“Hoje Gilberto Gil toma posse na Academia Brasileira de Letras. Ele foi meu companheiro de armas na luta sonora do tropicalismo. É meu irmão em música e letra. Só não estou na cerimônia da posse porque cumpro compromisso de excursão com Meu coco. De Porto Alegre mando aquele abraço. Parabéns a Gil, à Academia, ao Brasil. E seguimos aqui citando, cada vez que canto ‘Itapuã’, uma frase marcante na história da sua música e da nossa vida.”
"Em maio de 1968, na capa do meu segundo LP, e já integrado à Tropicália, apareço envergando um fardão e usando pincenê. Ao recordar esse episódio escrevi um poema para este evento:
ao sonho que sonhara ser um dia:
todos ali representados por alguns.
Tal ampla representatividade
sonhada por Nabuco e demais fundadores
jamais fora alcançada de verdade,
jamais todos os saberes e sabores.
Eu mesmo, nos meus tempos de aventuras,
cheguei a envergar um garboso fardão,
vestido então como ironia dura,
a fantasia pura da ilusão!
Juntava-me, naquele instante, aos muitos
que alfinetavam a Instituição
mal sabia eu quais os intuitos,
do destino astuto a interrogação.
Um amigo lembrou-me outro dia
que as ironias sempre trazem seu revés.
papéis trocados, eis aqui, vida vadia:
fardão custoso, bordado a ouro, vistoso,
me revestindo da cabeça aos pés”
Gilberto Gil toma posse
como 'imortal' da Academia Brasileira de Letras
O artista
é, atualmente, o segundo negro a ocupar uma cadeira na ABL. Gil foi eleito para
a cadeira 20 da ABL em novembro do ano passado com 21 votos.
Por
g1 Rio
08/04/2022
O cantor, compositor e ex-Ministro da Cultura, Gilberto Gil, de 79 anos, tomou posse nesta sexta-feira (8/4) como membro "imortal" na Academia Brasileira de Letras (ABL).
Gil passou a ocupar a Cadeira 20 da Academia, sucedendo o acadêmico Murilo Melo Filho, que foi advogado, escritor e um dos grandes jornalistas brasileiros da segunda metade do século XX.
Em seu discurso de posse, Gil lembrou que é o primeiro representante da música popular brasileira a tomar posse na academia.
"Entre tantas honrarias que a vida generosamente me proporcionou essa tem para mim uma dimensão especial, não só porque aqui é a casa de Machado de Assis, um escritor universal, afrodescendente como eu, mas também porque a ABL, fundada em 20 de julho de 1897, representa mesmo para quem a critica a instância maior que legitima e consagra de forma perene a atividade de um escritor ou criador cultura em nosso país", afirmou o novo "imortal".
"A Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da Memória Cultural do Brasil. E tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática", disse ainda o compositor.
"Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da Internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos", acrescentou.
"A ABL tem muito a contribuir nesse debate civilizatório. E eu gostaria, aqui, efetivamente, de colaborar para o debate, em prol da cultura e da justiça", disse ainda Gil.
A posse ocorreu no Petit Trianon, no Centro do Rio. A eleição de Gil para a Cadeira 20 da ABL foi em novembro do ano passado, quando o ícone da música brasileira recebeu 21 votos.
A cadeira 20 da ABL tem como patrono Joaquim Manuel de Macedo, e o fundador foi Salvador de Mendonça. Também a ocuparam Emílio de Meneses, Humberto de Campos, Múcio Leão, Aurélio de Lyra Tavares e Murilo Melo Filho, que faleceu em 2020.
O artista é, atualmente, o segundo negro a ocupar uma cadeira na ABL. O outro imortal é o escritor e professor Domício Proença Filho, que foi presidente da academia em 2016 e 2017.
Gilberto Gil faz a prova do fardão para sua posse na Academia Brasileira de Letras - Foto: Flora Gil / Reprodução |
Gilberto Gil e Nélida Piñón - Foto: Thereza Eugênia |
Fernanda Montenegro e Gilberto Gil - Foto: Thereza Eugênia |
A Academia Brasileira de Letras dará continuidade ao ciclo de
conferências “Brasil Moderno”, que celebra o centenário da Semana de Arte
Moderna de 1922, na quinta-feira, 14 de abril, às 17h30, com a conferência
“Antropofagia e Tropicália” do Acadêmico Gilberto Gil. A coordenação do ciclo é
do Acadêmico e poeta Geraldo Carneiro e a coordenação geral é do Acadêmico e
Primeiro Secretário Joaquim Falcão. O evento será realizado no Teatro Raimundo
Magalhães Jr., sede da Academia, na Avenida Presidente Wilson 203, Castelo, no
Rio de Janeiro e a entrada é franca.
14/4/2022 - Caetano Veloso e Gilberto Gil - Foto: Thereza Eugênia |
No hay comentarios:
Publicar un comentario