• ESPECIAL CAETANO VELOSO 80 ANOS
Domingo (7/8), às 20h30, no Globoplay (com sinal
aberto para não assinantes) e Multishow
• “OUTRAS PALAVRAS – SEIS VEZES CAETANO”
Tom Cardoso
Record (308 págs.)
• “LADO C – A TRAJETÓRIA MUSICAL DE CAETANO VELOSO ATÉ A REINVENÇÃO COM A
BANDACÊ”
Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes
Máquina de Livros (256 págs.)
• “CAETANO VELOSO – LETRAS”
Organização de Eucanaã Ferraz
Companhia das Letras (512 págs.)
• “CAETANO VELOSO ENQUANTO SUPERASTRO”
Silviano Santiago
Cepe Editora
Cultura
Caetano Veloso comemorará 80 anos
no palco com os filhos e Maria Bethânia
Cantor e compositor baiano se apresenta no próximo domingo (7/8), dia de seu aniversário; série de lançamentos abordam sua carreira, suas letras e sua biografia.
Mariana Peixoto
01/08/2022
A apresentação de
aniversário de Caetano Veloso no palco da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, terá
transmissão aberta via plataformas de streaming - Foto:
Sergio Lima / AFP
Gente é pra brilhar. E Caetano Veloso chega aos 80 neste 7 de agosto querendo “prosseguir, durar, crescer e luzir”, como o próprio escreveu. A comemoração do aniversário será íntima, porém pública. No próximo domingo, fará show ao lado dos filhos Moreno, Zeca e Tom e da irmã Maria Bethânia. A transmissão, ao vivo, da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, será pelo Globoplay e Multishow.
Longe dos holofotes e sob o olhar de terceiros, vida e obra de Caetano estão sendo revistas em cinco lançamentos literários. Dois títulos têm o viés biográfico, “Outras palavras – Seis vezes Caetano”, do jornalista Tom Cardoso (Record), e “Lado C – A trajetória musical de Caetano Veloso até a reinvenção com a BandaCê”, dos pesquisadores Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes (Máquina de Livros).
O terceiro volume é um calhamaço organizado por Eucanaã Ferraz para a Companhia das Letras que compila a produção poética do baiano. “Letras” reúne todas as canções escritas por ele – começa da atualidade, com as letras de “Meu coco” (2021), retrocedendo às composições iniciais nos anos 1960.
Já a Cepe Editora disponibiliza gratuitamente, a partir desta segunda (1/8), o e-book “Caetano Veloso enquanto superastro”. Escrito pelo crítico mineiro Silviano Santiago há 50 anos, o ensaio, considerado pioneiro em sua época, faz uma leitura sobre o fenômeno do superstar, algo que a academia não estudava no início dos anos 1970.
O último título, que será lançado em 29 deste mês, é a antologia “Vivo muito vivo” (José Olympio). A obra reúne 15 autores contemporâneos em contos inspirados em letras de Caetano.
Tom Cardoso, que já biografou Nara Leão e Sócrates, não considera “Outras palavras” como tal. “É um ensaio com uma mistura de biografia. Eu me espelhei em ‘Roberto Carlos em detalhes’, de Paulo César de Araújo, que tinha capítulos temáticos”, diz. Lançado em 2006, o livro de Paulo César de Araújo foi censurado pelo próprio Rei, recolhido das livrarias e motivou o STF a mudar a legislação, liberando quase uma década depois a publicação de biografias não autorizadas.
Show
“Foi um provocação com o próprio Caetano, que na época se posicionou contra as biografias não autorizadas. O Paulo César sofreu, foi muito corajoso, e resolvi fazer esta homenagem a ele”, afirma Cardoso. A obra traz seis capítulos, "o santo-amarense", "o polêmico", "o líder", "o vanguardista", "o amante" e "o político".
O autor não ouviu Caetano para o livro – entrevistou algumas pessoas próximas, algumas que pediram para não ser identificadas. Mesmo assim, a principal fonte de Cardoso foi o próprio Caetano, por meio de entrevistas e declarações para a imprensa em cinco décadas de atuação.
“Isto é muito mais importante do que tentar uma entrevista. Eu até conseguiria, talvez por e-mail, já que estávamos no auge da pandemia. Mas queria o Caetano falando no calor da hora dos acontecimentos. Ele é muito onipresente, dá entrevista e depoimento sobre quase tudo. E algumas destas entrevistas se perderam, alguns veículos acabaram e seriam coisas que você não acha no Google. Resolvi privilegiar o Caetano do jeito que ele é: muito impulsivo, inflamado, e também corajoso”, acrescenta.
Com uma prosa fluida, que costura, com gosto, a trajetória do cantor e compositor, Cardoso não traz nada de inédito. Mas lança luzes em acontecimentos e momentos engolidos pela passagem do tempo. O autor diz que, mesmo já sabendo de muita coisa, se surpreendeu com a pesquisa.
Uma das surpresas foi descobrir que foi um homem, o tradutor Paulo César Souza, amigo antigo de Caetano, a inspiração para “Eclipse oculto” (“Nosso amor/Não deu certo/Gargalhadas e lágrimas/De perto/Fomos quase nada”). O próprio Souza confirmou ao jornal baiano “A tarde”, em 2008, de onde Cardoso pinçou a informação, que os dois não conseguiram chegar às vias de fato. Tal história está contada no capítulo “O vanguardista”.
A última parte, “O político”, é uma das mais saborosas. São várias as passagens com pessoas públicas que estiveram à frente da história do Brasil nas últimas décadas. “Acho que acima de tudo, o Caetano é contra a opinião vigente. Ele bateu de frente com a militância de esquerda numa época que ninguém fazia isso, elogiou (os ex-presidentes) Figueiredo, Geisel e Collor”, acrescenta Cardoso.
E também deu o troco. Rompido com Collor, Antônio Carlos Magalhães, presente até na sala de Dona Canô por meio de uma foto, cobrou de Caetano numa festa uma posição mais crítica em relação ao governo federal. O cantor e compositor se enfureceu: “Vocês da direita sustentaram esse cara que nós fizemos tudo para derrotar e agora você vem me tratar como se estivéssemos juntos? Toninho Malvadeza ficou ralo. Olhou ao redor, pálido de raiva, e se afastou de fininho”, disse à “Playboy”, em 1996.
Reencontro com
público jovem
Com formato de livro-reportagem, “Lado C” recupera a trajetória do artista neste século, a partir de 2006. Na época, Caetano formou um power trio com músicos 30 anos mais jovens – o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o contrabaixista Ricardo Dias Gomes.
Com uma sonoridade básica, um contraponto e tanto à fase anterior, que tinha o maestro, arranjador e violoncelista Jaques Morelenbaum como figura de proa, o formato enxuto inaugurou a fase da BandaCê.
Foi o período em que Caetano se reaproximou do público jovem, responsável, em parte, por lotar os shows dos álbuns “Cê” (2006), “Zii & Zie” (2009) e “Abraçaço” (2012) – todos ainda geraram discos ao vivo. Criador do canal “Alta fidelidade” no YouTube, dedicado à música, Luiz Felipe Carneiro escolheu o viés do livro pelo ineditismo e também pela aproximação com o tema.
“Sou de 1979, o primeiro show que vi do Caetano foi ‘Circuladô’ (1991), quando tinha 11 anos. Fui a todos depois e sempre tinha senhorinhas que falaram que eu era o mais novinho da plateia. Quando começou a fase da BandaCê, lembro de ter ido a um show no Morro da Urca e me sentido velho, pois ali vi uma garotada com 18, 19 anos, cantando todas as músicas”, diz Carneiro.
Seu colega na empreitada, o pesquisador Tito Guedes – que ele conheceu por meio do livro “Querem acabar comigo” (2021), que recupera a visão da crítica sobre a obra de Roberto Carlos –, é ainda mais novo. Guedes não tinha mais do que 16 anos quando viu o primeiro show de Caetano, “Abraçaço”. “A BandaCê era simples sem ser simplista, com uma linguagem pop, moderna e estranha no melhor sentido”, diz Guedes.
Para o livro, a dupla realizou
entrevistas com aproximadamente 40 pessoas. Além do próprio Caetano e dos três
integrantes da banda, falou também com músicos que tocaram com ele em outras
formações – Jards Macalé, Arnaldo Brandão, Vinicius Cantuária – bem como
figuras que trabalharam nas turnês. “Foram técnicos de som, roadies, produtores
executivos. Muitas vezes a turma dos bastidores tem histórias mais saborosas”,
comenta Carneiro.
Caetano não chegou à formação de 15 anos atrás gratuitamente. Tanto que o livro, para contextualizar o tema principal, faz um retrato das formações anteriores que acompanharam o cantor. “Sempre houve um paralelo muito grande do ‘Transa’ (o disco de 1972, gravado no ano anterior, em Londres, durante o exílio, também com formato enxuto) com a BandaCê. Depois houve a criação da Outra Banda da Terra (que o acompanhou entre o final dos anos 1970 e o início dos 1980), da Banda Nova, do Jaques Morelenbaum. Não haveria como falar da BandaCê sem falar das que vieram antes”, comenta Guedes.
Para Carneiro, o Caetano do período rejuvenesceu, assim como seu público e sua música, em decorrência de vários fatores. “Ele vinha de um disco em inglês (‘A foreign sound’, de 2004) com uma turnê com orquestra. Se separou da Paula (Lavigne, com quem reatou em 2016) e acho que viu que estava num momento diferente da vida, mais livre.”
Na opinião dele, não há como falar que o período
recente foi dedicado ao rock. “O Caetano é uma esponja, ele escuta tudo, sabe
do que está acontecendo no mundo da música. O meio indie estava fazendo muito
sucesso. Agora, o pessoal que diz que o Caetano virou roqueiro (na época) não
tem muito conhecimento da obra em si. Desde a Tropicália ele já fazia. O disco
‘Velô’ (1984), que veio depois, poderia ter sido um disco do BRock. Ou seja,
sempre teve um pezinho na música mais pop”, comenta Carneiro.
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