26/4/1981 - Caetano
Veloso interpreta Verdura
(do álbum OUTRAS PALAVRAS) Gravação ao vivo do Especial "Série Grandes Nomes", exibido na TV Globo 5/6/1981 |
“Verdura, ele tinha feito aquela, estava compondo na varanda, mas, assim, bem perto, sentado no murinho da varanda, bem próximo à cozinha, porta aberta, um dia ensolarado, eu lendo o jornal e ele compondo a primeira parte de Verdura: “de repente me lembro do verde, a cor mais alegre, a cor mais triste, o verde que vestes, o verde que vestistes”.
Eu estava de verde quando a gente se conheceu. Já estava nisso, a música estava ali, o violão e ele ficava repetindo isso, esperando vir a inspiração final. E eu, lendo o jornal, vi a noticia de que muitas crianças, principalmente do nordeste, estavam sendo vendidas para famílias americanas. Eu falei “olha o que a fome do nordeste está fazendo com as pessoas” e contei pra ele. Li pra ele a notícia e, imediatamente, ele achou a segunda parte que é “de repente vendi meus filhos pra uma família americana...” [Alice Ruiz, poetisa, esposa de Paulo Leminski]
“… além de ser uma mini obra-prima, síntese de
tropicalismos, revelou seu autor a um público maior". (Régis
Bonvicino)
“
‘Verdura’ é um sonho. É genial. É um haikai da formação cultural brasileira”.
(Caetano Veloso)
“Soluções
muito simples dispõem às vezes de um frescor e de uma força criativa genuína”.
(Zé Miguel Wisnik)
Letra e música (*): Paulo
Leminski [Curitiba 24/8/1944 - 7/6/1989]
1980
1980
de repente
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que te vi
o dia em que me viste
de repente
vendi meus filhos
a uma família americana
eles têm carro
eles têm grana
eles têm casa
a grama é bacana
só assim eles podem voltar
e pegar um sol em copacabana
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que te vi
o dia em que me viste
de repente
vendi meus filhos
a uma família americana
eles têm carro
eles têm grana
eles têm casa
a grama é bacana
só assim eles podem voltar
e pegar um sol em copacabana
(*) “Tecnicamente, por ter criado a harmonia Ivo Rodrigues deveria constar como parceiro" (Toninho Vaz, em "Paulo Leminski - O bandido que sabia latim")
6129 2427 / 3:55
Álbum "Outras
Palavras"
Philips LP 6328 303, B-5. Lançamento: Março de 1981
CD 838.465-2, Track 11. [1989]
Verdura,
a primeira canção que tornou Leminski um compositor popular, aparece nessa obra
ainda sem título.
LEMINSKI, Paulo. não fosse isso e era
menos não fosse tanto e era quase. Curitiba: Editora
ZAP, 1980. 80 folhas não numeradas.
Edição
independente, com baixa tiragem, hoje uma raridade bibliográfica.
Composto com a tipografia expandida na página, de modo que as ranhuras ficassem
evidentes e os poemas, similares a anúncios publicitários.
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1982
Revista Veja
13 de Janeiro de 1982 – n° 697
Páginas 92-93
Foco do artigo: a ligação de Paulo Leminski com a MPB. (Okky de Souza)
Revista Veja
13 de Janeiro de 1982 – n° 697
Páginas 92-93
Foco do artigo: a ligação de Paulo Leminski com a MPB. (Okky de Souza)
Música
Um brilhante maldito
O agressivo Paulo Leminski
sai do anonimato literário e invade
as rádios com boas canções
“Leminski: arredio a badalações,
autodefine-se como ‘uma besta
dos pinheirais’.”
Desde que Caetano Veloso gravou a faixa “Verdura” em seu vitorioso último LP, o poeta paranaense Paulo Leminski, autor da canção, transformou-se numa das citações indispensáveis da temporada entre a juventude de São Paulo e do Rio de Janeiro. Através de uma melodia forte, combinando rock e samba de roda, e de uma letra de saboroso humor negro, Leminski surgiu como uma das raras e boas surpresas da música brasileira, uma novidade a se discutir e nela apostar, confirmada pela gravação de sua belíssima “Valeu”, no LP de Paulinho Boca de Cantor. Agora, com duas canções entre as mais executadas nas rádios FM do país — “Mudança de estação”, com a Cor do Som e “Chapéu de Marinheiro”, com o grupo Blindagem —, ele conquista uma popularidade tão justa quanto avessa à sua personalidade.
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Estréia show CORES, NOMES
Teatro Guaíra - Curitiba
30/4/1982
1982
Revista VEJA
N°
714
12
de maio de 1982
Editora
Abril
Leminski com Caetano Veloso e Alice Ruiz - Foto: Nani Góis |
Revista
ISTOÉ
12
de maio de 1982
BRILHA
O COMETA CAETANO
Simples,
sofisticado: o “show” de Cae que estreou em Curitiba
CORES,
NOMES
Paulo
Leminski
Se
São Paulo já foi chamada de túmulo do samba, Curitiba, de certa forma a principal
cidade do interior de São Paulo, era até a pouco a pirâmide com ar condicionado
de todas as artes, onde jazia, impávido colosso, o sarcófago do vampiro
daltônico (de Dalton Trevisan, por favor).
Todavia
ventos mais cálidos começam a soprar entre os ipês da única capital do Brasil
que, uma vez na vida, vê neve.
A
ponto de Caetano Veloso dar partida na tournée nacional do seu show Cores,
Nomes no burgo de Jayme Lerner, quando uma experiencia de urbanismo
social-democrata, quase européia, orquestrada pelo própria burgomestre, está
substituindo o (raro) calor atmosférico pela tepidez humana do convívio e do
encontro.
Pasmo
foi ver Caetano substituir uma ojeriza antiga, conforme ele mesmo conta, por
uma paixão inesperada.
“Gosto
das coisas que dão certo.”
E
exemplificou:
“A
Rede Globo, Curitiba...”
Quem
lotou o Guairão nos três dias de Cores, Nomes foi uma Curitiba especializada.
Os caetanistas são gente especial. Os muito jovens, os não tão jovens, um tanto
ou quanto contraculturais, artistas, artistas da vida ou em idade de arte. Para
eles, em Curitiba Caetano apresentou, em première nacional, seu show mais
simples e mais sofisticado. Algumas cores. Alguns nomes. Momentos de estesia.
De beleza pura, terreno no qual Caetano é imbatível. Afinal, que mistério tem
Clarice?
Ao
longo de quase trinta músicas, o mago de Santo Amaro vai entremeando antigos
sucessos com as canções do seu mais recente LP, um meandro caprichoso, que tem
seus orgasmos na caetaníssima Sina, de Djavan, a mais nova paixão
musical do “Cavaleiro de Jorge”.
Esta,
aliás, a música com que começa a cavalgada das tropicais valquírias de Cores,
Nomes.
Daí,
Caetano salta para Cajuína, Menina do Anel de Lua e Estrela, Badauê,
do LP anterior, para desembocar em Ilê Ayê, deste LP, com letra do seu
filho Moreno.
De
repente, Caetano se lembra de Subaé e da urgência de purificá-lo, dando
a esse riacho que atravessa sua terra a grandeza de um símbolo ecológico.
Cores,
Nomes, vibram os políticos, traz um Caetano explicitamente preocupado como os
problemas da tribo e da espécie. Lá está E Ele Me Deu um Beijo na Boca
que não me deixa mentir. Esse beijo-provocação, de homem para homem.
Com
sua movimentação roqueira, jaggeriana, Caetano toma o Trem das Cores,
como se sabe, um veículo que só pára em todas as amizades coloridas de que este
final de século é capaz.
Billy-hollydayana
a interpretação de Meu Bem, Meu Mal.
E,
no final, Caetano ainda se Queixa, pondo para fora, com o público, tudo
o que um homem pode ter contra uma mulher.
Nesse show, by the way, Caetano
continua o mesmo. O
mesmo conjunto. O mesmo estilo de se apresentar. O mesmo nível de sempre do
maior poeta-cantor da música popular brasileira.
O
último a chegar é fã de Fagner.
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LEMINSKI, Paulo. Caprichos & Relaxos. 1983, 1a. edição.
São Paulo: Brasiliense, 152 páginas.
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Caetano
Veloso num táxi em Curitiba, 1976.
Foto: Toninho Vaz |
Paulo Leminski e Alice Ruiz com Caetano Veloso num armazém de secos e molhados. Curitiba, 1976. Foto:
Toninho Vaz
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Paulo Leminski, Alice Ruiz e Caetano. Curitiba, 1980. |
Rio de Janeiro, 1981
Caetano Veloso, Paulo Leminski, Moraes Moreira
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24/8/1985 |
Aniversário
no Palácio de Cristal, com Caetano Veloso
Paulo Camargo
24/08/2014
O Palácio de Cristal, ginásio de esportes do Clube Círculo Militar do Paraná, estava lotado e fremindo naquela noite de 24 de agosto de 1985, ao vigoroso som da Nova Banda. O grupo era formado pelos músicos Ricardo Cristaldi (teclados), Zé Luís (sax e flauta), Tavinho Fialho (baixo), Toni Costa (guitarra), Marçal (percussão) e Marcelo Costa (bateria), que acompanhavam Caetano Veloso no show Velô, espetáculo construído a partir do repertório do álbum homônimo, lançado no ano anterior. O sexteto já havia participado da gravação do disco, que rendeu ao compositor baiano sucessos como as pulsantes “Podres Poderes”, “O Quereres” e “Língua”.
A certa altura da apresentação, que graças às particularidades do espaço, menos formal do que o vizinho Guairão, se transformara em uma grande pista de dança, Sentindo-se em casa, Caetano chamou ao palco um velho amigo: Paulo Leminski, que fazia aniversário naquele dia. Em 1981, no LP Outras Palavras, o filho de dona Canô havia gravado “Verdura”, canção com letra e música do poeta curitibano. Os versos mais conhecidos dizem: “De repente/ vendi meus filhos/ a uma família americana/ eles têm carro/ eles têm grana/ eles têm casa/ a grama é bacana”.
E foi justamente para cantar/recitar “Verdura”, que Leminski, compositor bissexto mas um apaixonado por música, juntou-se a Caetano e, inebriado com o suingue e a energia da Nova Banda, não deixou mais o palco do Palácio de Cristal, emocionado com a homenagem recebida, segundo relata sua filha mais velha, Áurea, que tinha 14 anos e acompanhava os pais. Ouviu o baiano saudar, entre aplausos e vaias, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, que já havia sido, àquela altura, prefeito de Curitiba por duas vezes. Também dançou, cantou e pulou como se aquela noite fosse a última. Bem ao estilo Leminski.
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