Foto: Stefani Costa |
“Olha que linda!”, reagiu Maria Bethânia ao receber a
condecoração. A artista mostrou de seguida a medalha ao público, que aplaudia
em uníssono, em Oeiras. |
A cerimónia de entrega da Medalha de Mérito Cultural, que foi presidida pelo ministro da Cultura, aconteceu no sábado à noite, em Oeiras, no final do concerto da artista inserido na 3ª edição do festival Jardins do Marquês, cujo cartaz inclui nomes como Michael Bolton, Joss Stone, Liniker e Sara Correia.
Maria Bethânia apresentou o espetáculo “Fevereiros”, que parte de um documentário de Marcio Debellian sobre a artista.
Durante show, Maria Bethânia comemora inelegibilidade de Bolsonaro: 'Viva o Brasil!'
Redação Alô Alô Bahia
Durante um show que fez no sábado (1º) em Lisboa, Portugal, a cantora baiana Maria Bethânia comemorou a decisão da última sexta-feira (30/6) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro, o que o deixa inelegível pelos próximos oito anos.
"Inelegível! Oito anos! Viva
o Brasil", gritou a cantora em uma pausa enquanto cantava
a canção "Cálice", que é contra as restrições de liberdade impostas
durante a Ditadura Militar no Brasil. A plateia vibrou e aplaudiu a fala de
Bethânia.
2 de julho de 2023
“Inelegível!
Viva o Brasil!”: Bethânia celebra justiça durante show em Portugal
Num show realizado em Oeiras no último sábado (1), nos arredores de Lisboa, em Portugal, na noite do último sábado, Maria Bethânia comemorou em cima do palco a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Por cinco votos a dois, a corte decidiu que ele não poderá se candidatar a cargos públicos por oito anos.
Nas
redes sociais, circulam vários vídeos com imagens da cantora fazendo seu
posicionamento político no Festival Jardins do Marquês – Oeira Valley.
“Inelegível”,
disse a baiana após cantar ‘Cálice’. “Oito anos. Viva o Brasil!”.
2 Julho, 2023
Governo português atribui Medalha de Mérito
Cultural à cantora brasileira Maria Bethânia
O
Governo atribuiu a Medalha de Mérito Cultural à cantora brasileira Maria
Bethânia, que atuou no sábado à noite em Oeiras, “pelo inestimável trabalho que
tem feito na divulgação dos poetas portugueses”, anunciou hoje o Ministério da
Cultura.
Em comunicado, o gabinete do ministro Pedro Adão e Silva destacou que Maria Bethânia tem divulgado os poetas portugueses “declamando-os, cantando-os e contribuindo de forma ímpar para a sua popularização não só no Brasil como em diversas partes do mundo”.
Citado na nota enviada à agência Lusa, Pedro Adão e Silva destaca a “ideia verdadeiramente luminosa de Maria Bethânia fazer dos poetas artistas populares”.
A cerimónia de entrega da Medalha de Mérito Cultural, que foi presidida pelo ministro da Cultura, aconteceu no sábado à noite, em Oeiras, no final do concerto da artista inserido na 3ª edição do festival Jardins do Marquês, cujo cartaz inclui nomes como Michael Bolton, Joss Stone, Liniker e Sara Correia.
Maria Bethânia apresentou o espetáculo “Fevereiros”, que parte de um documentário de Marcio Debellian sobre a artista.
A cantora brasileira, que nasceu em Santo Amaro da Purificação, no estado da Baía, em 1946, mudou-se para Salvador, para estudar, tendo feito aí, em 1963, a sua estreia como cantora, na peça “Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues.
No ano seguinte, participou no espetáculo “Nós, Por Exemplo”, ao lado do irmão Caetano Veloso, de Gal Costa, de Gilberto Gil e de Tom Zé, na inauguração do Teatro Vila Velha, em Salvador.
“Carcará”
é considerado o primeiro grande sucesso de Maria Bethânia, cantora que adquiriu
projeção nacional, no Brasil, quando em janeiro de 1965 substitui Nara Leão – a
convite desta – no histórico espetáculo “Opinião”, no Rio de Janeiro.
Desde o primeiro LP, publicado em 1965, Bethânia lançou dezenas de álbuns, tanto gravados em estúdio quanto ao vivo, e tem estabelecido muitas parcerias com nomes marcantes da música brasileira e internacional.
Na biografia da artista enviada à lusa pela tutela lê-se que “como talvez nenhuma outra intérprete fora de Portugal, Maria Bethânia cultivou desde sempre uma relação muito estreita com a poesia portuguesa, desempenhando um papel incomparável na sua divulgação”.
Gravou autores como Sá de Miranda (“Comigo me desavim”, título de um seu espetáculo de 1968), José Régio (“Cântico Negro”, incluído no álbum “Nossos Momentos”, de 1982), ou Manuel Alegre (“Senhora do Vento Norte”, no álbum “Diamante Verdadeiro”, de 1998), e dedicou álbuns inteiros a Fernando Pessoa (“Imitação da Vida”, de 1997) e a Sophia de Mello Breyner Andersen (“Mar de Sophia”, de 2006).
A
Universidade Federal da Baía atribuiu-lhe em 2016 o Doutoramento Honoris Causa,
pelo contributo dado para a Música Popular Brasileira.
Nesse mesmo ano, a escola de samba da Mangueira prestou-lhe homenagem ao desfilar com o enredo “Maria Bethânia: a Menina dos Olhos de Oiá”.
Em
Portugal, o Presidente da República agraciou-a com o grau de Oficial da Ordem
do Infante D. Henrique, a 26 de novembro de 1987, e dez anos depois, a 18 de
agosto de 1997, receberia o grau de Comendadora da mesma Ordem.
Também a Câmara Municipal de Lisboa distinguiu-a com a Medalha de Mérito Municipal, em 07 de junho de 2011.
A
artista recebeu ainda, em março de 2010, a medalha da Ordem do Desassossego,
homenagem da Casa Fernando Pessoa pelo seu papel na divulgação da obra do poeta
português.
O sopro anticolonial de Maria Bethânia
Texto: Jorge Filho
O vento desconfortável não passou despercebido junto do público que presenciou a terceira edição do festival Jardins do Marquês, em Oeiras. A brisa do mar incomodava porque parecia um vento de mudança. Eram ares baianos, ventania latino-americana. Era o sopro de Dona Canô a dar fôlego a uma das maiores vozes da música brasileira, a da sua filha, Maria Bethânia.
E
haja fôlego!
Aos 77 anos, a cantora conduziu o espetáculo com energia e disposição do início
ao fim, presenteando o público com a sua voz única, inconfundível e poderosa.
Com este ‘axé’, Bethânia e banda fizeram o palco parecer ínfimo — tal e qual as
dimensões geográficas de Brasil e Portugal.
Acompanhada
pelos batuques da majestosa percussionista Lan Lanh e dos acordes viscerais
do jovem violonista João Camarero, Bethânia apresentou uma
atuação com o tamanho das milhões de vozes indígenas, negras e imigrantes.
Vozes que foram ouvidas através do seu timbre único, inconfundível e poderoso.
A cantora abriu o concerto com ‘Gema’, escrita pelo cantor, compositor e
seu irmão Caetano
Veloso, que também compôs a canção seguinte, ‘Salve as folhas’.
Nesta introdução, o mesmo sopro forte que cruzava o oceano Atlântico e agitava
os longos cabelos da artista, era também o que vinha da floresta amazônica e
dos suspiros dos orixás.
Com tão vasto e rico repertório, escolher os temas para uma hora e meia de
apresentação não deve ter sido tarefa fácil. Sorte do público, que cantou cada
canção junto com Bethânia como se todas fossem êxitos.
Convenhamos, é impossível até para os mais inexpressivos permanecerem
indiferentes num concerto com temas como ‘Estado de Poesia’, ‘Onde Estará o Meu
Amor’, ‘Gostoso Demais’ e ‘Sonho Meu’ (neste último tema Bethânia lembrou a
cantora e amiga Gal Costa, que morreu em novembro de 2022),
e ainda com interpretações de ‘Cálice’, ‘Sampa’, ‘Noite dos Mascarados’,
‘Tocando
em Frente’ e muitas outras composições próprias e de outros
artistas.
Ao fim de ‘Cálice’ (escrita por Chico Buarque e Gilberto Gil em
1973, censurada pela ditadura militar no Brasil e presente no álbum ‘Álibi’),
Maria Bethânia proferiu em notório tom de alívio a frase “Inelegível! Oito anos. Viva
o Brasil!”, levando o público à euforia. Alegria retribuída e
repetida em coro: “Inelegível!”.
A artista referiu-se à condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal
Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e uso indevido dos meios de
comunicação, que o tornou impedido de concorrer a qualquer cargo público até
2030. O ex-presidente brasileiro ainda é alvo de mais de 600 processos.
MEDALHA
DE MÉRITO CULTURAL
Após Maria Bethânia se ter despedido do público, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, apareceu de surpresa no palco e chamou a cantora para lhe conceder a Medalha de Mérito Cultural atribuída pelo governo português.
Entretanto, Maria também tinha um recado a transmitir. Era o seu próprio sopro a juntar-se ao de Dona Canô, dos imigrantes brasileiros e das mulheres trabalhadoras de todos os países.
Na tradicional convocação feita pela plateia para que a artista regressasse ao palco, Bethânia deixou claro o grito pela liberdade e a expressão do poder feminino com o clásico ‘A-la-la-ô / Chiquita Bacana / Chuva Suor Cerveja’, finalizando com ‘O que é o que é?’, de Gonzaguinha, afinal, viver é “não ter a vergonha de ser feliz”.
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