No palco do Canecão, a bela iluminação de Maneco Quinderé combinou em
cheio com o cenário de Gringo Cárdia
Por Leisa Ribeiro
O Multishow tem sido um importante aliado para a MPB. Enquanto a MTV
lança CDs e DVDs acústicos e ao vivo da ala mais pop da música brasileira –
mesmo que seja o samba de Zeca Pagodinho ou o axé de Ivete Sangalo – o canal da
Globosat, transmitido pela Net, tem dado espaço para grandes artistas que não
teriam vez na dita Music Television.
Sandra de Sá, por exemplo, acabou de gravar um CD ao vivo – o DVD virá
em abril – graças a uma parceria entre sua gravadora, a Universal, e o
Multishow. Fagner e Zeca Baleiro, que lançaram em 2003 um belíssimo CD juntos
pela Indie Records, também tiveram um de seus shows registrado pelo canal a
cabo para o lançamento de um disco audiovisual.
O novo “alvo” do Multishow é Maria Bethânia, que nos dias 9 e 10 de março subiu ao palco do Canecão, no Rio de Janeiro, para gravar a versão em DVD de seu último CD, Brasileirinho. A direção é André Horta, e a produção, dividida pelo Multishow com o selo de Bethânia, Quitanda, por onde a cantora lançou Brasileirinho.
No show, Bethânia recebeu alguns dos artistas que participaram do disco, entre eles Miúcha, Nana Caymmi, Denise Stoklos, a banda de choro Tira Poeira e o grupo Uakti. O cenário do espetáculo, composto por esteiras de palha, retalhos de tecidos coloridos e balões de diversos tamanhos, deu um toque nordestino ao palco, tudo com a assinatura de Gringo Cárdia, combinando com a iluminação delicada de Maneco Quinderé.
Jaime Alem (viola e direção musical),
Jorge Helder (baixo), João Castilho (violão), Rômulo Gomes (violão e vocal),
Marcelo Costa, Reginaldo Vargas (percussões), Nair Candia, Jurema de Candia e
Viviane Godoi (vocais) foram os músicos que contribuíram para a grande
apresentação, aplaudida quase durante todo o tempo.
Fãs anônimos e famosos
Distribuído pela Biscoito Fino, Brasileirinho é o primeiro disco saído
do selo Quitanda, que ganhou este nome quando Bethânia leu uma entrevista da
arquiteta Lina Bo Bardi (criadora do Masp) na qual ela dizia que todo mundo
deve ter a sua quitanda. E a cantora resolveu fazer a dela, em parceria com
Kati Almeida Braga – sócia de Olivia Hime na Biscoito Fino – para criar um selo
que, além de música, oferece também prosa e poesia (que Bethânia adora
incorporar nas músicas que interpreta).
Em Brasileirinho, por exemplo, é possível ouvir poemas de
Ferreira Gullar e Mário de Andrade. A paranaense Denise Stoklos interpretou O
Poeta Come Amendoim, de Mario de Andrade, que veio acompanhado da
faixa Santo Antônio, primeira música de trabalho e sucesso nas rádios.
Outro grande momento do CD fica por conta da participação do Tira Poeira –
“afilhado” de Bethânia, que os considera “os mais roqueiros dos chorões” – em Padroeiro
do Brasil.
A gravação do DVD parecia uma brincadeira tantos eram os ritmos presentes. No Canecão, todo o repertório – que ia de Luiz Gonzaga a Titãs, passando por Gonzaguinha – era cantado pela platéia. Agradecida, a cantora era só sorrisos e simpatia. Descalça durante todo tempo do show, ela passeava pelo palco admirada por muitos fãs anônimos e famosos que enchiam a casa. Entre os VIPs, a jornalista Mônica Sanches, os atores globais Claudia Gimenez e Marcelo Serrado e ainda a cantora Zélia Duncan, que sempre diz ter se inspirado em Bethânia para ter começado a carreira.
Foto: Thereza Eugênia |
Caetano aplaude Maria Bethânia
Na temporada que fez para gravar ao vivo o DVD Brasileirinho, Maria Bethânia lotou o Canecão, no Rio, com fãs de diversas gerações.
Na terça-feira 9, a platéia de admiradores famosos iam de Carolina Dieckmann e Regina Casé a Marieta Severo e Chico Buarque, que chegou com as luzes apagadas e saiu antes do fim por uma porta lateral.
No palco, as convidadas especiais Miúcha e Nana Caymmi agradeceram com Bethânia a calorosa participação do público, incluindo o irmão Caetano Veloso e a cunhada Paula Lavigne.
9/3/2004 - Paula Lavigne na estréia do show de sua cunhada, a
cantora Maria Bethânia, no Canecão, no Rio - Foto: João Cordeiro Jr. / Folhapress
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9/3/2004 - Caetano Veloso e a sua mulher, Paula Lavigne
(dir.), ao lado de Maria Bethânia, que estréia show no Canecão, no Rio - Foto: João Cordeiro Jr. / Folhapress
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Foto: João Cordeiro Jr. / Folhapress |
Foto: João Cordeiro Jr. / Folhapress |
Nana Caymmi, Miúcha e Maria Bethânia |
Maria Bethânia lota Canecão na gravação do DVD ao vivo do show Brasileirinho
No palco do Canecão, a bela iluminação de Maneco Quinderé combinou em cheio com o cenário de Gringo Cárdia |
Sandra de Sá, por exemplo, acabou de gravar um CD ao vivo – o DVD virá em abril – graças a uma parceria entre sua gravadora, a Universal, e o Multishow. Fagner e Zeca Baleiro, que lançaram em 2003 um belíssimo CD juntos pela Indie Records, também tiveram um de seus shows registrado pelo canal a cabo para o lançamento de um disco audiovisual.
O novo “alvo” do Multishow é Maria Bethânia, que nos dias 9 e 10 de março subiu ao palco do Canecão, no Rio de Janeiro, para gravar a versão em DVD de seu último CD, Brasileirinho. A direção é André Horta, e a produção, dividida pelo Multishow com o selo de Bethânia, Quitanda, por onde a cantora lançou Brasileirinho.
No show, Bethânia recebeu alguns dos artistas que participaram do disco, entre eles Miúcha, Nana Caymmi, Denise Stoklos, a banda de choro Tira Poeira e o grupo Uakti. O cenário do espetáculo, composto por esteiras de palha, retalhos de tecidos coloridos e balões de diversos tamanhos, deu um toque nordestino ao palco, tudo com a assinatura de Gringo Cárdia, combinando com a iluminação delicada de Maneco Quinderé.
Jaime Alem (viola e direção musical), Jorge Helder (baixo), João Castilho (violão), Rômulo Gomes (violão e vocal), Marcelo Costa, Reginaldo Vargas (percussões), Nair Candia, Jurema de Candia e Viviane Godoi (vocais) foram os músicos que contribuíram para a grande apresentação, aplaudida quase durante todo o tempo.
Em Brasileirinho, por exemplo, é possível ouvir poemas de Ferreira Gullar e Mário de Andrade. A paranaense Denise Stoklos interpretou O Poeta Come Amendoim, de Mario de Andrade, que veio acompanhado da faixa Santo Antônio, primeira música de trabalho e sucesso nas rádios. Outro grande momento do CD fica por conta da participação do Tira Poeira – “afilhado” de Bethânia, que os considera “os mais roqueiros dos chorões” – em Padroeiro do Brasil.
A gravação do DVD parecia uma brincadeira tantos eram os ritmos presentes.
No Canecão, todo o repertório – que ia de Luiz Gonzaga a Titãs, passando por Gonzaguinha – era cantado pela platéia. Agradecida, a cantora era só sorrisos e simpatia. Descalça durante todo tempo do show, ela passeava pelo palco admirada por muitos fãs anônimos e famosos que enchiam a casa. Entre os VIPs, a jornalista Mônica Sanches, os atores globais Claudia Gimenez e Marcelo Serrado e ainda a cantora Zélia Ducan, que sempre diz ter se inspirado em Bethânia para ter começado a carreira.
São Paulo, domingo, 14 de março de 2004
11/3/2004 - Maria Bethânia, Nana Caymmi e
Miúcha conversam animadamente no camarim do Canecão, no Rio de Janeiro (RJ),
após o show "Brasileirinho", de Bethânia |
Bethânia, Nana e Miúcha, num raro
momento em que a cantora baiana se deixa fotografar no camarim, relaxada, em
plena cantoria com suas convidadas; acima, à direita, os objetos que a
protegem: foto de mãe Menininha do Gantois e a sereia numa tigela de agua
A colméia da rainha
Copo de uísque na mão, uma bela e confortável roupa vermelha e dourada, de um tecido que ela mesma comprou em Angola, Maria Bethânia está relaxada e feliz no camarim do Canecão, no Rio. Às 2h da manhã da quinta-feira, ela tem ao seu lado Nana Caymmi e Miúcha, suas convidadas para o show "Brasileirinho", e mais uma dezena de amigos -totalmente embasbacados. Já refeitas da apresentação daquela noite, as três cantam sem parar. Dão risada, falam de seus pais e irmãos (Bethânia é irmã de Caetano, Nana é filha de Dorival Caymmi e Miúcha, irmã de Chico Buarque), falam de Kelly Key, falam do Brasil.
Um gole de champanhe, e Miúcha solta: "A correnteza do rio vai levando aquela flor/ O meu bem já está dormindo/ Zombando do meu amor" ("Correnteza", de Tom Jobim). "Ôu dandá, ôu dandá", e Bethânia se junta a ela: "Ôu, dandá, ôu dandáááá". Nana, a mais despachada das três, começa a falar "dessa barbárie, dessa vulgaridade que é o Brasil". A voz aumenta: "... Essa vulgaridade que a gente atropela... e faz o que gente quer!".
Sim, elas procuram fazer o que querem, sem concessões fáceis ao marketing, orgulham-se. E soltam: "Boi, boi, boi/ Boi da cara preta/" ("Acalanto", de Dorival Caymmi). "Pega a Bethânia/ Que tem medo de caretaaaaa."
"Aproveite, Bethânia, aproveite tudo do meu pai. Ele está surdo, cego, mas a cabeça está perfeita. Ele me diz: "Filha, minha cabeça tem tudo o que eu vi. Está tudo aqui'", diz Nana. Caymmi vai fazer 90 anos em abril. As três se abraçam.
Bethânia fala: "A delicadeza é a única coisa que pode nos salvar, nos apartar do que é infernal no Brasil, o dinheiro, a Bolsa de Valores, esse inferno... Gente, olha a lua do Brasil como é linda! Olha as vozes das cantoras do Brasil como são lindas! É isso que nós temos que mostrar".
Na apresentação de "Brasileirinho", em que foi gravado um DVD, Bethânia colocou no palco, como convidados, além de Nana e Miúcha, os conjuntos Tira Poeira e Uakti e a atriz e diretora Denise Stoklos. O show deve vir a São Paulo em abril.
"A mulher chega aos 40, 50 anos, no Brasil, e é jogada para escanteio. E o que você está fazendo comigo e com a Miúcha... é o que estão fazendo com a estátua de David em Firenze. Estão arregimentando o pau do David!", diz Nana [a escultura de Michelangelo está passando por uma restauração]. Gargalhadas. Bethânia completa: "A música do Brasil também precisa de cuidados". E Nana: "Você está quebrando um tabu, porque eu não sou a [cantora] Kelly Key. Eu queria, mas não sou!".
"Vamos cantar alguma coisa daquele f. da p. do seu irmão?", diz Nana a Miúcha, referindo-se a Chico Buarque. "Sou doidinha com aquelas canelas finas dele", confessa. "Não me importa canela fina, coxa grossa, ele é ele!", diz Bethânia, soltando: "O primeiro me chegou..." ("Terezinha", de Chico Buarque).
Naquela noite, Chico foi a estrela da platéia de Bethânia (um dia antes, o papel coube a Caetano Veloso). Eram 19h da quinta quando começou a correria para ser montado um esquema especial... não para a chegada de Bethânia, mas para Chico: ele queria ir ao show sem ser visto. Entrou no Canecão escondido, e escondido ficou numa sala para só se dirigir à platéia com as luzes apagadas.
"Meu Deus, olha o Chico ali", exclamou Eunice Oliveira, a Nicinha, levando a mão ao coração ao ver Chico no esconderijo. Se ela pode tietar, todos podem: Nicinha é simplesmente irmã de Caetano e de Bethânia. Ao vê-la, Chico se derreteu.
Bethânia chama Nicinha de Babá, por causa de seu orixá. Babá é a única pessoa autorizada a mexer nos objetos pessoais da cantora no camarim. No dia da estréia, ela chegou três horas antes do show para ajeitar as coisinhas perto do espelho: uma foto de mãe Menininha do Gantois, um quadro de santa Bárbara, uma sereia dentro de uma tigela de água (presente de mãe Cleusa do Gantois), copinhos para uma pequena dose de uísque (Bethânia aquece a garganta com a bebida uma hora antes do show), pulseiras e um colar de ouro, presente de mãe Menininha, que ela usa em todos os shows.
Babá é a mais velha dos oito irmãos. Ela conta que Caetano não anda gostando nada de ver o tempo passar. Babá diz que, com a exceção de uma cirurgia que fez nos seios há cerca de dois anos e que a fez emagrecer bastante (ela também faz ginástica), "Bethânia não está nem aí". Não pinta os cabelos e se arruma sozinha antes dos shows.
Ao lado do camarim, Maria Luisa Jucá, empresária de Bethânia, atendia o celular a cada dois minutos, recebendo pedidos de convites para o espetáculo. Com duas assistentes, ela tentava ajeitar as coisas. "A Luciana de Moraes [filha de Vinicius] está doente". "Dá a mesa dela para a Marieta [Severo]", respondia Jucá. Luciana acabou indo; Jucá deu sua própria cadeira para Marieta. "A Luciana Braga [filha de Roberto Carlos] confirmou presença." "Só agora? Não tem mais convite!" "Carla Camurati não vem, está com enxaqueca." "Ai, não sei se consigo mesa boa amanhã!"
Dez minutos antes do show, o maestro Jaime Alem, 52, com Bethânia há 21, entra no camarim dela com os outros músicos. A tensão é grande porque todos sabem: Bethânia não admite falhas e, quando elas acontecem... sai de baixo.
Depois de algumas piadas para relaxar, todos fazem
uma oração e vão para o palco. É hora de Bethânia oferecer ao público o favo de
seu mel.
Novembro de 2008
Em 2004, Maria Bethânia lançou o show Brasileirinho nas principais capitais brasileiras.
A
cantora volta ao Canecão com esse trabalho para três apresentações, de 7 a 9 de
novembro de 2008. O disco integra o Brasil musical, do sertão ao litoral, do interior
aos grandes centros urbanos, unindo teatro, música e literatura (prosa e
poesia).
O espetáculo começa com Ferreira Gullar recitando O Descobrimento, de Mário de Andrade, em um telão. Bethânia canta
as canções nordestinas Salve as folhas,
Yayá Massemba e Capitão do Mato. Depois vai para o Rio de Janeiro, com Gente Humilde (composição de Garoto,
Vinicius de Moraes e Chico Buarque), Correnteza,
de Tom Jobim e Luiz Bonfá, e Cabocla
Jurema.
Os espectadores também escutam a voz da atriz Renata Sorrah lendo outro trecho
de Mário de Andrade, O poeta come
amendoin. Além disso, a cantora recria Boiadeiro
e Cigarro de Paia, de Armando
Cavalcanti e Klecius Caldas. Outras canções que também estão no repertório são Melodia Sentimental (Villa-Lobos), Tarde em Itapoã (Toquinho e Vinicius de
Moraes) e os sambas Rio de Janeiro e O
que é o que é.
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