miércoles, 1 de mayo de 2019

1984 - 1985 - 1986 - 20 ANOS DE CARREIRA













 
 
 
 
 
 







  









 
 
 
 








 




Foto: Quim Llenas


















Jornal Shopping News, 14/07/1985

Maria Bethânia, 20 anos depois

Maria Bethânia está em São Paulo para a estréia de seu novo show 20 Anos de Paixão, no Palace, dia 18. Nessa entrevista a Santamaria Silveira, ela fala do novo espetáculo, dirigido por Bibi Ferreira. Conversando baixo, para poupar a voz, Bethânia falou até de política, apesar de considerar o tema melindroso

Shopping News – O novo show que comemora 20 anos de carreira será uma remontagem de todo o seu trabalho, como foi Nossos Momentos?
Maria Bethânia – Não, difere completamente. Nossos Momentos reuniu pedaços dos shows que apresentei no palco e 20 Anos de Paixão será festivo por estar voltado a uma grande etapa vencida do meu trabalho e por coincidir com a saída dos anos de repressão. O espetáculo vai trazer um pouco de tudo que me comoveu durante este tempo todo, e faço nele agradecimentos a muitos artistas, principalmente os compositores que mais cantei, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gonzaguinha.

SN – Como foi a montagem?
Maria Bethânia – Um trabalho conjunto. Este é o terceiro espetáculo que faço com a Bibi Ferreira. Ela é ótima na direção, pois não impõe nada, tudo vai saindo quase naturalmente, do roteiro à iluminação. E depois Bibi tem uma larga experiência e conselhos valiosos. Mas só a direção não foi massacrante, como a direção musical inteiramente abolida. Os músicos participaram da criação e dos arranjos com total liberdade.

SN – No que difere a direção de Bibi Ferreira, Fauzi Arap (com quem você montou sucessos), Wally Salomão e Naum Alves de Souza, os dois últimos diretores de espetáculos isolados?
Maria Bethânia – As diferenças são tantas... Bibi tem tudo a ver com os grandes shows, palcos amplos, coisas sonoras e retumbantes (ri). Ideal para este tipo de espetáculo comemorativo. O Fauzi é o oposto, de grande sensibilidade, ele é diretor para apresentações mais intimistas. Já Naum é o homem dos sete instrumentos e mais teatral, tanto que com ele montei somente A Hora da Estrela. E Wally foi responsável por Mel, um recital, trabalhar com ele foi um recreio.

SN – 20 Anos de Paixão terá muito texto?
Maria Bethânia – Será um espetáculo bem musical, mas também apresentarei textos pequenos de Rosa dos Ventos e alguns textos meus. Não que eu seja escritora (saca logo a desculpa, colocando os cabelos para trás, na defensiva). É que são explicações dos meus sentimentos; se fossem escritos por outra pessoa, provavelmente eu perderia a naturalidade ao dizê-los no palco.

SN – Você considera Rosa dos Ventos seu melhor espetáculo. E 20 Anos de Paixão pode repetir este sucesso?
Maria Bethânia – Não sei se Rosa dos Ventos foi o melhor, mas um dos que eu mais gostei de fazer. Não sei se este vai repetir o estouro do outro, tudo é diferente. Em cada show procuro fazer um comentário do geral, dentro do meu particular e vice-versa, e em cada momento vivo uma realidade diferente, com contextos diversos.

SN – Por ser um show comemorativo, a personagem no palco será sempre Maria Bethânia?
Maria Bethânia – Isso é uma surpresa, mas posso adiantar que Bethânia apresentará vários personagens. (Como surpresa é surpresa, ela não quis adiantar mais nada sobre o assunto).

SN – O lançamento nacional em São Paulo é uma homenagem ao público paulista?
Maria Bethânia – Essa é a quinta ou sexta vez que estréio em São Paulo, todos os meus shows de boate tiveram início aqui. Eu gosto muito do público paulista, ele é carinhoso, educado, gosta de se comover. É como Caetano diz, o público paulista é aberto, sem medo, talvez por este motivo toda coisa importante começa em São Paulo.

SN – Se último LP Ciclo foi quase um projeto independente de trabalho. Ele marca uma nova etapa de seu trabalho? Está incluído no show?
Maria Bethânia – Considero Ciclo meu melhor disco. Com ele me liberei da obrigatoriedade de gravar aquele tipo de música com aquele tipo de arranjo, para redundar naquele possível sucesso. Isto não é para mim. Mas, por incrível que pareça, o disco não faz parte deste show, a única coisa dele que estará presente será eu, é o bastante (diz num tom de zombaria), afinal ele é um produto meu.

SN – Depois de São Paulo, o show continua a carreira?
Maria Bethânia – Quero fazer o Rio de Janeiro e talvez Salvador ainda neste ano. Paro para umas férias e depois do carnaval faço uma excursão nacional. Infelizmente não dá para fazer apresentações em muitos Estados por falta de teatros adequados, o de Manaus, por exemplo, é lindíssimo, mas muito pequeno, não cobriria os gastos da produção. E por outro lado, não faço shows em estádios porque acho o local muito dispersivo para o tipo de espetáculo que apresento. Fica difícil uma solução que não recaia num esquema mambembe, sem condições ideais.

SN – Depois do sucesso em Portugal e na Espanha, o Exterior está na pauta?
Maria Bethânia – Virou festa brasileiro cantar no Exterior. Muita gente canta num boteco e volta dizendo com ares superiores que cantou na "Europa". Para mim, cantar lá fora só se for com as minhas regras: repertório, músicos e cenários escolhidos por mim. Somente entro pela porta da frente, se em meu País eu não faço concessões, por que faria no país dos outros? (depois do desabafo, a resposta). Devo seguir em maio para acertar algumas apresentações na França.

SN – Você está às portas dos 40 anos, o tempo e a idade não te assustam?
Maria Bethânia – Nem um pouco, curto muita a minha idade atual, detestaria ter 18 anos. Nunca soube tanto de mim, nunca fui tão compreensiva com as pessoas e nunca tive uma capacidade tão grande de ser feliz. Isto para desespero dos meus amigos, na mesma faixa etária, que vivem escondendo a idade.

SN – Com o passar do tempo, as pessoas tendem a voltar às origens, você não pensa em deixar o Rio e voltar para Santo Amaro da Purificação?
Maria Bethânia – Não perdi Santo Amaro, porque trouxe minha cidade para dentro de casa. Depois meu referencial é minha mãe, e ela permanece lá, mesmo depois da morte de meu pai. Funciona quase como uma cidadela, em Santo Amaro sei que estou segura, e esta sensação é que se tornou importante. No entanto, costumo fazer muitos planos para mudar, gosto do Interior, de beira de praia, mas tenho certeza de que não deixaria o Rio, já sou muito urbana. E sempre a realidade vence a fantasia.

SN – Todo mundo cobra de você um engajamento. A gravação de Pra Fazer o Sol Adormecer, foi uma resposta aos seus críticos?
Bethânia – Essa gente não merece resposta, mas não podem dizer que não me preocupo com os problemas do Nordeste, comecei cantando Carcará (diz em tom de gozação). Eu pedi ao Gonzaguinha que fizesse essa música, porque o drama da minha gente, da seca, me comove muito e ele consegue captar os dramas nordestinos como ninguém, neste tema estão suas melhores composições.

SN – Como foi participar das diretas-já?
Maria Bethânia – A participação foi do meu jeito, ou seja, da maneira mais sincera. Eu subi no palanque em Belo Horizonte e cantei, levada pelo desejo de que a Câmara aprovasse o voto direto e por ser Minas Gerais o Estado do Dr. Tancredo, um dos homens que mais mereceram meu respeito.

SN – Com a Nova República, o Brasil mudou?
Maria Bethânia – Sim, mas acredito que as coisas vão melhorar ainda mais. A morte do Dr. Tancredo foi um rude golpe, não de todo absorvido, e vai custar um pouco de tempo até as coisas se acertarem novamente. Paciência.

SN – Em se tratando de Maria Bethânia, uma mulher passional, a pergunta clássica para terminar – a quantas anda o coração?
Maria Bethânia – Muito bem, vocês vão ver no palco com 20 Anos de Paixão.







Estréia
18 de julho de 1985
Casa de Show: Palace / São Paulo SP

Interpretação
Maria Bethânia

Direção
Bibi Ferreira

Coordenação Musical
José Maria Rocha

Cenografia
Flávio Império

Figurino
Fernando Bedê (São Paulo)
Ney Galvão (Rio de Janeiro)

Iluminação
Bibi Ferreira

Arte/Outdoor
Maria Bonomi

Composição gráfica do programa
Produtor Executivo
José Alberto Muchaki
Alice Coriolano
Jorge Vianna

Realização
MB Produções Ltda.

Arranjos
Jaime Alem
Tulio Mourão

Execução dos figurinos dos músicos
Gioconda Granato

Produtor Executivo
José Alberto Muchaki

Elenco
Músicos
José Maria Rocha (piano)
Túlio Mourão (teclados)
Moacyr Albuquerque (baixo)
Jaime Alem (guitarra/violão/viola)
Marcelo Bernardes (sax/flauta)
Djalma Correa (percussão)
Bira da Silva (percussão)
Tuti Moreno (bateria)
Vocal
Regina Correa
Jurema de Cândia
Marcos Cândia
Ritmistas
Zizinho
Tangerina
Ovídio



ROTEIRO 

PONTO DO GUERREIRO BRANCO (Motivo folclórico baiano)
É DE MANHÃ (Caetano Veloso)
PANO DE FUNDO (Jaime Além)
DRAMA (Caetano Veloso)
A TUA PRESENÇA MORENA (Caetano Veloso)
GITA (Raul Seixas/Paulo Coelho)

TEXTO
“Há vinte anos eu vivo no palco. Nunca me senti sozinha aqui. Para comemorar, estou aqui com quem nesses vinte anos me comoveu, me confortou, me estimulou: vocês e os compositores, poetas, músicos, cineastas, escritores, queridos amigos e mestres da minha vida. Nada seria possível sem vocês. Este show é feito do que nesses anos aprendi e ensinei adiante: amor e respeito.”
Depoimento de Maria Bethânia.

O ETERNO EM MIM (Caetano Veloso)

TEXTO
“Um encontro de dois olho a olho, cara a cara. E, quando estiveres perto eu arrancarei teus olhos e os colocarei no lugar dos meus. E tu arrancarás meus olhos e colocará no lugar dos teus. Então eu te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus.”
Texto de Jacob Lévi Moreno dito por Maria Bethânia em seu espetáculo de 1971 "Rosa dos ventos"

SEM FANTASIA (Chico Buarque de Hollanda)
SEM AÇÚCAR (Chico Buarque de Hollanda)
OLHOS NOS OLHOS (Chico Buarque de Hollanda)

TEXTO
“Esteja eu como estiver, desfile ela como desfilar, sempre irá comover o meu coração minha querida verde rosa, Estação Primeira de Mangueira.”
Depoimento de Maria Bethânia

JEQUITIBÁ DO SAMBA (José Ramos/Xangô da Mangueira)
YES, NÓS TEMOS BRAGUINHA (Jurandir/Helio Turco/Comprido/Arroz/Jajá)
EXALTAÇÃO À MANGUEIRA (Enéas Brites/Aloisio da Costa)
ANDA LUZIA (João de Barro)
TUDO DE NOVO (Caetano Veloso)
NÃO TEM TRADUÇÃO (Noel Rosa)
O "X" DO PROBLEMA (Noel Rosa)
JEITO DE CORPO (Caetano Veloso)
FEITIO DE ORAÇÃO (Noel Rosa/Vadico)
LUZ DA CIDADE (Roberto Mendes/Jorge Portugal)
MENSAGEIRO DA VIDA (Moacir Albuquerque/Nei Lopes)
4 DE DEZEMBRO (Tião Motorista)
DEDICATÓRIA (Caetano Veloso)
O MAR (Dorival Caymmi)
ONDE EU NASCI PASSA UM RIO (Caetano Veloso)
MORENA DO MAR (Dorival Caymmi)
CANÇÃO DA PARTIDA (Dorival Caymmi)
ADEUS DA ESPOSA (Dorival Caymmi)

TEXTO
“A estrela d’alva me acompanha / Iluminando o meu camino / Eu sei que não estou sozinho / Pois tenho alguém que está pensando em mim.”
Versos "não incluídos na Suite" gravados por Caymmi como segunda parte "Canção da Partida" como peça autônoma.

NA MANHÃ SEGUINTE (Dorival Caymmi)
TERNURA ANTIGA (Ribamar/Dolores Duran)
POR CAUSA DE VOCÊ (Tom Jobim/Dolores Duran)
EU SEI QUE VOU TE AMAR (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
RESPOSTA (Maysa)
OS ALQUIMISTAS ESTÃO CHEGANDO (Jorge Ben)
NUM SAMBA CURTO (Paulinho da Viola)
TIRA AS MÃOS DE MIM (Chico Buarque/Ruy Guerra)
MARGINÁLIA II (Gilberto Gil/Torquato Neto)
PODRES PODERES (Caetano Veloso)
OPINIÃO (Zé Ketti)
SINA DE CABOCLO (João do Valle)
FESTA (Luiz Gonzaga Jr)
GUANTANAMERA (José Marti)
CARCARÁ (João do Valle)
ABERTURA (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha)
MANUEL E ROSA (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha)
TATURANO (Caetano Veloso/Francisco de Assis)
SÃO JORGE (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha)
REZA DE CORISCO (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha)
PERSEGUIÇÃO (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha)
O SERTÃO VAI VIRAR MAR (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha)

TEXTO
“Vinte anos de carreira, vinte anos de paixão. Nenhum presente seria mais justo do que ver a volta da Democracia em meu pais que Deus nos ilumine e abençoe o meu recomeçar.”
Depoimento de Maria Bethânia

SONHO IMPOSSÍVEL (Joe Darion/M. Leight - Versão: Chico Buarque/Ruy Guerra)
É DE MANHÃ (Caetano Veloso)

PONTO DO GUERREIRO BRANCO (Motivo folclórico baiano)











 






MARIA BETHANIA - 20 ANOS DE PAIXÃO


Julho/1985 - Foto: Domicio Pinheiro / AE


Em julho de 1985, Maria Bethânia estreava no Palace (São Paulo) o espetáculo comemorativo de seus vinte anos de carreira, com direção de Bibi Ferreira.

Nesta altura, a presença visual do cenógrafo Flávio Império já se tornara uma marca de seus shows. Sétimo trabalho realizado ao lado de Maria Bethânia, 20 Anos de Paixão solicitava uma cenografia, ao mesmo tempo, diversa, movente e neutra, uma vez que reunia (e recriava) momentos antológicos de montagens anteriores.

Maria Bethânia passeava por um repertório eclético, dizia textos sobre o seu ofício e em homenagem aos “mestres” de sua vida. Flávio concebeu um degrau central que avançava para além da boca de cena. Sobre o palco, fez surgir uma plataforma sinuosa que abrigava os músicos e uma rampa por onde Bethânia deslizava em interpretações vibrantes. Além de remodelar a estrutura do tablado, Flávio projetou várias rotundas que modificavam o cenário a cada bloco temático do show e que interagiam com a iluminação concebida também por Bibi: aberturas em tecido, um céu estrelado, a lua, o sol, uma cortina de flores.

Menos de dois meses após a estreia em São Paulo, todos foram surpreendidos pela morte prematura de Flávio. As saudades foram traduzidas em homenagens.

Na temporada do espetáculo no Rio de Janeiro, o saguão da casa de shows Canecão recebeu uma exposição póstuma com figurinos e desenhos do parceiro de Bethânia ao longo de toda sua trajetória artística.


No programa especial de 20 Anos de Paixão, a gratidão da intérprete aparece em forma de poesia:


SOBRE NÓS

Te conheci pelas mãos do Fauzi
Expressivas e comoventes mãos de ator.
E as tuas mãos criativas e marcadas 
Desenharam para meu corpo e meu chão
E mais além para o meu coração.

Ainda atordoada pela tua falta
E comovida pela tua presença
A cada noite de show sobre teu cenário
Meus pés, meu canto, e tua criação
Permanecerão entrelaçados.



Maria Bethânia
Outubro 1985



MARIA BETHANIA - VINTE ANOS




22/10/1985 - Jornal dos Sports





























 















  
 
 












 






 
 

 





Maria Bethânia, Mário Priolli e sua esposa Maria de Fátima














 









 
 




1986
Revista Manchete
Rio de Janeiro – 10 de maio de 1986
Ano 35 - N° 1.777 

Pág. 88







 

 

 

 











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