domingo, 21 de febrero de 2016

1970 - LONDRES - The Round House / Ralph Mace / Gal Costa / David Bowie



“Sempre tive a impressão de que ele não era uma pessoa de quem eu um dia fosse saber que morrera”
 
[C.V. 14/1/2016]




The Round House (casa de shows ao norte de Londres)


"O lugar mais louco de Londres" (Carlos Freire,1970) 

"O lugar mais quente de Londres" (Gal Costa, 1970)



David Robert Jones (8/1/1947 - 10/1/2016)


Facebook Caetano Veloso, 14/1/2016.

"Soube da morte de David Bowie com atraso. Estava entre Austin, Houston e o Rio, sem me comunicar com ninguém. Tardei a admitir que certos emails que abri logo ao chegar estivessem dando conta disso. Bowie era 4 anos mais novo do que eu e, apesar de ter tido notícias de que ele sofrera ataques cardíacos, sempre tive a impressão de que ele não era uma pessoa de quem eu um dia fosse saber que morrera. Assinalo o fato porque não queria que parecesse que ostento desprezo por figura tão importante na história da atividade a que eu próprio me dedico. Na verdade, Bowie e eu nos encontramos, de modo breve e pouco significativo para ambos. Ralph Mace, o produtor dos meus dois discos londrinos (e que tinha colaborado com Bowie) quis aproximar-me dele: cria que eu devia colaborar com seu trabalho. Levou-me para ver um show dele na Round House e depois nos apresentou no camarim. Eu não tinha gostado do show. Isso deve ter sido em 1970. Sendo de uma geração que se empolgara com o clima contracultural dos anos 1960, eu achava o corte de cabelo dele um prenúncio da adesão dos locutores de noticiários televisivos à rebeldia hippie. Eu gostava dos discos dos Beatles e dos shows dos Rolling Stones. Mick Jagger criava um clima de transformação do mundo em comunhão com a plateia. Bowie esboçava uma estilização intencional que, no entanto, era, aos meus olhos, pouco rigorosa. Vi muitas coisas que cresceram nos anos 70 dessa maneira. Por outro lado, toda a dialética do pop, que me interessava, ficava abaixo do significado que o Brasil ganhava para mim. Há a questão geracional: pessoas 10 anos mais novas do que eu se sentiram liberadas pelo estilo de Bowie. Eu me liberara com Jorge Ben, John Lennon e Mick Jagger - além das experiências próprias nossas dos tropicalistas de 1967. Bowie parecia ter surgido para me prender de novo a convenções de palco-e-plateia. Ou seja: perdi o bonde de Bowie. Só décadas depois é que admiti a grandeza histórica do artista que ele chegou a ser. Vendo o vídeo de "Lazarus", fiquei impressionado com a força expressiva. Nunca nenhuma canção de David Bowie ficou em minha cabeça. Hermano Viana me provou que os discos alemães, com a presença de Brian Eno, eram sonoramente instigantes. E sempre vi que Bowie poderia ser grande só pelo "Walk on the Wild Side" de Lou Reed. "Lazarus" me soou mais forte como concepção de arranjo do que quase tudo dele. E a inserção dessa dança meio robótica, meio espiritual que ele fez e refez tantas vezes ao longo da vida (de fato, um dos mais belos ecos dos espasmos de Elvis) transforma todo o vídeo num acontecimento poético. Me lembro de uma entrevista em que ele diz ser o Harry Langdon do Rock. Beatles e Stones poderiam ser Chaplin e Keaton, mas ele, Bowie, era a figura menor - e talvez a mais lírica. Tudo somado - e a História dando perspectivas diferentes das anunciadas pelos utopistas da minha juventude - , David Bowie foi um dos artistas mas importantes do pop, desde que o rock é rock. Enquanto eu fazia "clips do Fantástico" ele redesenhava-se como capas de revistas de moda ou de móveis modernos. Pôs a obra em Wall Street, casou-se com uma modelo preta, gravou um belo vídeo sobre a morte que aconteceu de ser lançado logo depois de ele morrer. Nesse vídeo ele nos diz que está no céu. E que tem cicatrizes invisíveis. Tem algo das obras de arte arrebatadoras e inesquecíveis."



Ralph Mace, produtor dos discos de Caetano e Gil em Londres e promotor do encontro Bowie-Caetano na Round House.








 








 
 




























18/3/1970
n° 80



























3/2/1970 - Ordem dos Músicos do Brasil


















































22/2/1970

























1970
Revista inTerValo
Fevereiro
Ano VIII – n° 372
Editora Abril








 








1970
Revista inTerValo
Ano VIII – n° 375
Editora Abril












1970
Revista fatos e fotos
Brasília, 26 de março de 1970
Ano X – n° 477

Fotos: Alécio de Andrade




Gal Costa visita os seus amigos baianos em Londres


























A garota atravessou a pista do Aeroporto de

Londres, correndo em direção  aos dois casais que

a esperavam. Chegou e quis abraçar todos de uma

vez, mas não foi possível. Então os cinco ficaram

juntos, rindo e chorando ao mesmo tempo. Depois

de um ano, Gal Costa reencontrava Caetano e

Dedé, Gil e Sandra. Mais tarde, vestindo as roupas

mais loucas que encontrou em Carnaby Street

e usando uma peruca desgrenhada ela falou para

FATOS E FOTOS.



“Eu vim para ver os meninos, não interessa
a paisagem, eu quero é ver os meninos. Quando
acabar a saudade, vou pensar em sair a ver esse
negócio de estátuas e o resto. Agora, não. Você
sabe, não consigo esquecer o que passamos juntos,
tristezas e alegrias. Quando cheguei ao
Rio, faz tempo, eu era magrinha, magrinha.
Começamos a trabalhar juntos e deu certo, tudo
combinava direitinho. Quando os meninos viajaram
foi aquela fossa. A única consolação era saber
que aquí eles estavam bem, com mais chances.”
Gal está morando com os baianos em Redesdale
Street, no bairro de Chelsea, a cinco minutos
de King’s Road. Ela sai pouco a noite.


Caetano na Round House (Foto: Alécio de Andrade / Blog do Emílio Pacheco)




“Sabe, só gosto do ir ao Round House, que
é realmente o lugar mais quente de Londres. Lá
a gente canta, danca, pula, pinta o diabo, e tudo no
ambiente mais saudável do mundo. Nunca vi coisa
igual. Tem um gurizinho de dez anos no meio do
salão, de repente vem alguém que recita um poema
da bomba atômica, acontecem as coisas
mas loucas. O que é mais bacana: cada um está
na sua, pouco ligando para os outros. Não é genial?”
A pesar de sair pouco. Gal gostou de Londres.

  
“Gostei mesmo. Daqui a um ano voltarei para
trabalhar com os meninos. O Guilherme Araújo
disse que isso é bem possível. Para mim, é
uma perspectiva sensacional. Quero criar algo de
novo, como eles estão fazendo. Hoje, por exemplo,
o Gil compôs uma nova canção com letra do
Capinam, que vai chamar Jardim Zoológico.
Gostei muito, é superquente, um rock violento, que
mexe com tudo. Eles estão uma brasa, bicho.” 







Revista InTerValo





1970
Revista do Rádio e TV
n° 1066 – Ano XXIII
30 de maio de 1970









1970
Revista do Rádio e TV
n° 1068 – Ano XXIII
13 de junho 1970

Capa
Gal Costa, que muda de penteado e de estilo é quem está na capa desta edição, num ecktachrome de Sérgio de Souza, exclusivo da RR-TV











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