Programa de televisión emitido por la TV Tupi, los días lunes desde el 28 de octubre al 23 de diciembre de 1968.
Gal Costa / Tom Zé / Caetano Veloso |
Folha de S. Paulo
30 de outubro de 1968
BAIANOS NA
TV: “DIVINO,
MARAVILHOSO”
Caetano e Gil – Diferentes, avançados, prá frente
Adones de Oliveira
Um ano após o estouro de Alegria, Alegria e Domingo no Parque, um ano após a sacudidela na música popular brasileira, de que resultaram novas concepções, novos caminhos, somente um ano depois de discutidos, condenados e elogiados, Caetano Veloso e Gilberto Gil conseguem um programa na televisão. Só anteontem em “Divino, Maravilhoso”, na TV Tupi, o público telespectador, ou a massa média, começa apreciar mais extensamente a estética nova que os baianos se propõem e propõem comunicar. Só agora, com programa regular, sistemático, Caetano e Gil têm oportunidade de testar o seu novo comportamento musical. Da aceitação popular ou não, da deglutição ou não, do consumo ou não, já que eles estão na faixa do “produssumo” – produzir para o consumo, no neologismo criado por Décio Pignatari – depende a sobrevivência do grupo e a validez de suas teses, ou de sua revolução.
Um novo conceito estético, radicalmente desvinculado do passado (“Isso que anda por aí está tudo velho”, disse Caetano) e, integralmente integrado no presente – não no futuro – é o que pretendem os baianos e foi o que procuraram mostrar anteontem na estréia de “Divino, Maravilhoso”.
O programa é produzido por Fernando Faro e Antonio Abujamra e tem o próprio Cassiano Gabus Mendes, diretor da estação, trabalhando no corte de imagens. Irá para o ar toda segunda-feira, às 21h30, até dezembro, quando termina o contrato dos artistas com a Tupi. Ou por muito tempo ainda, se tudo der certo, ou melhor, se as novas estruturas, ou as novas anti-estruturas passarem a ser consumidas.
Do primeiro “Divino, Maravilhoso” participaram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Bem, Os Mutantes, Gal Costa e o conjunto Os Bichos. Quem ficou em casa para ver mais um programa de televisão, enganou-se e, diante do engano, ou aplaudiu com entusiasmo ou vaiou com ódio. Indiferente ao que acontecia no palco, todo decorado com quadros pop de um pintor japonês, é que não se ficou.
No começo aparece Caetano, de blusa militar aberta sobre o torso nu e o cabelo penteado. Senta-se num banquinho, em estilo ioga, e começa a cantar Saudosismo, sua nova música, toda nos moldes das bossa nova original, bem Tom Jobim, bem João Gilberto. Mas a música é para proclamar um Chega de Saudade e Caetano assanhar o cabelo e Os Mutantes entrarem em cena e começarem todos freneticamente, amalucadamente, a fazerem o “som livre”. No auge da improvisação, com guitarras, gritos e movimentos de quadris, Caetano diz que vieram mostrar o que estão fazendo e como estão fazendo. E o programa daí para o fim é o mau comportamento total, caótico nos sons e gestos, alucinação.
Desfilam as novas músicas: Falência das Elites, Miserere Nobis, Baby, É Proibido Proibir, Caminhante Noturno, Panis et Circencis, etc. Cada qual se transforma num happening, num pretexto para extravagância, “loucuras”. Para que Gil cante A Falência das Elites entram em cena várias latas velhas e é aquele baticum. Caetano deita-se no chão, rola-se como num estertor, vira as pernas para cima, de repente levanta-se e entra no ritmo alucinante, revirando os quadris, em gestos tão ousados que às vezes o próprio Cassiano não tem coragem de captar. O público, que lota o teatro do Sumaré, meio inibido no início, começa a aplaudir, Caetano fica satisfeito com a reação, mas depois diz que gostaria de mais participação, mais vibração. Nos próximos eles esperam, a coisa irá esquentar, por enquanto foi só o início.
No final do programa, em meio a um improviso em que todos entram, Caetano grita a palavra de ordem, “Acabar com o velho!” e dá um viva a Rogério Duprat, que está sentado na platéia.
É um programa quente, movimentado, tropical, imaginativo, diante do qual ou se tem amor ou ódio e que, por isso mesmo, vai dividir muito a opinião pública. Se pegar, como tudo indica, poderá ser para a música nova, o “som livre”, o mesmo que foi “O Fino da Bossa” para o tipo de música de que os baianos agora querem distância.
DIARIO DA NOITE - 14/11/1968 |
1968
Revista inTerValo
Ano
IV – n° 305
Novembro
Novembro
Capa:
Família Trapo
Foto
de Cynira Arruda
Editora
Abril
Programa “Divino
Maravilhoso”
Dirigido
por: Antonio Abujamra e Fernando Faro
Sinopse
”Divino Maravilhoso” tornou-se o nome de um programa semanal de televisão da extinta Tupi,
dirigido por Fernando Faro e Antonio Abujamra e o grande novelista Cassiano Gabus
Mendes, diretor da estação, trabalhando no corte de imagens.
Apresentado por Caetano Veloso, Gal Costa e
Gilberto Gil, o programa foi ao ar de outubro a dezembro de 1968. Um programa
totalmente anárquico, com cenas antológicas de Caetano Veloso preso em uma
jaula comendo bananas ou plantando bananeira; além de um dos episódios, em meio
a um improviso em que todos entram, Caetano grita a palavra de ordem, “Acabar
com o velho!” e dá um viva a Rogério Duprat, que está sentado na platéia e
ainda conta com uma Gal Costa sensual e meio rock n'roll. “Divino Maravilhoso” apresentou nomes de cantores então debutantes
no cenário brasileiro, como Jorge Ben, Jards Macalé e ainda contou com
participações de Nara Leão e dos grupos Os Mutantes, Beat Boys e Os Bichos,
entre outros.
No dia 13 de dezembro, o governo militar decretou o
Ato Institucional 5 (AI-5), que dava direito a dissolver o congresso, prender
sem hábeas corpus, cassar mandatos e impor a censura, entre outras tragédias.
Com o AI-5 a ditadura endureceu ainda mais.
Na antevéspera do natal “Divino Maravilhoso” foi ao ar pela última vez, mostrando um
provocante Caetano Veloso a cantar “Noite
Feliz” com uma arma apontada na cabeça.
A apresentação irritou aos militares e à família
conservadora que sustentava o regime militar, após tirar o programa do ar, a
polícia repressiva do governo prendeu, no dia 27 de dezembro, Caetano Veloso e
Gilberto Gil. Os cantores só seriam libertados na quarta-feira de cinzas de
1969, quando são escoltados pela polícia até Salvador, de onde partem para o
exílio em Londres. Termina o programa e o próprio tropicalismo.
Para não comprometer os apresentadores, as fitas do
programa são totalmente destruídas por seus diretores, ficando apenas
registrado na memória de quem o assistiu na época, e muitas fotos. “Divino
Maravilhoso” era uma resposta aos bem comportados programas da TV Excelsior: “O
Fino da Bossa”, comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues, que foi ao ar de
1965 a 1967, e “Jovem Guarda”, comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e
Wanderléa, de 1965 a 1969. Com “Divino Maravilhoso” o Brasil assistiu à
ascensão e à queda do mais forte movimento musical desde a Bossa Nova o
''Tropicalismo''.
1968
Revista inTerValo
Ano
VI - n° 311
Capa:
Paulo Planet Buarque
Foto
de Cynira Arruda
Editora Abril
Pág.
20 e 21
1969
Revista inTerValo
Ano
VII – n° 314
Janeiro
Capa:
Juca Chaves
Foto
de Cynira Arruda
Editora
Abril
1969
Revista inTervalo
Ano VII – n° 315
1969
Revista Romântica
Ano VIII - n° 94
Fevereiro
Ano VIII - n° 94
Fevereiro
Pág. 12-15
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