martes, 22 de noviembre de 2022

1999 - PROJETO ATLÂNTICO - GAL COSTA e LUÍS REPRESAS

 

Intercâmbio luso-brasileiro: Projeto Atlântico.

Programa com o título ATLÂNTICO, gravado em Portugal entre Junho e Outubro de 1998.

Foi transmitido a partir de março de 1999, em Portugal, pela RTP1 e, no Brasil, através da TV Cultura, em 2000. 

Reuniu durante 14 semanas, cada programa de 50 minutos, duplas de cantores e compositores dos dois países, em duetos inéditos e a solo. 

Idealizado e apresentado por Eugénia Melo e Castro, “Atlântico” contou com a co-apresentação de Nelson Motta como convidado, em todas as edições. Ganhou, em Portugal, o “melhor programa”, em 1999, e é considerado um dos melhores programas de TV em Portugal, desde sempre.



Sinal aberto entre culturas

Nuno Pacheco 

7 de Março de 1999 


Gal Costa, Eugénia Melo e Castro, Nelson Motta e Luís Represas


Três anos passados sobre o seu nascimento como projecto televisivo, "Atlântico" estreia-se hoje na RTP1, em horário nobre.

Idealizado por Eugénia Melo e Castro e produzido pela Mandala, a série junta dezenas de músicos portugueses e brasileiros em duetos inéditos. São treze programas que, além das canções, apostam sobretudo na força da palavra e na empatia natural entre as duplas propostas.

Eugénia Melo e Castro já andava com o projecto na cabeça há algum tempo. Mas foi em 1996, quando o governo português decidiu enviar uma "embaixada cultural" ao Brasil com a ideia de aí "revelar grandes valores" da nova música portuguesa, que surgiu a oportunidade maior.

Não tanto pela embaixada em si mas pelo facto de Eugénia ter aproveitado a viagem para "vender" a ideia aos ilustres passageiros.

"O interior de um avião é um espaço limitado, não se pode fugir. Então, mal chegou o momento de se poder circular, peguei nas pastas que eu e a Mafalda [da Mandala] tínhamos preparado e distribuí-as a ministros e empresários.

Foi um golpe, obviamente, mas foi a grande oportunidade de fazer valer o projecto.

A partir daí, ele entrou no consciente das pessoas que ali estavam e acabou por ser tornar realidade.

"A proposta era simples e, ao mesmo tempo, ousada: juntar numa série de programas, músicos portugueses e brasileiros com algo em comum, para, entre conversas e canções, possibilitar um real encontro de culturas. Em 1996 pensava-se que tudo estaria pronto em 1997.

Não esteve. Mas também não se perdeu muito. Até porque a passagem de diversos músicos brasileiros por Lisboa, para actuarem na Expo, facilitou de certo modo a concretização das duplas propostas.

E permitiu que o produtor e compositor brasileiro Nelson Motta - que acompanha Eugénia como segundo "pivot" da série - pudesse participar em todas as gravações, que decorreram em Portugal entre Junho e Outubro de 1998, com produção da Mandala, cujo "staff" e empenho foi determinante para o êxito do projecto, e a correspondente "luz verde" da RTP. Os treze programas já gravados permitiram juntar duplas previsíveis e outras menos.

No primeiro, que é exibido hoje à noite, Gal Costa conversa e canta com Luís Represas.

Seguem-se, nesta ordem e ao ritmo de um por semana, os seguintes "duetos": Simone e Dulce Pontes; Chico César e Né Ladeiras; Edu Lobo e Sérgio Godinho; Leila Pinheiro e Rui Veloso; Marisa Monte e Cesária Évora; Fernanda Abreu e Cool Hipnoise; Elba Ramalho e Vitorino; Herbert Vianna e Rui Reininho; Ed Motta e Black Out; Ney Matogrosso e Paulo Bragança; Maria Bethânia e António Alçada Baptista (Bethânia canta, Alçada Baptista diz poemas de Alexandre O'Neill e Joaquim de Azurém toca guitarra); e Wagner Tiso e Eugénia Melo e Castro (era para ser Rao Kyao mas o facto de o músico se encontrar doente na altura forçou a substituição - Eugénia não previa, sequer, participar no programa como cantora).

O modo como foram escolhidas as duplas dependeu, em parte, de sugestões dos próprios músicos e da disponibilidade de cada um.

"A maioria deles já tinha contactos anteriores. Marisa Monte, por exemplo, adora Cesária Évora e já tinha cantado com ela", lembra Nelson Motta.

"Mas houve casos em que o encontro nasceu na nossa cabeça. O do Vitorino com a Elba Ramalho, por exemplo, pareceu-nos dar um contraste extraordinário", diz Eugénia Melo e Castro.

"E foi um dos melhores programas!", acrescenta Nelson Motta (ela também concorda).Eugénia Melo e Castro define o encontro formalizado em cada programa como "uma conversa larga, grande, entre músicos, que não passa por falar do último disco nem por conveniências entre gravadoras".

Em cada sessão, para propiciar um bom clima a essa conversa, usou-se o truque de gravar primeiro as canções - assim os músicos aproximaram-se naturalmente (nalguns casos com indisfarçável gosto e até emoção, como se comprova pelos registos videográficos) e a conversa fluiu melhor.

No final tudo foi remontado, de modo a dar maior ritmo ao programa.

Mas "Atlântico" não é apenas uma série de televisão. É também pretexto para outras iniciativas, que já se anunciam no horizonte: a edição de um CD duplo, com os duetos gravados ao longo da série; um livro com excertos das entrevistas e com poemas, que terá "design" gráfico de Carlos Guerreiro e fotos de Francisco Aragão, o único fotógrafo que acompanhou as gravações; lançamento comercial de "home-videos", em colaboração com a RTC, em especial um com os melhores momentos do programa; e, no ano 2000, uma série de espectáculos ao vivo em Lisboa, Porto e no Brasil, juntando vários dos artistas participantes.

Há, além de tudo isso, uma agenda "extra" de futuras duplas que, por razões várias (nomeadamente por incompatibilidades de agenda), não "couberam" nos treze programas gravados: Maria João e Mário Laginha com Gilberto Gil; Egberto Gismonti com António Pinho Vargas; Djavan com Filipe Mukenga; Chico Buarque com Waldemar Bastos; General D com Gabriel o Pensador; António Nóbrega com Júlio Pereira; e músicos disponíveis mas ainda sem "par" definido, como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Jorge Palma, Adriano Calcanhotto, Rita Lee ou os Clã.Se tudo correr como Eugénia de Melo e Castro, Nelson Motta e a Mandala esperam, "Atlântico" será, mais do que uma série televisiva, a "marca" de uma aproximação cultural mais profunda entre Portugal e o Brasil. O facto de a série estar programada também na RTP Internacional, na RTP África e, no Brasil, na TV Cultura e Globosat, abre-lhe noutros horizontes.

Para já, espera-se o teste do público. Nelson Motta promete que "o público não se vai entediar, cada semana vai ser uma surpresa". Eugénia confirma: "E não é previsível. O que acontece num não tem nada a ver com o que acontece noutro. A estrutura é a única coisa que se mantém."








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