Intercâmbio luso-brasileiro: Projeto Atlântico.
Programa com o título ATLÂNTICO, gravado em Portugal entre Junho e Outubro de 1998.
Foi transmitido a partir de março de 1999, em Portugal, pela RTP1 e, no Brasil, através da TV Cultura, em 2000.
Reuniu durante 14 semanas, cada programa de 50 minutos, duplas de cantores e compositores dos dois países, em duetos inéditos e a solo.
Idealizado e apresentado por Eugénia Melo e Castro, “Atlântico”
contou com a co-apresentação de Nelson Motta como convidado, em todas as
edições. Ganhou, em Portugal, o “melhor programa”, em 1999, e é considerado um
dos melhores programas de TV em Portugal, desde sempre.
Sinal aberto
entre culturas
Nuno Pacheco
7 de Março de 1999
Gal Costa, Eugénia Melo e Castro, Nelson Motta e Luís Represas |
Três
anos passados sobre o seu nascimento como projecto televisivo,
"Atlântico" estreia-se hoje na RTP1, em horário nobre.
Idealizado
por Eugénia Melo e Castro e produzido pela Mandala, a série junta dezenas de
músicos portugueses e brasileiros em duetos inéditos. São treze programas que,
além das canções, apostam sobretudo na força da palavra e na empatia natural
entre as duplas propostas.
Eugénia
Melo e Castro já andava com o projecto na cabeça há algum tempo. Mas foi em
1996, quando o governo português decidiu enviar uma "embaixada
cultural" ao Brasil com a ideia de aí "revelar grandes valores"
da nova música portuguesa, que surgiu a oportunidade maior.
Não
tanto pela embaixada em si mas pelo facto de Eugénia ter aproveitado a viagem
para "vender" a ideia aos ilustres passageiros.
"O
interior de um avião é um espaço limitado, não se pode fugir. Então, mal chegou
o momento de se poder circular, peguei nas pastas que eu e a Mafalda [da
Mandala] tínhamos preparado e distribuí-as a ministros e empresários.
Foi
um golpe, obviamente, mas foi a grande oportunidade de fazer valer o projecto.
A
partir daí, ele entrou no consciente das pessoas que ali estavam e acabou por
ser tornar realidade.
"A
proposta era simples e, ao mesmo tempo, ousada: juntar numa série de programas,
músicos portugueses e brasileiros com algo em comum, para, entre conversas e
canções, possibilitar um real encontro de culturas. Em 1996 pensava-se que tudo
estaria pronto em 1997.
Não
esteve. Mas também não se perdeu muito. Até porque a passagem de diversos
músicos brasileiros por Lisboa, para actuarem na Expo, facilitou de certo modo
a concretização das duplas propostas.
E
permitiu que o produtor e compositor brasileiro Nelson Motta - que acompanha
Eugénia como segundo "pivot" da série - pudesse participar em todas
as gravações, que decorreram em Portugal entre Junho e Outubro de 1998, com
produção da Mandala, cujo "staff" e empenho foi determinante para o
êxito do projecto, e a correspondente "luz verde" da RTP. Os treze
programas já gravados permitiram juntar duplas previsíveis e outras menos.
No
primeiro, que é exibido hoje à noite, Gal Costa conversa e canta com Luís
Represas.
Seguem-se,
nesta ordem e ao ritmo de um por semana, os seguintes "duetos":
Simone e Dulce Pontes; Chico César e Né Ladeiras; Edu Lobo e Sérgio Godinho;
Leila Pinheiro e Rui Veloso; Marisa Monte e Cesária Évora; Fernanda Abreu e
Cool Hipnoise; Elba Ramalho e Vitorino; Herbert Vianna e Rui Reininho; Ed Motta
e Black Out; Ney Matogrosso e Paulo Bragança; Maria Bethânia e António Alçada
Baptista (Bethânia canta, Alçada Baptista diz poemas de Alexandre O'Neill e
Joaquim de Azurém toca guitarra); e Wagner Tiso e Eugénia Melo e Castro (era
para ser Rao Kyao mas o facto de o músico se encontrar doente na altura forçou
a substituição - Eugénia não previa, sequer, participar no programa como
cantora).
O
modo como foram escolhidas as duplas dependeu, em parte, de sugestões dos
próprios músicos e da disponibilidade de cada um.
"A
maioria deles já tinha contactos anteriores. Marisa Monte, por exemplo, adora
Cesária Évora e já tinha cantado com ela", lembra Nelson Motta.
"Mas
houve casos em que o encontro nasceu na nossa cabeça. O do Vitorino com a Elba
Ramalho, por exemplo, pareceu-nos dar um contraste extraordinário", diz
Eugénia Melo e Castro.
"E
foi um dos melhores programas!", acrescenta Nelson Motta (ela também
concorda).Eugénia Melo e Castro define o encontro formalizado em cada programa
como "uma conversa larga, grande, entre músicos, que não passa por falar
do último disco nem por conveniências entre gravadoras".
Em
cada sessão, para propiciar um bom clima a essa conversa, usou-se o truque de
gravar primeiro as canções - assim os músicos aproximaram-se naturalmente
(nalguns casos com indisfarçável gosto e até emoção, como se comprova pelos
registos videográficos) e a conversa fluiu melhor.
No
final tudo foi remontado, de modo a dar maior ritmo ao programa.
Mas
"Atlântico" não é apenas uma série de televisão. É também pretexto
para outras iniciativas, que já se anunciam no horizonte: a edição de um CD
duplo, com os duetos gravados ao longo da série; um livro com excertos das
entrevistas e com poemas, que terá "design" gráfico de Carlos
Guerreiro e fotos de Francisco Aragão, o único fotógrafo que acompanhou as
gravações; lançamento comercial de "home-videos", em colaboração com
a RTC, em especial um com os melhores momentos do programa; e, no ano 2000, uma
série de espectáculos ao vivo em Lisboa, Porto e no Brasil, juntando vários dos
artistas participantes.
Há,
além de tudo isso, uma agenda "extra" de futuras duplas que, por
razões várias (nomeadamente por incompatibilidades de agenda), não
"couberam" nos treze programas gravados: Maria João e Mário Laginha
com Gilberto Gil; Egberto Gismonti com António Pinho Vargas; Djavan com Filipe
Mukenga; Chico Buarque com Waldemar Bastos; General D com Gabriel o Pensador;
António Nóbrega com Júlio Pereira; e músicos disponíveis mas ainda sem
"par" definido, como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Jorge Palma, Adriano
Calcanhotto, Rita Lee ou os Clã.Se tudo correr como Eugénia de Melo e Castro,
Nelson Motta e a Mandala esperam, "Atlântico" será, mais do que uma
série televisiva, a "marca" de uma aproximação cultural mais profunda
entre Portugal e o Brasil. O facto de a série estar programada também na RTP
Internacional, na RTP África e, no Brasil, na TV Cultura e Globosat, abre-lhe
noutros horizontes.
Para
já, espera-se o teste do público. Nelson Motta promete que "o público não
se vai entediar, cada semana vai ser uma surpresa". Eugénia confirma:
"E não é previsível. O que acontece num não tem nada a ver com o que
acontece noutro. A estrutura é a única coisa que se mantém."
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