Del espectáculo A hora da estrela, inspirado en el cuento de Clarice Lispector; estrenado por Maria Bethânia en 1984 y dirigido por Naum Alves de Souza.
Música: Caetano Veloso
Letra: Waly Salomão
Inédita en disco
1984 Uns Produções Artísticas Ltda. / Warner Chappell Edições Musicais Ltda.
Luz crua do sertão, crua luz do sertão
O nosso campeão nasceu cresceu chapado
Filho de mãe sábia e pai enviesado
Lua do sertão, lua crua do sertão
Neste vale de pus, sobrenome Jesus
Apelido visual de quem não viu nem cor
E nem cheiro de pai
Que a dolorosa mãe carregue a sua cruz
Sem destapar um ai
Sertão de crua luz
Casca de jaca dura, Olímpico, bico de jaca
Luz crua do sertão, crua luz do sertão
Tocha, pira, graveto, agave, falo, espeto
Cabra macho esquisito, sopro de 7 vidas
Dum anjo gato frito
Cabra macho esquisito
Luz crua do sertão, crua luz do sertão
Dente pivô de ouro, dente que cintila,
Boca que gargalha, dente que rebrilha,
Boca de linterna que nunca carece
De trocar de pilha
Casca de jaca dura, Olímpico, bico de jaca
Luz
● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ●
A HORA DA ESTRELA: A REPRESENTAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DOS PERSONAGENS DE CLARICE LISPECTOR POR CAETANO VELOSO E WALY SALOMÃO
(2006, Carlos André Rodrigues de Carvalho)
CAMPEÃO OLÍMPICO DE JESUS: UM CABRA DA PESTE COM DENTE DE OURO
A representação da representação de Olímpico de Jesus coube a Waly Salomão, com música de Caetano Veloso. Campeão Olímpico de Jesus, ao contrário das duas canções anteriores (O nome da cidade e A hora da estrela de cinema), não utiliza o não-dito no livro como elemento narrativo.
Num tom tão cru quanto o do livro – mas ao mesmo tempo cheio de sarcasmo – sintetiza-se de forma singela as características do personagem. Olímpico, um
nordestino foragido do sertão paraibano por matar um homem – segredo que ele não divide com ninguém no Rio de Janeiro –, sobrevive como metalúrgico e dorme “de graça numa guarita em obras de demolição por camaradagem do vigia”. (LISPECTOR, 1977)
Olímpico tem como sobrenome apenas Jesus, mas mente para Macabéa, dizendo que seu nome completo é Olímpico de Jesus Moreira Chaves. O motivo da mentira é que o sobrenome já acusa que ele não tem pai. “Fora criado por um padrasto que lhe ensinara o modo fino de tratar as pessoas para se aproveitar delas e lhe ensinara como pegar mulher” (LISPECTOR, 1977:46). E é partir desses fatos que Waly começa a traçar o perfil do personagem.
Luz crua do sertão, crua luz do sertão
O nosso campeão nasceu cresceu chapado
Filho de mãe sábia e pai enviesado
Lua do sertão, luz crua do sertão
Neste vale de pus, sobrenome Jesus
Apelido visual de quem não viu nem cor
E nem cheiro de pai
Que a dolorosa mãe carregue a sua cruz
Sem destapar um ai
Sertão de crua luz
Casca de jaca dura, Olímpico, bico de jaca
Na segunda e última estrofes, os nomes soltos, mas que guardam algunas semelhanças entre si, dão pistas sobre o perfil de Olímpico. Tocha, pira e falo aparecem justapostas como que para descrever a virilidade do personagem, “que não tinha vergonha, era o que se chamava no Nordeste de “cabra safado”. As outras palavras também podem atestar o lado artista de Olímpico, que nas horas de folga esculpia figuras de santo e eram tão bonitas que ele não as vendia. “Todos os detalhes ele punha e, sem faltar ao respeito, esculpia tudo do Menino Jesus. Ele achava que o que é, é mesmo, e Cristo tinha sido além de santo um homem como ele, embora sem o dente de ouro” (LISPECTOR, 1977:46).
Luz crua do sertão, crua luz do sertão
Tocha, pira, graveto, agave, falo, espeto
Cabra macho esquisito, sopro de 7 vidas
Dum anjo gato frito
Cabra macho esquisito
Luz crua do sertão, crua luz do sertão
Dente pivô de ouro, dente que cintila,
Boca que gargalha, dente que rebrilha,
Boca de lanterna que nunca carece
De trocar de pilha
Casca de jaca dura, Olímpico, bico de jaca
Luz
No início deste mesmo parágrafo do livro, o narrador Rodrigo S.M. diz que, ainda na cidade natal, Olímpico tinha juntado salários e salários para arrancar um canino e trocá-lo por um dentre de ouro faiscante. E é neste detalhe que Waly vai se deter para ajudar a construir o perfil do personagem na última estrofe.
Mas antes disso, note que o poeta compara o personagem a um gato – animal ao qual os supersticiosos atribuem sete vidas – tamanha a capacidade que Olímpico tem para escapar da morte. O número sete aqui nos remete também a outro dado curioso na narrativa de Rodrigo S. M: foi numa manhã do dia 7 de maio que Macabéa conheceu Olímpico.
No hay comentarios:
Publicar un comentario