2006
Revista BIZZ
Edição 208 – 7/12/2006
Editora Abril
|
Foto: Daryan Dornelles |
CAETANO
Por seu devoto, Devendra Banhart
mais
ENTREVISTA EXCLUSIVA
O NOVO SHOW MOVIDO A GUITARRAS
Por Paulo Terron
Depois
de seis anos, Caetano Veloso volta à cena movido a guitarras e é capa da BIZZ
de dezembro.
Ele é uma das figuras mais importantes da música brasileira e sabe como ninguém
ser polêmico. Recheada de declarações autênticas, a reportagem de capa da
edição de dezembro da Revista BIZZ, mostra a nova fase de Caetano Veloso, lenda
viva da mpb que surpreende mais uma vez ao lançar o elogiado disco
"Cê", ao lado de uma banda de rock - baixo, guitarra e bateria.
A matéria foi dividida em três partes: na primeira, o músico Devendra Banhart,
um dos principais artistas do movimento folk psicodélico e uma das atrações
principais do Tim Festival 2006, fala sobre a obra de Caetano, da qual é
profundo conhecedor e admirador, que dá o seu depoimento do ponto de vista de
um músico estrangeiro de rock. A convite da BIZZ, Devendra conheceu
pessoalmente Caetano quando passou pelo Brasil e revelou: "Pensei em me
matar depois, porque já havia vivido tudo o que eu queria viver", disse à
revista.
A segunda parte da entrevista faz a cobertura da estréia do show de Caetano em
Brasília. Por fim, uma entrevista exclusiva, em que ele fala abertamente sobre
diversos assuntos, com a sua verve polêmica de sempre. Para ilustrar a capa,
BIZZ publica foto exclusiva com Devendra Banhart, ao lado de sua banda, com a
foto de Caetano.
Devendra: Devoção ou insanidade? Ou ambas?
O “mito” Caetano e sua obra são comentados por um
dos principais artistas do movimento folk psicodélico e devoto confesso do
Tropicalismo, Devendra Banhart, que fala sobre o encontro que teve com seu
ídolo.
“Contemplei o suicídio depois de conhecer Caetano
Veloso. Não havia mais nada que eu quisesse fazer na minha vida! Conheci meu
herói!”. Outra declaração explícita de fanatismo ou obsessão por Caetano nas
páginas da BIZZ está na frase que disse quando estava no estúdio acompanhando o
ensaio do novo disco de Caetano: “Eu estava com um monitor de som no ouvido,
então Caetano estava tocando profundamente dentro do meu cérebro. Havia partes
do meu cérebro que eu nunca havia usado até aquele momento. O Caetano despertou
partes dormentes da minha cabeça”, revela Devendra.
Show de rock
Na segunda parte da reportagem de capa de dezembro,
BIZZ vai até Brasília acompanhar Caetano Veloso subir pela primeira vez ao
palco da turnê de “Cê”, apresentando um show que traduz a sonoridade do álbum:
sexual, feliz e impetuoso. “Mucosa roxa, peito cor de rola/seu beijo, seu
texto, seu queixo, seu pêlo, sua coxa”. Na segunda vez em que o trecho é
cantado no show, uma mulher se vira para o acompanhante:.“Ele disse isso mesmo
que eu estou pensando? Nossa, está pesado esse show, né?”. Com baixo-bateria-guitarra,
o show “Cê” não poderia escapar da classificação genérica “rock” e mostrou que
os meses de ensaio ao lado da nova banda criaram um entrosamento importante
para o formato das apresentações.
“Eu sou cabeça”
Na terceira parte da reportagem, Caetano, com sua
verve polêmica de sempre, fala abertamente sobre diversos assuntos.
Rótulos
“Não gosto, acho que o apelido é um nicho, ninguém
sabe exatamente o que põe ali. Porque eles são apenas um quebra-galho para as
pessoas poderem conversar. Não quero ser posto no nicho da MPB, mas tampouco
quero ser colocado no nicho de rock. Esse negócio de tribo, de rock.
Parece que você está entrando em um negócio”.
- Mas o Caetano vai fazer rock agora?!?
“Essa reação muito fácil, de desqualificar porque
não venha-fingir-que-você-faz-parte-da minha-tribo-porque-você-não-faz parte-da-minha-tribo,
é primária porque toda uma história não está sendo reconhecida”.
Separação
“Talvez seja difícil ser solteiro. Mas nem todas as
canções são documentais, embora todas tenham ecos desse clima emocional”.
You don't know me
por Paulo Terron
## Uma nova turnê, um novo disco, um monte de frases de
impacto e um fã-devoto americano (que pensou em se matar depois de conhecê-lo).
Não podia ser mais a cara de Caetano Veloso ##
"Um
encontro com Caetano? Não acredito! Pessoalmente, em outubro? WOW! Eu amaria...
Eu levo as fraldas!" Ainda era agosto quando a BIZZ propôs o encontro para
Devendra Banhart, o americano de 25 anos famoso por seu folk psicodélico e por
sua obsessão com o tropicalismo. Mas ele já estava de passagens compradas para
shows no Rio de Janeiro e em Vitória.
Ao botar
os pés aqui, enlouqueceu com açaí, visitou alguns estúdios e, claro,
encontrou-se com seu ídolo supremo. Era 26 de outubro e Devendra chegou de
banhinho tomado ao escritório da Natasha Produções acompanhado de seu
guitarrista Noah Georgeson (trechos desse bate-papo aparecem como interlúdios
do depoimento exclusivo que Devendra deu à BIZZ).
Devendra
abre este bloco de reportagens dedicadas a Caetano, que está na estrada
divulgando seu novo álbum, Cê. Em seguida, você confere a estréia do show, em
Brasília, e uma exclusiva com o próprio tropicalista - um mais que legítimo
"papocabeça" sobre rock, distorções históricas e sobre um certo
folk-hippie doidão...
Caetano
por Devendra
Contemplei o suicídio depois de conhecer Caetano Veloso. Não havia mais nada
que eu quisesse fazer na minha vida! Juro que é verdade. OK, talvez não
exatamente o suicídio, mas me senti muito estranho, como se fosse o fim de
algo. Mas é claro: além do fim, está o começo. Só pode haver um novo princípio.
Então agora sou uma nova pessoa, depois de conhecê-lo. Tudo a partir de agora é
diferente... Conheci meu herói! Agora tenho esse lindo e emocionante ponto da
minha vida. Ainda me emociono pensando nisso, nessa experiência.
"Depois
de nossa apresentação no Rio, Caetano fez a melhor crítica à nossa música.
Tínhamos entrado para tocar muito tarde, depois das 3 horas da madrugada. E
nosso equipamento não funcionou, o som estava uma droga. Além disso, não
conseguia parar de pensar: "Caetano está aqui para nos ver! "Certamente
não foi dos nossos melhores shows. Achamos que o Caetano tinha ido embora, mas,
mais tarde, quando o sol estava surgindo, ele apareceu nos bastidores e nos
abraçou, um por um. Ficamos petrificados de medo, porque ele tinha visto a
apresentação. Aí ele disse: "Pessoal, foi horrível! Mas eu amei". Foi
isso, perfeito.
Antes,
tivemos a honra e o incrível prazer de ver um dos ensaios da turnê de Cê. A
primeira vez que ouvi esse disco, aliás, achei a sonoridade muito legal, meio o
Brasil encontra Nova York, um trabalho de rock mesmo. Depois, comecei a pensar
que era um álbum cheio de dor, de despedaçar o coração. E acho que isso nem tem
relação com o fato de eu ter conhecido Caetano, acho que é só o desenvolvimento
do CD dentro de mim, de analisá-lo melhor.
Voltando
ao ensaio: ele tocou todas as músicas novas. Depois ele tocou algumas das
minhas favoritas, como "Nine Out of Ten". Foi um choque! Ele estava
bem ali, a poucos passos de nós... E tem mais - eu estava com um monitor de som
no ouvido, então Caetano estava tocando profundamente dentro do meu cérebro.
Havia partes do meu cérebro que eu nunca havia usado até aquele momento - o
Caetano despertou partes dormentes da minha cabeça. Agora tenho certeza de que
ele é uma pessoa de verdade, não uma ilusão que eu criei. Não é uma união de
milhares de cantores e compositores que minha mente juntou em um super-humano
único. Tudo parece um sonho, um bem lindo. Era o que eu esperava.
DEVENDRA:
Não falo português, mas, quando escuto uma canção do Caetano, consigo entender
o que ele quer dizer. Se pergunto para alguém que fala a língua: "É sobre
tal coisa?", normalmente a pessoa diz que sim. O sentimento se traduz.
Isso cai naquele velho clichê de que a música é uma linguagem universal.
CAETANO: Vou te contar, nos últimos anos tenho me preocupado mais com o lado
musical das minhas gravações e shows porque penso nos pobres coitados que não
falam português (ri). Tento ser mais responsável musicalmente.
DEVENDRA:
Você tem músicas em francês, inglês, espanhol e italiano. Não é só em
português.
CAETANO: Sim, escrevi primeiro em inglês porque morei na Inglaterra. (...)
Ontem à noite, vi você cantando "London, London" com a Cibelle em um
clipe, na MTV. É incrível, porque eu morria de vergonha dessa música! (risos)
Foi sucesso no Brasil, uma coisa ridícula. Eu tinha um pouco de vergonha dessas
canções em inglês. Mas não todas. "Nine Out of Ten", por exemplo, eu
gosto. É boa, eu gosto.
DEVENDRA:
Sempre tocamos "Lost in the Paradise" e emendamos com um trecho de
"Nine Out of Ten", e às vezes uns pedaços de "Tropicália".
(...) Tempos atrás, estávamos em Londres e passamos na frente do Electric Cinema.
Pensamos: "Deve ser sobre isso que ele canta em 'Nine Out of Ten'!"
CAETANO: Eu costumava ir a esse cinema quase que diariamente, eu morava ali em
Notting Hill Gate.
DEVENDRA (Fazendo
cara de desconforto extremo): Sou alérgico a... Nada, deixa para lá.
CAETANO: Alérgico a quê?!?
DEVENDRA:
À cadeira de couro que eu estava sentado antes. Também sou alérgico a gatos.
CAETANO: Achei que você ia dizer que era alérgico a Londres! (risos)
DEVENDRA:
Sou alérgico a vaca e a Londres! Se eu passear por Londres montado em uma vaca,
não vai ser bom.
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26/10/2006 - Encontro em Rio de Janeiro - Fotos: Paula Huven / Folhapress | | | |
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27/10/2006 - TIM Festival 2006 (RJ) |
"Um encontro com
Caetano? Não acredito! Pessoalmente, em outubro? WOW! Eu
amaria... Eu levo as fraldas!" Ainda era agosto quando a BIZZ propôs o
encontro para Devendra
Banhart, o americano de 25 anos famoso por seu folk psicodélico
e por sua obsessão com o tropicalismo. Mas ele já estava de passagens compradas
para shows no Rio de Janeiro e em Vitória.
Ao botar os pés aqui, enlouqueceu com açaí, visitou
alguns estúdios e, claro, encontrou-se com seu ídolo supremo. Era 26 de outubro
e Devendra chegou de banhinho tomado ao escritório da Natasha Produções
acompanhado de seu guitarrista Noah Georgeson (trechos desse bate-papo aparecem
como interlúdios do depoimento exclusivo que Devendra deu à BIZZ).
Devendra abre este bloco de reportagens dedicadas a
Caetano, que está na estrada divulgando seu novo álbum, Cê. Em seguida, você
confere a estréia do show, em Brasília, e uma exclusiva com o próprio
tropicalista - um mais que legítimo "papocabeça" sobre rock,
distorções históricas e sobre um certo folk-hippie doidão...
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8/7/2010 - Portugal |