jueves, 14 de febrero de 2013

2000 - NAMORA, VEM NAMORAR





Autores: Roberto Mendes y Nelson Elias
© Mercury/Direto

Tudo que Dora me deu
Tinha gosto de amora
E um visgo diferente
Destes chamego de agora.
Beijava riscando brasa
Que nem um cacho de aurora
Que chega tangendo a noite
Faz que fica e vai s'imbora.

Comigo se sucedeu
Quando a Rita me beijou
Começou fazendo um frio
Misturado de calor.
Boca que é fonte molhada
Logo, logo se enxugou
Pra se encher d'água de novo
Quando lembra deste amor.

Namora vem namorar... namora
Namora vem namorar... namora

A vida é mesmo uma estrada
Carregada de poeira
De buraco e de tocaia.
...mas quando surge do nada
O carinho que a gente quer
Tudo se enfeita de graça
Pois a verdade se mostra
Pelos olhos da mulher.

O traste que não namora
Não serve pra respirar
Não merece confiança
E é falso até no olhar.
Quero ver nesta peleja
Todos juntos, faz favor
Não há fruta mais insossa
Que uma vida sem amor.

Namora vem namorar...namora
Namora vem namorar...namora





2000 - ROBERTO MENDES
Participación Especial: CAETANO VELOSO
Álbum “TRADUÇÃO – ROBERTO MENDES & Convidados”
Atração Fonográfica CD ATR 31084, CD 1, Track 4.

 


2000
TRADUÇÃO - ROBERTO MENDES & CONVIDADOS
Roberto Mendes
Atração Fonográfica CD ATR 31084

Crítica: Tárik de Souza

Baiano de Santo Amaro da Purificação, Roberto Mendes faz um trabalho diferente de seu mais ilustre conterrâneo tropicalista/universalista. Mas Caetano Veloso e principalmente sua irmã Maria Bethânia (que já gravou várias músicas, além de produzir um disco dele em 1994) costumam dar uma força nessa tarefa hercúlea (e pouco reconhecida) de repescar as raízes da MPB. Este CD duplo traz num dos anzóis exemplares autênticos da chula, o samba do recôncavo baiano (das regiões canavieiras de Santo Amaro e Cachoeira) executado por grupos da região e no outro a transfiguração desse universo através de temas de Mendes com os parceiros Jota Velloso, Chico Porto, Nelson Elias e Jorge Portugal. Participam deste segundo disco, Caetano Veloso, Jussara Silveira, Margareth Menezes, Grupo Barra Vento e o recém falecido baixista Nico Assumpção.

Mendes começou sua carreira em 1972 no grupo Sangue e Raça ao lado do parceiro Portugal e Raimundo Sodré. O trio conseguiu alguma notoriedade com a música A Massa, parceria de Mendes & Portugal, defendida por Mendes & Sodré. Ex-integrante do grupo Baiafro ao lado do percussionista Djalma Corrêa, ele teve duas músicas (Filosofia Pura e Lua) gravadas por Bethânia no mítico disco Ciclo, em que ela rompia com os padrões uniformizadores da fonografia da época. Apesar disso, ele só estrearia solo em 1988, em Flama, com participações de Gilberto Gil e Edith do Prato. Em Matriz (1992), o convidado seria Caetano. Tradução abre num pot-pourri de chulas com refrões respondidos por coro, alguns conhecidos como "quem entrou na roda/ foi uma boneca/ foi uma boneca". Há jogos de palavras próximos do concretismo em Caribe, Calibre, Amor ("Cara Havana Salvador/ a utopia guerrilhalegria/ nossa fantasia/ vem da mesma dor") e um lirismo figurativo em A Beira e o Mar, faixa título do LP de Bethânia de 1984.

Sob acompanhamento singelo de palmas (Voz da Alegria, Dividiu) características das músicas de roda, Mendes (ótimo violonista que já terçou cordas com Guinga) tem um fraseado quebrado que evoca, não apenas pelo sotaque, tanto Caetano (notem o dueto da dupla em Namorar, Vem Namorar) quanto Gil, mas sem clonagem. Jussara Silveira acrescenta pungência a Maria da Canção e Margareth Menezes ressalta o balanço de Mandar Chamar. No outro CD, grupos populares mostram temas curtos de refrão & percussão rústica, do samba xaréu (Amargosa, Meu Balaio, Avoo) ao samba corrido (Farinha Fina, Me Deixa, Benção a Deus, Meu Sabiá, Canarinho da Alemanha) e partilha de boi (Conversa de Homem, Morena). Os frutos e as raizes servidos no mesmo prato do toca-CD.

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