Antes de 1970, quando se estabeleceu
como cineasta e mestre do gênero terrir, uma mistura de terror e chanchada,
Ivan Cardoso atuou como pintor e aproximou-se de colegas como Rubens Gerchman,
Carlos Vergara e Hélio Oiticica. Ainda nos anos 60, também começou a fotografar
diversos amigos muitos deles se
tornariam bem famosos, como Caetano Veloso, e reuniu um acervo de 70.000
negativos ao longo de três décadas. Na individual que leva seu nome, o artista
exibe oitenta ampliações, pintadas a guache, caneta hidrográfica e acrílica,
com imagens de Ney Matogrosso, Claudia Ohana, Débora Bloch e Glauber Rocha,
entre outros.
Foto de Caetano
Veloso, registrada e alterada por Ivan Cardoso
|
Fotos de
celebridades ganham tons coloridos na mostra do cineasta
5/10/ a 29/10/2011
Trabalhando em diversas mídias, à la Andy Wharol, o fotógrafo, artista plástico e cineasta Ivan Cardoso expõe seu trabalho na galeria Graphos: Brasil, a convite do marchand Ricardo Duarte. A mostra do artista pop, em cartaz de 5 a 29 de outubro, tem cerca de 80 pinturas sobre fotografia, feitas à mão e diretamente na foto.
Ivan
intervém em retratos de personalidades conhecidas, feitos em preto e branco
entre os anos 1970 e 1990. Nomes como Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Hélio
Oiticica, Glauber Rocha, Burle Marx e Cláudia Ohana já foram clicados pelo artista.
Antes de
se tornar o mestre do gênero de filme “terrir’ – mistura de terror e chanchada
– Ivan começou sua produção artística como pintor em óleo e guache.
Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos |
Burle Marx |
O antropólogo Darcy Ribeiro pelas lentes e tintas de Ivan
Cardoso (Foto: Divulgação / Ivan
Cardoso)
|
7/10/2011
As cores de Ivan Cardoso
Cineasta conversa sobre a faceta inédita de seu
trabalho, que reúne fotografias com pinturas
Colaboração
de Gustavo Durán
Por mais que seja evidente a comparação, em nenhum momento o cineasta e fotógrafo Ivan Cardoso se refere à pop arte ou a Andy Wahrol quando fala do trabalho que agora inaugura a galeria Graphos: Brasil, em Copacabana. Na mostra, uma vertente inédita em sua obra, Cardoso apresenta pinturas em 80 fotografias, interferindo em cliques feitos por ele entre os anos 70 e 90: "Essa é minha historia, que agora ficou colorida", revela. Buscando cobrir diversos campos das artes, o artista registrou personalidades da música, da pintura, do cinema, da televisão e até dos esportes. Quem for à exposição, que segue até 29 de outubro, vai ter contato com imagens de Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Burle Marx, João Havelange, Glauber Rocha e Darcy Ribeiro, de forma singular, e bastante colorida.
Também conhecido como o mestre do "terrir", um misto de chanchadas com terror, responsável por filmes como As sete vampiras, o cineasta se revela um adepto da fotografia em preto e branco, em meio a um acervo de 70 mil negativos: "Depois é só colorir e aplicar o Color Cardoso", brinca.
Durante o processo do "Color Cardoso", Ivan repassou sua trajetória: "Em quatro meses, revi 40 anos", e consagrou sua outra paixão: "Fotografia é uma linguagem que se aproxima da literatura, da poesia, das artes". Após pintar cerca de 200 fotografias à mão, o artista escolheu as melhores para a exposição e agora prepara um novo longa-metragem, do qual revela ainda pouco: "É um filme que vocês nunca viram igual, que não se descreve, só vendo".
Cultura.rj : A paixão por fotografia nasceu junto com o gosto pelo cinema?
Ivan Cardoso: Mais ou menos junto. Eu era modelo do meu pai, que era fotógrafo amador e eu, filho único. Ele revelava os filmes em casa e, de fato, eu tenho mais contato com a fotografia. Mas também era ele que me levava ao cinema quando criança. Além disso, tinha um 78 mm (projetor) em casa, então ele botava um lenço na parede e projetava. Isso desde que me entendo por gente!
Cultura.rj : Existe um ponto de interseção entre as duas paixões?
Ivan: Os dois são paralelos, pois são imagens. Mas tem tratamentos diferentes. Fotografia é uma linguagem que se aproxima da literatura, da poesia, das artes. É o que você pode fazer sozinho, sem problemas de produção, tudo solitariamente, só não pode fabricar o filme da máquina fotográfica. Já o cinema não, mesmo tendo começado em Super 8, onde você aprende a fazer sem mestre, como se diz: "Praticamente na prática" . E o Super 8 é um precursor dessas câmeras modernas, democratizou o cinema para pessoas amadoras.
Cultura.rj: Você já tem fotografias que viraram capas de discos. Em que esse trabalho inédito se diferencia?
Ivan: Minha trajetória como fotógrafo é estranha, nos meus primeiros trabalhos, já virei cult. Passei do nada ao tudo muito rápido. No meu primeiro trabalho profissional, fui fotografar os principais nomes da vanguarda brasileira para a revista Navilouca. Também fiz a capa do livro do Wally Salomão, do disco Fatal, da Gal Costa, depois outro disco do Jorge Mautner, e por ai foi.
Cultura.rj : E como se deu esse contato com a vanguarda brasileira?
Ivan: Fui conhecendo essas pessoas à medida em que fui fazendo esses trabalhos, mas meu passaporte para circular nessa área foi o Hélio Oiticica. Quando era universitário, não era engajado, mas participava por minha conta. Meu interesse era cultura, mas não era líder estudantil, apesar de ter sido presidente de turma. Até organizava jornal, mas não participava do cineclube, só como espectador. Estudei em um colégio onde você entrava burro e saía malandro. Foi lá que, uma vez, convidei o Rubens Gerchman e Carlos Vergara para uma palestra, também como pretexto para conhecer essas pessoas. E nessa conferência eles me deram a dica de levar o Oiticica, que também era neto de um anarquista, o José Oiticica. Quando o Hélio foi e começou a palestra dele, ia tudo bem, até ele falar: "Se vocês virem um retrato de milico (militar) na rua, na capa de revista ou em anúncio, pode pichar. Aí esse retrato vira obra de arte". Na hora, a diretora interrompeu o discurso e daí nós passamos a frequentar esse mundo do Oiticica.
Cultura.rj : O processo de seleção, entre os mais de 70 mil negativos, foi complicado?
Ivan: Eu já fiz um livro, com parte das minhas melhores fotografias, mas isso é relativo. Numa época, tem uma foto que você não valoriza, e depois olha de novo e é diferente. Mas só agora fiz as alterações para a exposição. Também fiz capas de discos, que fazem parte dessa seleção. Mas todo fotógrafo é um colecionador de figurinhas.
Cultura.rj : De que forma você optou pelas interferências e pinturas nos registros?
Ivan: Comecei por aquelas que são mais montadas, com fotografias de convites de exposição. Como ficou bonito, continuei colorindo, e foi intenso e fascinante. Primeiro porque não sabia colorir foto, e segundo porque eu gosto de inventar coisas, descobrir uma nova técnica. Então, eu ia preenchendo, não levando muito a sério. Uma coisa meio intuitiva e aleatória. Ia vendo as fotos, colorindo, e foi bacana. Se Juscelino Kubitschek afirmava que fez "50 anos em cinco", em quatro meses eu revi 40 anos. Ao colorir, voltaram à mente as histórias de como foram feitas. Mesmo eu tendo sido o fotógrafo, cada uma me fotografou também, então essa é minha história, que agora ficou colorida. Eu, que já era mais a favor do preto e branco do que da fotografia colorida (ao todo são 40 mil negativos em preto e branco e só 30 mil colorida), não preciso mais, depois aplico Cardoso Color!
Cultura.rj : Cada foto recebeu uma pintura exclusiva?
Ivan: Sim. Eu fui feliz, não planejei e cheguei a colorir umas 200 fotos. Dali, tiramos 80, e foi uma experiência quase terapêutica. Mexer com tinta distrai e consegui arranjar uma maneira de colorir cada personagem de acordo com sua foto e sua história.
Cultura.rj : E o seu novo trabalho? Será um filme abstrato?
Ivan: A noção de filme abstrato dá uma ideia muito fechada do que seria. É um filme que vocês nunca viram igual, que não se descreve, só vendo. É um projeto grande. Eu saía de noite, de carro, enquanto chovia, e com uma câmera automática. Com o foco e a chuva escorrendo no vidro, a cidade acabou transformada em borrões coloridos. Ficou um resultado surpreendente.
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