, a partir desse determinado momento, não há grandes diretores de cinema. Há diretores de cinema que têm bons filmes. E eu teria que pensar, por exemplo, num velho mestre que se chama Samuel Fuller. É o primeiro grande primitivo do cinema americano. Também teria que incluir um director joven, relativamente joven, como Brian De Palma, que faz pastiches de Hitchcock, e de quem gosto inclusive quando não faz pastiches como ocorreu em “Os Intocáveis”. Teria que incluir algum Scorsese. Invariavelmente há um director de cinema como o qual não simpatizo pessoalmente, mas, seus filmes me parecem interessantes, que se chama Francis Ford Coppola. Quase todos são diretores do cinema americano. Eu não vejo, realmente, que haja neste momento grandes diretores do cinema inglês, a menos que trabalhem nos Estados Unidos, como é o caso de Ridley Scott, que é o autor desse filme maravilhoso, que se chama “Blade Runner” e também de “Alien”.

Caetano Veloso: Eu acho curioso que você falou estritamente de diretores americanos e ingleses e nenhum director latino, seja ele francés, italiano e também nenhum escandinavo.

Cabrera Infante: É simplesmente a clase de cinema que me interessaria, a mim, incluir num livro. Por exemplo, eu teria que falar de Fellini, mas fala-se tanto de Fellini que na realidade eu não poderia acrescentar nada. Quanto aos diretores escandinavos o único possível sería Ingmar Bergman, mas eu destesto os filmes de Ingmar Bergman. Recorda-me de ter visto um filme chamado “A Hora do Lobo” e me disse: “Não mais metafísica nórdica”, e eu não voltei a ver um só filme de Ingmar Bergman.


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MÚSICA CUBANA

Caetano Veloso: Eu, há um tempo atrás, com um certo preconceito, confesso, dizia assim: “Eu gostava da música cubana quando Havana era um puteiro”. Assim meio com um preconceito contra a música-canção, de protesto, de esquerda, universitária de boa intenção. No entanto, encontrei compositores cubanos, de quem gostei muito, dessa nova trova e tal. Mas, a outra coisa que me deixou fascinado foi o Djavan, por exemplo, competentíssimo e inspiradíssimo, me dizer e me mostrar coisas, de como há uma complexização daquele negócio dos ritmos.

Cabrera Infante: Vocês têm tanto contato com a música cubana como eu. Mas, eu assisti três documentários e o que vi, francamente, me pareceu lamentável. Quer dizer, os grupos da Nova Trova não eran nem nova, nem trova. Imitavam a Joan Baez a través dos cantores espanhóis como Maciel. Não havia outra. Havia vozes feias, mais isso não é uma música. E mais, a música popular, tanto brasileira como cubana sempre esteve cheia de vozes feias ou de vozes consideradas feias. Houve um concurso de salsa, que era demais patético, porque significa que os músicos cubanos pegavam do estrangeiro, uma imitação de uma música cubana de outra época, que é o que é o fenómeno salsa.


O feito de que a maior cantora cubana se chama Célia Cruz.
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