martes, 2 de agosto de 2022

2022 - CAETANO VELOSO ENQUANTO SUPERASTRO

 

Escrito pelo crítico mineiro Silviano Santiago há 50 anos, o ensaio, considerado pioneiro em sua época, faz uma leitura sobre o fenômeno do superstar, algo que a academia não estudava no início dos anos 1970.





30/07/2022 

Em comemoração aos 80 anos do músico, compositor e escritor baiano Caetano Veloso, o Selo Pernambuco/Cepe Editora, disponibiliza, em agosto, o e-book gratuito “Caetano Veloso, enquanto superastro”. O título é o mesmo do clássico ensaio publicado há 50 anos pelo escritor mineiro Silviano Santiago. 

De acordo com o editor do selo, Schneider Carpeggiani, o ensaio “é um marco para os estudos culturais no Brasil. Nele, Silviano Santiago propõe um olhar acadêmico para o fenômeno do popstar, um viés que não era comum naquela época”, ressalta Schneider, acrescentando que, naquela época, “não era de bom tom um intelectual falar de cultura pop, mas esse texto é uma prova do quanto Silviano sempre esteve atento tanto para a dinâmica das ruas quanto para a dinâmica da academia. Hoje a academia fala sobre postar, sobre brega… Tornou-se comum. Mas não era assim naquele começo dos anos 1970”, completa o editor.




CAETANO VELOSO ENQUANTO SUPERASTRO

Silviano Santiago
Cepe Editora (Companhia Editora de Pernambuco)
O e-book será disponibilizado gratuitamente nas plataformas digitais a partir desta segunda (1/8)



O ensaio Caetano Veloso enquanto superastro faz parte do livro clássico de Silviano Santiago Uma literatura nos trópicos (Cepe Editora/Selo Pernambuco). [eBook gratuito] 

No dia 10 de março de 2011, Caetano Veloso estacionou seu carro no Leblon e, como um episódio cotidiano, tudo parecia ligeiramente normal. Possivelmente, haveria flanelinha "guardando" a vaga, pessoas transitando de bicicleta em sua superioridade moral contra a "carrocracia", um ou outro paparazzi e, sim, fotografia captada, Caetano Veloso na calçada após estacionar seu carro emerge como manchete em portal de notícias, na aba de informações sobre celebridades. 

Sete anos antes, razoavelmente distante do Leblon, Mark Zuckerberg matutava uma forma de curar um fim de relacionamento conectando amigos numa competição de curtidas em mulheres desejadas na sua universidade. Esse ambiente digital que aproxima zoeira e redenção, cotidiano e invenção, vai gradativamente turvando os limites entre informação, zoação, entretenimento e encontra no Brasil – e em Caetano Veloso – um ambiente mais que propício para a sua aura de reprodutibilidade técnica. 

A notícia de Caetano estacionando seu carro, em sua frivolidade ardente como o asfalto do Rio de Janeiro, causou furor nas redes: enquanto compartilhavam, sangue nos olhos, pessoas certas da "morte do jornalismo" decretavam, vejam só, a vida do superastro. A notícia se avolumava em sua insignificância e havia, naquele fluxo contínuo de ódio ao lugar que o jornalixo tinha colocado Caetano (Cadê sua obra? Sua poética? Disso não falam! Canalhas!) algo da ordem do desbunde. 

A frugalidade de uma celebridade estacionando seu carro enquanto espectadores bradam midiaticamente contra o episódio poderia ser uma das imagens que formam as entranhas do ensaio Caetano Veloso enquanto superastro, publicado originalmente em 1973 e posteriormente reunido em Uma literatura nos trópicos – livro de Silviano Santiago reeditado de forma ampliada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) através do Selo Pernambuco em 2019 –, que agora ganha edição autônoma como um destacamento mais que bem-vindo.


 



"Caetano Veloso enquanto superastro evidencia a gênese do que se pode chamar de uma reflexão sobre cultura de celebridades no Brasil e seu estranho lugar numa obra de crítica literária, ao mesmo tempo em que lança mão de um conjunto de 'conceitos nativos' para apresentar ideias que, erigidas a partir das colunas sociais e da fala ordinária, colocam em crise uma certa 'dureza' sociológica no tratamento da fama." 

Thiago Soares
















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