miércoles, 23 de noviembre de 2022

2022 - MORENO VELOSO - 50 anos

 


“Hoje é aniversário de Moreno. Ecoando a acadêmica norte-americana Barbara Browning, que escreveu que "How Beautiful Could A Being Be?" é uma canção-título-pergunta que é a resposta a si mesma, digo que esse samba-de-roda em inglês global é uma pergunta-resposta sobre a existência de Moreno. O nascimento dele foi de não se crer justamente por fazer tudo ser mais real. Será que eu acredito que Moreno faz 50 anos? O mundo passou a valer muito mais quando ele nasceu. E ele ainda se fez meu professor até da cultura em que me formei, de "How Beautiful" a "A donzela se casou", ele me mostra a essência do samba, me ensinando a sambar, tocando atabaque pra eu cantar "GilGal". Desde "Um canto de afoxé para o bloco do Ilê", desde as canções do primeiro +2, Moreno é beleza pura sempre. Estamos, Dedé, Clara, Rosa, José, Zeca, Tom, Jasmine, Benjamim, Paulinha e eu, Deus e o mundo, todos de parabéns.”

 

Caetano Veloso, 22/11/2022, Instagram








MÚSICA

 

15/11/2004

O som de MORENO VELOSO


MORENO VELOSO vem se destacando ao lado de
Alexandre Kassin e Domenico Lancelotti - Foto: 
Laécio Ricardo


Diz o dito popular: “Filho de peixe, peixinho é”. No caso de Moreno, filho do cantor e compositor baiano Caetano Veloso, bem que o provérbio poderia ser diferente: Moreno Veloso é um peixão. Um dos mais respeitados e competentes profissionais da nova safra da música brasileira, Moreno esteve em Fortaleza no último dia 6, quando acompanhou a líder do grupo Pretenders, Chrissie Hynde, em show acústico no Mucuripe Club

 

Em 2000, quando lançou seu disco de estréia, “Máquina de Escrever Música” (Rock It!), Moreno mostrou a que veio ao misturar bases eletrônicas com samba e bossa nova. Início de um projeto coletivo que também envolvia o baixista Alexandre Kassin e o percussionista Domenico Lancelotti - mas sem deixar de lado o trabalho autoral -, o álbum do trio “Moreno +2” é, com certeza, uma das melhores surpresas que apareceram na última década. Por meio de sua veia experimentalista, Moreno alia tradição e contemporaneidade quando apresenta desde pianinho de brinquedo e pá de ferro (!) até bateria eletrônica e theremin russo - muito utilizado pelos tropicalistas Mutantes - em seu début musical.

Em 2003, foi lançado “Sincerely Hot” (Ping Pong), novo álbum do trio, agora rebatizado como “Domenico +2”. A criatividade e o experimentalismo se mantêm como característica dos músicos. O público já espera ansioso o “Kassin +2”.

Nesta rápida e informal conversa, Moreno fala sobre a relação com o pai ilustre, o parceiro Pedro Sá - que recebeu uma música em homenagem em “Máquina...”, a delicada “Para Xó” -, e os trabalhos do Domenico +2 com outros artistas, como Adriana Calcanhotto. Confira o bate-papo.

 

Caderno 3 - Primeiramente, por que o filho de Caetano Veloso, que tem como madrinha a cantora Gal Costa, foi fazer faculdade de Física na UFRJ?

Moreno Veloso - (risos) É porque ninguém conhece a minha mãe. Você conhece meu pai, você conhece a minha madrinha, mas você esqueceu de falar da minha mãe. Minha mãe, a Dedé (Gadelha), gosta muito de matemática, sempre gostou. E é uma coisa dela que desde criança eu gostei, sempre adorei matemática. E não é que eu fosse bom aluno não, eu não era um “nerd” daqueles que gostavam de ficar estudando, resolvendo tudo. Nada disso. Eu nem tirava notas boas, até fiquei de recuperação em matemática, física e tudo mais... Mas eu gostava, adorava. Simplesmente desde pequeno, desde o primário até o final do segundo grau, eu gostava. Então quando eu terminei o segundo grau, eu pensei: “Pô...”, porque se eu não fosse mais estudar, nunca mais eu ia abrir um livro pra ficar lendo, fazendo contas, então falei: “Então eu vou continuar. Eu vou entrar na faculdade pra continuar estudando uma coisa que eu gosto, né?”. Eu quase fui fazer filosofia, porque todos os meus amigos foram pra faculdade de filosofia. Aí nesse caso eu teria seguido os passos do meu pai, que foi fazer filosofia. Quase fui, cheguei até a quase me inscrever, mas a física me levou, foi mais forte, e eu resolvi estudar mesmo física. O que é a mesma coisa, só que do ponto de vista matemático. Aliás, o livro do Newton chama-se “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”. Então, é tudo ligado.

- Como foi - e é - trabalhar com o próprio pai? A relação entre pai e filho vai pra música de uma maneira diferente?

Moreno - É sempre muito bom trabalhar com o meu pai. Além de ele ser uma pessoa ótima, quando você está trabalhando com ele, musicalmente, você percebe que ele está querendo o melhor de todo mundo, sabe? Ele se esforça pra que todo mundo dê o melhor de si. E isso dentro de uma banda é muito bom, porque todo mundo acaba não só gostando do que está fazendo, como realmente dando o melhor de si. Ele é uma pessoa muito decidida nesse lado profissional, no jeito que ele quer trabalhar. Então é muito bom.

- Existe algum projeto de vocês dois em vista?

Moreno- Eu não sei... Ele sempre me convida pra fazer alguma coisa. Nos últimos dois discos, ele sempre me deu uma faixa pra produzir. Mas nesse último disco eu nem produzi exatamente a faixa que a gente tocou, eu e o Pedro Sá.
Foi mais o Pedro Sá que participou da produção de “Come as you are” (hit maior do clássico álbum “Nevermind”, do Nirvana). Ele fez o arranjo, a produção, fez tudo, me convidou e é claro que nós juntos acabamos realizando a faixa com o meu pai. Eu gostei muito do resultado. Mas nos discos autorais dele, ele me convidou pra produzir uma faixa, no penúltimo ele até me chamou pra mixar o disco todo. São coisas que ele vai continuar fazendo, me convidando. Mesmo no disco dele com o Jorge Mautner, eu participei tocando alguma coisa. O próprio Kassin, que é da minha galera, produziu o disco junto com ele. São em coisas assim que a gente está realmente interligado. Não tem nenhum projeto em vista, mas eu acho que qualquer coisa que aconteça, eu vou estar participando, ou o Kassin, o Domenico ou o Pedro Sá, que está tocando com ele nesta turnê internacional.

- Por que o Pedro Sá não entrou junto no projeto com você, o Domenico e o Kassin, já que ele está tão presente em todos os trabalhos do trio?

Moreno - Às vezes ele prefere fazer outras coisas, como, por exemplo, tocar com o meu pai. A gente o convidou agora, fizemos duas ou três turnês esse ano, mas ele preferiu tocar com o meu pai, o que é uma coisa sensata, inclusive (risos). Mas ele está sempre presente quando a gente grava, qualquer coisa a gente pede pra ele dar opinião. Foi ele quem me apresentou ao Domenico, ao Kassin. Ele é o centro intelectual e espiritual dessa banda. Ele só não está tocando com a gente o tempo todo porque ele tem as coisas dele pra fazer também.

- Qual a sua avaliação das parcerias que você, o Domenico e o Kassin andam fazendo com outros artistas, a exemplo do que aconteceu no último disco da Adriana Calcanhotto?

Moreno - Algumas pessoas gostam do que a gente faz. A Adriana gosta, a Chrissie gosta. E essas pessoas convidam a gente pra participar. A gente fica feliz, sabe? Eu, particularmente fico muito feliz. É claro que a gente fez um disco sem muito sucesso, ele não é um disco popular, ele não vendeu quase nada, mas essas poucas pessoas que gostam nos deixam muito feliz.

- De onde vem o nome do disco, 'Máquina de Escrever Música'?

Moreno - Não tem muito o que saber não. É uma piada que o Tom Jobim fez com um cara da alfândega. Ele estava trazendo um computador, que era um equipamento ilegal, e ele simplesmente falou: “Olha, isso não é ilegal, é apenas uma máquina de escrever música” (risos).
 


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