Maria
Bethânia grava pela primeira vez uma música de autoria do sobrinho Zeca Veloso,
artista carioca revelado como compositor há seis anos na voz de Gal Costa – com
o registro da canção "Você me deu" no álbum Estratosférica (2015) – e projetado
há quatro anos no show Ofertório (2017), feito por Zeca em família com o pai,
Caetano Veloso, e com os irmãos Moreno Veloso e Tom Veloso.
‘O sopro do fole’, composto por Zeca Veloso e apresentada como canção de exílio de inspiração nordestina, é uma das onze músicas que formam o repertório de "Noturno", álbum que Maria Bethânia lançará em 30 de julho de 2021, em edição da gravadora Biscoito Fino, inclusive no formato de CD.
03/7/2021 - Álbum "Noturno" |
- Agora fale sobre 'O Sopro do Fole', composição do
Zeca Veloso.
Pois é. Meu sobrinho. Acho deslumbrante essa música, porque tem um escuro noturno dentro dela, uma força que se agiganta no ser humano. Quando me mostrou a música, Zeca não me pediu para gravar, era apenas para eu saber que ele se inspirou em mim. Só disse isso. Mas, quando ele começou a cantar, notei que, no primeiro verso, tem a palavra vento. Tenho uma ligação muito forte com essa palavra, pois tem relação com meu orixá. Já fico louca quando se fala em vento, me aproximo. Fui ouvindo e achando cada verso mais bonito que outro. E fiquei muito encantada em ver o Zeca, que é tão urbano, tão carioca, fazer uma canção regional, do sertão. É um vislumbre, uma sensibilidade. E eu ter inspirado esse pensamento, esse passeio por essa área, me alegra muito porque é uma área deslumbrante, musical, nobre. Acabei fazendo o arranjo, que ganhou força com o acordeão do Toninho Ferragutti, que atendeu ao meu pedido: quero frases entre as palavras. Uma conversa paralela porque a letra se refere à amplidão do fole. Não importa que seja ilustrativo, pois acho que me traduz tão lindamente. “Moço, esse vento que vem ali / Tirou meu chapéu, balançou meu cordão” - é muito forte, guerreiro. E se parece comigo. Tanto acredito que pedi para gravar.
Ubiratan Brasil entrevista Maria Bethânia, 30/7/2021
Escrita por Zeca com inspiração na guarânia sertaneja e nas músicas caipiras que sua tia Maria Bethânia canta, a canção tem dois momentos: Bethânia emprestou sua interpretação à composição e gravou a primeira versão da música para o álbum “Noturno”, de 2021. A inspiração transbordou e Zeca completou “O Sopro do Fole” com uma segunda parte, que traz mais do interior e celebra a música rural.
6/5/2022 |
O SOPRO DO FOLE
Letra e música: Zeca
Veloso
“Moço,
esse vento que ali
Tirou
meu chapeu, balançou meu cordão
É
o sopro do fole de festa que aqui
Chegou
do sertão
É
nota tão clara bem na minha mão
Apertando
os baixo do meu coração
É
tudo que eu deixo pra trás sem mais não
No
seco do chão
Eu
Sou
passarinho sem casa
Mexendo
a asa
Eu
vivo no mundo mas não sou daqui
Pinga
um pouco de água
Quando
não consigo mais voar
Passa
o trabaio e a boiada
É
pousar na viola e tocar um modão
Não
me diga que não gosta não
Moço,
esse vento que aqui
Beijou
meu cavalo na beira do mar
É
o canto-seresta de quem já passou
E
tá pra voltar
É
o sopro que acende a máquina do Rio
Que
vem lá do fundo do nosso Brasil
Quem
viu, quem cantou, quem chorou, quem sorriu
Falou
e subiu
Ê
É
ferro, é fogo, é pisada
Ê,
vaquejada
Ô,
boa-nova, notícia-clarão
Eu
já tenho em minha mão a senha, a cela e o esporão
O
alazão a esperar o sertão virar mar
O
mar acender em fogo então
É
o fim, é o início, eu cantei
É
a festa da volta do rei”
Dezembro de 2021, Santo Amaro - Maria Bethânia, Rodrigo Velloso e Zeca Veloso Foto: Hick Duarte |
Dezembro de 2021, Santo Amaro - Maria Bethânia, Rodrigo Velloso e Zeca Veloso Foto: Hick Duarte |
ZECA VELOSO LANÇA “O SOPRO DO FOLE” COM INSPIRAÇÃO NA GUARÂNIA SERTANEJA
A FAIXA É A PRIMEIRA DE SEU ÁLBUM DE ESTREIA
Redação
06.05.2022
Foto: Hick Duarte |
Assim como o fole, que, em um instrumento musical, mantém o fluxo constante de ar, permitindo a emissão dos sons, Zeca Veloso refresca as nuances do interior e circula entre diferentes perspectivas a partir da música que vem de lá em “O Sopro do Fole”. Homenageando a arte e os costumes, ele narra uma conversa do campo para a cidade, do interior para o litoral. A faixa é a primeira de seu álbum de estreia.
Escrita
por Zeca Veloso com inspiração na
guarânia sertaneja e nas músicas caipiras que sua tia Maria Bethânia canta, a canção tem dois momentos: Bethânia emprestou sua indiscutível interpretação à composição
e gravou a primeira versão da música para o álbum “Noturno”, de 2021. A inspiração transbordou e Zeca completou “O Sopro do Fole” com uma segunda parte, que traz mais do
interior, além de celebrar a música de nomes como a saudosa Marília Mendonça e João Gomes.
Foto: Hick Duarte |
“O Sopro do Fole” chega acompanhada de clipe que apresenta o conceito elaborado pelo artista. O vídeo estabelece uma sensível relação traduzida nas imagens que acompanham a canção, como explica Zeca: “Na música, um homem sertanejo fala com um moço do Sudeste sobre a vinda da gente do interior para a cidade grande, e da música rural com ela, usando o acordeom como símbolo. No clipe, que dirigi com meu parceiro Pedro Koeler, apareço com o fole no peito, no Rio, e em cenas no campo e na roça, filmadas em Minas. De alguma forma, talvez eu interprete esse eu lírico da música. Mas penso melhor no vídeo sentido do que explicado”.
Sobre
a letra, ele acrescenta: “Eu
tinha acabado de ouvir uma guarânia gravada por um cantor sertanejo mineiro, e
a melodia de ‘O Sopro do Fole’ apareceu na minha cabeça enquanto pensava nas
músicas caipiras que minha tia Bethânia canta. Junto com as primeiras notas do
refrão, eu ouvia ‘eu sou passarinho sem casa…’ e fiquei com a ideia, que eu
chamava de ‘passarinho’, um tempo na cabeça. Terminei fazendo em volta dela a
primeira parte da letra: um homem sertanejo fala com um rapaz do litoral. 'Moço, esse vento que aqui | Tirou meu chapéu, balançou meu cordão | É o sopro do
fole de festa que aqui | Chegou do sertão' e termina com ‘Passa o trabaio e a
boiada | É pousar na viola e tocar um modão | Não me diga que não gosta não’.
Ele
continua: “Era, pra mim, principalmente
uma canção que se opunha ao preconceito contra a música e cultura sertanejas.
Mostrei a Thiago Amud, que logo disse ‘você já sabe quem vai gravar, né?’. Eu
pensei também em minha tia Bethânia, mas não imaginei que ela realmente fosse
gravar. Ela ouviu a música, e algumas semanas depois tinha gravado e lançado no
seu disco ‘Noturno’. Fiquei felicíssimo”.
“Comecei a trabalhar no meu
álbum e sentia que faltava uma segunda parte para aquela letra. Logo em seguida
morreu uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos, Marilia
Mendonça. Talvez eu tenha tido coragem de escrever uma outra parte um dia
antes, ou dois. Pra minha surpresa, me apareceu uma letra tão inspirada quanto
a primeira. Menos consistente, mas maior por outro lado. Fala de mais coisas do
sertão, faz referência a outras músicas do meu disco. Pra mim, tem Marília, tem
uma homenagem ao grande João Gomes, que na época era #1 do Brasil”, finaliza.
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